quinta-feira, 16 de junho de 2016

Diaconia da Caridade

Diaconia da Caridade
“(...) garanto a vocês: todas as vezes que vocês fizeram isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizeram”. (Mt 25,40).
Há uma música, chamada “Se calarem a voz dos profetas” de Cecília Vaz Castilho, que num dos versos diz, “no banque da festa de uns poucos, só rico se sentou; nosso Deus fica ao lado dos pobres, colhendo o que sobrou”.
No rito da ordenação, quando o bispo impõem as mãos sobre os candidatos ao diaconato, ele diz, rogando a Deus-Pai, “resplandeçam neles as virtudes evangélicas: o amor sincero, a solicitude para com os enfermos e os pobres, a autoridade discreta, a simplicidade de coração e uma vida segundo o Espírito”. E conclui a oração, dizendo, “assim, imitando na terra o vosso Filho, que não veio para ser servido, mas para servir, possam reinar com ele no céu”.
Os Diáconos Permanentes são chamados a estar juntos aos “pobres” de Deus. Devemos oferecer toda nossa liberdade, todo o nosso querer, e toda a nossa vontade aqueles que estão afastados da casa do Pai, os pobres, pecadores; os famintos e sedentos; os nus; os doentes e aprisionados; os peregrinos sem moradia.
A caridade diaconal vai muito além da assistência social. A Congregação para o Clero, no documento Diretório do Ministério da Vida dos Diáconos Permanentes (157), capítulo II, que trata do Ministério do Diácono, e fala da Diaconia da caridade (38,2), diz que “as obras de caridade, que se encontram entre os primeiros deveres do bispo e dos presbíteros” são “transmitidas (...) aos diáconos”. Segue o documento dizendo que “o serviço da caridade na área da educação cristã; a animação dos oratórios, dos grupos eclesiais jovens e das profissões laicais; a promoção da vida em todas as suas fases e da transformação do mundo segundo a ordem cristã”. E acrescenta que “nestes campos o seu serviço é particularmente precioso, porque, nas atuais circunstâncias, são muito diversificadas as necessidades espirituais e materiais dos homens às quais a Igreja deve responder”.
Tendo em vista, as “diversificadas necessidades espiritais” do homem contemporâneo, a CNBB, no documento 96 (Diretrizes para o Diaconato Permanente da Igreja no Brasil) nomeou os campos de atuação do diácono permanente: “(...) o diácono assume a opção preferencial pelos pobres, marginalizados e excluídos. Ele é apóstolo da Caridade com os pobres, envolvido com a conquista de sua dignidade e de seus direitos econômicos, políticos e sociais. Está próximo da dor do mundo. Deixa-se tocar e sensibilizar pela miséria e pelas provações da vida”. Em seguida, ainda no mesmo parágrafo, citando o Documento de Aparecida, parágrafo 402, concluem que o diácono “reveste-se de especial compaixão pelos: migrantes, as vítimas da violência, os deslocados e refugiados, as vítimas do tráfico de pessoas e sequestros, os desaparecidos, os enfermos de HIV e de enfermidades endêmicas, os tóxicos-dependentes, idosos, meninos e meninas que são vítimas da prostituição, pornografia e violência ou do trabalho infantil, mulheres maltratadas, vítimas da exclusão e do tráfico para a exploração sexual, pessoas com capacidades diferentes, grandes grupos de desempregados/as, os excluídos pelo analfabetismo tecnológico, as pessoas que vivem na rua das grandes cidades, os indígenas e afro-americanos, agricultores sem terra e os trabalhadores das minas”.
Da leitura atenta e orante da Palavra de Deus, vemos Jesus compadecendo-se das misérias humanas. Em Lucas 9,13, diz “vocês é que têm de lhes dar de comer”. O Diácono Permanente é chamado a dar de comer aos famintos, e não somente do pão que alimenta o corpo, mas também do pão que alimenta o espírito. “Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus” (Mt. 4,4).
A promoção da justiça, a reinserção dos excluídos é uma exigência evangélica colocada para os Diáconos Permanentes. “Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados” (Mt 5,6). E ainda, a reclamação dos cristãos de origem grega quanto a precariedade do serviço prestado a eles (principalmente as viúvas), fez com que os apóstolos instituídos servidores, diáconos, para que todos pudessem ser atendidos a contento. Então, decidiram que escolhessem aqueles que lhes prestariam tal serviço, “e nós os encarregaremos dessa tarefa”.
Ao sermos ordenados diáconos, somos encarregados das tarefas as quais nos pede a Igreja (CNBB, doc 96, n. 58). Viver a diaconia conforme nossa especificidade é servir a Deus, à Igreja, e às necessidades de todos aqueles que estão dentro e fora da comunhão eclesiástica, pois, disse Jesus, “eu não vim para chamar justos, e sim pecadores”, e como ministros da diaconia, é a eles que somos enviados, em nome da Igreja, por força da imposição das mãos do bispo.

Assim, podemos repetir com Jesus, “estou no meio de vocês como quem está servindo” (Lc 22,27).

terça-feira, 14 de junho de 2016

Que o SALÁRIO do operário não fique com você até o dia seguinte"

Para quem acha que a Palavra de Deus não se preocupa com as questões sociais, vejam esse breve levantamento sobre a questão salarial. Desde o Primeiro Testamento, judaico, essa questão era posta para os governantes e ricos:

1. Levítico, 19,13 - "Não oprima o seu próximo, nem o explore, e que o SALÁRIO do operário não fique com você até o dia seguinte".

2. Deuteronômio 24,14-15 - "Não explore um ASSALARIADO POBRE (...). Paga-lhe o SALÁRIO a cada dia (...) porque ele é pobre e sua vida depende disso".

3. Jó 7,1a.2b - "O homem vive na terra cumprindo um serviço (...) e, como diarista, espera seu SALÁRIO".

4. Eclesiástico 34,22 - "Mata o próximo quem lhe tira seus meios de vida, e derrama sangue quem priva o operário de seu SALÁRIO".

5. Malaquias 3,5 - "Eu virei até vocês para fazer um julgamento: serei uma testemunha atenta contra os (...) que roubam o SALÁRIO do operário".
Já na era cristã, tanto os evangelistas quanto os autores das cartas cristãs, falam do pagamento dos salários.

6. Lucas 10,7c - "(...) porque o trabalhador merece o seu SALÁRIO".

7. Primeira Timóteo 5,18b - "O operário é digno do seu SALÁRIO".

8. Tiago 5,4 - "Vejam o SALÁRIO dos trabalhadores que fizeram a colheita nos campos de vocês: retido por vocês, esse SALÁRIO clama, e os protestos dos cortadores chegaram aos ouvidos do Senhor".

domingo, 12 de junho de 2016

Fé, Amor, Perdão: Misericórdia. (Lucas 7,36-8,3)

Fé, Amor, Perdão: Misericórdia. É o que nos leva a meditar hoje sobre esta perícope. Alguns fatos nos vão enredando nesta leitura: um fariseu convida Jesus para uma refeição, não é coisa qualquer, há um desejo de fazer comunhão com o convidado; Jesus aceita, entra na casa, põem-se à mesa, pelo fim da leitura, supomos que os doze estavam com ele, bom como outras pessoas. A partir desta ambientação, composição da cena, desenrola-se toda a catequese da “fé, amor, perdão”.
Antes, vamos definir o que era ser fariseu. A palavra fariseu significa “separados”, “santos”, “puros”. Era um grupo que acreditavam na lei oral, tanto quanto na lei escrita, Torá. Poderíamos dizer que eram os “fanáticos” religiosos do tempo de Jesus. Se olharmos para os nossos dias, e dentre nós, católicos, poderíamos dizer que são aqueles que vivem a fé, e a prática religiosa, apenas por obrigação legal. Deixam de lado a fé, o perdão, o amor, enfim, não são misericordiosos.
Voltemos ao nosso texto. Após a ambientação, notamos que uma pessoa, aparentemente impura, dentro das leis farisaicas, adentra a cena. Uma mulher. Uma pessoa. Uma excluída da comunidade. Rejeitada. Com a pecha de “pecadora”. Ela passa a tocar Jesus.
Mas antes de falarmos do que fazia aquela mulher, observemos que se ela entrou na casa, na sala de refeição, na intimidade da família, significa que era uma frequentadora daquela casa. Ou era parente de alguém daquela família. Ou era uma “serviçal” daquela família. É igual as nossas famílias. Temos todo tipo de pessoas, santas e pecadoras.
Entra em cena a mulher, pecadora segundo as leis farisaicas. Ela se posta atrás de Jesus. É uma cena interessante. Não havia cadeiras, como conhecemos hoje. As refeições eram feitas quase ao nível do chão. Havia uma trave onde as pessoas quase se ajoelhavam. Colocavam os pés para trás. Por isso a mulher tinha acesso aos pés de Jesus, por trás. Não estava à sua frente. Não ousou olhar nos olhos dele, não fitou o seu rosto. O gesto da mulher é quem reconhece a divindade daquele homem, mas não tem coragem de olhar para ele. É a mesma coisa que fazia o publicano, olhando para baixo, reconhecia-se pecador. Aquela mulher não era do grupo dos fariseus. Ela se sabia pecadora. Mas reconhecia a divindade de Jesus. Por isso, não olha no seu rosto. Aproxima-se dele. Por trás. Humilha-se. Arrasta-se aos pés.
Ela se aproxima. Lava os pés de Jesus com suas lágrimas. Enxuga-os com seus cabelos. Beija-os. E os perfuma. Ela não tinha mais nada a perder. Toda a sua dignidade havia sido perdida. Já era pecadora mesmo. A exclusão já fazia parte de sua vida. A sua única chance de perdão estava naquele homem.
Entretanto, o legalismo religioso do fariseu não o fazia enxergar Deus em Jesus. Não acreditava que Deus poderia resgatar os pecadores. Toda a sua fé estava baseada apenas nas leis, nos preceitos, no que “pode ou não pode”. Por isso a dúvida tomou conta de seu coração, “Se este homem fosse um profeta, saberia que tipo de mulher está tocando nele, pois é uma pecadora”. A partir de então, começa a catequese da misericórdia.
A parábola que Jesus conta basta voltar ao texto. O que nos interessa nesse momento, são as comparações. “Lavar os pés”, “o beijo da saudação”, o “óleo na cabeça”. Gestos que qualquer observante da lei deveria fazer ao receber um convidado. Ou no máximo, mandar um empregado fazer. Ao menos o beijo da saudação o dono da casa deveria ter feito.
Todo o ritual farisaico não foi cumprido pelo dono da casa. Entretanto, aquela mulher isso o fez. Ao humilhar-se, estando fora da mesa da convivência, fora da comunhão, ela usa de todo o rito. Lava os pés de Jesus e beija-o. Enxuga com os cabelos. E os perfuma. Ela viu naquele homem a presença de Deus. A presença de Deus que perdoa, que acolhe, que é misericordioso. Um Deus que não é lei, mas vida. Um Deus que não exclui, mas vem resgatar o que estava perdido para reinserir na comunidade. Um Deus que, primeiro, se preocupa com a pessoa, para depois inseri-la na comunidade, para em seguida se louvado por essa pessoa e salvá-la.
Depois de cumprir todo o ritual de acolhimento, previsto na lei, Jesus voltou-se para a mulher e disse: “Teus pecados estão perdoados”. Essa frase espanta todos que estão na sala. Só Deus pode perdoar pecados. Mas as pessoas do tempo não viam nele a presença de Deus, só os pecadores e excluídos. Mas, aquela mulher conseguiu ver a presença de Deus naquele homem. Porém, não basta perdoar os pecados. Jesus disse que havia vindo para resgatar os que estavam perdidos. Por isso, ele acrescenta, “tua fé te salvou”. E todo o que está salvo reencontrou a paz. Por isso, “vá em paz”.
Ela saiu daquela sala justificada. Salva. Em paz. Toda a sua agonia, todo o seu desespero estão agora perdoados. E mais do que isso, ela sai dali salva, e todo aquele que se está salvo deve ter a paz. A paz é um dos frutos daquele que encontrou a salvação.
Jesus entrou na casa do fariseu. Mas quem teve o perdão e a salvação foi a “mulher pecadora”. Não basta ser rico. Não basta seguir as regras. Não basta cumprir os preceitos religiosos. Não bastam as práticas piedosas. Tudo isso é necessário, mas é importante reconhecer que é preciso buscar quem está perdido. Acolher o pecador. Perdoar. Dizer, “a tua fé te salvou”.
Lucas apresenta duas conclusões. A primeira, diz que Jesus saiu por cidades e povoados pregando a Boa Nova do Reino de Deus. E esta boa nova estava no episódio narrado anteriormente.
E a segunda conclusão, refere-se às pessoas que andavam com Jesus. Além dos doze, havia as mulheres que colocaram a serviço aquilo que tinham de mais caro. Muitas foram resgatas de seus pecados. Faziam parte da comunidade, mas eram fúteis. O encontro com Jesus às resgatou. E todo/toda aquele(a) que é resgatado(a) por Jesus, imediatamente coloca-se a serviço.
Oremos: “Ó Deus, força daqueles que esperam em vós, sede favorável ao nosso apelo, e como nada podemos em nossa fraqueza, dai-nos sempre o socorro da vossa graça, para que possamos querer e agir conforme vossa vontade, seguindo os vossos mandamentos. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo”. Amém!

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Mulher!

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 27Ouvistes o que foi dito: 'Não cometerás adultério'. 28Eu, porém, vos digo: Todo aquele que olhar para uma mulher, com o desejo de possuí-la, já cometeu adultério com ela no seu coração. 29Se o teu olho direito é para ti ocasião de pecado, arranca-o e joga-o para longe de ti! De fato, é melhor perder um de teus membros, do que todo o teu corpo ser jogado no inferno. 30Se a tua mão direita é para ti ocasião de pecado, corta-a e joga-a para longe de ti! De fato, é melhor perder um dos teus membros, do que todo o teu corpo ir para o inferno. 3lFoi dito também: 'Quem se divorciar de sua mulher, dê-lhe uma certidão de divórcio'. 32Eu, porém, vos digo: Todo aquele que se divorcia de sua mulher, a não ser por motivo de união irregular, faz com que ela se torne adúltera; e quem se casa com a mulher divorciada comete adultério (Mt. 5,27-32).
Nesta perícope, existem dois recortes. O primeiro fala da relação matrimonial. E a segunda, o como pecamos com os olhos e com as mãos, e com a vontade e o querer.
Primeiro a questão do matrimônio. Em especial a situação do divórcio e do adultério. “Ouvistes o que foi dito, não cometerás adultério” (Ex 20,14). Jesus conhecia a vontade de Deus para esse tema. E a tradição de tudo o que havia aprendido na escuta das leituras. Em Levítico se o homem que cometer adultério com a mulher de seu próximo é réu de morte (Lv 20,10). O livro da Sabedoria trata o adultério como uma desordem no casamento (Sab. 14,26). E em Eclesiástico 23,16-26, há toda uma reflexão sobre as relações sexuais, e trata do adultério.
Jesus, conhecedor da tradição religiosa de seu povo; sabedor de como Deus havia determinado como deveriam se dar as relações dentro do matrimônio. Tendo dito que não veio abolir a lei, mas dá-lhe pleno cumprimento, vai além do meramente humano. Torna a relação entre homem e mulher, que culmina no matrimônio, divina. “Todo aquele que olhar para uma mulher, com o desejo de possuí-la, já cometeu adultério com ela no seu coração”.
O coração é a sede da vontade. Antes de se consumar um ato contrário à vontade de Deus, o ser humano o concebe dentro de seu coração, no seu íntimo. No oculto de seu coração. Por isso, Jesus afirma que já se adultera no coração ao se imaginar em possuir uma outra mulher que não a própria esposa.
Logo após este frase, ele destaca o olho e a mão. O olho é a porta do desejo. Os olhos veem tudo. O desejo entra pelos olhos. Com os olhos tomamos contato com as pessoas, com os objetos, com as coisas criadas. “Se teu olho te levar a pecar...”. Se teu olho ao ver uma outra mulher, e com isso, a desejar em seu coração, é melhor arrancar e jogar fora. É melhor não ver. É melhor não dar asas a imaginação. É melhor não ser aproximar. Pois todo aquele que asas a imaginação dos olhos, com certeza, vai usar a mão para conceber o mal que lhe foi colocado no coração.
A mão é a ação. Agimos com a mão. Tocamos. Acariciamos. Aproximamos. As mãos são a parte do corpo que faz com que aquilo que os olhos viram, e o coração concebeu, se concretize. É melhor afastar a mão do pecado. Não deixe a mão te levar a perdição. Todo o corpo deve estar a serviço de Deus. Mesmo no matrimônio, a relação sexual está a serviço do Pai.
Eis que o homem deixará pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e os dois serão uma só carne. É assim que foi determinado. Formar uma só carne. Um só corpo. Uma só alma. Um só espírito. Unidade. A vida matrimonial deve seguir o modelo da Trindade, unidade. Fazer-se um, homem e mulher.
Assim, fechamos a mensagem de hoje. Não podemos defender o adultério, pois quem adultera rompe com a unidade da Trindade. Não podemos dar vazão aos sentimentos sexuais com pessoa diferente de quem nos unimos por matrimônio. Nem olhar, nem tocar.
A Trindade é perfeita. Nossas relações matrimoniais devem ser perfeitas. A Trindade é um só Deus em três pessoas. No matrimônio formamos uma unidade entre esposa e esposo.
Não cometamos adultério, seja ele carnal ou espiritual. Deixemo-nos tomar pelo espírito divino. Sejamos perfeitos como a Trindade é perfeita.

Assim, ao ouvirmos falar de mulheres que são violentadas, devemos lembrar sempre da ordem de Jesus, “Todo aquele que olhar para uma mulher, com o desejo de possuí-la, já cometeu adultério com ela no seu coração”.

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Mataram o meu menino.

Mataram o meu menino.
Matar crianças é mais velho do que andar para trás. Estive pensando o que dizer sobre o episódio do policial que matou um menino de 10 anos com um tiro na cabeça. No jargão policial, isso se chama “queima de arquivo”, ou então, “execução sumária”.
A cabeça, logo depois de coração, é o órgão responsável por comandar todo o corpo. É a sede da razão. Lugar onde se concebe todas as ações humanas. Alguns santos falam em “sede da vontade”. A vontade precede toda ação humana. Antes de agir, o ser humano concebe sua ação no cérebro, que está na cabeça (desculpem-me).
Mataram o meu menino. Quando o Estado executa uma criança, e o policial representa o Estado de Direito Democrático, ele nos fala o seguinte: “existem crianças que não deveriam existir”.  Entretanto, Jesus nos falou bem claro, “deixem as crianças virem a mim”. Essa criança não teve a oportunidade de ir até Jesus. O estado não permitiu. Aliás, foi o Estado quem matou Jesus também. Uma sociedade que vai eliminando Deus de seu meio torna-se uma sociedade morta. Uma sociedade que mata seus filhos e filhas. Sodoma e Gomorra foram exemplos disso.
“Deixem as crianças virem a mim”. O meu menino não pode, nem teve a oportunidade de ir até Jesus. O Estado não deixou. Ele foi morto. Com um tiro na cabeça. Ele foi impedido de mudar de vida. Mas uma certeza eu tenho, o “Reino de Deus pertence a eles (crianças)”.
“Eu garanto a vocês, quem não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele” (Mc. 10,15). Segundo o evangelista, o caminho para o Reino de Deus passa para ser criança. Mas ao invés de acharmos que Jesus falava de pureza, estamos equivocados. A criança, em seu tempo, ocupava um lugar de desprezo. Era a última para tudo. Até o 13 anos  ficava com as mulheres no lugar a parte na sinagoga; eram as últimas a fazerem a refeição; não tinham direitos. Por isso, a frase de Jesus impactou seus ouvintes.
Mataram o meu menino. Uma sociedade que mata pelo aborto, mata pela arma. Uma sociedade que aplaude o assassinato é uma sociedade doente. A vida deve ser preservada sempre. Por isso, sou contra a pena de morte. Os governos não tem direito de tirar a vida de ninguém, somente Deus ( é claro que isso é para os crentes). Nenhuma violência deve ser combatida com violência. “Guarde a espada na bainha. Pois todos que usam da espada, pela espada morrerão” (Mt. 26,52).
Mataram o meu menino. Sabe por quê? Porque mataram Deus em seus corações. Pregaram na cruz o próprio Deus, autor da vida. Tiraram de suas vidas Deus, pois queriam o seu lugar. A serpente disse aos primeiro pais que se infringissem  a regra de não comer do fruto da árvore do meio do jardim, eles se tornariam como deuses: “e vocês se tornarão como deuses, conhecedores do bem e do mal”.

Mataram o meu menino. Mas somos cristãos. Seguimos os valores e ensinamento de Jesus Cristo. Enquanto Igreja não posso admitir que matem nossas crianças. Pois meu mestre disse: “eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância”. Aquele menino (meu menino) deu a vida para que pudéssemos refletir sobre a vida. Deus á autor da vida. Somente ele pode tirar a vida. Quem não sabe acolher e valorizar a vida, não deve servir ao Estado, nem a sociedade, quanto mais com uma arma na mão.

terça-feira, 7 de junho de 2016

Diácono: Mensageiro da Palavra

Diácono: Mensageiro da Palavra
“Recebe o Evangelho de Cristo, do qual foste constituído mensageiro; transforma em fé viva o que leres; ensina aquilo que creres e procura realizar o que ensinares”. Com essas palavras, o Bispo entrega ao Diácono o “Livro dos Evangelhos”, logo após ter sido revestido com os paramentos litúrgicos, no dia de sua ordenação.
Primeiro, o diácono é chamado a ser mensageiro do Evangelho de Cristo. Mais do que isso, ele é constituído, investido como mensageiro. Não é um mensageiro qualquer. É paramentado para isso. Passa ter a autoridade da Igreja, conferida pelo Bispo, para tornar-se esse mensageiro especial.
O mensageiro não fala aquilo que quer. Mas anuncia o que foi determinado. A Sagrada Escritura designou o Arcanjo Gabriel como o mensageiro de Deus. Na cultura grega, Hermes é o mensageiro dos deuses do Olimpo. E para simbolizar a agilidade da mensagem, ele é representado com um par de asas em cada pé. As asas simbolizam a agilidade do anuncio a ser comunicado. O diácono é mensageiro do evangelho, e como tal, não pode perder tempo em anunciar aquilo para o qual foi “constituído”.
Em seguida, é dito que ele deve transformar “em fé viva” aquilo que lê. O Evangelho de Jesus não é estático. “Ide pelo mundo e pregai o evangelho a toda criatura”. Não se recebe o evangelho e se guarda para si. Ele precisa ser anunciado. Anunciado com uma “fé viva”. Com alegria, como diz o Papa Francisco: “O Evangelho (...) convida insistentemente à alegria. (...) Porque não havemos de entrar, também nós, nesta torrente de alegria?” (EG, 5). E ainda, “se alguém acolheu este amor que lhe devolve o sentido da vida, como é que pode conter o desejo de comunica-lo aos outros?” (EG, 8).
Em terceiro lugar, deve ensinar aquilo que crê. Ensinar significa colocar um sinal. E o sinal é uma marca. E esta marca tem que ser a do Evangelho. Não é um marca pessoal, mas a marca de Cristo. O Diácono foi marcado por Cristo, e agora deve marcar os outros, com a Palavra. Deve ensinar aquilo que crê. E no que crê o Diácono? Deve crer no Evangelho, do qual é mensageiro. Deve crer na Igreja, da qual é ministro ordenado. Crer é dar atestado de fidelidade, de legalidade. Crer é não ter dúvidas da pessoa a qual segue, Cristo. Ao crer, o Diácono deve ensinar.
E por último, deve “realizar o que ensinares”. Não basta ensinar. É preciso viver aquilo que ensina. Jesus assim fazia, ele ensina com autoridade (Mt.7,29). É viver o que se prega. Daí o diácono ser o ministro, também, da caridade.
Os bispos do Brasil ampliaram a definição de caridade para os Diáconos. No documento da CNBB, número 96, parágrafo 58, afirmam: “(...) o diácono assume a opção preferencial pelos pobres, marginalizados e excluídos. Ele é apóstolo da Caridade com os pobres, envolvido com a conquista de sua dignidade e de seus direitos econômicos, políticos e sociais. Está próximo da dor do mundo. Deixa-se tocar e sensibilizar pela miséria e pelas provações da vida”. Em seguida, ainda no mesmo parágrafo, citando o Documento de Aparecida, parágrafo 402, dizem que o diácono “reveste-se de especial compaixão pelos: migrantes, as vítimas da violência, os deslocados e refugiados, as vítimas do tráfico de pessoas e sequestros, os desaparecidos, os enfermos de HIV e de enfermidades endêmicas, os tóxicos-dependentes, idosos, meninos e meninas que são vítimas da prostituição, pornografia e violência ou do trabalho infantil, mulheres maltratadas, vítimas da exclusão e do tráfico para a exploração sexual, pessoas com capacidades diferentes, grandes grupos de desempregados/as, os excluídos pelo analfabetismo tecnológico, as pessoas que vivem na rua das grandes cidades, os indígenas e afro-americanos, agricultores sem terra e os trabalhadores das minas”.
Assim, a missão do diácono é muito ampla. Abrange vários espaços. Não fica restrita ao âmbito paroquial, pois é mensageiro constituído do Evangelho de Cristo. E se é mensageiro, deve partir em missão, sempre.

E confirmando essa designação missionária, os bispos do Brasil, no documento 74, afirmam que “o diácono (...) será discípulo e ouvinte. (...) fará a leitura meditada e orante da Sagrada Escritura”. E que “a familiaridade com a Palavra de Deus facilitará o itinerário de conversão (...)” (n. 58). E ainda, que a missão do diácono é de “comunicador da Palavra”, dando “testemunho de um ouvinte assíduo e convicto do Evangelho” (n. 59). E sendo um “servidor da Palavra, (...) anuncia a Palavra de Deus com a autoridade que nasce (...) da convivência com o Evangelho” (n. 59).

"Não chore"!

Duas procissões. Uma entrava na cidade. Outra, saia da mesma cidade. Isso me lembrou os exercícios espirituais de santo Inácio que fala dos movimentos do espírito na alma humana. A experiência espiritual vive o conflito entre o bom e o mau espírito. Cada um age conforme conforme os objetivos a serem atingidos.
Olhemos as duas procissões. Primeiro, a de Jesus. Segue em direção à cidade (Naim). Junto com ele, uma grande multidão e seus discípulos. Eles seguem a vida. À sua frente, está o autor da vida, Jesus. Aquele que é capaz de nos tirar do isolamento e nos inserir na vida social-religiosa da cidade.
Do outro lado, na porta da cidade, uma outra procissão levava a morte. Um cortejo fúnebre. Sem vida. Diz o evangelista que uma grande multidão acompanha o cortejo. Os dois tem em comum a multidão que acompanha as duas procissões. Eles se encontram. Vida e Morte. Aparentemente, a procissão da vida poderia parar para ver o cortejo de morte passar. É assim que, normalmente, fazemos no dia-a-dia. Paramos para ver o mal passar, sem nada fazer. Escondemo-nos. Alguns até afirmam, "eu não tenho nada a ver com isso".
Entretanto, Jesus nos mostra como deve agir o crente. Ele para. Diante da morte ele sente compaixão, isto é, sofre com aquele/aquela que está vivendo uma situação de morte, desespero, infelicidade. 
Diante do caixão e da mãe diz, "não chore"! Eu estou aqui. Eu sou o autor da vida. Não há mais morte. Ele toca no caixão. Os que o levavam, param!
Jesus olha o jovem. Contempla aquela face sem vida. Olha o corpo, mas enxerga a alma. Vê a mãe, sem aquele que poderia ser seu sustento, pois era viúva. Jesus se vê naquela cena. Somente ele e sua mãe (por isso vai deixar João como filho de Maria). 
Jesus não pergunta nada. Mira o jovem, e ordena; isso, ordena, "levanta-te!". Então, o morto senta-se e começa a falar. "E Jesus o entregou à sua mãe". 
Ao voltar a vida, o jovem começa a falar. Podemos perguntar, o que ele falou? O evangelista não nos conta. Entretanto, podemos imaginar, supor. Morto, voltou à vida. E todo aquele que volta à vida louva o Senhor, pois somente ele pode nos restituir à vida. Quantas pessoas hoje estão mortas? Vivem privadas da graça de Deus. Caminham no pecado. São soberbas, egoístas, falam mal dos outros. Situações de morte na nossa vida.
Após o morto falar, agradecer a Deus, Jesus o restitui à sua família, a sua mãe. Devolve-o ao convívio social, ao convívio da cidade. Aquele procissão de morte insere-se na procissão da vida. Aumenta a multidão dos que estavam seguindo Jesus. Voltam à cidade com a alegria da ressurreição.
Assim, queridos e queridas, Jesus quer restituir-nos à vida perdida pelo pecado. Não deixemos que o pecado tome conta de nossa vida. Nascemos para viver os frutos do espírito, 'amor, alegria, paz, longanimidade, bondade, fé, mansidão e temperança' (Gal.5,22).
Aprendemos hoje que a vida vence a morte. Que depois de sermos restituído à vida, somos entregues  mãe, pois ela é aquela que nos orienta e guia. Ensina. Mostra a fé. E essa mãe vai além daquele que nos gerou no corpo. Essa mãe é a Igreja. Depois que Jesus nos resgata do pecado pelo sacramento do Perdão, e nos restitui a vida perdida, ele nos entrega aos cuidados da mãe Igreja.
Somente Deus é fonte de vida. Somente a Igreja é a genitora da vida e a que nos alimenta na fé.
Por isso, rezamos juntos: "Ó Deus, fonte de todo o bem, atendei ao nosso apelo e fazei-nos, por vossa inspiração, pensar o que é certo e realizá-lo com vossa ajuda. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém!