Queridas irmã e
irmãos,
No dia 11 de outubro
de 2012, tivemos a abertura do Ano da Fé. O Papa Bento XVI, na Carta Apostólica
“Porta Fidei”, nos exorta a
dedicarmos um ano de reflexão sobre nossa fé e sua propagação. Esta será uma
oportunidade para “intensificar a reflexão sobre nossa fé”. E continua
afirmando que “teremos oportunidade de confessar a fé no Senhor Ressuscitado
nas nossas catedrais e nas igrejas do mundo inteiro, nas nossas casas e no meio
das nossas famílias”. E conclui dizendo que “tanto as comunidades religiosas
com as comunidades paroquiais e todas as realidades eclesiais, antigas e novas,
encontrarão forma de fazer publicamente profissão do Credo”.
O Papa inicia dizendo
que “desde o princípio de meu ministério (...) lembrei a necessidade de
redescobrir o caminho da fé para fazer brilhar (...) a alegria e o renovado entusiasmo
do encontro com Cristo”. A fé é ponto central e motivador de uma vivência
cristã dentro da Igreja. Sem fé tudo perde sentido, até a participação nos sacramentos,
em especial a Eucaristia. É pela fé que podemos ver Jesus no pão transformado
no seu corpo. É pela fé que vemos a Igreja como o corpo do senhor, cuja cabeça
é o próprio Cristo.
Em seguida, o Papa
afirma que muitas vezes os cristãos colocam sua preocupação mais nas consequências
do que na própria fé; diz: “Sucede (...) que os cristãos sintam maior preocupação
com as consequências sociais, culturais e políticas da fé do que com a própria fé”.
Preocupa-nos o que fazer, e deixamos de lado o cultivo da própria fé. Não dar a
fé a devida atenção espiritual, torna as atividades diárias esvaziadas de sentido.
A fé vem pela
Palavra, conforme nos diz o apóstolo: “A fé entra pelo ouvido, ouvindo a
mensagem do Messias” (Rm 10,17). Jesus afirma que “feliz são os que escutam a palavra
de Deus e a cumprem” (Lc 11,28). A palavra de Deus meditada e orada leva à fé.
Não existe fé sem a escuta da Palavra. A primeira comunidade dos fiéis teve
esta atitude após as palavras de Pedro: “O que ouviram lhes tocou o coração, e
disserem a Pedro e aos outros apóstolos: - O que devemos fazer irmão?” (At. 2,
37).
Bento XVI nos convoca
a uma “redescoberta da fé”. E para isso, nos chama a uma redescoberta da Profissão de Fé do Povo de Deus e a uma
leitura mais atenta dos documentos do Concílio Vaticano II. Nos diz que é “necessário
fazê-los ler de forma tal que possam ser conhecidos e assimilados como textos
qualificados e normativos do Magistério, no âmbito da Tradição da Igreja”.
O Papa afirma que “os
cristãos são chamados a fazer brilhar (...) a Palavra de verdade que o Senhor
Jesus nos deixou”. E acrescenta que a “Igreja prossegue a sua peregrinação no
meio das perseguições do mundo e das consolações de Deus, anunciando a cruz e a
morte do Senhor até que ele venha”.
O “Ano da Fé é um
convite para uma autêntica e renovada conversão ao Senhor”, nos alerta Bento
XVI. E continua “a fé, que atua pelo amor, torna-se um novo critério de entendimento
e de ação, que muda toda a vida do homem”.
O amor que brota da
fé nos leva a evangelizar. Afirma o Papa que “é o amor de Cristo que enche os
nossos corações e nos impele a evangelizar”. Por isso, “é necessário um empenho
eclesial mais convicto a favor duma nova evangelização, para descobrir de novo
a alegria de crer e reencontrar o entusiasmo de comunicar a fé”.
Neste ano devemos
fazer com que o Credo seja nossa oração diária. “Nos primeiros séculos, os
cristãos eram obrigados a aprender o Credo de memória (...). É que este
servia-lhes de oração diária, para não esquecerem o compromisso assumi, do com
o Batismo”.
Santo Agostinho
afirma: “O Símbolo do santo mistério (...) reúne as palavras sobre as quais
está edificada com solidez a fé da Igreja (...) E vós recebestes e proferistes,
mas deveis tê-lo sempre presente na mente e no coração, deveis repeti-lo nos
vossos leitos, pensar nele nas praças e não o esquecer durante as refeições; e
mesmo quando o corpo dorme, o vosso coração continue de vigílias por ele”.
O primeiro lugar onde
se dá a fé é o coração. Afirma Paulo: “Acredita-se com o coração e, com a boca,
faz-se a profissão de fé” (Rm 10,10).
Ainda o apóstolo
Paulo nos deixa o exemplo de que “o conhecimento dos conteúdos que se deve
acreditar não é suficiente, se depois o coração - autêntico sacrário da pessoa –
não for aberto pela graça, que consente ter olhos para ver em profundidade e
compreender que o que foi anunciado é a Palavra de Deus”. (At. 16,14). O
exemplo de Lídia nos é significativo para nossa meditação. Esta mulher,
comerciante, de alta posição na sociedade, deixa que seu coração seja aberto
pelo Senhor para ouvir a palavra de Paulo. Deve ser nossa disposição. Diz o
texto: “O Senhor lhe abriu o coração para que prestasse atenção ao discurso de
Paulo”.
Com o coração que
adere à fé pela Palavra, a boca proclama este mistério. Diz o Papa: “o
professar com a boca indica que a fé implica um testemunho e um compromisso
públicos”. E continua, “a profissão da fé é um ato simultaneamente pessoal e
comunitário”.
Existem alguns
exemplos de expressão da fé que encontramos na bíblia. Foi “pela fé que Maria
acolheu a palavra do Anjo e acreditou no anúncio de que seria Mãe de Deus”. Foi
“pela fé que os Apóstolos deixaram tudo para seguir o Mestre”. Foi “pela fé que
os discípulos formaram a primeira comunidade reunida à volta do ensino dos
Apóstolos”. Foi “pela fé que os mártires deram a sua vida para testemunhar a verdade
do Evangelho”. Foi “pela fé que homens e mulheres consagraram a sua vida a
Cristo”. Foi “pela fé que no decurso dos séculos, homens e mulheres de todas as
idades (...) confessaram a beleza de seguir o Senhor Jesus nos lugares onde
eram chamados a dar testemunho do seu ser cristão”. É pela “fé que vivemos reconhecendo
o Senhor Jesus vivo e presente na nossa vida e na história”.
Este é um ano para a
vivência da caridade. “Agora permanecem três coisas: a fé, a esperança e a caridade;
mas a maior de todas é a caridade (I Cor. 13,13)”. Bento XVI, refletindo sobre
essa frase, diz: “A fé sem a caridade não dá frutos, e a caridade sem a fé
seria um sentimento à mercê da dúvida”.
“A fé obriga cada um
de nós a tornar-se sinal vivo da presença do Ressuscitado no mundo. O que “o
mundo tem hoje particular necessidade é o testemunho credível de quantos,
iluminados na mente e no coração pela Palavra do Senhor, são capazes de abrir o
coração de a mente de muitos outros ao desejo de Deus e da vida verdadeira,
aquela que não tem fim”.
Para terminarmos, o
Papa nos fala de darmos razões de nossa fé. Darmos o “assentimento”. E este só
será possível se utilizarmos o Catecismo da Igreja Católica para aprofundarmos
aquilo que nos vem pela pregação. O Catecismo Católico é o lugar privilegiado para
o “desenvolvimento da fé até chegar aos grandes temas da vida diária”.
Vivamos esse momento
rico. Aprofundemos nossa fé. Primeiro, ouvindo e meditando a palavra de Deus.
Segundo, tendo nosso Credo como oração principal de nossa vida. Terceiro, fazendo
do Catecismo da Igreja Católica nossa fonte de estudo da fé.
Coloquemo-nos nas
mãos da Mãe de Deus, “proclamada feliz porque acreditou (Lc 1,45)”.