quarta-feira, 29 de março de 2017

"Dar razões de nossa esperança"! (I Pd.3,15)


O pior de tudo é “quando tudo parece perdido”. Quando bate à nossa porta um desânimo. Quando os nossos sonhos nos dão a impressão de que desmoronaram. Quando, aparentemente, nos roubam a esperança. Quando nos roubam a possibilidade de construirmos nossos próprios castelos.
A história, muitas vezes, nos mostra resistências sociais que não partiram de ideologias políticas. Mas foram sustentadas pela perseverança em acreditar num sonho. Num sonho que brota de dentro. Que vem do coração. Que não fica preso apenas ao racional. Ninguém, e nada pode nos separar de nossos sonhos. Disse Paulo de Tarso certa vez, “quem poderá nos separar do amor de Cristo”? (Rm 8,35). Paulo tinha a firma convicção de que nada poderia afastá-lo desse amor incondicional a pessoa de Jesus Cristo. E ele continuou, “nem a tribulação, nem a angústia, nem a perseguição, nem a fome, nem a nudez, nem o perigo, nem a espada”. E acrescentou, “nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem os poderes nem as forças das alturas, nem qualquer outra criatura, nada poderá nos separar do amor de Deus”. Isso é acreditar em seus sonhos. Em seus ideais.
Em outro lugar da Bíblia, conhecemos a história de uma família, chamada de Macabeus. Aí, os idosos daquele povo foram convocados para forjarem culto aos ídolos pagãos para convencer o povo de que aquilo era bom, e salvarem a sua vida.
Entretanto, foram os velhos, os mais experientes da comunidade, que animaram os jovens a manterem firmes a sua fé. Pois os jovens, aqueles que estavam iniciando a vida, precisavam do exemplo dos que estavam já algum tempo no caminho. Que vendo o presente, olhavam para o passado para entender uma perspectiva de futuro. Qual caminho seguir?
No chamado Segundo Livro dos Macabeus, capítulo 6 e 7, vemos a história de um dirigente, e de uma mãe, que acreditando nas sua esperança, defenderam, até a morte, sua confiança naquele que eles criam.
No capítulo 6, a partir do versículo 18 em diante, lemos a história de Eleazar. Doutor da Lei. Homem mais velho. Líder do povo. Ele havia sido forçado a comer carne de porco (os judeus não comem carne de porco). Haviam colocado em sua boca carne de porco. Mas preferindo a morte ao viver envergonhado, cuspiu-a fora. Dizia que era “assim que devem fazer os que corajosamente querem resistir ao que não é permitido comer, nem por amor à própria vida”.
Os que dirigiam o sacrifício chamaram Eleazar à parte e lhe fizeram uma proposta. Que ele pegasse carne permitida, a preparasse, e que comesse diante do povo como se fosse a carne oferecida aos ídolos. Assim, teria sua vida preservada.
Eleazar “tomou uma nobre decisão, coerente com a sua idade (...) com a vida correta que levava desde a infância, com as leis de Deus. E disse prontamente, “Podem mandar-me para a mansão dos mortos. Em minha idade não fica bem fingir, senão muitos dos mais moços pensarão que um velho chamado Eleazar passou para os costumes estrangeiros. Com seu fingimento, por causa de um pequeno resto de vida, eles seriam enganados, e eu só ganharia mancha de desprezo para a minha velhice”. Eleazar foi morto Mas guardou a esperança de seus sonhos. Jesus havia dito, “não tenham medo daqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma” (Mt 10,28). Ou seja, os cruéis podem matar eliminar seus opositores, mas não podem matar um sonho. Pois os sonhos não estão no corpo.
Em seguia à morte de Eleazar, lemos outra situação de acreditar nos próprios sonhos. Uma mãe com seus sete filhos foram presos (2Mc 7). Mais uma vez, o poder constituído queria lhes obrigar a comer o que não era permitido. É assim o que acontece. Muitas vezes, para salvar nossas vidas, desistimos de nossos sonhos, de nossas convicções. Daquilo que acreditamos. E sucumbimos.
Neste episódio, o rei mandou matar os sete, partindo do mais velho para o mais novo, até chegar à própria mãe. Essa é a estratégia. Normalmente, os mais velhos são mais convictos de seus sonhos. Sabem o caminho a seguir. Não se perdem Os mais novos, ainda em formação, são temerários. Parece-lhes que a vida é mais importante. Desfazem-se de seus sonhos muito rápido. Entretanto, neste história, o exemplo do mais velho, até a mãe, reforçou o quão importante é crer em seus sonhos. Um a um foram todos mortos. Mas seus exemplo nos anima até hoje. Essa história é lembrada por várias gerações.
E por fim, lembro da própria história de Jesus Cristo. E daqueles seus discípulos que partiram de Jerusalém logo após a morte e sepultamento dele. Voltavam eles para sua cidade, Emaús, quando se aproximou uma pessoa e lhes perguntou porque estavam tristes. Eles responderam, “Tu és o único peregrino em Jerusalém que não sabe o que aí aconteceu  nesses último dias”? E o peregrino respondeu, “O que foi”? E eles disseram, “o que aconteceu a Jesus, o nazareno, que foi um profeta poderosos em ação e palavras, diante de Deus e do todo o povo. Nossos chefes dos sacerdotes e nossos chefes o entregaram para ser condenado à morte, e o crucificaram”. Parecia o fim de um sonho. O fim de uma esperança. Não valeria mais apena se colocar à serviço daquele ideal, daquela proposta de vida. Daquela mudança não violenta das relações sociais. Deveriam estar com o sentimento de derrota, de impotência.
Entretanto, Jesus esclareceu a eles que deveria ter passado por tudo aquilo para em seguida voltar à vida. Ou seja. Muitas vezes, é preciso morrer para voltar à vida. E num pequeno gesto, de partir o pão, coisa simples da vida, ele é reconhecido. E no coração daqueles que estavam desorientados, ressurgiu a esperança. É o mesmo exemplo da Fênix. A cada morte, ressurge com mais força. Mas ela se renova sempre.
Renovemos nossa esperança. As cinzas não podem contra nós. Sempre haverá vida. Sempre haverá ressurreição. Ressurgimento. Voltar á vida, mesmo diante das aparentes e concretas dificuldades.


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