segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Sobre a defesa da bandeira do Brasil

Muitas pessoas de boa vontade têm questionado sobre a “cor” da bandeira brasileira. Agarram-se a um objeto como se ele fosse a coisa mais importante para a construção de um país, de uma nação.
As bandeiras não falam por si mesmas. Elas expressam uma representação social. Não trazem em si um valor absoluto. São meramente representativas, simbólicas.
A construção dessa representação passa por uma discussão política. Existe uma lei que fala sobre como deve ser “construída” a bandeira. Qual a disposição das cores, bem como de outras representações dentro dela.
A bandeira do Brasil, que hoje conhecemos, é uma herança do tempo imperial. Foi modificada para adequar-se ao período republicano. Muitos desconhecem a origem das cores na bandeira. Alguns identificam com as riquezas do país, mata atlântica e ouro. Não! Não é isso. Como falei, as cores de nossa bandeira são resquício da bandeira imperial, onde já existiam o verde e o amarelo. O que poucos, ou quase ninguém sabe, é que essas cores representavam as duas casas imperiais que compunham o governo imperial. O verde, a cor dos Braganças; e o amarelo a cor da casa dos Orleans. Ao se passar para a República, houve a necessidade de se adequar o simbolismo.
A frase colocada no meio da bandeira, “ordem e progresso” expressa uma corrente filosófica que dominava dentro do exército brasileiro, o Positivismo. Essa ideologia defende que somente a razão tem valor. Só o que pode ser comprovado cientificamente serve ao ser humano. Deixa de fora a Teologia e a Metafísica. Para o positivista só o material tem valor. Só o que pode ser definido dentro de uma lei científica.
O positivismo não é cristão. Não é crente. Não compreende, nem aceita Deus como centro da vida.
O magistério da Igreja, representado pelos papas, tem demonstrado isso. Em viagem apostólica em setembro de 2011 à Alemanha, no discurso no parlamento alemão, o Papa Bento XVI declarou: “... A base de tal opinião é a concepção positivista, quase geralmente adotada hoje, de natureza. Se se considera a natureza – no dizer de Hans Kelsen - «um agregado de dados objetivos, unidos uns aos outros como causas e efeitos», então realmente dela não pode derivar qualquer indicação que seja de algum modo de carácter ético (Waldstein, op. cit., 15-21). Uma concepção positivista de natureza, que compreende a natureza de modo puramente funcional, tal como a conhecem as ciências naturais, não pode criar qualquer ponte para a ética e o direito, mas suscitar de novo respostas apenas funcionais. Entretanto o mesmo vale para a razão numa visão positivista, que é considerada por muitos como a única visão científica. Segundo ela, o que não é verificável ou falsificável não entra no âmbito da razão em sentido estrito. Por isso, a ética e a religião devem ser atribuídas ao âmbito subjetivo, caindo fora do âmbito da razão no sentido estrito do termo. Onde vigora o domínio exclusivo da razão positivista – e tal é, em grande parte, o caso da nossa consciência pública –, as fontes clássicas de conhecimento da ética e do direito são postas fora de jogo. Esta é uma situação dramática que interessa a todos e sobre a qual é necessário um debate público; convidar urgentemente para ele é uma intenção essencial deste discurso.
O conceito positivista de natureza e de razão, a visão positivista do mundo é, no seu conjunto, uma parcela grandiosa do conhecimento humano e da capacidade humana, à qual não devemos de modo algum renunciar. Mas ela mesma no seu conjunto não é uma cultura que corresponda e seja suficiente ao ser humano em toda a sua amplitude. Onde a razão positivista se considera como a única cultura suficiente, relegando todas as outras realidades culturais para o estado de subculturas, aquela diminui o homem, antes, ameaça a sua humanidade. Digo isto pensando precisamente na Europa, onde vastos ambientes procuram reconhecer apenas o positivismo como cultura comum e como fundamento comum para a formação do direito, reduzindo todas as outras convicções e os outros valores da nossa cultura ao estado de uma subcultura. Assim coloca-se a Europa, face às outras culturas do mundo, numa condição de falta de cultura e suscitam-se, ao mesmo tempo, correntes extremistas e radicais. A razão positivista, que se apresenta de modo exclusivista e não é capaz de perceber algo para além do que é funcional, assemelha-se aos edifícios de cimento armado sem janelas, nos quais nos damos o clima e a luz por nós mesmos e já não queremos receber estes dois elementos do amplo mundo de Deus”. 
O Papa São João Paulo II, na carta Encíclica Fides et Ratio (sobre a fé e a razão), declarou: “No âmbito da investigação científica, foi-se impondo uma mentalidade positivista, que não apenas se afastou de toda a referência à visão cristã do mundo, mas sobretudo deixou cair qualquer alusão à visão metafísica e moral. Por causa disso, certos cientistas, privados de qualquer referimento ético, correm o risco de não manterem, ao centro do seu interesse, a pessoa e a globalidade da sua vida. Mais, alguns deles, cientes das potencialidades contidas no progresso tecnológico, parecem ceder à lógica do mercado e ainda à tentação dum poder demiúrgico sobre a natureza e o próprio ser humano”. Em seguida, continua, “(...) outro perigo a ser considerado é o cientificismo. Esta concepção filosófica recusa-se a admitir, como válidas, formas de conhecimento distintas daquelas que são próprias das ciências positivas, relegando para o âmbito da pura imaginação tanto o conhecimento religioso e teológico, como o saber ético e estético. No passado, a mesma ideia aparecia expressa no positivismo e no neopositivismo, que consideravam destituídas de sentido as afirmações de carácter metafísico. A crítica epistemológica desacreditou esta posição(...)". E acrescenta, “(...) verdade é que uma certa mentalidade positivista continua a defender a ilusão de que, graças às conquistas científicas e técnicas, o homem, como se fosse um demiurgo, poderá chegar por si mesmo a garantir o domínio total do seu destino”. Conclui: “Quanto aos textos bíblicos, e em particular os Evangelhos, a sua verdade não se reduz seguramente à narração de simples acontecimentos históricos ou à revelação de factos neutros, como pretendia o positivismo historicista. Pelo contrário, esses textos expõem acontecimentos, cuja verdade está para além da mera ocorrência histórica: está no seu significado para e dentro da história da salvação. Esta verdade adquire a sua plena explicitação na leitura perene que a Igreja faz dos referidos textos ao longo dos séculos, mantendo inalterado o seu significado originário. Portanto, é urgente que se interroguem, filosoficamente também, sobre a relação que há entre o facto e o seu significado; relação essa que constitui o sentido específico da história”.
E recentemente, em novembro de 2015, em discurso proferido pelo Papa Francisco, aos participantes do “Congresso Mundial promovido pela Congregação para a Educação Católica com o tema: Educar Hoje e Amanhã: uma paixão que se renova”, declarou, “Hoje há a tendência a um neopositivismo, ou seja, a educar para as coisas imanentes, para o valor das coisas imanentes, e isto tanto nos países de tradição cristã como nos países de tradição pagã. O que não significa introduzir os jovens, as crianças na realidade total: falta a transcendência. Para mim, a maior crise da educação, na perspectiva cristã, é este fechamento à transcendência. Somos fechados à transcendência. É preciso preparar os corações para que o Senhor se manifeste, mas na totalidade; ou seja, na totalidade da humanidade que tem também esta dimensão de transcendência. Educar humanamente mas com horizontes abertos. Nenhum tipo de fechamento beneficia a educação”. E acrescentou, “hoje é necessária uma «educação de emergência», é preciso apostar na «educação informal», porque a educação formal se empobreceu por causa da herança do positivismo. Concebe apenas um tecnicismo intelectualista e a linguagem da mente. E por isso empobreceu-se. É preciso interromper este esquema. E há experiências, como a arte, o desporto... A arte e o desporto educam! É preciso abrir-se a novos horizontes, criar novos modelos... Há tantas experiências: conhecestes a que vós apresentastes, «Scholas occurrentes», que procura precisamente abrir, abrir horizontes a uma educação que não se limite apenas a inculcar conceitos. Há três linguagens: da mente, do coração e das mãos. A educação deve mover-se nestes três caminhos. Ensinar a pensar, ajudar a ouvir bem e acompanhar no fazer, ou seja, que as três linguagens estejam em harmonia; que a criança, o jovem, pense aquilo que sente e faz, sinta aquilo que pensa e faz, e faça aquilo que pensa e sente. E deste modo, a educação torna-se inclusiva porque todos têm um lugar; inclusiva também humanamente”. E concluiu, “Pacto educativo interrompido, seletividade, exclusão, herança de um positivismo seletivo: devem-se resolver estas coisas. E ir em frente, ir em frente com este desafio”.
Antes de se exaltar a frase de nossa bandeira; antes de achar que existe uma ordem pré-estabelecida; antes de se achar que somente o cientificismo é a solução para o desenvolvimento de nosso país, devemos entender o que se está por trás dessas afirmações tendenciosas. Não sou eu quem falo. É o magistério da Igreja. São os papas, aos quais damos a devida reverência e respeito.
Jesus crescia em estatura, sabedoria e graça diante de Deus e dos homens. Jesus moldou-se pela cultura de seu tempo, dando respostas concretas à humanidade, isso é crescer em sabedoria e graça.


sexta-feira, 19 de agosto de 2016

São Lourenço, padroeiro dos diáconos

No dia 10 de agosto, a Igreja celebrou a Festa de São Lourenço. Este fora um dos “diáconos da Igreja romana e morreu mártir na perseguição de Valeriano, quatro dias depois do Papa Sisto II e seus companheiros (...). Constantino Magno erigiu uma basílica” no lugar onde fora sepultado. “O seu culto já se tinha difundido na Igreja no século IV (LH, página 1177)”.
Antes, porém, no dia 6 de agosto, temos a Festa da Transfiguração. Momento em que somos chamados a refletirmos sobre a divindade de Jesus. No episódio narrado no evangelho, ouvimos Deus-Pai dizer: “Este é o meu filho, o Escolhido. Escutai o que ele diz”!
É significativa essa precedência. Ouvir o Filho é isso que os diáconos são chamados. Ao serem ordenados, recebem o livro dos evangelhos, e no rito de entrega, o bispo diz que o diácono deve viver o que crê.
Lourenço sempre viveu o que lhe pedia a palavra de Deus. Santo Agostinho afirmou que em seu ministério diaconal, Lourenço “servia o sangue de Cristo; aí, pelo nome de Cristo, derramou seu sangue”. E ainda acrescentou que Lourenço viveu o que São João disse, “Como Cristo entregou sua vida por nós, também nós devemos entregar as nossas pelos irmãos (1 Jo 3.16). Ainda diz que Lourenço por ter amado verdadeiramente o Senhor, ele o imitou, inclusive em seu martírio (1 Pd 2,21).
Dessa forma, tendo o evangelho diante dos olhos, do coração e da mente, viveu até o fim da vida o amor dedicado ao senhor e à sua Igreja. Ele bradava, “só adoro o meu Deu, só a ele servirei; eu não temo, ó tirano, as torturas mais cruéis. Sois meu escudo e proteção: Em vós espero, ó Senhor”! (LH. Responsório breve, pg 1180).
Neste dia em que toda a Igreja celebra a Festa de São Lourenço, e reveste-se de vermelho, rezemos juntos, “Ó Deus, o vosso diácono Lourenço, inflamado de amor por vós, brilhou pela fidelidade no vosso serviço e pela glória do martírio; concedei-nos amar o que ele amou e praticar o que ensinou. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo”.
Se sua comunidade tem a graça de ter um diácono permanente, ore por ele e por sua família.

Oração do Diácono permanente

Deus e Pai Nosso, fortalece com a graça do Espírito Santo os diáconos de vossa Igreja, para que desempenhem com alegria, fidelidade e em espírito de comunidade eclesial, o seu ministério de diáconos, seguindo os passos de vosso Filho, Jesus Cristo, que “não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate de muitos”.

Nós vos pedimos pelas famílias dos diáconos casados: que sejam autênticas “igrejas domésticas”, segundo o exemplo da Sagrada Família de Nazaré, e delas surjam vocações sacerdotais e religiosas. Virgem Maria, Mãe da Igreja e Rainha dos Apóstolos, rogai pelos ministros do Senhor! São Lourenço, diácono e mártir, rogai pelos diáconos, servos do Povo de Deus!

Amém!

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

11º Princípio - Destinação universal dos bens, sem prejuízo do direito de propriedade privada

Já tratamos do 6º e 7º Princípios do Ensinamento Social da Igreja (ou Doutrina Social da Igreja, como queiram). Estes dois princípios rejeitam tanto o Capitalismo Liberal quanto o Socialismo/Comunismo.
Este 11º, trata da "destinação universal dos bens, sem prejuízo da propriedade privada dos bens".
Esta postagem estará dividida em duas partes. Na primeira, farei um resumo do que consta no Dicionário de Doutrina Social da Igreja, de Luiz Carlos Lessa, da editora LTr. E na segunda, o que consta dos documentos do magistério sobre o tema.
O autor afirma que a "DSI jamais avalizou a tese, que é do capitalismo liberal, da propriedade particular como um direito absoluto e ilimitado". Diz que a DSI "subordinou o exercício desse direito ao princípio da destinação universal dos bens" e que "pôs em destaque a função social que lhe é intrínseca"; e que distinguiu entre a legitimidade do domínio e os limites do uso impostos pelo bem comum". Exemplifica essas afirmativas com uma citação do Papa Leão XIII que diz que a "distinção entre a justa posse das riquezas e o seu legítimo uso, vale-se da lição de santo Tomás de Aquino: '... o homem não deve ter as coisas exteriores por particulares, mas sim por comuns, de tal sorte que facilmente dê parte delas aos outros nas suas necessidades'"(RN 35-36). Em seguida, elenca algumas afirmativas que constam do magistério social de alguns papas. João XXIII: "... ao direito de propriedade privada está inerente uma função social (PT 22). E Paulo VI: "... a propriedade privada não constitui para ninguém um direito incondicional e absoluto" (PP 23). João Paulo II: "... o direito a propriedade privada está subordinado ao direito ao uso comum, subordinado à destinação universal dos bens" (LE 14b). E ainda acrescenta que ao sustentar que "o princípio do uso comum dos bens é o  'primeiro princípio de toda a ordem ético-social'" (LE 19b). Encerra com o Concílio Vaticano II que afirma que "Deus destinou a Terra com tudo o que ela contém para uso de todos os homens e povos, de sorte que sejam quais forem as formas da propriedade (...) deve-se sempre atender a este destino universal dos bens" (GS 69a).
Encerra dizendo que a "DSI admite expressamente a desapropriação, que consiste, como é sabido, numa intervenção discricionária e radical do poder público nos direitos dominiais privados (GS 71d, f; PP 24).
Por sugestão do autor do Dicionário, que fosse feita uma pesquisa no verbete "Propriedade Privada", passo a listar as encíclicas sociais quem suas citações sobre este tema.
1. (RN,10). "...a propriedade particular e pessoal é, para o homem, de direito natural".
2. (RN,23). "Fique... bem assente que o primeiro fundamento a estabelecer para todos aqueles que querem sinceramente o bem do povo é a inviolabilidade da propriedade particular".
3. (MM,106). "O direito da propriedade privada, mesmo sobre bens produtivos, tem valor permanente, pela simples razão de ser um direito natural fundado sobre a propriedade ontológica e final de cada ser humano em relação à sociedade".
4. (RN,55). "É dever primordial dos governos o assegurar a propriedade particular por meio de leis sábias".
5. (PT,22). "... ao direito de propriedade privada está inerente uma função social".
6. (PP,23). "... a propriedade privada não constitui para ninguém um direito incondicional e absoluto. Ninguém tem direito de reservar para seu uso exclusivo aquilo que é supérfluo, quando a outros falta o necessário. Pelo contrário, 'o direito de propriedade nunca deve exercer-se em detrimento do bem comum, segundo a doutrina tradicional dos Padres da Igreja e do grandes teólogos'".
7. (GS,71e). "...a mesma propriedade privada é de índole social, fundada na lei do destino comum dos bens".
8. (SRS,42e). "É necessário recordar mais uma vez o princípio típico da doutrina social cristã: os bens deste mundo são originariamente destinados a todos. O direito à propriedade é válido e necessário, mas não anula o valor de tal princípio. Sobre a propriedade, de fato, grava uma 'hipoteca social', quer dizer, nela é reconhecida, como qualidade intrínseca, uma função social, fundada e justificada precisamente pelo princípio da destinação universal dos bens".
9. (LE,14c). "...a propriedade adquire-se em primeiro que tudo pelo trabalho e para servir ao trabalho. E isto diz respeito, de modo particular, à propriedade dos meios de produção".
10. (GS 69a)."De resto, todos têm o direito de ter uma parte de bens suficientes para si e suas famílias (...) Aquele, porém, que se encontra em extrema necessidade tem direito a tomar, dos bens dos outros, o de que necessita".
11. (PP,24). "O bem comum exige por vezes a expropriação, se certos domínios formam obstáculo à propriedade coletiva, pelo fato da sua extensão, da sua exploração fraca e nula, da miséria que daí resulta para as populações, do prejuízo considerável causado aos interesses do país".
Concluo. Como sempre, não fiz avaliação do que está informado. Apenas colocando o que se encontra no livro base dessa postagem.
Para facilitar a busca dos documentos, segue a lista das citações.
RN - Rerun Novarum.
MM - Mater et Magistra.
QA - Quadragesimo Anno.
PT - Pacem in Terris.
GS - Gaudium et Spes.
SRS - Solicitudo Rei Socialis.
LE - Laborem Exercens.
PP - Populorum Progressio.
Todos esses documentos podem ser encontrados no site do vaticano. www.vatican.va

6º Princípio: Não ao Capitalismo Liberal

"... sobre estas novas condições da sociedade (produzidas pela industrialização), construiu-se um sistema que considerava o lucro como motor essencial do progresso econômico, a concorrência como lei suprema da economia, a propriedade privada dos bens de produção como direito absoluto, sem limites nem obrigações sociais correspondentes. Este liberalismo sem freio conduzia à ditadura denunciada com razão por Pio XI como geradora do 'imperialismo internacional do dinheiro'. Nunca será demasiado reprovar tais abusos, lembrando mais uma vez, solenemente, que a economia está ao serviço do homem. (...) é contudo sem motivo que se atribuem à industrialização males que são devidos ao nefasto sistema que a acompanhava" (PP 26).
Inicialmente, Luiz Carlos Lessa afirma que é precisos "se distinguir entre o capitalismo 'puro', e as formas neoliberais ou neocapitalistas que forma desenvolvendo ao longo dos tempos".
Lessa diz que o "capitalismo surgiu sob o signo do liberalismo". E conceitua o liberalismo "como uma filosofia de vida fortemente marcada pelo espírito do individualismo, o que conduz, no plano econômico, à eleição do lucro como valor supremo, sem quaisquer compromissos com o bem comum e com princípios éticos, daí resultando concepções como a da propriedade privada como direito absoluto, o trabalho como simples mercadoria, o salário submetido à lei da oferta e da procura, a livre concorrência sem limites".
Diante da nefasta devastação que o capitalismo produziu sobre a sociedade, a DSI referiu-se ao capitalismo liberal com algumas expressões, tais como, "nefasto sistema" (PP26), "primitivo capitalismo" (LE 7c), "capitalismo rígido" (LE 14d, 14f), "capitalismo liberalista" (SRS 21b), "capitalismo selvagem" (CA 8c), "capitalismo original" (CA 33b), "antigo capitalismo" (CA 40a).
"O repúdio do magistério social da Igreja a esse capitalismo primitivo é veemente". Alguns exemplos: "Leão XIII lamenta que os trabalhadores, 'isolados e sem defesa', tenham se visto 'entregues à mercê de senhores desumanos e à cobiça de uma concorrência desenfreada (RN 6); Pio XI, após denunciar que 'não só se amontoam riquezas, mas se acumula um poder imenso e um verdadeiro despotismo econômico nas mãos de poucos', frisa que como consequência, 'toda a economia se tornou horrendamente dura, cruel atroz' (QA 105, 109); Paulo VI diz, como vimos no lanço que encima este capítulo, que se trata de um 'nefasto sistema'(PP 26); João Paulo II reconhece ter sido moralmente justificável 'a reação contra o sistema de injustiça e de danos que bradava ao céu vingança e que pesava sobre o homem do trabalho nesse período de rápida industrialização' (LE 8c) e leciona que a DSI adota 'uma atitude crítica' em relação ao capitalismo liberalista (SRS 21b)".
Paulo VI "teme que possa haver, por parte dos cristãos, uma tendência para idealizar o liberalismo, lembra-lhes que 'nas suas próprias raízes, o liberalismo filosófico é uma afirmação errônea da autonomia do individuo', e termina por lhes pedir discernimento: 'a ideologia liberal exige igualmente da parte deles (cristãos) um discernimento atento' (OA 35)".
"João Paulo II na sua última encíclica social (CA 42a) indaga se 'pode-se porventura dizer que, após a falência do comunismo, o sistema vencedor é o capitalismo'. E em CA 42b responde, distinguida: SIM, se por capitalismo se indica um sistema econômico que reconhece o papel fundamental e positivo da empresa, do mercado, da propriedade provada e da consequente responsabilidade pelos meios de produção, da livre criatividade humana no setor da economia; NÃO, se por capitalismo se entende um sistema em que a liberdade no setor da economia não está enquadrado nim sólido contexto jurídico que a coloque ao serviço da liberdade humana integral e a considere como uma particular dimensão desta liberdade".
"Há a economia de mercado, (...) que aceita e exige a intervenção do Estado, pois deve enquadrar-se 'num sólido contexto jurídico', submetendo-se, por via de consequência, a normas legislativas reguladoras das atividades econômicas".
João Paulo II, no mesmo documento "já se referia a uma 'sociedade do trabalho livre, da empresa e da participação', que não se contrapõe ao livre mercado, mas requer que ele seja oportunamente controlado pelas forças sociais e estatais, de modo a garantir a satisfação das exigências fundamentais de toda a sociedade'" (CA 35b).
João Paulo II denunciou em seu magistério social a "exploração do homem sobre o homem". "Reconhece o pontífice a permanência de ambiantes onde vigoram 'ainda as regras do capitalismo original, na crueldade de uma situação que nada fica a dever à dos momentos mais negros da primeira fase da industrialização', de tal modo que 'pode-se ainda hoje, como no tempo da Rerum Novarum, falar de exploração desumana'" (CA 33b).
"Em síntese: a) a Igreja condena veementemente o capitalismo liberal da primeira fase da industrialização; b) considera admissível, do ponto de vista ético, a 'economia de sociedade' ou 'economia de mercado', identificável com o neocapitalismo, desde que enquadrada num 'sólido contexto jurídico', o que implica a intervenção do Estado no plano econômico e social; c) reconhece que o capitalismo primitivo e selvagem ainda está presente em numerosas regiões, sobretudo no Terceiro Mundo, e alerta para o perigo da difusão de uma 'ideologia radical de tipo capitalista'".
Como dito anteriormente, esses textos carecem de uma reflexão mais profunda. O que não fiz aqui, apenas apresentei partes dos textos do livro Dicionário de Doutrina Social da Igreja, de Luiz Carlos Lessa, editora LTr.

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

7º Pincípio: Não ao socialismo

Dando prosseguimento a formação política com os Princípios básicos da Doutrina Social da Igreja, tendo como base o Dicionário de Doutrina Social da Igreja, de Luiz Carlos Lessa, Editora LTr.
Inicio com o 7º Princípio, pois a discussão sobre o socialismo está presente nas várias rodas de conversas católicas nas mídias sociais. É importante conhecer o pensamento da Igreja para se argumentar com base, e não com "achismos", ou por "ouvi dizer".
Em seguida, traremos a reflexão sobre o 6º Princípio, "Não ao Capitalismo Liberal".
Segundo Luiz C. Lessa, "é frequente ouvir-se alguém dizer que é socialista, mas não marxista". E completa, "que diferenciação há que fazer-se entre socialismo e marxismo? E qual a abrangência da repulsa do Magistério ao sistema socialista?"
Continua o autor que "acreditamos não errar se dissermos que a noção de socialismo, como um todo, não prescinde destas quatro notas marcantes, ainda que nem sempre a elas se confira a mesma ênfase: 1ª. - a exagerada supremacia do social sobre o individual; 2ª. - coletivização da propriedade privada dos meios de produção; 3ª. - exclusividade do Estado na planificação da economia; 4ª - vigorosa intervenção estatal em todos os setores da atividade socioeconomica". observa-se, segundo Luiz Carlos, que se coloca "ênfase na radical supressão da propriedade privada".
E acrescenta Lessa que "o socialismo científico de Marx finca raízes em princípios filosóficos eminentemente materialistas. (...) Nega a existência de Deus". E diz que o "ateísmo prático se opõe tenazmente à religião, por considerá-la 'ópio do povo'". E ainda que, "afora a natureza e aos homens, nada existe". E afirma que, segundo Paulo VI, "não pode o cristão, sem se contradizer a si mesmo, aderir (...) à ideologia marxista, ou ao seu materialismo ateu, ou à sua dialética da violência, ou, ainda, àquela maneira como ele absorve a liberdade individual na coletividade, negando toda e qualquer transcendência ao homem e à sua história (OA 26).
Continua Lessa, que o marxismo "prega o combate a qualquer forma de religião; estimula luta de classes; (...) preconiza a implantação da ditadura do proletariado, que precederá à anarquia, no sentido de uma sociedade tão perfeita que por si mesma se governará, sem necessidade de poder político".
Luiz Carlos diz que "a DSI rejeita tanto o liberalismo econômico quanto o socialismo". 
Mais adiante, Lessa afirma que "as críticas de Marx ao capitalismo selvagem são em grande parte - em sua maior parte até, melhor diríamos - de todo precedentes". (...) "Sem menosprezar os méritos de Marx por sua robusta crítica ao liberalismo econômico, por sua contundente denúncia das injustiças da sociedade capitalista, é importante se saiba também que neste particular, a ele não cabe o pioneirismo que costumeiramente lhe atribuem".
Conclui o autor que "a essência do socialismo, seja lá qual for a forma de que se revista, a supressão da propriedade privada dos bens de produção, ou, pelo menos, uma vigorosa intervenção estatal no processo produtivo, e a Igreja jamais abriu mão da defesa do direito de propriedade, embora não o considere ilimitado e absoluto, antes, estritamente subordinado ao bem comum, conforme veremos na exposição do 11º princípio fundamental da DSI", a saber, a Destinação Universal dos Bens, sem prejuízo do direito de Propriedade Privada.
Existem algumas argumentações a serem feitas pelo autor. Entretanto, meu objetivo é apresentar o que fala o Ensinamento da Igreja sobre as questões sociais.