domingo, 26 de abril de 2020

“Fica Conosco”!


OS DISCÍPULOS DE EMAÚS | Filhos de Guadalupe


Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 24,13-35




13 Naquele mesmo dia, o primeiro da semana, dois dos discípulos de Jesus iam para um povoado, chamado Emaús, distante onze quilômetros de Jerusalém. 

14 Conversavam sobre todas as coisas que tinham acontecido.

15 Enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e começou a caminhar com eles.

16 Os discípulos, porém, estavam como que cegos, e não o reconheceram.

17 Então Jesus perguntou: 'O que ides conversando pelo caminho?' Eles pararam, com o rosto triste,

18 e um deles, chamado Cléofas, lhe disse: 'Tu és o único peregrino em Jerusalém que não sabe o que lá aconteceu nestes últimos dias?' 

19 Ele perguntou: 'O que foi?' Os discípulos responderam: 'O que aconteceu com Jesus, o Nazareno, que foi um profeta poderoso em obras e palavras, diante de Deus e diante de todo o povo.

20 Nossos sumos sacerdotes e nossos chefes o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram.

21 Nós esperávamos que ele fosse libertar Israel, mas, apesar de tudo isso, já faz três dias que todas essas coisas aconteceram!

22 É verdade que algumas mulheres do nosso grupo
nos deram um susto. Elas foram de madrugada ao túmulo

23 e não encontraram o corpo dele. Então voltaram, dizendo que tinham visto anjos e que estes afirmaram que Jesus está vivo.

24 Alguns dos nossos foram ao túmulo e encontraram as coisas como as mulheres tinham dito. A ele, porém, ninguém o viu.'

25 Então Jesus lhes disse: 'Como sois sem inteligência e lentos para crer em tudo o que os profetas falaram!

26 Será que o Cristo não devia sofrer tudo isso para entrar na sua glória?'

27 E, começando por Moisés e passando pelos Profetas, explicava aos discípulos todas as passagens da Escritura que falavam a respeito dele.

28 Quando chegaram perto do povoado para onde iam, Jesus fez de conta que ia mais adiante.

29 Eles, porém, insistiram com Jesus, dizendo: 'Fica conosco, pois já é tarde e a noite vem chegando!' Jesus entrou para ficar com eles.

30 Quando se sentou à mesa com eles, tomou o pão, abençoou-o, partiu-o e lhes distribuía. 

31 Nisso os olhos dos discípulos se abriram e eles reconheceram Jesus. Jesus, porém, desapareceu da frente deles.

32 Então um disse ao outro: 'Não estava ardendo o nosso coração quando ele nos falava pelo caminho, e nos explicava as Escrituras?'

33 Naquela mesma hora, eles se levantaram e voltaram para Jerusalém onde encontraram os Onze reunidos com os outros.

34 E estes confirmaram: 'Realmente, o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!'

35 Então os dois contaram o que tinha acontecido no caminho, e como tinham reconhecido Jesus ao partir o pão.

Palavra da Salvação.

Meditação

Hoje celebramos o 3º Domingo da Páscoa. Estamos no caminho para a Festa de Pentecostes. A liturgia de hoje nos apresenta o evangelho de Emaús. 

Destaco a expressão, “Fica Conosco”! É um pedido dos discípulos que saíram de Jerusalém e voltavam para sua cidade. 

Quem são esses discípulos? 

Primeiro, acreditaram nas palavras de Jesus, esperavam a restauração do reino de Israel. Como isso não aconteceu, e já era o terceiro dia da morte Dele, estavam voltando para casa.

Segundo, estavam tristes. Colocaram sua esperança na restauração de um reino somente político.

Terceiro, estavam cegos. A tristeza e o choro da perda impedia-os de reconhecer Jesus. Quantas vezes, deixamos de ver Jesus porque estamos envolvidos com nossas perdas pessoais, com nossos problemas, com a nossa vida mesquinha?

Quarto, o forasteiro pergunta o motivo da tristeza, e eles contam o que havia acontecido com Jesus, “o Nazareno, que foi um profeta poderoso em obras e palavras, diante de Deus e diante de todo o povo”. E que havia sido morto pelos chefes dos judeus e pelos sumos sacerdotes. Narraram que algumas mulheres não o encontraram no túmulo, e que alguns discípulos viram o túmulo vazio, mas a Ele, ninguém o viu.

A partir daqui, Jesus mergulha na conversa. Começa a dizer a eles que os profetas e Moisés já haviam profetizado sobre isso. Que era preciso que o Filho de Deus morresse e ressuscitasse. E ia esclarecendo a história para eles. 

Neste instante, estão quase chegando ao povoado. Jesus faz como que vai continuar o caminho. Recebe o convite, “Fica Conosco”! Já é tarde. Uma marca dos cristãos é a hospitalidade. Acolher. Dar guarida. Tratar bem. 

Jesus aceita o convite. E logo, partem para a refeição. Nesse momento, Ele se dá a conhecer. Na fração do pão. Na partilha. Na distribuição. 

O evangelho de hoje nos revela como somos. Nos mostra que quando caminhamos pelos nossos sentimentos apenas, não vemos Jesus. Não o enxergamos. Quando nos abrimos a escutar sua Palavra; quando nos permitimos repartir o pão; quando estamos em comunhão, Jesus se revela. E aí, nos faz discípulos missionários. Nos impele a ir ao encontro do outro. Nos impele a colher aqueles que estão afastamos. Nos faz amar como ele amou. Amou todos e todas, independentemente de sua situação social. Deixou de lado todos os preconceitos, e por isso esteve ao lado da mulher Samaritana, do leproso, do cego, do coxo. Curou em dia de Sábado, indo de encontro a lei (a doutrina) que proibia. Subverteu a lei. Não se dobrou à lei que escravizava. Que gerava morte. Deu um sentido maior a lei. Mostrou a lei do amor e da partilha.

Hoje, pedimos, “Fica Conosco”! E nos faz mulheres e homens novos. Nos dê um coração misericordioso. Um coração acolhedor. Nos ensina a amar como tu amastes. Nos mostra como acolher, como tu acolhestes. Faz-nos amar, como tu amastes.
Deixemos que Jesus fique conosco. Repitamos, “Fica Conosco”!

quinta-feira, 23 de abril de 2020

São Jorge Invencivelmente protegido pelo estandarte da cruz.

Transfer São Jorge 2



Dos Sermões de São Pedro Damião, bispo

(Sermo 3, De sancto Georgio: PL 144,567-571) (Séc. XI)



A festa de hoje, caríssimos irmãos, renova a alegria pascal e, como pedra preciosa, faz brilhar com a beleza do próprio esplendor o ouro em que se engasta.

Jorge foi transferido de uma milícia para outra, porque deixou o cargo de oficial de um exército terreno para se dedicar à milícia cristã. Nesta, como valente soldado, começou por libertar-se dos bens terrenos, distribuindo-os aos pobres; assim, livre e desembaraçado, revestido com a couraça da fé, lançou-se na linha de frente do combate como valoroso guerreiro de Cristo.

Isto nos ensina claramente que não podem lutar com força e eficácia, em defesa da fé, aqueles que ainda têm medo de se despojar dos bens da terra.

Inflamado pelo fogo do Espírito Santo e invencivelmente protegido pelo estandarte da cruz, São Jorge combateu de tal modo contra o rei iníquo que, vencendo este enviado de Satanás, derrotou o chefe de toda iniquidade e estimulou os soldados de Cristo a lutarem com valentia.

Assistia ao combate o supremo e invisível Árbitro que, segundo os planos da sua providência, permitiu que os ímpios o atormentassem. De fato, entregou o corpo de seu mártir às mãos dos carrascos, mas guardou a sua alma com proteção constante no baluarte inexpugnável da fé.

Caríssimos irmãos, não nos limitemos a admirar este combatente do exército celeste, mas imitemo-lo também. Eleve-se o nosso espírito para o prêmio da glória celeste, contemplemo-lo com os olhos do coração. Assim não nos abalaremos nem pelo sorriso enganador do mundo nem pelas ameaças do seu ódio perseguidor.

Purifiquemo-nos de toda mancha na carne e no espírito, como nos manda São Paulo, para merecermos um dia entrar naquele templo da bem-aventurança, que por ora apenas entrevemos com o olhar do espírito.

Todo aquele que quer se oferecer a Deus em sacrifício no templo de Cristo, que é a Igreja, depois de lavar-se no banho sagrado do batismo, tem ainda que se revestir com as vestes das várias virtudes, conforme está escrito: Que os vossos sacerdotes se vistam de justiça (Sl 131,9). Quem pelo batismo renasce como homem novo em Cristo, não se vestirá com a mortalha do homem velho, e sim com a veste do homem novo, vivendo sempre renovado numa vida pura.

Só assim, purificados da imundície da nossa antiga condição pecadora e brilhando pelo fulgor de uma vida nova, seremos dignos de celebrar o mistério pascal e imitarmos verdadeiramente o exemplo dos santos mártires.

sábado, 18 de abril de 2020

'Meu Senhor e meu Deus!'

Tomé, o Apóstolo – Wikipédia, a enciclopédia livre


Evangelho de Jesus Cristo segundo João 20,19-31



19Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou e pondo-se no meio deles, disse: 'A paz esteja convosco'.

20Depois destas palavras, mostrou-lhes as mãos e o lado.
Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor.

21Novamente, Jesus disse: 'A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos envio'.

22E depois de ter dito isto, soprou sobre eles e disse: 'Recebei o Espírito Santo.

23A quem perdoardes os pecados eles lhes serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos'.

24Tomé, chamado Dídimo, que era um dos doze, não estava com eles quando Jesus veio.

25Os outros discípulos contaram-lhe depois: 'Vimos o Senhor!'. Mas Tomé disse-lhes: 'Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos e não puser a mão no seu lado, não acreditarei'.

26Oito dias depois, encontravam-se os discípulos novamente reunidos em casa, e Tomé estava com eles. Estando fechadas as portas, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: 'A paz esteja convosco'.

27Depois disse a Tomé: 'Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado. E não sejas incrédulo, mas fiel'.

28Tomé respondeu: 'Meu Senhor e meu Deus!'

29Jesus lhe disse: 'Acreditaste, porque me viste? Bem-aventurados os que creram sem terem visto!'

30Jesus realizou muitos outros sinais diante dos discípulos,
que não estão escritos neste livro.

31Mas estes foram escritos para que acrediteis que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome.


Palavra da Salvação.

Meditação

Inciamos a segunda semana do período pascal. Continuamos meditando os textos da aparição de Jesus após sua ressurreição. Hoje, temos a narrativa da incredulidade de Tomé, ou crer naquilo que se pode provar, ou acreditar no testemunho da comunidade.

O texto pode ser dividido em três partes distintas. Isso nos ajuda na compreensão e meditação. Além disso, Jesus deseja a paz a seus discípulo três vezes, em momento e situações diferente. Vamos falar sobre cada uma delas. Mostra as marcas da tortura para provar que é ele mesmo. A ressurreição não muda as marcas da dor. A ressurreição dá um novo sentido ao sofrimento.
Em seguida, faz o envio. Sopra o Espírito Santo. E este é a fonte do perdão e da misericórdia. É o Espírito Santo que anima os discípulos a perdoarem aqueles que os ofenderem. 
E por último, a já conhecida história de Tomé, sua profissão de fé, e a bem aventurança para os que vão crer sem terem visto.

Então, iniciamos com o "Anoitecer". Inicia-se a semana. Após o Sábado, o primeiro dia da semana judaica. É o início da noite. Os discípulos estão trancados em casa, ainda temerosos com os acontecimentos. Tudo está recentíssimo. Eles temem serem perseguidos. Muitas vezes, somos assim. Quando começamos nosso processo de conversão temos medo do que vão dizer de nós. Qual vai ser a reação das pessoas. 

Para Jesus não existem barreiras. Ele entra, mesmo com a porta fechada. Coloca-se no meio dos discípulos. Diz, "A paz esteja convosco"! Jesus, ressurreto, tem o poder de adentrar a nossa casa, de adentrar ao nosso coração. De tirar o medo e o receio, e nos dá a Paz. É lugar comum dizer que a paz é fruto da ressurreição. E é mesmo. Mas, a paz é fruto da justiça. E a justiça, neste caso, se deu na ressurreição, pois Deus cumpriu a promessa, e isso é justiça.

Jesus deseja a paz, e mostra as marcas da tortura que sofreu. A ressurreição não apaga as marcas da dor, a ressurreição dá novo significado a dor. Quando saímos das nossas situações dolorosas da nossa vida, as marcas ficam, o que muda é a nova significação que damos, porque Jesus mudou a nossa vida.

Ao verem os sinais no corpo, eles se alegram. Reconhecem o Senhor. E Jesus dá a paz novamente. Uma nova paz. Uma paz que vem do Espírito Santo. Uma paz que envia em missão. Uma paz que faz com que abramos as portas e saiamos para anunciar que Jesus vive.

Jesus sopra seus discípulos. Lhes envia o Espírito Santo. Recria a nova humanidade. O mesmo sopro que deu vida a humanidade no Gênesis, agora dá vida ao novo jeito de ser. Dá vida a nova humanidade. Dá vida aos que serão testemunhas da presença amorosa de Deus no meio de nós. O Espírito Santo é aquele que nos ajuda a viver a misericórdia divina. Lembremos do Pai Nosso, "perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido".

João toma cuidado de dizer que Tomé não estava junto com eles. Isso introduz a história da experiência comprovada. Outro detalhe, o evangelista diz que oito dias após o fato, Tomé estava junto, e Jesus reaparece.
Os discípulos dizem que o Senhor está vivo. E Tomé não acredita. Se não fizer a experiência de ver, não acreditará. Tomé, mal comparando, é o racional que precisa ter comprovação empírica. Precisa ter provas concretas, por isso diz que se não colocar as mãos no lado, e ver as marcas dos pregos, não acreditará. Tomé coloca em questão o que lhe disseram.

Então, Jesus reaparece. Deseja a paz, ou seja, acalma os corações. E diz a Tomé que faça como ele quer. E oferece o lado e mostra as mãos. Tomé, fazendo a experiência, declara, "meu Senhor e meu Deus". ele crê por que viu. Jesus então afirma, "porque vistes, crestes. Bem aventurados os que crerem sem terem visto". Crer no testemunho da comunidade é importante. Era preciso dizer a comunidade joanina que aquilo que eles diziam era verdade. E por isso, João afirma que muitos outras coisas Jesus fez. Mas estas foram escritas para para que creiamos que Jesus é o Filho de Deus. E que, crendo nestas palavras, tenhamos a vida em nós. A vida nova que brota da ressurreição. A vida nova que brota do testemunho. A vida nova que brota do amor. A vida nova que brota da paz. A vida nova que se faz pelo Espírito Santo. 

Sejamos profetas da vida nova que brota do Espírito Santo dado por Jesus. 

sábado, 11 de abril de 2020

O Amor Ressuscitou, e vive no nosso meio, aleluia.

Brasil, Rio de Janeiro, ano do coronavirus, 2020, mês de abril, dia 12, Páscoa de nosso Senhor Jesus Cristo.
Encerramos, na noite de ontem, o Tríduo Pascal. Passamos três dias pensando no processo de entrega de Jesus. De sua condenação. De sua morte. De sua ressurreição.
Na Quinta-feira Santa, contemplávamos a cena do Lava-pés. Jesus, antes de se por à mesa para a ceia, ajoelhou-se aos pés dos apóstolos, e disse que se ele lavou os pés de cada um deles, eles deveriam fazer o mesmo uns com os outros. Para o evangelista João, eucaristia é serviço, é ministério, é diaconato, não sacerdócio. 
Na Sexta-feira Santa, meditamos sobre o processo que Jesus sofreu. Sua entrega, sua prisão, sua condenação, sua tortura, a cruz (instrumento de morte). No evangelho deste dia, Jesus se deu livremente. Altivo, afirma, "Sou Eu". Esse é o nome que Deus se dá. Quando Moisés diz, qual o seu nome? Ele disse, "Eu sou". 
Os guardas, e todo o povo se ajoelham diante daquele que seria preso. Jesus permanece de pé. No evangelho de João, ele é proclamado rei.
No Sábado Santo, o senhor volta à vida. Ressuscita! Deixa o sepulcro vazio. Nada pode prendê-lo. Mas, aqui, aparece um pequeno detalhe, Jesus indica que seus apóstolos devem encontrá-lo na Galileia. E perguntamos, o que é a Galileia? Só um lugar? Só uma região? Não. A Galileia é o lugar do encontro com Jesus. A Galileia, dos pagãos, dos excluídos, das "sobras" do mundo, é o lugar onde tudo começou. E se tudo começou na Galileia, lá deve ser o lugar do encontro com o Ressuscitado. Não em Jerusalém, no centro do poder religioso e político. É na Galileia que todos vão se reunir. 
Então, surge a pergunta, onde é a minha Galileia? Onde fiz meu encontro com Jesus? Onde devo voltar para ver o Ressuscitado?
Hoje, Domingo de Páscoa. Três personagens vão dar testemunho dessa ressurreição, Maria Madalena, João e Pedro. Nessa ordem mesmo. Maria Madalena, cumprindo o precito religioso, vai ao túmulo para perfumar o corpo de Jesus. Mas, encontra o túmulo aberto e vazio. Não se atreve entrar. Vai ao encontro dos apóstolos e diz o que ela viu. Aquele que era o discípulo amado corre mais rápido. Não poque era jovem, mas poque amava muito o Senhor. E atrás, vem Pedro, aquele que negara Jesus. Aquele sobre o qual a Igreja de Jesus deveria ser edificada. Aquele que disse que morreria com Jesus, que nunca o negaria.
Aqui falo do amor. Três níveis de amar. O de Maria Madalena a impele de ir ao túmulo, de madrugada, sozinha, sem saber quem a poderia ajudar. Depois, João, que corre muito. Corre porque amava tanto que queria entender o que acontecera. E por último Pedro. Este só após a aparição de Jesus vai confirmar seu amor pelo mestre. 
Interessante notar que o autor do evangelho, que se identifica como "o outro discípulo", diz que "ele viu e acreditou". O outro discípulo crê na ressurreição. Acredita que Jesus esteja verdadeiramente vivo, apesar de ainda ser um mistério.
Celebramos a páscoa. Em nossa temporalidade, não atingimos a real situação da história. Não conseguimos compreender aquela experiência de ressurreição. Depois de tanta carnificina, como alguém poderia retornar a vida. Somente quem ama, e ama muito, pode crer na Ressurreição.
A chave para compreender a Ressurreição, e acreditar que Jesus vive, é o Amor. Quem ama vai ao encontro. Quem ama anuncia. Quem ama vai além das aparências.
Sejamos portadores do amor de Deus pela humanidade. Sejamos anunciadores que o amor ressurgiu em nosso meio. Sejamos mensageiros de que, se Cristo Ressuscitou, e vive no nosso meio, o amor voltou à vida, e disso nós somos testemunhas.
Feliz Páscoa. Feliz dia do amor.
(FiqueEmCasa. Tudo vai passar. Confia!).

HOMILIA DO PAPA FRANCISCO - MISSA da VIGÍLIA PASCAL 2020

HOMILIA DO PAPA FRANCISCO

MISSA da VIGÍLIA PASCAL

(Sábado Santo, 11 de abril de 2020)

«Terminado o sábado» (Mt 28, 1), as mulheres foram ao sepulcro. O Evangelho desta santa Vigília começa assim: com o sábado. Este é o dia do Tríduo Pascal que mais descuramos, ansiosos de passar da cruz de sexta-feira à aleluia de domingo. Este ano, porém, damo-nos conta, mais do que nunca, do sábado santo, o dia do grande silêncio; podemos rever-nos nos sentimentos que tinham as mulheres naquele dia. Como nós, tinham nos olhos o drama do sofrimento, duma tragédia inesperada, que se verificou demasiado rapidamente. Viram a morte e tinham a morte no coração. À amargura, juntou-se o medo: acabariam, também elas, como o Mestre? E depois os receios pelo futuro, carecido todo ele de ser reconstruído. A memória ferida, a esperança sufocada. Para elas, era a hora mais escura, como o é hoje para nós.

Contudo, nesta situação, as mulheres não se deixam paralisar. Não cedem às forças obscuras da lamentação e da lamúria, não se fecham no pessimismo, nem fogem da realidade. No sábado, realizam algo simples e extraordinário: nas suas casas, preparam os perfumes para o corpo de Jesus. Não renunciam ao amor: na escuridão do coração, acendem a misericórdia. Nossa Senhora, no sábado – dia que Lhe será dedicado –, reza e espera. No desafio da tristeza, confia no Senhor. Sem o saber, estas mulheres preparavam na escuridão daquele sábado «o romper do primeiro dia da semana» (Mt 28, 1), o dia que havia de mudar a história. Jesus, como semente na terra, estava para fazer germinar no mundo uma vida nova; e as mulheres, com a oração e o amor, ajudavam a esperança a desabrochar. Quantas pessoas, nos dias tristes que vivemos, fizeram e fazem como aquelas mulheres, semeando brotos de esperança com pequenos gestos de solicitude, de carinho, de oração!

Ao amanhecer, as mulheres vão ao sepulcro. Lá diz-lhes o anjo: «Não tenhais medo. Não está aqui; ressuscitou» (cf. Mt 28, 5-6). Diante dum túmulo, ouvem palavras de vida... E depois encontram Jesus, o autor da esperança, que confirma o anúncio dizendo-lhes: «Não temais» (28, 10). Não tenhais medo, não temais: eis o anúncio de esperança para nós, hoje. Tais são as palavras que Deus nos repete na noite que estamos a atravessar.

Nesta noite, conquistamos um direito fundamental, que não nos será tirado: o direito à esperança. É uma esperança nova, viva, que vem de Deus. Não é mero otimismo, não é uma palmada nas costas nem um encorajamento de circunstância. É um dom do Céu, que não podíamos obter por nós mesmos. Tudo correrá bem: repetimos com tenacidade nestas semanas, agarrando-nos à beleza da nossa humanidade e fazendo subir do coração palavras de encorajamento. Mas, à medida que os dias passam e os medos crescem, até a esperança mais audaz pode desvanecer. A esperança de Jesus é diferente. Coloca no coração a certeza de que Deus sabe transformar tudo em bem, pois até do túmulo faz sair a vida.

O túmulo é o lugar donde, quem entra, não sai. Mas Jesus saiu para nós, ressuscitou para nós, para trazer vida onde havia morte, para começar uma história nova no ponto onde fora colocada uma pedra em cima. Ele, que derrubou a pedra da entrada do túmulo, pode remover as rochas que fecham o coração. Por isso, não cedamos à resignação, não coloquemos uma pedra sobre a esperança. Podemos e devemos esperar, porque Deus é fiel. Não nos deixou sozinhos, visitou-nos: veio a cada uma das nossas situações, no sofrimento, na angústia, na morte. A sua luz iluminou a obscuridade do sepulcro: hoje quer alcançar os cantos mais escuros da vida. Minha irmã, meu irmão, ainda que no coração tenhas sepultado a esperança, não desistas! Deus é maior. A escuridão e a morte não têm a última palavra. Coragem! Com Deus, nada está perdido.

Coragem: é uma palavra que, nos Evangelhos, sai sempre da boca de Jesus. Só uma vez é pronunciada por outros, quando dizem a um mendigo: «Coragem, levanta-te que [Jesus] chama-te» (Mc 10, 49). É Ele, o Ressuscitado, que nos levanta a nós, mendigos. Se te sentes fraco e frágil no caminho, se cais, não tenhas medo; Deus estende-te a mão dizendo: «Coragem!» Entretanto poderias exclamar como padre Abbondio: «A coragem, não no-la podemos dar» (I promessi sposi, XXV). Não a podes dar a ti mesmo, mas podes recebê-la, como um presente. Basta abrir o coração na oração, basta levantar um pouco aquela pedra colocada à boca do coração, para deixar entrar a luz de Jesus. Basta convidá-Lo: «Vinde, Jesus, aos meus medos e dizei também a mim: coragem!» Convosco, Senhor, seremos provados; mas não turvados. E, seja qual for a tristeza que habite em nós, sentiremos o dever de esperar, porque convosco a cruz desagua na ressurreição, porque Vós estais connosco na escuridão das nossas noites: sois certeza nas nossas incertezas, Palavra nos nossos silêncios e nada poderá jamais roubar-nos o amor que nutris por nós.

Eis o anúncio pascal, anúncio de esperança. Este contém uma segunda parte, o envio. «Ide anunciar aos meus irmãos que partam para a Galileia» (Mt 28,10): diz Jesus. Ele «vai à vossa frente para a Galileia» (28, 7): diz o anjo. O Senhor precede-nos. É bom saber que caminha diante de nós, que visitou a nossa vida e a nossa morte para nos preceder na Galileia, isto é, no lugar que, para Ele e para os seus discípulos, lembrava a vida diária, a família, o trabalho. Jesus deseja que levemos a esperança lá, à vida de cada dia. Mas, para os discípulos, a Galileia era também o lugar das recordações, sobretudo da primeira chamada. Voltar à Galileia é lembrar-se de ter sido amado e chamado por Deus. Precisamos de retomar o caminho, lembrando-nos de que nascemos e renascemos a partir duma chamada gratuita de amor. Este é o ponto donde recomeçar sempre, sobretudo nas crises, nos tempos de provação.

Mais ainda. A Galileia era a região mais distante de Jerusalém, onde estavam. E não só geograficamente: a Galileia era o lugar mais distante do caráter sacro da Cidade Santa. Era uma região habitada por povos diferentes, que praticavam vários cultos: era a «Galileia dos gentios» (Mt 4, 15). Jesus envia para lá, pede para recomeçar de lá. Que nos diz isto? Que o anúncio da esperança não deve ficar confinado nos nossos recintos sagrados, mas ser levado a todos. Porque todos têm necessidade de ser encorajados e, se não o fizermos nós que tocamos com a mão «o Verbo da vida» (1 Jo 1, 1), quem o fará? Como é belo ser cristãos que consolam, que carregam os fardos dos outros, que encorajam: anunciadores de vida em tempo de morte! A cada Galileia, a cada região desta humanidade a que pertencemos e que nos pertence, porque todos somos irmãos e irmãs, levemos o cântico da vida! Façamos calar os gritos de morte: de guerras, basta! Pare a produção e o comércio das armas, porque é de pão que precisamos, não de metralhadoras. Cessem os abortos, que matam a vida inocente. Abram-se os corações daqueles que têm, para encher as mãos vazias de quem não dispõe do necessário.

No fim, as mulheres «estreitaram os pés» de Jesus (Mt 28, 9), aqueles pés que, para nos encontrar, haviam percorrido um longo caminho até entrar e sair do túmulo. Abraçaram os pés que espezinharam a morte e abriram o caminho da esperança. Hoje nós, peregrinos em busca de esperança, estreitamo-nos a Vós, Jesus ressuscitado. Voltamos as costas à morte e abrimos os corações para Vós, que sois a Vida.

quinta-feira, 9 de abril de 2020

"E tendo amado os seus, amou-os até o fim"

Esse tempo tem sido tão bom para refletirmos sobre a nossa fé.

Nos revestimos de tantos paramentos para celebrarmos a eucaristia, temos tantas pompas em nossas procissões. Fazemos questões de hierarquias.

Mas, o evangelho de hoje nos mostra uma simplicidade na forma como Jesus se entregou, como amou. "E tendo amado os seus, amou-os até o fim".

Jesus amou tanto, que se despiu da sua condição divina, tirou o manto, ajoelhou-se diante dos apóstolos, lavou-os os pés. Inclusive de Judas Iscariotes.

Jesus nos mostra um Deus que se curva diante da criatura. Que é capaz de se fazer o servo de todos para nos salvar. Que nos dá a oportunidade de renunciar ao mau.

Hoje vamos estar em casa. Vendo as celebrações pela televisão, ou pelas redes sociais. A ceia é uma ação familiar. Ela nos congrega, nos reúne. Alguns de nós estaremos afastados de nossos familiares. Mas, estaremos unidos em oração. 

Jesus disse a Samaritana, "Mas está chegando a hora, e é agora, em que os verdadeiros adoradores vão adorar o Pai em espírito e verdade. Porque são estes os adoradores que o Pai procura" (Jo 4,23). Muitos de nós buscamos adorações. Mas, os "verdadeiros adoradores", aqueles que o Pai vê, são aqueles que prezam pela construção de uma fraternidade universal maior do que as divisões.

No dia em que celebramos a "instituição da eucaristia", o evangelho não fala de eucaristia. No dia em que celebramos a instituição do sacerdócio, o evangelho fala de servos (de servir), de se colocar aos pés dos outros. De repetir o gesto de lavar os pés sempre. De humilhar-se.

Antes da ceia, é preciso despojar-se do caminho que leva à morte. Antes da ceia é preciso reconciliar-se com o irmão. Antes da ceia é preciso voltar para o caminho. Antes da ceia é preciso reconhecer-se servo, não sacerdote.

Que está quinta-feira santa seja para nós o momento de mudança. De conversão. De perdão. De revisão de vida. De encontro com o Cristo que serve, e que se ajoelha para lavar os nossos pés, e que nos pede que façamos o mesmo.