Fé,
Amor, Perdão: Misericórdia. É o que nos leva a meditar hoje
sobre esta perícope. Alguns fatos nos vão enredando nesta leitura: um fariseu
convida Jesus para uma refeição, não é coisa qualquer, há um desejo de fazer
comunhão com o convidado; Jesus aceita, entra na casa, põem-se à mesa, pelo fim
da leitura, supomos que os doze estavam com ele, bom como outras pessoas. A
partir desta ambientação, composição da cena, desenrola-se toda a catequese da “fé,
amor, perdão”.
Antes, vamos definir
o que era ser fariseu. A palavra fariseu significa “separados”, “santos”, “puros”.
Era um grupo que acreditavam na lei oral, tanto quanto na lei escrita, Torá.
Poderíamos dizer que eram os “fanáticos” religiosos do tempo de Jesus. Se
olharmos para os nossos dias, e dentre nós, católicos, poderíamos dizer que são
aqueles que vivem a fé, e a prática religiosa, apenas por obrigação legal.
Deixam de lado a fé, o perdão, o amor, enfim, não são misericordiosos.
Voltemos ao nosso
texto. Após a ambientação, notamos que uma pessoa, aparentemente impura, dentro
das leis farisaicas, adentra a cena. Uma mulher. Uma pessoa. Uma excluída da
comunidade. Rejeitada. Com a pecha de “pecadora”. Ela passa a tocar Jesus.
Mas antes de falarmos
do que fazia aquela mulher, observemos que se ela entrou na casa, na sala de
refeição, na intimidade da família, significa que era uma frequentadora daquela
casa. Ou era parente de alguém daquela família. Ou era uma “serviçal” daquela
família. É igual as nossas famílias. Temos todo tipo de pessoas, santas e pecadoras.
Entra em cena a
mulher, pecadora segundo as leis farisaicas. Ela se posta atrás de Jesus. É uma
cena interessante. Não havia cadeiras, como conhecemos hoje. As refeições eram
feitas quase ao nível do chão. Havia uma trave onde as pessoas quase se
ajoelhavam. Colocavam os pés para trás. Por isso a mulher tinha acesso aos pés
de Jesus, por trás. Não estava à sua frente. Não ousou olhar nos olhos dele,
não fitou o seu rosto. O gesto da mulher é quem reconhece a divindade daquele
homem, mas não tem coragem de olhar para ele. É a mesma coisa que fazia o
publicano, olhando para baixo, reconhecia-se pecador. Aquela mulher não era do
grupo dos fariseus. Ela se sabia pecadora. Mas reconhecia a divindade de Jesus.
Por isso, não olha no seu rosto. Aproxima-se dele. Por trás. Humilha-se.
Arrasta-se aos pés.
Ela se aproxima. Lava
os pés de Jesus com suas lágrimas. Enxuga-os com seus cabelos. Beija-os. E os
perfuma. Ela não tinha mais nada a perder. Toda a sua dignidade havia sido
perdida. Já era pecadora mesmo. A exclusão já fazia parte de sua vida. A sua
única chance de perdão estava naquele homem.
Entretanto, o
legalismo religioso do fariseu não o fazia enxergar Deus em Jesus. Não
acreditava que Deus poderia resgatar os pecadores. Toda a sua fé estava baseada
apenas nas leis, nos preceitos, no que “pode ou não pode”. Por isso a dúvida
tomou conta de seu coração, “Se este
homem fosse um profeta, saberia que tipo de mulher está tocando nele, pois é
uma pecadora”. A partir de então, começa a catequese da misericórdia.
A parábola que Jesus
conta basta voltar ao texto. O que nos interessa nesse momento, são as
comparações. “Lavar os pés”, “o beijo da saudação”, o “óleo na cabeça”. Gestos
que qualquer observante da lei deveria fazer ao receber um convidado. Ou no
máximo, mandar um empregado fazer. Ao menos o beijo da saudação o dono da casa
deveria ter feito.
Todo o ritual
farisaico não foi cumprido pelo dono da casa. Entretanto, aquela mulher isso o
fez. Ao humilhar-se, estando fora da mesa da convivência, fora da comunhão, ela
usa de todo o rito. Lava os pés de Jesus e beija-o. Enxuga com os cabelos. E os
perfuma. Ela viu naquele homem a presença de Deus. A presença de Deus que
perdoa, que acolhe, que é misericordioso. Um Deus que não é lei, mas vida. Um
Deus que não exclui, mas vem resgatar o que estava perdido para reinserir na
comunidade. Um Deus que, primeiro, se preocupa com a pessoa, para depois
inseri-la na comunidade, para em seguida se louvado por essa pessoa e salvá-la.
Depois de cumprir
todo o ritual de acolhimento, previsto na lei, Jesus voltou-se para a mulher e
disse: “Teus pecados estão perdoados”. Essa frase espanta todos que estão na
sala. Só Deus pode perdoar pecados. Mas as pessoas do tempo não viam nele a
presença de Deus, só os pecadores e excluídos. Mas, aquela mulher conseguiu ver
a presença de Deus naquele homem. Porém, não basta perdoar os pecados. Jesus disse
que havia vindo para resgatar os que estavam perdidos. Por isso, ele
acrescenta, “tua fé te salvou”. E todo o que está salvo reencontrou a paz. Por
isso, “vá em paz”.
Ela saiu daquela sala
justificada. Salva. Em paz. Toda a sua agonia, todo o seu desespero estão agora
perdoados. E mais do que isso, ela sai dali salva, e todo aquele que se está
salvo deve ter a paz. A paz é um dos frutos daquele que encontrou a salvação.
Jesus entrou na casa
do fariseu. Mas quem teve o perdão e a salvação foi a “mulher pecadora”. Não
basta ser rico. Não basta seguir as regras. Não basta cumprir os preceitos
religiosos. Não bastam as práticas piedosas. Tudo isso é necessário, mas é importante
reconhecer que é preciso buscar quem está perdido. Acolher o pecador. Perdoar. Dizer,
“a tua fé te salvou”.
Lucas apresenta duas
conclusões. A primeira, diz que Jesus saiu por cidades e povoados pregando a
Boa Nova do Reino de Deus. E esta boa nova estava no episódio narrado
anteriormente.
E a segunda
conclusão, refere-se às pessoas que andavam com Jesus. Além dos doze, havia as
mulheres que colocaram a serviço aquilo que tinham de mais caro. Muitas foram
resgatas de seus pecados. Faziam parte da comunidade, mas eram fúteis. O
encontro com Jesus às resgatou. E todo/toda aquele(a) que é resgatado(a) por
Jesus, imediatamente coloca-se a serviço.
Oremos:
“Ó Deus, força daqueles que esperam em vós, sede favorável ao nosso apelo, e como
nada podemos em nossa fraqueza, dai-nos sempre o socorro da vossa graça, para
que possamos querer e agir conforme vossa vontade, seguindo os vossos mandamentos.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo”.
Amém!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui seu comentário!