quinta-feira, 26 de abril de 2018

O novo mandamento

Dos Tratados sobre o Evangelho de São João, de Santo Agostinho, bispo

(Tract. 65,1-3:CCL36,490-492)

(Séc.V)

O Senhor Jesus afirma que dá um novo mandamento a seus discípulos, isto é, que se amem mutuamente: Eu vos dou um novo mandamento:amai-vos uns aos outros (Jo 13,34). Mas este mandamento já não estava escrito na antiga lei de Deus, onde se lê: Amarás o teu próximo como a ti mesmo?(Lv 19,18). Por que então o Senhor chama novo o que é evidentemente tão antigo? Será um novo mandamento pelo fato de nos revestir do homem novo, depois de nos ter despojado do velho? Na verdade, ele renova o homem que o ouve, ou melhor, que lhe obedece; não se trata, porém, de um amor puramente humano, mas daquele que o Senhor quis distinguir,acrescentando: Como eu vos amei (Jo 13,34).

É este amor que nos renova, transformando-nos em homens novos, herdeiros da nova Aliança, cantores do canto novo. Foi este amor, caríssimos irmãos, que renovou outrora os antigos justos, os patriarcas e os profetas e, posteriormente, os santos apóstolos. Ainda hoje é ele que renova as nações e reúne todo o gênero humano espalhado pelo mundo inteiro, formando um só povo novo, o corpo da nova esposa do Filho unigênito de Deus. É dela que se diz no Cântico dos Cânticos: Quem é esta que sobe vestida de branco? (cf. Ct 8,5). Vestida de branco, sim, porque renovada; e renovada de que modo, senão pelo mandamento novo?

Por isso os membros desta esposa sentem uma solicitude mútua. Se um membro sofre, todos sofrem com ele; se um membro é honrado, todos os outros se alegram com ele. Pois ouvem e praticam a palavra do Senhor: Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Não como se amam aqueles que vivem na corrupção da carne; nem como se amam os seres humanos apenas como seres humanos; mas como se amam aqueles que são deuses e filhos do Altíssimo.

Deste modo, se tornam irmãos do Filho unigênito de Deus, amando-se uns aos outros com aquele mesmo amor com que ele os amou, e por ele serão conduzidos à plenitude final, onde os seus desejos serão completamente saciados de bens. Então nada faltará à sua felicidade, quando Deus for tudo em todos.

Quem nos dá este amor é o mesmo que diz: Amai-vos uns aos outros como eu vos amei. Foi para isto que ele nos amou, para que nos amássemos mutuamente. E com o seu amor, deu-nos a graça, para que, vivendo unidos em recíproco amor, como membros ligados por tão suave vínculo, formemos o Corpo de tão sublime Cabeça.

quarta-feira, 25 de abril de 2018

A pregação da verdade

Do Tratado contra as heresias, de Santo Irineu, bispo

 (Lib. 1,10,1-3:PG 7,550-554)
(Séc.II)

A Igreja, espalhada pelo mundo inteiro até os confins da terra, recebeu dos apóstolos e de seus discípulos a fé em um só Deus, Pai todo-poderoso, que criou o céu, a terra, o mar e tudo o que neles existe (cf. At 4,24); em um só Jesus Cristo Filho de Deus, que se fez homem para nossa salvação; e no Espírito Santo, que, pela boca dos profetas, anunciou antecipadamente os desígnios de Deus: a vinda de Jesus Cristo, nosso amado Senhor, o seu nascimento de uma Virgem, a sua paixão e ressurreição de entre os mortos, a ascensão corporal aos céus, a sua futura vinda do céu na glória do Pai. Então ele virá para recapitular o universo inteiro (cf. Ef 1,10) e ressuscitar todos os homens, a fim de que, segundo a vontade do Pai invisível, diante de Cristo Jesus nosso Senhor, Deus, Salvador e Rei, todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra, e toda língua o proclame (cf. Fl 2,10-11), e ele julgue todos os homens com justiça.

A Igreja recebeu, como dissemos, e guarda com todo cuidado esta pregação e esta fé; apesar de espalhada pelo mundo inteiro, guarda-a como se morasse em uma só casa. Acredita nela como quem possui uma só alma e um só coração; e a proclama, ensina e transmite, como se tivesse uma só boca. Porque, embora através do mundo haja línguas muito diferentes, a força da Tradição é uma só e a mesma para todos.

 As Igrejas fundadas na Germânia, as que se encontram na Ibéria e nas terras celtas, as do Oriente, do Egito e Líbia, ou as do centro do mundo, não crêem nem ensinam de modo diferente. Assim como o sol, criatura de Deus, é um só e o mesmo para todo o universo, igualmente a pregação da verdade brilha em toda parte e ilumina todos os homens que querem chegar ao conhecimento da verdade.

 E dos que presidem às Igrejas, nem mesmo o mais eloqüente, dirá coisas diferentes das que afirmamos, pois ninguém está acima do divino Mestre; nem o orador menos hábil enfraquecerá a Tradição. Sendo uma só e mesma a fé, nem aquele que muito diz sobre ela a aumenta, nem aquele que diz menos a diminui.

segunda-feira, 23 de abril de 2018

“Sou bom pastor”.


E toda boa ovelha ouve a voz do seu pastor, e o segue.
Sendo assim, relembremos algumas das Palavras do nosso pastor.
“Perdoar até 70 vezes 7”; saber-se consolado quando estivermos chorando; saber-se saciado quando tiver fome e sede de justiça; saber que se alcançará misericórdia quando formos misericordiosos;  saber que veremos a Deus quando tivermos o coração puro; saber que seremos chamados de Filhos de Deus quando trabalharmos pela paz, e sermos pacificadores, saber que possuiremos o Reino dos Céus quando formos pobres em espírito e sofrermos perseguição por causa da justiça.
Ouvimos a Palavra do Bom Pastor quando alimentamos os que estão famintos, quando saciamos os sedentos, quando visitamos os doentes e encarcerados, quando damos abrigo aos refugiados.
Quando nos dispomos a sermos sal e luz do mundo. Quando chamamos Deus de Pai (no Pai Nosso). Quando fugimos das tentações. Quando anunciamos que Jesus é fonte de vida, e vida “em abundância”. Que ele é o Caminho, a Verdade, e a Vida.
“Eu sou o Bom Pastor. Eu conheço as minhas ovelhas. E elas me conhecem”. Vivamos como nos pede o Bom Pastor, pois somos suas ovelhas, e nos sabemos cuidados e alimentados por ele.
Amém.

domingo, 22 de abril de 2018

"Cristo, o bom pastor"

Das Homilias sobre os Evangelhos, de São Gregório Magno, papa

(Hom. 14,3-6:PL76,1129-1130) 
(Séc.VI)

Eu sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas, isto é, eu as amo, e minhas ovelhas me conhecem (Jo 10,14). É como se quisesse dizer francamente: elas correspondem ao amor daquele que as ama. Quem não ama a verdade, é porque ainda não conhece perfeitamente. Depois de terdes ouvido, irmãos caríssimos, qual é o perigo que corremos, considerai também, por estas palavras do Senhor, o perigo que vós também correis. Vede se sois suas ovelhas, vede se o conheceis, vede se conheceis a luz da verdade. Se o conheceis, quero dizer, não só pela fé, mas também pelo amor, se o conheceis não só pelo que credes, mas também pelas obras. O mesmo evangelista João, de quem são estas palavras, afirma ainda: Quem diz: “Eu conheço Deus”, mas não guarda os seus mandamentos, é mentiroso(1Jo 2,4).

Por isso, nesta passagem do evangelho, o Senhor acrescenta imediatamente: Assim como o Pai me conhece, eu também conheço o Pai e dou minha vida por minhas ovelhas (Jo 10,15). Como se dissesse explicitamente: a prova de que eu conheço o Pai e sou por ele conhecido, é que dou minha vida por minhas ovelhas; por outras palavras, este amor que me leva a morrer por minhas ovelhas, mostra o quanto eu amo o Pai.

Continuando a falar de suas ovelhas, diz ainda: Minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna (Jo 10,27-28). É a respeito delas que fala um pouco acima: Quem entrar por mim, será salvo; entrará e sairá e encontrará pastagem (Jo 10,9). Entrará, efetivamente, abrindo-se à fé; sairá passando da fé à visão e à contemplação, e encontrará pastagem no banquete eterno. Suas ovelhas encontram pastagem, pois todo aquele que o segue na simplicidade de coração é nutrido por pastagens sempre verdes. Quais são afinal as pastagens dessas ovelhas, senão as profundas alegrias de um paraíso sempre verdejante? Sim, o alimento dos eleitos é o rosto de Deus, sempre presente. Ao contemplá-lo sem cessar, a alma sacia-se eternamente com o alimento da vida.

Procuremos, portanto, irmãos caríssimos, alcançar essas pastagens, onde nos alegraremos na companhia dos cidadãos do céu. Que a própria alegria dos bem-aventurados nos estimule. Corações ao alto, meus irmãos! Que a nossa fé se afervore nas verdades em que acreditamos; inflame-se o nosso desejo pelas coisas do céu. Amar assim já é pôr-se a caminho. Nenhuma contrariedade nos afaste da alegria desta solenidade interior. Se alguém, com efeito, pretende chegar a um determinado lugar, não há obstáculo algum no caminho que o faça desistir de chegar aonde deseja. Nenhuma prosperidade sedutora nos iluda. Insensato seria o viajante que, contemplando a beleza da paisagem, se esquece de continuar sua viagem até o fim.

sexta-feira, 20 de abril de 2018

A cruz de Cristo, salvação para o gênero humano

Dos Sermões de Santo Efrém, diácono

 (Sermo de Domino nostro, 3-4.9:
Opera edit. Lamy, 1,152-158.166-168)
 (Séc. IV)

Nosso Senhor foi calcado pela morte mas, por sua vez, esmagou-a como quem soca com os pés o pó da estrada. Sujeitou-se à morte e aceitou-a voluntariamente, para destruir aquela morte que não queria morrer. Nosso Senhor saiu para o Calvário  carregando a cruz, para satisfazer as exigências da morte; mas, ao soltar um brado do alto da cruz, fez sair os mortos dos  sepulcros, vencendo a oposição da morte. A morte o matou no corpo que assumira; mas ele, com as mesmas armas, saiu vitorioso da morte. A divindade ocultou-se sob a humanidade e assim aproximou-se da morte, que matou, mas também foi morta. A morte matou a vida natural e, por sua vez, foi morta pela vida sobrenatural.

A morte não poderia devorá-lo se ele não tivesse um corpo nem o inferno tragá-lo se não tivesse carne. Foi por isso que desceu ao seio de uma Virgem para tomar um corpo que o conduzisse à mansão dos mortos. Com o corpo que assumira, lá entrou para destruir suas riquezas e arruinar seus tesouros.

 A morte foi ao encontro de Eva, a mãe de todos os viventes. Ela é como uma vinha cuja cerca foi aberta pela morte, por meio das próprias mãos de Eva, para que pudesse provar de seus frutos. Então Eva, mãe de todos os viventes, tornou-se fonte da morte  para todos os viventes.  Floresceu, porém, Maria, a nova videira, em lugar de Eva, a antiga videira; nela habitou Cristo, a nova vida, a fim de que, ao aproximar-se a morte com sua habitual segurança para alimentar a fome devoradora, encontrasse ali escondida, no seu fruto mortal, a Vida destruidora da morte. Quando, pois, a morte engoliu sem temor o fruto mortal, ele  libertou a vida e com ela, multidões.

 O admirável filho do carpinteiro, que levou sua cruz até os abismos da morte que tudo devoravam, também levou o gênero humano para a morada da vida. E uma vez que o gênero humano, por causa de uma árvore, tinha se precipitado no reino das sombras, sobre outra árvore passou para o reino da vida. Na mesma árvore em que fora enxertado um fruto amargo, foi enxertado depois um fruto doce, para que reconheçamos o Senhor a quem criatura alguma pode resistir.

 Glória a vós, que lançastes a cruz como uma ponte sobre a morte, para que através dela as almas possam passar da região da morte para a vida!  Glória a vós, que assumistes um corpo de homem mortal, para transformá-lo em fonte de vida para todos os mortais!  Vós viveis para sempre! Aqueles que vos mataram, trataram vossa vida como os agricultores: enterraram-na como o grão de trigo; mas ela ressuscitou e, junto com ela, fez ressurgir uma multidão de seres humanos.

 Vinde, ofereçamos o grande e universal sacrifício do nosso amor. Entoemos com grande alegria cânticos e orações àquele que se ofereceu a Deus no sacrifício da cruz, para nos enriquecer por meio dela com a abundância de seus dons.

domingo, 15 de abril de 2018

A celebração da Eucaristia

Da Primeira Apologia a favor dos cristãos, de São Justino, mártir

(Cap.66-67: PG 6,427-431) 
(Séc. I)

A ninguém é permitido participar da Eucaristia, a não ser àquele que, admitindo como verdadeiros os nossos ensinamentos e tendo sido purificado pelo batismo para a remissão dos pecados e a regeneração, leve uma vida como Cristo ensinou. Pois não é pão ou vinho comum o que recebemos. Com efeito, do mesmo modo como Jesus Cristo, nosso salvador, se fez homem pela Palavra de Deus e assumiu a carne e o sangue para a nossa salvação, também nos foi ensinado que o alimento sobre o qual foi pronunciada a ação de graças com as mesmas palavras de Cristo e, depois de transformado, nutre nossa carne e nosso sangue, é a própria carne e o sangue de Jesus que se encarnou.

Os apóstolos, em suas memórias que chamamos evangelhos, nos transmitiram a recomendação que Jesus lhes fizera. Tendo ele tomado o pão e dado graças, disse: Fazei isto em memória de mim. Isto é o meu corpo (Lc 22,19; Mc 14,22); e tomando igualmente o cálice e dando graças, disse: Este é o meu sangue (Mc 14,24), e os deu somente a eles. Desde então, nunca mais deixamos de recordar estas coisas entre nós. Com o que possuímos, socorremos a todos os necessitados e estamos sempre unidos uns aos outros. E por todas as coisas com que nos alimentamos, bendizemos o Criador do universo, por seu Filho Jesus Cristo e pelo Espírito Santo.

No chamado dia do Sol, reúnem-se em um mesmo lugar todos os que moram nas cidades ou nos campos. Lêem-se as memórias dos apóstolos ou os escritos dos profetas, na medida em que o tempo permite. Terminada a leitura, aquele que preside toma a palavra para aconselhar e exortar os presentes à imitação de tão sublimes ensinamentos.

Depois, levantamo-nos todos juntos e elevamos as nossas preces; como já dissemos acima, ao acabarmos de rezar, apresentam-se pão, vinho e água.Então o que preside eleva ao céu, com todo o seu fervor, preces e ações de graças, e o povo aclama: Amém. Em seguida, faz-se entre os presentes a distribuição e a partilha dos alimentos que foram eucaristizados, que são também enviados aos ausentes por meio dos diáconos.

Os que possuem muitos bens dão livremente o que lhes agrada. O que se recolhe é colocado à disposição do que preside. Este socorre os órfãos, as viúvas e os que, por doença ou qualquer outro motivo se acham em dificuldade, bem como os prisioneiros e os hóspedes que chegam de viagem; numa palavra, ele assume o encargo de todos os necessitados.

Reunimo-nos todos no dia do Sol, não só porque foi o primeiro dia em que Deus, transformando as trevas e a matéria, criou o mundo, mas também porque neste mesmo dia Jesus Cristo, nosso salvador, ressuscitou dos mortos. Crucificaram-no na véspera do dia de Saturno; e no dia seguinte a este, ou seja, no dia do Sol,aparecendo aos seus apóstolos e discípulos, ensinou-lhes tudo o que também nós vos propusemos como digno de consideração.

sexta-feira, 13 de abril de 2018

Hoje é Sexta-feira 13!



Hoje é sexta-feira 13 de abril de 2018. E o que isso tem de diferente dos outros dias? Nada! Muitos supersticiosos falam da sexta-feira 13. Para nós, cristãos, continua sendo dia de oração, de meditação da Palavra de Deus.
No livro dos Atos dos Apóstolos, Lucas destaca a prisão de alguns apóstolos. Em seguida, relata a fala de Gamaliel em que ele destaca que se o que os apóstolos fazem é obra de Deus, então, de nada adiantaria proibir os apóstolos de agirem.
Lemos no relato que os membros do Sinédrio “chamaram os apóstolos, mandaram açoitá-los, proibiram que eles falassem em nome de Jesus, e depois os soltaram. Os apóstolos saíram do Conselho, muito contentes, por terem sido considerados dignos de injúrias, por causa do nome de Jesus”. (At. 5,40-41).
Notemos que os apóstolos saíram do Conselho “muito contentes, por terem sido considerados dignos de injúrias, por causa do nome de Jesus” (grifo meu). Como a Palavra de Deus é única, e deve ressoar em nossas vidas, lembremos o Sermão da Montanha, proferido em Mateus, capítulo 5. Lá, Jesus disse, “Felizes vocês, se forem insultados e perseguidos, e se disserem todo tipo de calúnia contra vocês, por causa de mim. Fiquem alegres e contentes, porque será grande para vocês a recompensa no céu. Do mesmo modo perseguiram os profetas que vieram antes de vocês. (Mt. 5,11-12).
A Palavra de Deus deve ser fonte de conforto para nós, mesmo na perseguição, nas injúrias, nas rejeições. Paulo falou a Timóteo: “Toda Escritura é inspirada por Deus e é útil para ensinar, para refutar, para corrigir, para educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, preparado para toda boa obra”. (II Tm. 3,16-17). E a boa obra não está só em rezar (isso é importante). A boa obra é também ser testemunho de Jesus nas situações de perseguição e adversas. Não esmorecer.
Devemos estar atentos à palavra de Paulo que diz que “todos os que querem viver com piedade em Jesus Cristo serão perseguidos”. (II Tm 3,12).
E por último, “não tenham medo daqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Pelo contrário, tenham medo daquele que pode arruinar a alma e o corpo no inferno”! (Mt. 10,28).

domingo, 8 de abril de 2018

Nova criatura em Cristo 

Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo 

(Sermo 8, in octava Paschae 1. 4: PL46, 838. 841) 
(Séc.V)

Minha palavra se dirige a vós, filhos recém-nascidos, pequeninos em Cristo, nova prole da Igreja, graça do Pai, fecundidade da Mãe, germe santo, multidão renovada, flor de nossa honra e fruto do nosso trabalho, minha alegria e coroa, todos vós que permaneceis firmes no Senhor. É com palavras do Apóstolo que vos falo: Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não deis atenção à carne para satisfazer as suas paixões (Rm 13,14), a fim de que, também na vida, vos revistais daquele que revestistes no sacramento. Todos vós que fostes batizados em Cristo vos revestistes de Cristo. O que vale não é mais ser judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vós sois um só, em Jesus Cristo (Gl 3,27-28). 

Nisto reside a força do sacramento: é o sacramento da vida nova que começa no tempo presente pela remissão de todos os pecados passados, e atingirá sua plenitude na ressurreição dos mortos. Pelo batismo na sua morte, fostes sepultados com Cristo, para que, como Cristo ressuscitou dos mortos, assim também leveis uma vida nova (cf. Rm 6,4). Agora caminhais pela fé, vivendo neste corpo mortal como peregrinos longe do Senhor. 
Mas o vosso caminho seguro é aquele mesmo para quem vos dirigis, Jesus Cristo, que se fez homem por amor de nós. Para os seus fiéis ele preparou um grande tesouro de felicidade, que há de revelar e dar abundantemente a todos os que nele esperam, quando recebermos na realidade aquilo que recebemos agora só na esperança. 

Hoje é o oitavo dia do vosso nascimento. Hoje completa-se em vós o sinal da fé que, entre os antigos patriarcas, consistia na circuncisão do corpo no oitavo dia depois do nascimento segundo a carne. Por isso, o próprio Senhor, despojando-se por sua ressurreição da mortalidade da carne e revestindo-se de um corpo não diferente mas imortal, ao ressuscitar consagrou o “dia do Senhor”, que é o terceiro dia depois de sua paixão, mas na contagem semanal dos dias, é o oitavo a partir do sábado, e coincide com o primeiro dia da semana. 

Por conseguinte, também vós participais do mesmo mistério, não ainda na realidade perfeita mas na certeza da esperança,porque recebestes a garantia do Espírito. Com efeito, se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres. Pois vós morrestes, e a vossa vida está escondida, com Cristo, em Deus. Quando Cristo, vossa vida, aparecer em seu triunfo, então vós aparecereis também com ele, revestidos de glória (Gl 3,1-4).

Nova criatura em Cristo 

Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo 

(Sermo 8, in octava Paschae 1. 4: PL46, 838. 841) 
(Séc.V)

Minha palavra se dirige a vós, filhos recém-nascidos, pequeninos em Cristo, nova prole da Igreja, graça do Pai, fecundidade da Mãe, germe santo, multidão renovada, flor de nossa honra e fruto do nosso trabalho, minha alegria e coroa, todos vós que permaneceis firmes no Senhor. É com palavras do Apóstolo que vos falo: Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não deis atenção à carne para satisfazer as suas paixões (Rm 13,14), a fim de que, também na vida, vos revistais daquele que revestistes no sacramento. Todos vós que fostes batizados em Cristo vos revestistes de Cristo. O que vale não é mais ser judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vós sois um só, em Jesus Cristo (Gl 3,27-28). 

Nisto reside a força do sacramento: é o sacramento da vida nova que começa no tempo presente pela remissão de todos os pecados passados, e atingirá sua plenitude na ressurreição dos mortos. Pelo batismo na sua morte, fostes sepultados com Cristo, para que, como Cristo ressuscitou dos mortos, assim também leveis uma vida nova (cf. Rm 6,4). Agora caminhais pela fé, vivendo neste corpo mortal como peregrinos longe do Senhor. 
Mas o vosso caminho seguro é aquele mesmo para quem vos dirigis, Jesus Cristo, que se fez homem por amor de nós. Para os seus fiéis ele preparou um grande tesouro de felicidade, que há de revelar e dar abundantemente a todos os que nele esperam, quando recebermos na realidade aquilo que recebemos agora só na esperança. 

Hoje é o oitavo dia do vosso nascimento. Hoje completa-se em vós o sinal da fé que, entre os antigos patriarcas, consistia na circuncisão do corpo no oitavo dia depois do nascimento segundo a carne. Por isso, o próprio Senhor, despojando-se por sua ressurreição da mortalidade da carne e revestindo-se de um corpo não diferente mas imortal, ao ressuscitar consagrou o “dia do Senhor”, que é o terceiro dia depois de sua paixão, mas na contagem semanal dos dias, é o oitavo a partir do sábado, e coincide com o primeiro dia da semana. 

Por conseguinte, também vós participais do mesmo mistério, não ainda na realidade perfeita mas na certeza da esperança,porque recebestes a garantia do Espírito. Com efeito, se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres. Pois vós morrestes, e a vossa vida está escondida, com Cristo, em Deus. Quando Cristo, vossa vida, aparecer em seu triunfo, então vós aparecereis também com ele, revestidos de glória (Gl 3,1-4).

quarta-feira, 4 de abril de 2018

"Fica conosco, Senhor"!


“Fica conosco Senhor”!
Lucas 24,13-35: Nosso texto bíblico de hoje se refere ao episódio conhecido como “Discípulos de Emaús”.
É necessário destacar alguns pontos dessa passagem: 1º. Eles retornam no mesmo dia da morte do anúncio da Ressurreição. 2º. A tristeza os cegou, e não perceberam a presença de Jesus. 3º. São inquiridos pelo assunto, a paixão e morte de Jesus. 4º. Jesus faz a pregação necessária sobre a ressurreição e o que eles conheciam das profecias. 5º. Jesus fica com eles e faz refeição. 6º. Discípulos reconhecem Jesus no partir do Pão. 7º. Discípulos voltam ainda na noite para Jerusalém. 8º. Anunciam a ressurreição.
Não sabemos quem são esses dois. Aqui não interessa nomear. O que nos importa é saber que a palavra de Deus que tanto eles escutavam, não havia penetrado no coração. Tal como nós, são humanos. Ainda não enxergavam os acontecimentos pela perspectiva divina. Estavam presos aos seus conceitos e pré-conceitos.
Esses discípulos são como nós. Ouvimos a Palavra. Fazemos lectio divina. Estudamos. Celebramos. Mas, não deixamos a palavra de Deus agir em nossas vidas. Tomamos distância dela, ou a deixamos dentro da Igreja após o fim da Missa.
Aqueles discípulos não compreendiam a escritura, e não fizeram esforço para tal. Percebamos que a atitude sempre é de Deus. Se não fosse Jesus a agir na vida deles, pela Palavra, eles iriam embora, decepcionados. Jesus mostra que Deus não decepciona. Deus cumpre suas promessas. E hoje quer fazer o mesmo. Mas, precisamos abrir nossos olhos, e ouvidos. Deixar a palavra de Deus agir em nós. Voltarmos de madrugada para ele. Aqueles discípulos não esperaram amanhecer. Voltaram no horário inconveniente para eles, mas responderam à voz de Jesus. Deixaram-se fazer a experiência de Deus no cotidiano de suas vidas. Façamos a experiência de Emaús. Deixemos que a Palavra de Deus aja em nossas vidas. Não nos façamos de cegos. Não nos decepcionemos quando tudo pode parecer o fim. Mas é só o começo. Tudo começa na paixão, e termina na ressurreição. Ou, tudo começa na Ceia Pascal, e termina no sepulcro vazio.
Então podemos afirmar,
“Realmente, o Senhor ressuscitou...”!

domingo, 1 de abril de 2018

Cristo Ressuscitou - Um Novo Mundo é Possivel

"Esse é o dia que o Senhor fez para nós"!


Hoje celebramos Páscoa de Jesus Cristo. Isto significa que ele venceu a morte. Voltou a vida. Algo inédito na história da humanidade. São poucas as pessoas que se dão conta da grandiosidade desse mistério.
A leitura da carta de Paulo aos Colossenses, nos remete a uma situação de vida desconhecida dos gregos, mas que é possível ser concretizada. Paulo nos conclama a nos esforçarmos para “alcançarmos as coisas do alto”. Mas que coisas do alto são essas? Se estão no alto, seria difícil para nós atingirmos, pois estão fora da realidade tempo-espaço?
Não! Afirmo que não. Toda boa ação é uma ação do alto. Na carta aos Gálatas, ele lista uma série de atitudes que devemos ter para alcançarmos as  coisas do alto: “amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, lealdade, mansidão, domínio próprio”. Essas são coisas do alto.
Se assim procedermos, poderemos nos aproximarmos do túmulo e de lá não ver mais a morte, mas a vida que se faz presente no meio de nós.
Nós sempre buscamos uma vida melhor, uma vida diferente.
A ressurreição é um chamado a sermos construtores da “Civilização do Amor”. Nesta nova etapa da evolução social da humanidade, devemos ter fome e sede de justiça; sermos misericordiosos; puros de coração; promotores da paz.
Todo aquele que vive  a experiência do ressuscitado, sabe que deve promover a vida. E a vida, que vem do alto, se concretiza na terra. No aqui e no agora da história da humanidade. Toda vez que um faminto é alimentado, um sedento saciado, um nu vestido, um doente visitado, um presidiário consolado, um “refugiado” acolhido, construímos um novo mundo, uma nova sociedade. Somos promotores da “Civilização do Amor”. Só assim, poderemos comer do corpo do senhor Jesus e bebermos do seu sangue, até que haja a pátria definitiva de toda humanidade no Reino dos Céus (Reino de Deus).
Tiremos da experiência do túmulo vazio a lição de que nada pode nos separar do amor de Deus, “que está no Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8,39).
Deus nos abençoe.