domingo, 30 de agosto de 2015

"Guardareis e os poreis em prática"

"Ouve as leis e os decretos que eu vos ensino a cumprir para que vivais e entreis na posse da terra prometida". Moisés falou ao povo sobre qual o caminho a seguir para entrar na Terra que Deus havia prometido. Observando as leis do Senhor, e seus decretos.
Em seguida, ele relembra que "nada deva ser acrescentado ou tirado" à palavra que é era anunciada. Ninguém deve colocar ou por nada à Palavra que Deus transmitiu a Moisés.
O autor do Deuteronômio acrescenta que devemos guardar e colocar em prática esta lei, pois nela está a sabedoria e a inteligência.
O salmista pergunta quem morará na casa do Senhor. E responde que a pessoa que caminha sem pecado; que pratica a justiça; que pensa e guarda a verdade em eu íntimo; além de não caluniar o outro. Para habitar na casa do Senhor, continua o salmista, é preciso não prejudicar o irmão; não cobri de insultos o vizinho; e por último, não empresta com usura, ou seja, dá sem receber em troca.
Aquele que pratica essa palavra vive a verdadeira religião. Aquela pura e sem mancha, ou seja, olha, preocupa-se e faz o bem ao outro: assiste ao doente, visita o preso, alimenta o faminto, dá de beber a quem tem sede, e de comer a quem tem fome. Cobre o nu, veste o indigente.
A lei divina serve para purificar o coração do ser humano. A lei que vem de Deus, e não dos homens, purifica as maldades do coração, que torno o homem impuro: "más intenções, imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo". Tudo que é maldade e imoralidade  não vem de fora, mas saem do coração humano, tornando o homem impuro.
Somente a Palavra de Deus pode purificar o homem. Purificar o coração humano, tornando o ser humano um verdadeiro adorador de Deus.
Assim, queridos e queridas, ao ouvir a Palavra de Deus aprendamos a viver de forma pura vivendo a Palavra de Deus demonstrando caridade com o próximo.
(Leituras do dia. Dt 4,1-2.6-8; Sl 14(15); Tg 1,17-18.21b-22.27; Mc 7,1-8.14-15.21-23)
Oração: "Deus do universo, fonte de todo bem, derramai em nossos corações o vosso amor e estreitai os laços que nos unem convosco para alimentar em nós o que é bom e guardar com solicitude o que nos destes. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso filho, na unidade do Espírito Santo. Amém!"

domingo, 9 de agosto de 2015

Festa de São Lourenço, padroeiro dos Diáconos

Festa de São Lourenço, padroeiro dos Diáconos

10 de agosto, Festa de São Lourenço, padroeiro dos diáconos. Mas, quem são os diáconos, e como surgiram na Igreja?
No livro dos Atos dos Apóstolos (At 6,1-6), após o crescimento dos seguidores do cristianismo, muitos de língua grega começaram a se queixar de que suas viúvas eram deixadas de lado. Os apóstolos resolveram, então, o problema mandando que a comunidade escolhesse homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria para que a eles fossem confiadas as tarefas pedidas pelos cristãos. E assim foi feito.
A comunidade cristã nascente começou a ver nos diáconos um modelo de serviço, a Igreja que serve é personificada no diácono. Assim, Paulo diz a Timóteo (I Tm 3,8-13) que os diáconos devem “ser pessoas descentes, homens de palavra, não viciados no vinho nem afetos a lucros torpes” (I Tm 3,8). E acrescenta que saibam “guardar o mistério da fé com uma consciência pura” (I Tm 3,9).
Depois de um período em que o diaconato era apenas um degrau para se chegar ao presbiterado, a Igreja, no Concílio Vaticano II restabeleceu o diaconato como grau permanente do sacramento da ordem. A constituição dogmática Lumen Gentium determina que “daqui em diante poderá o diaconato ser restabelecido como grau próprio e permanente da hierarquia (...). E que poderá ser conferido a homens de idade madura, mesmo casados”.
A partir de então, a Igreja vem aprofundando esse restabelecimento de uma vocação que havia ficada latente na história da Igreja. A novidade estava na possibilidade de que recebessem o sacramento da ordem homens que tinha o sacramento do matrimônio. Mesmo que fosse no grau inferior da ordem.
O Direito Canônico regulamenta as atividades formativas e de atuação do diaconato. Destaca que são ministros ordinários do Batismo e do Matrimônio. São ministros da exposição e bênção solene do Santíssimo Sacramento. Têm a faculdade de pregar a palavra de Deus e de fazer homilias nas celebrações da santa missa.
Em 2007, os bispos do CELAM reunidos em Aparecida na V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e Caribenho, afirmaram que os diáconos permanentes são ordenados para o serviço da Palavra, da caridade e da liturgia. Além disso, devem “acompanhar a formação de novas comunidades eclesiais, especialmente nas fronteiras geográficas e culturais, aonde ordinariamente não chega a ação evangelizadora da Igreja”.
A CNBB, no documento 96, tendo como base a Conferência do CELAM, enumerou algumas das “fronteiras geográficas e culturais”. No número 58, os bispos brasileiros dizem que o “diácono assume a opção preferencial pelos pobres, marginalizados e excluídos. Ele é apóstolo da caridade com os pobres, envolvidos com a conquista de sua dignidade e de seus direitos econômicos, políticos e sociais. Está próximo da dor do mundo. Deixa-se tocar e sensibilizar pela miséria e pelas provações da vida. Reveste-se de especial compaixão pelos: migrantes, as vítimas da violência, os deslocados e refugiados, as vítimas do tráfico de pessoas e sequestros, os desaparecidos, os enfermos de HIV e de enfermidades endêmicas, os tóxico-dependentes, idosos, meninos e meninas que são vítimas da prostituição, pornografia e violência ou trabalho infantil, mulheres maltratadas, vítimas da exclusão e do tráfico para a exploração sexual, pessoas com capacidades diferentes, grandes grupos de desempregados/as, os excluídos pelo analfabetismo tecnológico, as pessoas que vivem na rua das grandes cidades, os indígenas e afro-americanos, agricultores sem terra e os trabalhadores das minas. Em razão da graça sacramental recebida e da missão canônica, compete aos diáconos administrar os bens e as obras de caridade e promoção social da Igreja”.
Portanto, a Festa de São Lourenço, celebrada em toda Igreja neste dia 10 de agosto, lembra-nos que a Igreja é serviço, e serviço aos pobres e a todos aqueles que buscam a justiça misericordiosa de Deus.
Ao recordar o martírio de São Lourenço, a Igreja nos convida a pedir a Deus a graça de voltarmos nosso olhar para os bens mais preciosos da Igreja, os pobres. Se sua comunidade tem a graça de ter um diácono, ore por ele. Se ainda não tem, peça ao Senhor que suscite operários para a messe diaconal.
Oremos pelos Diáconos:
Deus e Pai Nosso, fortalece com a graça do Espírito Santo os diáconos de vossa Igreja, para que desempenhem com alegria, fidelidade e em espírito de comunidade eclesial, o seu ministério de diáconos, seguindo os passos de vosso Filho, Jesus Cristo, que “não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate de muitos”.
 Nós vos pedimos pelas famílias dos diáconos casados: que sejam autênticas “igrejas domésticas”, segundo o exemplo da Sagrada Família de Nazaré, e delas surjam vocações sacerdotais e religiosas.
Virgem Maria, Mãe da Igreja e Rainha dos Apóstolos, rogai pelos ministros do Senhor! São Lourenço, diácono e mártir, rogai pelos diáconos, servos do Povo de Deus! Amém!

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Quem é Nicodemos?

Quem é Nicodemos?

No livro O Evangelho Segundo João, o Pe. Carlo M. Martini afirma que Nicodemos é um “presbítero”, ou seja, um “adulto” que já “fez uma carreira e por isso tem certas prerrogativas e certos deveres externos a salvaguardar. (...) Sente o peso de sua reputação, de sua importância. Por isso tem medo de comprometer-se; tem medo de enfrentar abertamente a Palavra de Deus”.

Olhando Nicodemos por esta perspectiva nos vemos aí refletidos. Nos achamos maduros, ou adultos na fé. Caminhamos na Igreja há muito tempo. Ocupamos um lugar de destaque na comunidade. Somos Coordenadores ou Coordenaras; Ministros; Agentes de Pastoral; Trabalhamos na caridade social; Somos voluntários em muitos serviços. Há os que pertencem ao clero, e são vistos e julgados por todos (pois as pessoas esperam que os clérigos tenham atitudes distintas das suas). Então, o Pe. Martini diz: “tendo já chegado a uma certa responsabilidade externa, tem medo de comprometer-se: e este medo o impede de escutar as novas exigências da Palavra de Deus”.

Martini nos apresenta Nicodemos como aquele que busca, através dos elementos intelectuais, um conhecimento de Jesus. Acredita que por suas categorias cognitivas vai entender a mensagem de Jesus. Entretanto, não se pode reduzir a Palavra de Deus à mera doutrina humana. A atitude de Nicodemos é de quem diz que quer saber das coisas, e afirma “eu creio que tenho métodos para sabê-las”. “E por isso a minha situação já é aquela de quem ou sabe ou quer comunicar, ou então procura saber com os métodos ordinários de eficiência, através dos quais se afirma o saber. Nicodemos está nesta situação, que é situação de fechamento à novidade misteriosa da Palavra”.

Outro ponto interessante neste encontro. Como falei anteriormente, Nicodemos é o um homem velho; não velho em idade (apenas), mas velho em posição dentro da sociedade religiosa de seu tempo. O seu grande medo é “não se pode começar tudo de novo”. Este impasse é pensado por ele, pois na “realidade a Palavra de Deus pode pedir que se recomece da estaca zero, e isso espanta” (lembremos de Abraão, Noé, Moisés, Jó e muitos outros).

“Nicodemos tem pouca confiança no poder de Deus. (...) Ele já estabeleceu os limites daquilo que se pode e que não se pode fazer: é um “presbítero” que já chegou, que em seu ponto de chegada se fecha às ulteriores compreensões do mistério de Deus. Este é o homem a quem João dirige a sua pregação”.

Quantas vezes nos instalamos em nossas certezas religiosas e não deixamos a Palavra de Deus agir em nossas vidas? Quantas vezes nos preocupamos mais com o que vai ser dito de nós mesmos e não nos abrimos à ação de Deus em nossa pastoral? O encontro de Jesus com Nicodemos vai além do meramente institucional. Vai além da posição social que ocupa o interlocutor. Ela reflete nossa situação dentro da própria Igreja. Ao meditarmos esse encontro, nos vemos ai dentro.