domingo, 23 de abril de 2017

“Bem-aventurados os que creram sem terem visto”!

Estamos vivendo o período pascal. Para a liturgia da Igreja, esse período dura até a Solenidade de Pentecostes.
No evangelho de hoje (Jo. 20,19-31) vemos uma narrativa voltada para o testemunho e a experiência pessoal do ressuscitado.
Tomé, o incrédulo, nos abriu as portas para uma fé que se baseia no testemunho. Os irmãos (e amigos) de Tomé disseram que tinham visto o Senhor. Tomé não dá crédito. Não crê no testemunho. Desconfia. Pensa que estão brincando com ele. Hoje em dia, diríamos: “Fala sério”!
Tomé precisa de uma comprovação empírica para acreditar. Se não houver comprovação científica do fato, não crê.
Mas a incredulidade desse apóstolo abriu para nós uma possibilidade incrível dentro da história da salvação. Tornamo-nos “Bem aventurados”. Afirmou Jesus: “bem-aventurados os que creram sem terem visto”! Bem-aventurados os que creem pela pregação e pelo testemunho dos apóstolos. Bem-aventurados os “convertidos” que são “perseverantes no ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações” (primeira leitura At. 2,42-47). Bem-aventurados os que vivem unidos e colocam “tudo em comum”. Bem-aventurados os que partem o pão pelas casas e tomam a refeição com alegria e simplicidade de coração. Assim, passam a ser sinal do ressuscitado.
Padre Adroaldo Palaoro escreveu: “Viver como ressuscitados” implica esvaziar-nos do “ego”, para deixar transparecer o que há de mais divino em nosso interior. É preciso destravar portas e janelas de nossos estreitos lugares para que o novo Sopro do Ressuscitado areje nossa interioridade, ainda envolvida na sombra e no medo.
E acrescentou que, “Todos nós temos de passar e superar o mesmo processo vivido pelos discípulos e discípulas, se quisermos entrar na dinâmica da experiência Pascal. A fé no Ressuscitado não significa nada se nós mesmos continuamos vivendo uma vida atrofiada e sem horizontes”. Crer no ressuscitado é dar razões da nossa esperança (1 Pd. 3,15).
Os sinais da ressurreição são os sinais daquilo que gerou a morte. “A Ressurreição de Jesus nos convida e nos convoca a um sentido maior de nossa existência e uma maior qualidade de vida em nossas relações. Há “sinais” de Ressurreição perpassando todas as experiências humanas. Da mesma forma como há sinais de morte, também há inúmeros sinais de vida saltando por todos os lados. Cabe a nós, portanto, prestar atenção a esses “sinais” para deixar-nos impactar por eles”.
Da morte à vida. “Os sinais da Ressurreição não são diferentes daqueles da Paixão, mas os mesmos: os cravos e a lança. Não nos enganemos, trata-se do Crucificado; Ele é o Ressuscitado. Não há outro modo de encontrá-lo e verificá-lo a não ser tocando a marca dos cravos e o seu lado traspassado. Só que agora quem o vê e o toca, sente a força que o Crucificado/Ressuscitado tem para libertar e curar, para sanar e levantar, para dar vida e vencer a morte. Suas cicatrizes são curativas e sanam aqueles que O contemplam e O descobrem no cotidiano da história. “Tocar” no Ressuscitado é “tocar” a carne dos feridos e excluídos de nosso meio”. Fazer a experiência do toque, do estar junto aos que sofrem, colocar-se ao lado dos perseguidos por causa da justiça.
A experiência religiosa da paixão e ressurreição do Senhor, nos coloca junto dos sofrimentos da humanidade, e nos fazem mensageiros da esperança, da vida que ressurge da morte. “Jesus Ressuscitado continua carregando em suas mãos, pés e lado, a ferida da história; não só as chagas dos cravos e o corte da lança em seu próprio corpo, mas a chaga dos enfermos e expulsos, dos famintos e oprimidos... e de todos aqueles que continuam sofrendo ao nosso lado”.
“Experimentamos a Ressurreição quando somos capazes de acreditar que a boa semente precisa morrer para dar frutos, isto é, que a vida bem vivida é aquela que está a serviço e que deve ser bem cuidada”.
“A Ressurreição acontece quando alimentamos a pequena chama que ainda fumega nos corações desanimados, mas esperançosos; quando acreditamos no ser humano e em suas possibilidades de mudança; quando transformamos escuridão em luz, choro em dança, sofrimento em crescimento”.
“Vivemos a Ressurreição quando ajudamos os outros a encontrar razões para viver e alimentamos os sonhos por dias melhores, com pão na mesa de todos e com dignidade garantida”.
“A Ressurreição acontece nos pequenos e simples gestos de partilha, de perdão sincero e de confiança alegre. Ela está presente nos corações que mantêm viva a novidade da vida. E se revela na capacidade de ver o mundo e as pessoas com olhar de misericórdia, que reconstrói a existência fragmentada”.
A Ressurreição de Jesus toca nossa existência e nos possibilita experimentar o céu enquanto caminhamos pela terra, viver o divino misturado com o humano.
Assim, o bem, a bondade e a solidariedade nos colocam na perspectiva do paraíso.
A Ressurreição nos eleva e nos orienta para o Transcendente e para os valores mais altos, sem perder a simplicidade e complexidade de cada dia.
Ao entrarmos no mistério das coisas, pessoas e acontecimentos, somos banhados pela onda vital que emana de Deus. Dessa maneira, a vida nova resplandece e ilumina a escuridão da humanidade.

A perspectiva da Ressurreição nos permite, portanto, dar um salto em direção à vida plena, ainda que marcada pela dor, pela cruz e pelos sinais de derrota. Para os semeadores do bem, a vida é recompensa e fruto. E tem a última palavra...

segunda-feira, 17 de abril de 2017

Por que rezamos o Regina Coeli e não o Ângelus no tempo Pascal?

Durante o tempo pascal, a Igreja Universal se une em alegria por meio da oração do Regina Coeli ou Rainha do Céu, junto à Mãe de Deus, pela ressurreição de seu Filho Jesus Cristo, acontecimento que marca o maior mistério da fé católica.
A oração da antífona do Regina Coeli foi estabelecida pelo Papa Bento XIV em 1742 e substitui durante o tempo pascal, da celebração da ressurreição até o dia de Pentecostes, a oração do Ângelus cuja meditação central é o mistério da Encarnação.
Assim como o Ângelus, o Regina Coeli é rezado três vezes ao dia: ao amanhecer, ao meio dia e ao entardecer como uma forma de consagrar o dia a Deus e à Virgem Maria.
Não se conhece o autor desta composição litúrgica que remonta ao século XII e era repetido pelos Frades Menores Franciscanos depois das completas na primeira metade do século seguinte popularizando-a e difundindo-a por todo mundo cristão.

A oração:

V. Rainha do Céu, alegrai-vos, Aleluia!
R. Porque Aquele que merecestes trazer em Vosso ventre, Aleluia!
V. Ressuscitou como disse, Aleluia!
R. Rogai por nós a Deus, Aleluia!
V. Exultai e alegrai-vos, ó Virgem Maria, Aleluia!
R. Porque o Senhor ressuscitou verdadeiramente, Aleluia!

Oremos:
Ó Deus, que Vos dignastes alegrar o mundo com a Ressurreição do Vosso Filho Jesus Cristo, Senhor Nosso, concedei-nos, Vos suplicamos, que por sua Mãe, a Virgem Maria, alcancemos as alegrias da vida eterna. Por Cristo, Senhor Nosso. Amém.

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, como era no princípio agora e sempre. Amém. (Três vezes).
(fonte: http://www.acidigital.com/noticias/por-que-rezamos-o-regina-coeli-e-nao-o-angelus-no-tempo-pascal-84133/)

domingo, 16 de abril de 2017

“Este é o dia que o Senhor fez para nós; alegremo-nos e nele exultemos”!

Celebramos hoje o primeiro domingo da Páscoa. O primeiro domingo após a Vigília Pascal. O domingo onde Jesus Cristo revela-se aos seus discípulos.
Na Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios, Paulo afirma que após a sua ressurreição, Jesus aparecera a mais de quinhentas pessoas, após ter se manifestado aos apóstolos (I Cor. 15,5-6). 
A ressureição não é um ato isolado. Fechada para um grupo. Jesus se manifesta às multidões. Jesus ressuscita os mortos, aqueles que esperavam a definitiva libertação dos grilhões da morte. 
Na leitura dos Atos dos Apóstolos, Pedro se apresenta como testemunha de todos os fatos ocorridos com Jesus. Como Jesus fez o bem, “curando a todos os que estavam dominados pelo demônio, porque Deus estava com ele” (At. 10,30b). E acrescenta dizendo que os apóstolos “são testemunhas de tudo o que Jesus fez na terra dos judeus e em Jerusalém” (At. 10,39a).
Pedro garante que aquele Cristo que muitos haviam visto após a ressurreição é a mesma pessoa com a qual eles haviam comido e bebido após ter ressuscitado dos mortos. Ou seja, ele vive!
E o retorno a vida pela parte de Jesus é para que todo e toda que nele crer receba, em seu nome, o perdão dos pecados.
Então, chegamos à segunda leitura. Paulo falando aos Colossenses afirma que devemos nos esforçar por “alcançar as coisas do alto, onde está Cristo”. E quais são as coisas do alto? O próprio Paulo nos diz: “sentimentos de compaixão, bondade, humildade, mansidão, paciência”. E acrescenta, “suportem-se uns aos outros e se perdoem mutuamente, sempre que tiverem queixa contra alguém. Cada um perdoe o outro, do mesmo modo que o Senhor perdoou vocês. E acima de tudo, vistam-se com o amor, que é o laço da perfeição”.
O túmulo está vazio. Jesus não cabe mais nos conceitos humanos. Não está mais preso ao tempo e ao espaço físico. Rompeu a barreira que prendia seu corpo. Não está mais sujeito às definições humanas. O túmulo, lugar dos mortos, não pode prendê-lo, pois ele vive! Ele foi além das barreiras. É capaz de voltar à vida. “Eis que faço nova todas as coisas”. Túmulo vazio. Vida nova. A morte não mais pode segurar aqueles/aquelas que creem em Jesus. Não há mais espaço para aquilo que nos prende à terra (fornicação, impureza, paixão, desejos maus e a cobiça de possuir, que é uma idolatria).
A ressurreição nos faz mulheres e homens diferentes daqueles que morreram com o Senhor. Ressuscitamos com Jesus para as coisas do alto. 
Os sinais estão diante dos apóstolos, as faixas de linho deitadas no chão, e o pano que estava sobre a cabeça num lugar à parte. São sinais físicos que expressam uma realidade além do compreensível. 
O discípulo que se identifica como “o outro discípulo”, entrou no túmulo, “viu e acreditou”. Somente o amor poderia entender a nova realidade diante deles. O amor gera esperança. O amor rompe barreiras e faz viver e alcançar “as coisas do alto”.
“Este é o dia que o Senhor fez para nós; alegremo-nos e nele exultemos”!
Feliz Páscoa.
Oremos: “Ó Deus, por vosso Filho Unigênito, vencedor da morte, abristes hoje para nós as portas da eternidade. Concedei que, celebrando a ressurreição do Senhor, renovados pelo vosso Espírito, ressuscitaremos na luz da vida nova. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo”.
(textos: At. 10,34a.37-43; Cl. 3,1-4; Jo. 20,1-9).

quinta-feira, 13 de abril de 2017

“Dei-vos o exemplo para que façais a mesma coisa”

Hoje iniciamos o Tríduo Pascal, que culminará com a Missa da Vigília Pascal, no Sábado.
Pela manhã, na igreja mãe, a Catedral, os sacerdotes renovaram seus compromissos sacerdotais junto ao Bispo. Os óleos santos foram consagrados para a administração dos sacramentos do Batismo, da Crisma, da Unção dos Enfermos. Unido ao seu bispo, o sacerdote reza a missa nas comunidades onde estão inseridos, repetindo o gesto de Jesus na última ceia judaica dele com os apóstolos, e porque não dizer a nossa primeira missa, nossa ceia pascal cristã. Um novo jeito de se relacionar com Deus em comunhão com toda criação. 
Na carta encíclica “Laudato Si’”, o Papa Francisco destaca que na Eucaristia “a criação encontra sua maior elevação”. E acrescenta que a “graça atinge uma expressão maravilhosa, quando o próprio Deus, feito homem, chega ao ponto de fazer-se comer pela sua criatura”. 
Continua o Papa afirmando que no “apogeu do mistério da Encarnação, o Senhor quer chegar ao nosso íntimo através de um pedaço de matéria”. E o que nos salta aos olhos, é que o Senhor não se dá de forma impositiva, autoritária, de cima para baixo, “mas de dentro, para podermos encontra-lo em nosso próprio mundo”. E o Papa disse, que “na Eucaristia, já está realizada a plenitude, sendo o centro vital (grifo meu) do universo, centro transbordante de amor e de vida sem fim”.
Citando o Papa São João Paulo II, Francisco esclarece que a “eucaristia é um ato de amor cósmico”. É! Cósmico! “Cósmico porque mesmo quando tem lugar no pequeno altar de uma igreja da aldeia, a Eucaristia é sempre celebrada, de certo modo, sobre o altar do mundo”.
Papa Francisco afirma que a “Eucaristia une o céu e a terra, abraça e penetra toda criação”. Afirma que “o mundo, saído das mãos de Deus, volta a Ele em feliz e plena adoração: no Pão Eucarístico”. E ainda afirma que a “Eucaristia é fonte de luz e motivação para as nossas preocupações pelo meio ambiente, e leva-nos a sermos guardiões da criação inteira”.
Ao ajoelhar-se diante dos apóstolos, para lavar-lhes os pés, Jesus expressa a misericórdia de Deus. Inclusive os pés do traidor será lavado. Assim, vive aquilo que ensinou-nos a rezar, “perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. A perdão se dá em gestos concretos. Não apenas em palavras.
Um amor expresso em dar-se como alimento, manifesta-se no serviço ao próximo, no gesto de lavar os pés. De se fazer humilde aos pés da humanidade, inclusive dos inimigos. “Amai os vossos inimigos; orai pelos que vos perseguem” (Mt. 5,44).

domingo, 9 de abril de 2017

De mãos em mãos

Todos os anos, no Domingo de Ramos, ouvimos a proclamação do Evangelho da Paixão de Jesus Cristo.
A cada ano, tiramos algum proveito dessa leitura para nossa vida.
Esse ano, partilho com vocês as várias mãos pelas quais Jesus passou antes de ir para o Pai. Antes de se entregar definitivamente nas mãos do Pai.
As mãos de Judas; As mãos dos discípulos; em suas próprias mãos; a ausência das mãos do Pai; nas mãos da multidão com paus e espadas; nas mãos do Sumo Sacerdote e dos mestres da lei e dos anciãos; nas mãos de quem cuspiu em seu rosto; nas mãos do governador Pilatos; nas mãos dos soldados romanos; nas mãos de Simão de Cirene; Jesus entrega o espírito nas mãos do Pai.
O Evangelho inicia dizendo que “um dos doze discípulos, chamado Judas Iscariotes” foi ao encontro dos sumos sacerdotes perguntando o que receberia caso lhes entregasse Jesus.
É combinado trinta moedas de prata. Fruto de um ano de trabalho. Perguntemos quanto pagamos por Jesus no nosso dia-a-dia? Quantas moedas entregamos para condenar Jesus hoje? Quais são os pecados que cometemos e que simbolizam a venda de Jesus? Quais obras de misericórdia que deixamos de fazer para que Jesus continue sendo “vendido”?
Colocado nas mãos dos discípulos. Jesus diz como queria que fosse preparada a páscoa. Informa o lugar. Os discípulos se põem a serviço. Vão arrumar o lugar. Preparam a mesa. Colocam os alimentos. E nós, como estamos arrumando nossa vida para que Jesus possa fazer a refeição conosco? Como acolhemos Jesus? Estamos ouvindo de verdade sua palavra e seguindo suas orientações para nos preparar para comer com ele a Páscoa? Os discípulos em nenhum momento questionaram o como seria o lugar da páscoa. Simplesmente, obedeceram.
Jesus pelas suas próprias mãos. Vemos Jesus sentado à mesa com seus discípulos. Ele abençoa o pão e o vinho. E entrega a cada um, inclusive ao delator, aquilo que passará a ser o seu corpo e o seu sangue. “O sangue da aliança que será derramado em favor de muitos, para a remissão dos pecados”. Ao nos aproximarmos da mesa da páscoa, da mesa da eucaristia, estamos indo com ele para a cruz, ou estamos comendo as nossas traições do dia-a-dia? Estamos experimentando o verdadeiro pão e bebendo do cálice que nos leva à cruz, à dor, ao sofrimento para chegarmos ao Reino de Deus, ou estamos comendo e bebendo apenas pelo rito?
Após a refeição, Jesus se dirige para a oração junto ao Pai. Percebe que haverá uma dor maior do que poderia suportar enquanto ser humano. Uma dor que trás angústia. Diríamos “uma dor que dói”. Que arde. Que queima. Uma dor que faz sentir a ausência. Uma dor que faz clamar: “se é possível, afasta de mim esse cálice”. “Se é possível”! O que teria dito o Pai para ele? O que lhe teria mostrado o Pai para que o próprio Jesus tivesse dito, “contudo, não seja feito com eu quero, mas sim como tu queres”. Quantas vezes, em nossa vida religiosa podemos dizer com Jesus: “seja feita a vossa vontade”. Cremos no que pedimos? Aceitamos a vontade de Deus em nossas vidas? Ou queremos apenas que a nossa vontade seja feita? Muitas vezes, o cálice é amargo, mas o depois é doce.
Jesus é colocado nas mãos da multidão que o vieram prender. Logo ele que sempre esteve no meio da multidão. Que sempre pregou para a multidão. Que curou no meio da multidão. Jesus nunca temeu a multidão, pois sabia que existem multidões de sofredores, de perseguidos, de excluídos. Então, Jesus mostra a contradição do poder constituído que sempre anda armado, “vós viestes com espadas e paus para me prender, como se eu fosse um assaltante. Todos os dias, no Templo, eu me sentava para ensinar, e vós não me prendestes”. Quantas vezes, aprisionamos Jesus? Quantas vezes, na calada da noite de nossas vidas, vamos ao encontra de Jesus com paus e espadas? Já não ouvimos mais sua palavra. Já vemos mais seus milagres. Já não mais achamos que ele é o Filho do Deus vivo. Tornou-se um ladrão, um bandido, uma pessoa perigosa.
Temos armas diferentes do que espadas e paus. Nossa arma é o terço, é a meditação da palavra de Deus, é a Eucaristia, são os sacramentos, são os sacramentais. A prática das obras de Misericórdia, Espirituais e Corporais, são as obras de maior importância e que nos fazem viver a esperança de entrada no Reino. E foi isso que Jesus viveu, a misericórdia do Pai. E a viveu no meio da multidão.
Nas mãos do Sumo Sacerdote, dos Mestres da Lei e dos anciãos. Nas mãos do poder constituído. Poder civil e religioso. Nas daqueles que se sentiram ameaçados pela prática da palavra de Deus. Nas mãos daqueles que temiam viver conforme a vontade do Pai. Não mãos daqueles que se afastavam de Deus e faziam com que o povo também se afastasse.
Hoje vemos que muitos dos nossos Sumo Sacerdotes, Mestres da Lei e Anciãos se afastam de Deus. Não se ligam ao evangelho de Jesus. Vivem de forma dissoluta, criando lei e impedimentos para que o povo posso se aproximar de Deus. Se aproximar do próximo. Criando impedimentos para que a Palavra de Deus seja anunciada. Todos aqueles que ocupam cargos de liderança na comunidade dever se lembrar de que estão para servirem, e não para serem servidos. Que suas vidas é um ministério. Pais e mães também devem entender sua maternidade como um serviço. Autoridades civis devem perceber que não podem maltratar o seu povo. Devemos compreender que Jesus veio para que todos tenham vida, e vida em abundância. A vida que brota do Pai é uma vida plena. Plena de direitos. Plena de moradia. Plena de salário. Plena de Previdência. Plena de Vida.
Após ter sido acusado de blasfêmia, os Mestres da Lei, os Anciãos e o Sumo Sacerdote cospem em Jesus. Já não mais é visto como uma pessoa digna. Retiram dele a dignidade de ser humano. O enxergam como um blasfemo. Alguém que não mais merece ser tido entre os humanos, pois se fez Filho de Deus. Quantas vezes, humilhamos as pessoas que não são da Igreja? Quantas vezes, discriminamos os que comungam de nossa fé? Quantas vezes, achamos que pessoas ligadas ao demônio? Mas lembremos que o próprio Jesus havia dito que ninguém pode fazer alguma coisa em seu nome para em seguida falar mal dele. E ainda, que o Espírito sopra onde quer. E mais, já não será nesse monte, nem em Jerusalém que estarão os verdadeiros adoradores de Deus, mas sim em Espírito e Verdade. Podemos expulsar do “sinédrio” mas não do coração de Deus.
Pilatos. A autoridade do poder opressor, do Império Romano. Dos que apenas toleravam os judeus. Que permitiam suas práticas religiosas para que não houvesse rebeliões.
O governador tinha o poder de julgar aqueles que tivessem cometidos crimes contra o Império Romano. E queria saber o que aquele homem diante dele havia feito. Qual crime havia cometido. Barrabás era um homem violento. Estava preso por ter matado romanos. Lutava contra o poder temporal. Achava que se conseguisse expulsar os romanos de Jerusalém eles seriam livres da opressão. Jesus acreditava que a verdadeira opressão estava no coração humano. Que o homem era o “lobo do homem”. Que aquilo que é forjado dentro da própria pessoa é o que a torna ré.
Mas Pilatos não vê crime algum em Jesus. E transfere o julgamento para a multidão. Era preciso tomar uma decisão. Era preciso soltar um dos dois, esse era o costume. Consulta as pessoas. Essas, tomada de medo dos chefes do povo, tomada de medo dos homens de Barrabás, tomada de medo do exército romano, gritam para que seja solto o verdadeiro “criminoso”. Porque diante de tanta graça recebida de Deus, nós gritamos “Barrabás”?
Soldados são soldados. Cumprem ordens sem questionar. Muitas vezes, agimos assim. Quantas vezes, nos pegamos falando, “o padre mandou”? Ou, o “diácono disse”? Ou ainda, é “ordem do bispo”? Haveria algum algoz de Jesus que tivesse pensado diferente? Será que alguém se recusou a flagela-lo? Mas, nas mãos dos soldados, Jesus passa os piores momentos de sua encarnação. Quantas pessoas hoje são flageladas pelo poder constituído. Quantas pessoas sofrem violências porque lutam pela libertação integral do povo. Porque nos calamos diante das injustiças que acontecem diante dos nossos olhos? Porque não questionamos? Porque nos omitimos? Quando agimos assim, estamos fazendo do mesmo jeito que os soldados.
Nas mãos de Simão Cirineu. A cruz é pesada. Não é fácil suportar aquele peso durante uma caminhada. Existem muitas dores. Existem muitas feridas. Há muito sangue perdido. É preciso ajuda. Sem essa ajuda, não se chega ao fim da caminhada. Não se vai ao encontro do Pai. Quantas vezes nos encontramos nessa situação? Quantas vezes precisamos de que alguém nos ajude a carregar o peso das dores.
E lá estava aquele homem que voltava do trabalho. Se viu envolvido com alguém que não conhecia. Diante de alguém que precisava de ajuda. Foi forçado a fazer tal trabalho. Medroso, assumiu a cruz de Jesus. Mas ganhou um prêmio maior do que muitos, teve seu nome gravado nos evangelhos e no coração de Deus. Ajudou um desconhecido. Da intimação para carregasse aquela cruz, foi conduzido a algo maior do que poderia imaginar.
E finalmente, Jesus se entrega não mãos do Pai. Deu um forte grito. Libertou-se das amarras do pecado. Rompeu com o pecado. Libertou do pecado todos os que esperavam por esse momento. Um grito de alegria. Tudo está consumado. Em tuas mãos eu entrego o meu espírito.
Sim, Pai, foi para essa hora que eu vim. E agora volto a ti. Tu me recobras as vida que os seres humanos rejeitaram. Tu me enviaste para que eu chegasse a essa hora. E agora, tudo está consumado. Todos estão livres do pecado. Todos são restituídos à vida. Túmulos são abertos. Os mortos voltam à vida. Aqueles que esperaram a consumam dos tempos estão agora na glória de Deus. Vão ao encontro de Jesus.
Ao gritarmos Hosana, estamos entrando na estrada na paixão para que, junto com Jesus, cheguemos a ressurreição, passando pela cruz e pelo flagelo.

Oremos: “Deus eterno e todo-poderoso, para dar aos homens um exemplo de humildade, quisestes que o nosso salvador se fizesse homem e morresse na cruz. Concedei-nos aprender o ensinamento da sua paixão e ressuscitar com ele em sua glória. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo”.

quarta-feira, 5 de abril de 2017

"Vê se entende o meu grito de alerta"!

Sou servidor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro a 22 anos e meio.Desde aquele tempo, sempre tive meus vencimentos depositados, integralmente, em uma determinada data do mês.
Entretanto, desde o outubro de 2016 o governador do Estado do Rio de Janeiro vem atrasando, sistematicamente, o pagamento de nossos salários. Ele não se incomoda com a vida das pessoas que trabalham na universidade, sejam eles técnico-administrativos ou docentes.
O que vemos atualmente é um governador envolvido em muitos atos de corrupção, incluindo membros do Tribunal de Conta, deputados.
Por outro lado, a própria Bíblia alerta a todos aqueles que têm empregados a seu serviço, que "o trabalhador tem direito a seu salário" (Lc. 10,7c). E ainda, que "o salários dos trabalhadores (...) está gritando. (...) E o clamor dos trabalhadores chegou aos ouvidos do Senhor todo-poderoso" (Tg. 5,4).
Não pagar salário daqueles que prestaram um serviço a qualquer pessoa é um desrespeito não só às leis civis, mas uma ofensa a Deus e à manutenção das boas relações sociais.
O que vemos hoje no Rio de Janeiro é um total desrespeito às leis. Mas o que esperar de um governo e de uma Assembleia Legislativa, e de um judiciário envolvidos em ações corruptas? Desprezo!
Hoje "gritamos"! Não temos a quem recorrer. "Não dá mais pra segurar; explode coração"! A quem devemos procurar para que os trabalhadores da UERJ possam receber os vencimentos devidos? Há um ditado popular que diz, "vá reclamar com o bispo". Mas o que significa? Até 1910 quem decidia quem votaria eram os padres da Igreja Católica. Caso alguém se sentisse prejudicado, deveria ir reclamar com o Bispo.
Hoje, só nos falta reclamar com o Bispo, mesmo sabendo que não cabe a ele a resolução do problema. A princípio, é a única autoridade que está livre de qualquer ato de corrupção. Imploro a todos os líderes religiosos que possam intervir junto ao governador do Estado para que se resolva essa situação dos trabalhadores.
Em breve, vamos não mais comprar os supérfluos: arroz, feijão, frutas, legumes, verduras. Já são dois meses sem receber salários.

"Vê se entende o meu grito de alerta"!

segunda-feira, 3 de abril de 2017

"Nenhum mal eu temerei"!

Dia 03 de abril de 2017. Segunda-feira da 5ª semana da quaresma. Que julgamentos fazemos?
As leituras propostas para a liturgia de hoje, nos levam a pensar que tipo de julgamentos fazemos dos outros. Como procedemos para defender nossos interesses próprios. Como destruímos vidas com nossas mentiras, calunias e difamações.
Primeiramente, o profeta Daniel revela que uma pessoa inocente está prestes a ser morta por causa de um falso testemunho. Dois velhos, querendo ter momentos íntimos com uma mulher, e esta tendo resistido, a acusam de estar mantendo relações sexuais com uma outra pessoa. Isso era punido de morte.
Essa mulher, Suzana, sendo justa diante de Deus e não tendo cometido o pecado da qual estava sendo acusada, orou a Deus. E este suscitou um jovem, Daniel, a fazer a sua defesa. Corajosamente, Daniel interrompe o cortejo no qual ela seria sacrificada, e anuncia que houve um julgamento equivocado. E desmascara os dois velhos "encarquilhados do mal".
Os próprios acusadores se contradizem. Não informar corretamente o lugar onde se deu o pecado da qual a mulher era acusada. Sendo assim, o julgamento foi refeito, e os dois foram considerados réu de morte.
No evangelho (Jo. 8,1-11), Jesus se depara com semelhante acusação. Foi trazido até ele uma mulher que fora pega em flagrante adultério. 
A primeira coisa que nos salta aos olhos é que adultério não se comete sozinho. Então, perguntamos, onde estava o homem? Alguns exegetas dizem que, provavelmente, estaria no meio daqueles que a queriam apedrejar.
Mas percebemos que esse episódio se dá logo após um período de oração no monte das Oliveiras. Poderíamos até repetir o ditado popular, "quanto mais eu rezo, mais assombração me aparece". Uma profunda tentação para Jesus. Ele está diante de uma situação onde a lei mandava apedrejar as pessoas que fossem pegas em adultério. Lembremos que ir contra a lei também tornava a pessoa ré de morte.
Mas vejamos, Jesus havia acabado de sair de um momento de oração. De intimidade com o Pai. De escuta de sua palavra.
Imaginemos um outro diálogo. Jesus: "Onde está o homem que se encontrava com essa mulher"? Algozes: "Isso não importa". Entretanto, a lei dizia que os dois deveriam morrer, a mulher e o homem. Mas aquela raça de víboras apenas trouxe a mulher.
O evangelista diz que Jesus estava escrevendo no chão. Não sabemos o que ele escrevia. Os algozes insistem numa sentença dada por Jesus. Seria lícito apedrejar aquela mulher diante da lei dada por Moisés?... Claro. Qualquer pessoa de sã consciência diria isso. Sempre buscamos julgar as atitudes do outro. As leis são para o outro, e não para mim, por isso acusamos o pecado dos outros.
Depois de uma noite de oração, Jesus teria outra resposta da dar: "Quem não tiver pecados, que atire a primeira pedra". Quem vai dizer, ou afirmar que não tem pecados? 
E disse São João, que um a um, a começar pelos mais velhos (os que tem mais pecados) foram se retirando. Percebamos que até aquele momento Jesus não havia olhado para aquele mulher. A conversa era somente entre ele e os algozes. A partir de então, ele olha para ela e pergunta, "ninguém te condenou"? "Não", disse a mulher. Então profere as palavras que todos os que são readmitidos nos Reino dos Céus ouvem, "nem eu te condeno. Vai e não tornes a pecar"!
Hoje somos chamados a vivermos o perdão e a misericórdia. A perdoarmos. A não julgarmos. A ouvirmos a palavra de Deus e a pô-la em prática.
Vivamos sendo mensageiros da reconciliação dos seres humanos com Deus.
Oremos: "Ó Deus, que pela vossa graça inefável nos enriqueceis de todos os bens, concedei-nos passar da antiga à nova vida, preparando-nos assim para o reino da glória. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espirito Santo". 

"Vem para fora!"

Estamos findando o período quaresmal. Fizemos uma caminho onde fomos levados a meditar sobre nossa caridade, oração e jejum.
Nos três últimos domingos meditamos sobre Jesus que dá a água sacia eternamente. Jesus que é a luz que nos dá visão. E hoje, Aquele que nos ressuscita das mortes diárias.
Jesus tinha uma profunda amizade com a família de Lázaro, Marta e Maria. Sendo esta última aquela que havia lavado os pés Dele com lágrimas e enxugado com os cabelos, além de derramar perfume. Com esse gesto, Jesus declarou que os pecados dela haviam sido perdoados pois demonstrou muito amor. Acredito que essa família fosse assídua aos ensinamentos do Senhor, até o dia em que resolveram abandonar a vida de pecado e se tornarem discípulos Dele.
O amigo estava doente. Prestes a morrer. Jesus é chamado às pressas para ajudar. Mas Ele sabia que a glória de Deus deveria se manifestar numa situação de ressurreição. Somente Deus pode dar a vida aqueles que a perderam.
Lázaro já estava no túmulo. E o que é o túmulo? É o lugar onde deixamos tudo o que não queremos que esteja conosco. Entretanto, muitas vezes, ficamos no túmulo com a nossa podridão; com o nosso "mau cheiro".
No túmulo estão nossos pecados, nossos preconceitos, nossas intolerâncias, nossa falta de amor, de caridade, de misericórdia. É no tumulo que nos colocamos. Parece que ficamos protegidos pela pedra que o fecha. Nos fechamos em nossos egoísmos.
Mas Jesus está ali. Estremecido de dor. Diante da multidão e da morte do amigo. Estremece ele diante de nossa falta de fé e de esperança.
Mas ele é o autor da Vida. Ele é a vida. Por ele tudo fica criado. E sem ele nada existe.
Então, diante do túmulo, ele dá glória a Deus. Ora ao Pai pelos que estão ao seu redor. E grita, "Vem para fora"! Sai desse comodismo. Sai da vida mesquinha. Vem! "Vem para fora"! Volta à vida! Coragem! Não se entregue ao pecado. Ao desespero. A morte não pode vencer aqueles que estão junto com Jesus.
Água-Luz-Vida. Eis o que nos comunicou Jesus nesse período quaresmal. 
Deixemo-nos renovar pela água do Batismo. Sigamos a luz que aponta o Caminho. Voltemos à vida. Saíamos para fora do túmulo. É hora de anunciar e proclamar que Jesus é o todo da nossa vida. Que sem Ele a vida perde sentido. Que nele tudo se clareia, tudo é irrigado, tudo volta a viver.
Ao chegarmos no último domingo da quaresma, sejamos missionários da misericórdia do Pai. Amém.
Jesus te chama: "Vem para fora"!