Quem é Nicodemos?
No livro O Evangelho Segundo João, o Pe. Carlo M.
Martini afirma que Nicodemos é um “presbítero”, ou seja, um “adulto” que já
“fez uma carreira e por isso tem certas prerrogativas e certos deveres externos
a salvaguardar. (...) Sente o peso de sua reputação, de sua importância. Por
isso tem medo de comprometer-se; tem medo de enfrentar abertamente a Palavra de
Deus”.
Olhando Nicodemos por
esta perspectiva nos vemos aí refletidos. Nos achamos maduros, ou
adultos na fé. Caminhamos na Igreja há muito tempo. Ocupamos um lugar de
destaque na comunidade. Somos Coordenadores ou Coordenaras; Ministros; Agentes
de Pastoral; Trabalhamos na caridade social; Somos voluntários em muitos
serviços. Há os que pertencem ao clero, e são vistos e julgados por todos (pois
as pessoas esperam que os clérigos tenham atitudes distintas das suas). Então,
o Pe. Martini diz: “tendo já chegado a uma certa responsabilidade externa, tem
medo de comprometer-se: e este medo o impede de escutar as novas exigências da
Palavra de Deus”.
Martini nos apresenta
Nicodemos como aquele que busca, através dos elementos intelectuais, um
conhecimento de Jesus. Acredita que por suas categorias cognitivas vai entender
a mensagem de Jesus. Entretanto, não se pode reduzir a Palavra de Deus à mera
doutrina humana. A atitude de Nicodemos é de quem diz que quer saber das
coisas, e afirma “eu creio que tenho métodos para sabê-las”. “E por isso a
minha situação já é aquela de quem ou sabe ou quer comunicar, ou então procura
saber com os métodos ordinários de eficiência, através dos quais se afirma o
saber. Nicodemos está nesta situação, que
é situação de fechamento à novidade misteriosa da Palavra”.
Outro ponto
interessante neste encontro. Como falei anteriormente, Nicodemos é o um homem
velho; não velho em idade (apenas), mas velho em posição dentro da sociedade
religiosa de seu tempo. O seu grande medo é “não se pode começar tudo de novo”.
Este impasse é pensado por ele, pois na “realidade a Palavra de Deus pode pedir
que se recomece da estaca zero, e isso espanta” (lembremos de Abraão, Noé,
Moisés, Jó e muitos outros).
“Nicodemos tem pouca
confiança no poder de Deus. (...) Ele já estabeleceu os limites daquilo que se
pode e que não se pode fazer: é um “presbítero” que já chegou, que em seu ponto
de chegada se fecha às ulteriores compreensões do mistério de Deus. Este é o
homem a quem João dirige a sua pregação”.
Quantas vezes nos
instalamos em nossas certezas religiosas e não deixamos a Palavra de Deus agir
em nossas vidas? Quantas vezes nos preocupamos mais com o que vai ser dito de
nós mesmos e não nos abrimos à ação de Deus em nossa pastoral? O encontro de
Jesus com Nicodemos vai além do meramente institucional. Vai além da posição
social que ocupa o interlocutor. Ela reflete nossa situação dentro da própria
Igreja. Ao meditarmos esse encontro, nos vemos ai dentro.
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