quarta-feira, 29 de março de 2017

"Dar razões de nossa esperança"! (I Pd.3,15)


O pior de tudo é “quando tudo parece perdido”. Quando bate à nossa porta um desânimo. Quando os nossos sonhos nos dão a impressão de que desmoronaram. Quando, aparentemente, nos roubam a esperança. Quando nos roubam a possibilidade de construirmos nossos próprios castelos.
A história, muitas vezes, nos mostra resistências sociais que não partiram de ideologias políticas. Mas foram sustentadas pela perseverança em acreditar num sonho. Num sonho que brota de dentro. Que vem do coração. Que não fica preso apenas ao racional. Ninguém, e nada pode nos separar de nossos sonhos. Disse Paulo de Tarso certa vez, “quem poderá nos separar do amor de Cristo”? (Rm 8,35). Paulo tinha a firma convicção de que nada poderia afastá-lo desse amor incondicional a pessoa de Jesus Cristo. E ele continuou, “nem a tribulação, nem a angústia, nem a perseguição, nem a fome, nem a nudez, nem o perigo, nem a espada”. E acrescentou, “nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem os poderes nem as forças das alturas, nem qualquer outra criatura, nada poderá nos separar do amor de Deus”. Isso é acreditar em seus sonhos. Em seus ideais.
Em outro lugar da Bíblia, conhecemos a história de uma família, chamada de Macabeus. Aí, os idosos daquele povo foram convocados para forjarem culto aos ídolos pagãos para convencer o povo de que aquilo era bom, e salvarem a sua vida.
Entretanto, foram os velhos, os mais experientes da comunidade, que animaram os jovens a manterem firmes a sua fé. Pois os jovens, aqueles que estavam iniciando a vida, precisavam do exemplo dos que estavam já algum tempo no caminho. Que vendo o presente, olhavam para o passado para entender uma perspectiva de futuro. Qual caminho seguir?
No chamado Segundo Livro dos Macabeus, capítulo 6 e 7, vemos a história de um dirigente, e de uma mãe, que acreditando nas sua esperança, defenderam, até a morte, sua confiança naquele que eles criam.
No capítulo 6, a partir do versículo 18 em diante, lemos a história de Eleazar. Doutor da Lei. Homem mais velho. Líder do povo. Ele havia sido forçado a comer carne de porco (os judeus não comem carne de porco). Haviam colocado em sua boca carne de porco. Mas preferindo a morte ao viver envergonhado, cuspiu-a fora. Dizia que era “assim que devem fazer os que corajosamente querem resistir ao que não é permitido comer, nem por amor à própria vida”.
Os que dirigiam o sacrifício chamaram Eleazar à parte e lhe fizeram uma proposta. Que ele pegasse carne permitida, a preparasse, e que comesse diante do povo como se fosse a carne oferecida aos ídolos. Assim, teria sua vida preservada.
Eleazar “tomou uma nobre decisão, coerente com a sua idade (...) com a vida correta que levava desde a infância, com as leis de Deus. E disse prontamente, “Podem mandar-me para a mansão dos mortos. Em minha idade não fica bem fingir, senão muitos dos mais moços pensarão que um velho chamado Eleazar passou para os costumes estrangeiros. Com seu fingimento, por causa de um pequeno resto de vida, eles seriam enganados, e eu só ganharia mancha de desprezo para a minha velhice”. Eleazar foi morto Mas guardou a esperança de seus sonhos. Jesus havia dito, “não tenham medo daqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma” (Mt 10,28). Ou seja, os cruéis podem matar eliminar seus opositores, mas não podem matar um sonho. Pois os sonhos não estão no corpo.
Em seguia à morte de Eleazar, lemos outra situação de acreditar nos próprios sonhos. Uma mãe com seus sete filhos foram presos (2Mc 7). Mais uma vez, o poder constituído queria lhes obrigar a comer o que não era permitido. É assim o que acontece. Muitas vezes, para salvar nossas vidas, desistimos de nossos sonhos, de nossas convicções. Daquilo que acreditamos. E sucumbimos.
Neste episódio, o rei mandou matar os sete, partindo do mais velho para o mais novo, até chegar à própria mãe. Essa é a estratégia. Normalmente, os mais velhos são mais convictos de seus sonhos. Sabem o caminho a seguir. Não se perdem Os mais novos, ainda em formação, são temerários. Parece-lhes que a vida é mais importante. Desfazem-se de seus sonhos muito rápido. Entretanto, neste história, o exemplo do mais velho, até a mãe, reforçou o quão importante é crer em seus sonhos. Um a um foram todos mortos. Mas seus exemplo nos anima até hoje. Essa história é lembrada por várias gerações.
E por fim, lembro da própria história de Jesus Cristo. E daqueles seus discípulos que partiram de Jerusalém logo após a morte e sepultamento dele. Voltavam eles para sua cidade, Emaús, quando se aproximou uma pessoa e lhes perguntou porque estavam tristes. Eles responderam, “Tu és o único peregrino em Jerusalém que não sabe o que aí aconteceu  nesses último dias”? E o peregrino respondeu, “O que foi”? E eles disseram, “o que aconteceu a Jesus, o nazareno, que foi um profeta poderosos em ação e palavras, diante de Deus e do todo o povo. Nossos chefes dos sacerdotes e nossos chefes o entregaram para ser condenado à morte, e o crucificaram”. Parecia o fim de um sonho. O fim de uma esperança. Não valeria mais apena se colocar à serviço daquele ideal, daquela proposta de vida. Daquela mudança não violenta das relações sociais. Deveriam estar com o sentimento de derrota, de impotência.
Entretanto, Jesus esclareceu a eles que deveria ter passado por tudo aquilo para em seguida voltar à vida. Ou seja. Muitas vezes, é preciso morrer para voltar à vida. E num pequeno gesto, de partir o pão, coisa simples da vida, ele é reconhecido. E no coração daqueles que estavam desorientados, ressurgiu a esperança. É o mesmo exemplo da Fênix. A cada morte, ressurge com mais força. Mas ela se renova sempre.
Renovemos nossa esperança. As cinzas não podem contra nós. Sempre haverá vida. Sempre haverá ressurreição. Ressurgimento. Voltar á vida, mesmo diante das aparentes e concretas dificuldades.


quinta-feira, 23 de março de 2017

"Não fecheis os vossos corações"!

O título de nossa postagem está no salmo 94,8b. É o salmo que respondem à leitura de Jeremias 7,23-28. 
O profeta afirma que o povo se afastou de Deus seguindo "as más inclinações do coração", e que "andaram para trás" por conta disso. Os profetas e servos do Senhor foram enviados a convocar o povo para que escutasse a voz do Senhor. Assim procedendo, seriam o povo de Deus, e encontrariam o caminho da felicidade.
Porém, o povo volta-se contra o autor da vida. Viram as costas para aquele que os pode livrar do demônio da mudez (Lc.11,14-23). 
Deus sempre teve um carinho especial por seu povo. Na liberdade dado ao ser humano, Deus o chama a viver retamente. Sem discórdias. Sem conflitos. Sem divisões. Unidos na vontade daquele que fez o céu e a terra. 
Um reino não pode estar dividido. Um reino dividido não prospera. Somente aqueles que ouvem a voz do Senhor e a põe em prática podem encontrar a felicidade. A felicidade que liberta da mudez, da surdez, da cegueira, da imobilidade, da opressão. Aqueles que não fecham o coração para a voz do Deus são os verdadeiros adoradores em espírito e verdade. E estes são aqueles que vivem o amor ao próximo. 
Hoje somos convidados a abrir nossos ouvidos para podermos proclamar a palavra que nos liberta, que nos salva, que nos traz a feliciade. (Jr. 7,23d). 
"Não fecheis os vossos corações". Abra-se a palavra de Deus. Não deixe que satanás lhe confunda. Deus está sempre conosco.

quarta-feira, 22 de março de 2017

"É só o amor que conhece o que é a verdade"

"Eu vim para dar pleno cumprimento a lei".
Na nossa caminhada religiosa damos muita atenção à lei. Aquilo que pode e não pode. Entretanto, Jesus nos ensina que a lei é para que a vontade de Deus seja feita, "assim na terra como no céu". Mas a lei divina não se restringe ao "pode, não pode". Mas vai além disso. A lei de Deus é para a convivência dos seus filhos. Para que possamos criar a nova sociedade, a nova civilização, a "Civilização do Amor" (Paulo VI).
Observemos as leis dada por Deus a Moisés: "honrar pai e mãe; não matar; não pecar contra a castidade; não furtar; não levantar falso testemunho; não desejar a mulher do próximo; não cobiçar as coisas alheias". São leis que se referem ao trato social. Uma nova forma de relações sociais. E Jesus foi mais além, ontem postamos como devemos nos relacionar com aqueles que nos fazem inimigos. Amando-os e orando por eles. Não resistindo com violência. 
Se estamos no período da Quaresma (para nós católicos) devemos reforçar a oração, a esmola e o jejum. Sendo assim, Jesus nos chama a olharmos para o próximo. Tive fome e sede, me destes de comer e de beber; era doente e preso, e fostes me visitar; estava nu e me vestistes; era peregrino e me acolhestes. Somo chamados a viver essa ordem, pois assim, entraremos no Reino de Deus.
Além disso, ele nos deixou um novo mandamento, "amai-vos uns aos outros".
Em outro lugar, quando foi interpelado sobre quem é o nosso próximo, deu um exemplo concreto. É a passagem do Samaritano. Um estrangeiro que vai ao encontro de um judeu que necessitava de ajuda. Lembremos que os judeus não se dão com os samaritanos.
Somos chamados hoje a vivermos a proximidade com o próximo. E a ensinar isso aos outros. Não devemos arrumar subterfúgios para não vivermos a palavra de Deus. Jamais amenizar a palavra de Deus para se adequar às nossas necessidades e às nossas vontades. Jamais falar para agradar o outro. Devemos ser honestos com a salvação das pessoas, e com a nossa.

terça-feira, 21 de março de 2017

“Ainda somos os mesmos”?

"Naquele tempo: Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: 'Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?' Jesus respondeu: 'Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete" (Mateus 18,21-35)
Perdoar é um tema recorrente na vida de Jesus. Ele, sabendo o que iria acontecer, começa a formar uma comunidade de mulheres e homens do perdão. Não há maior amor do que dar a vida pelos irmãos. Orai pelos que vos perseguem, abençoai os vossos inimigos. E ainda, “perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”.
A quaresma é o momento propício para avaliarmos como anda nossa cota de perdão. Ela nunca deve ser suficiente. Pedro, querendo arrumar uma desculpa (ou uma justificativa) para sua cota de perdão, fez a pergunta que abre nossa meditação. “Quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim”?
Quando Jesus instruía seus discípulos/apóstolos como deveriam ser, dizia: “Eu digo a vocês que me escutam: amem os seus inimigos, e façam o bem aos que odeiam vocês. Desejem o bem aos que os amaldiçoam, e rezem por aqueles que caluniam vocês. Se alguém lhe dá um tapa numa face, ofereça também a outra; se alguém lhe toma o manto, deixe que leve também a túnica. Dê a quem lhe pede e, se alguém tira o que é de você, não peça que devolva. O que vocês desejam que os outros lhes façam, também vocês devem fazer a eles. Se vocês amam somente aqueles que os amam, que gratuidade é essa? Até mesmo os pecadores amam aqueles que os amam. Se vocês fazem o bem somente aos que lhes fazem o bem, que gratuidade é essa? Até mesmo os pecadores fazem assim. E se vocês emprestam somente para aqueles de quem esperam receber, que gratuidade é essa? Até mesmo os pecadores emprestam aos pecadores, para receber de volta a mesma quantia. Ao contrário, amem os inimigos, façam o bem e emprestem, sem esperar coisa alguma em troca. Então, a recompensa de vocês será grande, e vocês serão filhos do Altíssimo, porque Deus é bondoso também para com os ingratos e maus. Sejam misericordiosos, como também o Pai de vocês é misericordioso.  'Não julguem, e vocês não serão julgados; não condenem, e não serão condenados; perdoem, e serão perdoados. Deem, e será dado a vocês; colocarão nos braços de vocês uma boa medida, calcada, sacudida, transbordante. Porque a mesma medida que vocês usarem para os outros, será usada para vocês'”. (Lc. 6,27-38).
Aprendamos, nessa Quaresma, a viver o perdão. Aprendamos a sermos mensageiros da paz. Temos uma situação social muito conflitante. Corrupção, roubalheira, retenção de salários, tentativas de escravização dos trabalhadores e trabalhadores, mudança na previdência social brasileira – privando as pessoas de terem uma vida digna. Diante de tudo isso, muitas vezes, sofremos a tentação de agir igual aos nossos algozes. Mas, como podemos mudar alguma coisa se agimos do mesmo jeito? Como dizia uma música dos anos 70: “Minha dor é perceber/Que apesar de termos/Feito tudo o que fizemos/Ainda somos os mesmos/E vivemos/Ainda somos os mesmos/E vivemos/Como os nossos pais”. Ou seja, apesar de tanta oração, de tanta missa, de tanto terço, de tantas práticas religiosas, “ainda somos os mesmo”. Não construímos nada de diferente. O que modificamos com toda nossa espiritualidade? Onde fomos mensageiros da paz? Onde praticamos a misericórdia divina? Onde nossa comunhão eucarística nos está levando? Quais encontros pessoais nossas confissões sacramentais estão proporcionando? Será que “ainda somos os mesmos”? Ou aprendemos a perdoar até 70 vezes 7?

domingo, 19 de março de 2017

Hoje não fecheis o vosso coração, mas ouvi a voz do Senhor!

Nossa tema de hoje gira em torno da água. Água que dá vida. Água que sacia. Água que conduz à vida que leva à vida eterna.
Destacamos três pontos para essa nossa reflexão: um problema moral; um problema social; um problema espiritual.
Quem era aquela mulher? O que havia ela feito para não ir ao poço no horário em que todos iam, pela manhã, quando o sol não estava tão forte. Porque as pessoas da cidade não aceitavam ela na convivência? Aquela mulher não era digna de estar junto das pessoas. Mas Deus não esquecer de nenhum de seus filhos e filhas. Deus não escolhe o horário para nos encontrar (nós até fazemos nossos horários para estarmos nas celebrações). Deus foi ao encontro daquela mulher no horário mais quente do dia. Ele vem ao nosso encontro nos momentos mais quentes de nossa existência. 
Segundo, um problema social. Judeus e samaritanos não se davam. Não se entendiam. Em outro momento, André diz a Natanael que eles haviam encontrado o Messias, Jesus de Nazaré. Quando Natanael pergunta se de Nazaré poderia vir alguma coisa de bom. O preconceito é uma realidade humana. Preconceito de cor, de raça, de sexo, de opção política. Sempre quando podemos, temos atitudes discriminatórios. Mas Jesus lhe diz que o dom de Deus é maior do que toda discriminação.
E por fim, um problema espiritual. Onde é o lugar do culto a Deus? Jesus diz que Deus é espírito. E o espírito sopra onde quer. Não podemos prender o espírito. Deus age onde quer, e quando quer. Nós podemos até querer aprisionar Deus. Mas ele não se deixa prender. Deus vai ao encontro dos seus filhos e filhas. Não é mais no templo, nem nas montanhas, mas em espírito e verdade. E o que é a verdade? A Verdade é a fazer a justiça divina. Alimentar os famintos, dar de beber aos sedentos. visitar os doentes e presos. Acolher os peregrinos. Vestir os nus. É viver tal como as bem-aventuranças.
Ao olharmos para a Samaritana, pensemos como estamos agindo nessa quaresma. Quais são as escolhas que estamos fazendo. Como estamos fazendo nosso processo de conversão.
Oremos: "Ó Deus, fonte de toda misericórdia e de toda bondade, vós nos indicastes o jejum, a esmola e a oração como remédio contra o pecado. Acolhei esta confissão de nossa fraqueza para que, humilhados pela consciência de nossas faltas, sejamos confortados pela vossa misericórdia. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo".

segunda-feira, 13 de março de 2017

"O senhor não nos trata como exigem nossas faltas".


A liturgia de hoje, nos faz olhar para nós e para nossos pecados. Ou melhor, como agimos perante o outro, o nosso irmão.

O profeta Daniel nos lembra que devemos ter vergonha diante de nosso Deus. A nossa rebeldia para com Deus é tão grande, pois não escutamos sua voz, e que somente a misericórdia e o perdão do senhor nos pode resgatar e salvar.

Jesus diz que com a mesma medida com que medirmos os outros nós seremos medidos também. E Quais as medidas que utilizamos para medir os outros?

Quem nos responde é São Paulo quando fala aos Gálatas, e diz que existem as obras da carne. E dentre elas estão a "inimizade, contendas, ciúmes, iras, invejas, discórdias, facções" etc. Quando o outro se trona um rival, então, estamos agindo conforme as obras da carne. E esses são nossos critérios de julgamento, e Deus agirá assim conosco.

Por outro lado, todas as vezes que não agimos com misericórdia, todas as vezes que não visitamos os doentes e encarcerados, todas as vezes que não vestimos os nus, não alimentamos os famintos e não damos de beber ao sedento, e não acolhemos o peregrino, Deus assim agirá conosco.

Por outro lado, todas as vezes que agimos, e julgamos com amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, lealdade, mansidão e domínio próprio, Deus assim agirá conosco.

A escolha é individual. Uma opção própria. Escolher como queremos ser tratados por Deus. Assim, estaremos vivendo a conversão da quaresma.

Poderemos cantar com o Salmista:

"Não lembreis as nossas culpas do passado (...). Ajudai-nos, nosso Deus e Salvador! (...) Até vós chegue o gemido dos cativos: libertai com vosso braço poderoso os que foram condenados a morrer".

Oremos: "Deus, que para remédio e salvação nossa nos ordenais a prática da mortificação, concedei que possamos evitar todo pecado e cumprir de coração os mandamentos do vosso amor. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo".

(textos: Dn. 9,4b-10; Lc. 6,36-38)

domingo, 12 de março de 2017

"Escutai-o, (...) não tenhais medo"!

"Sai da tua terra (...), e Abraão partiu".
Obediência, eis a chave de leitura de nossa meditação de hoje. No evangelho, "Escutai-o"!
E na segunda leitura, "sofre comigo pelo Evangelho...".
Em Abrão, Deus constituiu um povo abençoado. A descendência abraâmica é a descendência divinas. O próprio evangelista Mateus situa Jesus como descendente de Abraão. 
Em Abraão vemos a promessa de Deus de constituir um povo. E um povo abençoado.
Somos chamados por Deus a sermos abençoados pela obediência à sua palavra, "escutai-o"!
Um dos méritos de Abraão foi ter ouvido, e atendido, ao chamado de Deus aos 75 anos. Poderia ter alegado que a idade avançada o tornaria cansado. Que não teria mais forças. Mas vejam, a promessa da bênção deu forças a Abraão. Crer nas promessas de Deus. Crer nas bênção que o senhor vai colocando na nossa vida. Crer que o senhor caminha conosco. A grande lição que Abraão nos deixa.
Paulo exorta Timóteo a viver, com alegria, o sofrimento que causa o evangelho. Mas não é um sofrimento masoquista. Pois há um fortaleza fortificada pelo poder de Deus a todo aquele que mortifica-se para fazer a vontade de Deus. Para viver conforme o evangelho. Para dar a vida. Deus nos chama a uma vocação santa. Santa porque somos batizados. Santa por que nasce da vontade de Deus. Uma vocação que torna as Bem Aventuranças uma estilo de vida. Uma vida que brota do evangelho, e que trará a construção do Reino dos Céus. Um reino onde haja paz, vida. Uma vida centrada em Jesus Cristo. Um evangelho que fez brilhar a vida e a imortalidade.
Jesus proporciona aos apóstolos Pedro, Tiago e João uma grande experiência mística. Reúne em torno de si Moisés e Elias. Por um, Deus manifestou a constituição do seu povo formado em Abraão. E pelo outro, anuncio as maravilhas de sua vontade.
Tanto Moisés, quanto Elias, fizeram experiência místicas na montanha. A Montanha tem um significado importante na vida do povo hebreu. A montanha é o lugar do encontro com Deus. Jesus fora crucificado no Gólgota, um monte fora da cidade.
A nuvem acompanhou o povo na saída do Egito. À noite, ia a frente iluminando o caminho. pela manhã, postava-se atrás para defender o seu povo. 
O que destaco aqui é o verbo "escutai-o"! É para isso que somos chamados, para escutar as palavras de Jesus. E quem escuta, vive dessa palavra, proclama essa palavra. Faz essa palavra ser conhecida. Jesus é a palavra de Deus encarnada. "E o verbo de fez carne".
Jesus é mais que a encarnação da lei; e é mais do que simplesmente um profeta. Jesus é a encarnação daquilo que os dois representavam. A Lei e a Profecia se cumprem em Jesus.
Quem escuta o senhor não teme ser anunciador. Quem escuta o senhor não teme ser profeta.
Quem escuta o senhor não teme ser missionário.
Assim, poderemos repetir com o salmista:
No senhor nós esperamos confiantes/
Porque ele é nosso auxílio e proteção.
Sobre nós, Senhor, venha a vossa graça/
Da mesma forma que em vós nós esperamos.

sexta-feira, 10 de março de 2017

"Se a vossa justiça não for maior (...) não entrareis no Reino dos Céus"

A quaresma é o momento de caridade, oração e jejum. A cada dia da quaresma somos chamados a olharmos um aspecto de nossa vida cristã e de seguidores e seguidoras de Jesus Cristo. E, além disso, refletirmos sobre nossa prática religiosa e sobre nossa conversão.
Hoje, a leitura do profeta Ezequiel nos faz refletir sobre as práticas do ímpio e do justo. Como agem diante de Deus.
O profeta coloca nos lábios de Deus a seguinte sentença, "se o ímpio se arrepende de todos os pecados cometidos, e guardar todas as minhas leis, e praticar o direito e a justiça, viverá com certeza e não morrerá". E acrescenta falando do justo, "se o justo se desviar de sua justiça e praticar o mal, imitando todas as práticas detestáveis feitas pelo ímpio, poderá fazer isso viver? Da justiça que ele praticou, nada mais será lembrado. Por causa da infidelidade e do pecado que cometeu, por causa disso morrerá".
Tempo de olharmos para nossas práticas religiosas. Tempo de voltarmos para Deus. Não basta ter uma prática piedosa, participar de missas, rezar o terço, distribuir a eucaristia, batizar, consagrar. É preciso guardar e praticar as leis, ou seja, viver aquilo que Deus nos pede. Preocupar-se e trabalhar por aqueles que sofrem.
Há salvação para o ímpio, se se volta para Deus. Mas por outro lado, para o "justo" poderá haver danação, caso ele só fique vivendo externamente sua fé. Com práticas mortas e podres.
Jesus disse, "se a vossa justiça não for maior que a justiça dos mestres da Lei e dos fariseus, vós não entrareis no Reino de Deus". E continuou, "procura reconciliar-te com teu adversário, enquanto caminha contigo para o tribunal".
A palavra de hoje é reconciliação. Ela já esteve presente na nossa reflexão sobre o Pai Nosso. A lei e a prática da justiça e do direito é o perdão, a misericórdia. Esse é o nosso diferencial nos dias de hoje. É assim que vamos ser perfeitos como o Pai é perfeito. É assim que vamos abrir as portas do Reino dos Céus. É assim que vamos construir uma sociedade mais justa, fraterna, solidária, igualitária. Vivendo a reconciliação estaremos dando o passo para a construção da "Civilização do Amor", conforme pregou o Papa Paulo VI.
"Concedei, ó Deus, que vossos filhos e filhas se preparem dignamente para a festa da Páscoa, de modo que a mortificação desta Quaresma frutifique em todos nós. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo".
(textos. Ez 18,21-28. E Mt. 5,20-26)

quinta-feira, 9 de março de 2017

"Transforma nosso luto em alegria e nossas dores em bem-estar"

A rainha Ester está passando por um problema. O rei havia decretado que todos aqueles que não rendessem culto ao monarca deveriam morrer.
Assim, "temendo o perigo de morte que se aproximava, buscou refúgio no Senhor". Sim. No Senhor. Somente Deus é capaz de nos acolher a dar o conforto necessário nas horas da morte. Ester é o modelo de quem saber que se deve buscar a Deus até na hora da morte. Maria, mão de Jesus serviu-se do exemplo de Ester para assumir a vida da mãe do Senhor. E é por isso que rezamos a ela dizendo, "rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte". Ester foi a intercessora do povo hebreu diante do rei. Maria é nossa intercessora junto ao Filho.
Sabendo de que Deus ouve aqueles que lhes fazem a vontade, bendisse a Deus. Pediu o seu auxílio e socorro, pois sentia-se só e não tinha outro defensor. Ela dá seu testemunho de ouvinte da palavra de Deus. Ela afirma, "ouvi, dos livros de meus antepassados, que tu libertas, Senhor, até o fim, todos os que te são caros". E conclui sua oração pedindo que o Deus transforme o luto em alegria e nossas dores em bem-estar".
E Jesus completa a oração de Ester dizendo que "tudo o quanto quereis que os outros vos façam, fazei também a eles". Pois Deus é Pai de todos. E somos chamados a dar graças a Deus porque "ouvistes as palavras de meus lábios".
Continuemos nossa caminhada nesse período quaresmal, buscando fazer a vontade de Deus, ouvindo sua palavra, e colocando nosso coração pedindo sua misericórdia.
"Dai-nos, ó Deus, pensar sempre o que é reto e realizá-lo com solicitude. E como só podemos existir em vós, fazei-nos viver segundo a vossa vontade. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo".
(textos: Est. 4,17. Mt. 7,7-12)

quarta-feira, 8 de março de 2017

"Aqui está quem é maior..."!

Estamos vivendo um período forte na Igreja de oração, jejum e caridade. Esse é o tripé que nos move a sermos missionários da misericórdia divina.
No evangelho de hoje, Jesus chama sua geração de má. Uma geração que deu as costas para Deus Uma geração que fez ouvidos moucos para a palavra de Deus. Uma geração que preferiu as atrevas à luz. Uma geração que colocava sua esperança mais nas leis, do que na caridade. Uma geração presa a sinais externos.
Por outro lado, Jesus afirma que esses sinais já foram dados. Que devemos observar aquilo que fizeram os pagãos diante da grandiosidade que foi a pregação de Jonas, e a sabedoria de Salomão. Se os pagãos souberam dar OUVIDOS aos homens de Deus, quanto mais aquela geração deveria ouvir Jesus, pois ele é maior do que Jonas e Salomão. Observamos que os nobres de Nínive e a rainha do Sul identificaram nos dois palavras de Deus.
E hoje? Como nos colocamos diante de Deus? Estamos prontos a ouvir as palavras de Jesus e a colocar em prática? Estamos ouvindo os apelos do mundo? Estamos sofrendo com as mazelas que a população brasileira vive? Ou estamos preocupados e preocupadas com ritos, dogmas, com leis? Como vivemos nossa caridade com o próximo? Como anda nosso perdão? Temos agido com misericórdia? Ou nos achamos melhores do que os outros porque estamos na Igreja? Ou temos algum "cargo" na Igreja?
Jonas entrou em Nínive e pregou ao povo dizendo que em quarenta dias a cidade seria destruída. E que os ninivitas acreditaram em Jonas e fizeram as práticas de penitência: jejum, e se vestiram de sacos. Assumiram uma atitude de arrependimento dos seus pecados. Esse é o sinal, arrepender-se.
Continua a narrativa, dizendo que a pregação de Jonas chegou aos ouvidos do rei e dos príncipes. E que foi decretado um um período penitencial para toda a cidade. Ninguém, nem pessoa ou aminais, deveria comer ou beber. Tudo deveria ser coberto por sacos. E os homens deveriam rezar a Deus com força. Afastar-se do mau caminho e de suas práticas perversas. Poderia ser, então, que Deus lhes perdoassem os pecados.
Então, o autor do texto afirma que "vendo Deus as suas obras de conversão e que os ninivitas se afastaram do mau caminho, compadeceu-se e suspendeu o mal, que tinha ameaçado fazer-lhes, e não o fez".
Quem quiser ter os frutos da quaresma deverá dar mostras concretas de conversão, afastando-se do mau.
(textos de hoje. Jn. 3,1-10; Lc. 11,29-32)

terça-feira, 7 de março de 2017

"Seja feita a tua vontade"

A liturgia de hoje nos convida a fazermos uma oração sóbria. Sem muitas palavras. Focando no perdão.
A oração do Pai Nosso é a oração do perdão.
Ao contemplarmos as invocações do Pai Nosso observamos que todas estão voltadas para o Perdão. Saber perdoar é a essência desta oração.
O Reino pedido na oração é o reino onde todos se perdoam, porque o Pai é único, e nós, unidos em torno Dele, santificamos seu nome e buscamos fazer sua vontade: que é darmos o perdão.
O pão, pedido diariamente, é o pão do perdão. Quem sabe perdoar, busca o Reino de Deus, e tudo lhe é acrescentado, inclusive o pão que alimenta o corpo.
Quem pede, e recebe, o pão da Palavra, diariamente, sabe perdoar. E quem perdoa obtém o perdão de suas faltas, pois Deus é Pai de todos; é o Pai Nosso.
Assim, antes de buscarmos o sacramento da Reconciliação, devemos nos reconciliar com quem nos ofendeu. Só assim, teremos nossos pecados perdoados pelo Pai. Pois ele quer que, como irmãos, vivamos reconciliados.
Se queremos que o Reino de Deus venha, devemos perdoar.
Se queremos que a vontade de Deus seja feita, devemos perdoar.
Se pedimos para não cairmos em tentação, devemos perdoar.
E que Deus nos livre do mal de jamais não perdoarmos as ofensas dos nossos irmãos.
Sejamos missionários do perdão de Deus.

domingo, 5 de março de 2017

"O Espírito conduziu Jesus..."

"Naquele tempo, o Espírito conduziu Jesus ao deserto". Assim inicia-se o evangelho de hoje. Assim olhamos para nossa vida nos dias de hoje. Iniciamos o período quaresmal, nosso tempo de deserto. De intensificar a oração, para estarmos próximo de Deus; de intensificar o jejum, para aprendermos que tudo depende de Deus; para intensificarmos nossas obras de caridade, para lembrarmos de que o Reino de Deus não se conquista sozinho, mas através das obras aos pequenos do reino.
Ao ser conduzido ao deserto para sofrer a tentação, Jesus vive as agonias humanas do dia-a-dia. Em tudo foi semelhante a nós, menos no pecado. Não sucumbiu ao pecado. Soube passar pelas auguras da vida tendo a perspectiva divina diante dos seus olhos. Sua vida humana é um exemplo de como vencer as tentações. 
A primeira leitura, demonstra a fraqueza humana. Adão e Eva tendo diante de si a convivência física de Deus, deixaram-se enganar pelo pecado. Caíram na tentação. 
O pecado é lindo e gostoso. Se não o fosse, nós o rejeitaríamos de cara. O pecado é sempre algo saboroso, que supera nossas expectativas e nos faz cair. O demônio nos tenta com coisas práticas e humanamente aceitáveis.
Adão e Eva tinham diante de si todas as árvores do paraíso. Podiam comer de tudo. Beber dos águas dos rios. Mas preferiram a única árvore que lhes fora proibida. (Lembro o Rei Davi que tinha um harém. Mas preferiu a única mulher que Urias tinha, pecou).
Jesus havia passado quarenta dias sem nada comer. Depois de tanto tempo, é claro que sentiu fome. Eis a primeira tentação, a fome que poderia ser transformada no pecado da gula. Sendo Filho, poderia transformar as "pedras" (no plural) em comida, em pães. E assim saciar a sua fome. Seria justo. Mas se assim o fizesse, estaria sucumbindo à vontade de Deus. Estaria deixando de lado a Palavra de Deus. Assim, a resposta é profunda. O homem vive da "palavra que sai da boca de Deus", e não somente do pão.
Em seguida, vendo que Jesus resistia à fome, conduzi-o ao alto do templo, ao centro da vida social, política e religiosa de seu tempo. Poderia dar um show. Pular sem nada acontecer, pois os anjos viriam em seu socorro. (Lembremos que Jesus disse a mesma coisa a Pilatos: "Meu Pai mandaria uma legião de anjos. Mas não devemos pedir provas a Deus de seu amor por nós. Jamais devemos colocar Deus no centro de nossas provações, pois ele está ao redor para nos salvar. Nos libertar do mal. A Palavra liberta e salva. Por isso, meditá-la cotidianamente é a garantia de vencermos o mal a cada dia.
O diabo percebeu que estava diante de um fenômeno divino. Alguém que tendo assumido a condição humana poderia devolver ao ser humano a sua condição divina. Lembremos que ao pecar, Adão e Eva deixaram, afastaram-se, da graça divina. Assumiram por completo a condição humana, privados da graça de Deus no seu dia-a-dia.
O diabo sabe que Jesus seria um "fenômeno", e o propõe um acordo. Eu te dou tudo isso, sem sofrimento, sem esforço, sem dureza. Mas para isso, é preciso que me adores. Lembro que a adoração só é devida a DEUS. E o diabo quer ser Deus na nossas vidas. Ele busca aquilo que não lhe pertence. Jesus diz, "Adorarás ao Senhor teu Deus a ele prestarás culto". 
Narra Mateus que o diabo o deixou. E que os anjos se aproximaram e serviram a Jesus.
São Paulo diz que por um homem entrou o pecado no mundo, por um homem veio a salvação.
A desobediência de Adão e Eva foram resgatadas pela obediência de Jesus. Ao resistir ao demônio, Jesus mostrou aos homens/mulheres que é possível viver uma vida santa e irrepreensível diante de Deus. Mas que devemos estar atentos a todo momento que aquilo que pode nos afastar de Deus. 
Oremos: Concedei-nos, ó Deus onipotente, que, ao longo desta Quaresma, possamos progredir no conhecimento de Jesus Cristo e corresponder a seu amor por uma vida santa. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo".