Estamos vivendo o período pascal. Para a liturgia da Igreja, esse
período dura até a Solenidade de Pentecostes.
No evangelho de hoje (Jo. 20,19-31) vemos uma narrativa voltada
para o testemunho e a experiência pessoal do ressuscitado.
Tomé, o incrédulo, nos abriu as portas para uma fé que se baseia
no testemunho. Os irmãos (e amigos) de Tomé disseram que tinham visto o Senhor.
Tomé não dá crédito. Não crê no testemunho. Desconfia. Pensa que estão
brincando com ele. Hoje em dia, diríamos: “Fala sério”!
Tomé precisa de uma comprovação empírica para acreditar. Se não
houver comprovação científica do fato, não crê.
Mas a incredulidade desse apóstolo abriu para nós uma possibilidade
incrível dentro da história da salvação. Tornamo-nos “Bem aventurados”. Afirmou
Jesus: “bem-aventurados os que creram sem terem visto”! Bem-aventurados os que
creem pela pregação e pelo testemunho dos apóstolos. Bem-aventurados os “convertidos”
que são “perseverantes no ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração
do pão e nas orações” (primeira leitura At. 2,42-47). Bem-aventurados os que
vivem unidos e colocam “tudo em comum”. Bem-aventurados os que partem o pão
pelas casas e tomam a refeição com alegria e simplicidade de coração. Assim,
passam a ser sinal do ressuscitado.
Padre Adroaldo Palaoro escreveu: “Viver como ressuscitados” implica esvaziar-nos do “ego”, para deixar
transparecer o que há de mais divino em nosso interior. É preciso destravar
portas e janelas de nossos estreitos lugares para que o novo Sopro do
Ressuscitado areje nossa interioridade, ainda envolvida na sombra e no medo.
E acrescentou que, “Todos
nós temos de passar e superar o mesmo processo vivido pelos discípulos e
discípulas, se quisermos entrar na dinâmica da experiência Pascal. A fé no
Ressuscitado não significa nada se nós mesmos continuamos vivendo uma vida
atrofiada e sem horizontes”. Crer no ressuscitado é dar razões da nossa esperança
(1 Pd. 3,15).
Os sinais da ressurreição são os sinais
daquilo que gerou a morte. “A Ressurreição
de Jesus nos convida e nos convoca a um sentido maior de nossa existência e uma
maior qualidade de vida em nossas relações. Há “sinais” de Ressurreição
perpassando todas as experiências humanas. Da mesma forma como há sinais de
morte, também há inúmeros sinais de vida saltando por todos os lados. Cabe
a nós, portanto, prestar atenção a esses “sinais”
para deixar-nos impactar por eles”.
Da morte à vida. “Os sinais da Ressurreição
não são diferentes daqueles da Paixão, mas os mesmos: os cravos e a lança. Não
nos enganemos, trata-se do Crucificado; Ele é o Ressuscitado. Não há outro modo
de encontrá-lo e verificá-lo a não ser tocando a marca dos cravos e o seu lado
traspassado. Só que agora quem o vê e o toca, sente a força que o Crucificado/Ressuscitado
tem para libertar e curar, para sanar e levantar, para dar vida e vencer a
morte. Suas cicatrizes são curativas e sanam aqueles que O contemplam e O
descobrem no cotidiano da história. “Tocar” no Ressuscitado é “tocar” a carne
dos feridos e excluídos de nosso meio”. Fazer a experiência do toque, do
estar junto aos que sofrem, colocar-se ao lado dos perseguidos por causa da
justiça.
A experiência religiosa da paixão e
ressurreição do Senhor, nos coloca junto dos sofrimentos da humanidade, e nos
fazem mensageiros da esperança, da vida que ressurge da morte. “Jesus Ressuscitado continua carregando em
suas mãos, pés e lado, a ferida da história; não só as chagas dos cravos e o
corte da lança em seu próprio corpo, mas a chaga dos enfermos e expulsos, dos
famintos e oprimidos... e de todos aqueles que continuam sofrendo ao nosso lado”.
“Experimentamos
a Ressurreição quando somos capazes de acreditar que a boa semente
precisa morrer para dar frutos, isto é, que a vida bem vivida é aquela
que está a serviço e que deve ser bem cuidada”.
“A Ressurreição
acontece quando alimentamos a pequena chama que ainda fumega nos corações
desanimados, mas esperançosos; quando acreditamos no ser humano e em suas
possibilidades de mudança; quando transformamos escuridão em luz, choro em dança,
sofrimento em crescimento”.
“Vivemos a Ressurreição
quando ajudamos os outros a encontrar razões para viver e alimentamos os sonhos
por dias melhores, com pão na mesa de todos e com dignidade garantida”.
“A Ressurreição
acontece nos pequenos e simples gestos de partilha, de perdão sincero e de
confiança alegre. Ela está presente nos corações que mantêm viva a novidade da
vida. E se revela na capacidade de ver o mundo e as pessoas com olhar de
misericórdia, que reconstrói a existência fragmentada”.
A Ressurreição
de Jesus toca nossa existência e nos possibilita experimentar o céu enquanto
caminhamos pela terra, viver o divino misturado com o humano.
Assim, o bem,
a bondade e a solidariedade nos colocam na perspectiva do paraíso.
A Ressurreição
nos eleva e nos orienta para o Transcendente e para os valores mais altos, sem
perder a simplicidade e complexidade de cada dia.
Ao entrarmos
no mistério das coisas, pessoas e acontecimentos, somos banhados pela onda
vital que emana de Deus. Dessa maneira, a vida nova resplandece e
ilumina a escuridão da humanidade.
A perspectiva
da Ressurreição nos permite, portanto, dar um salto em direção à vida
plena, ainda que marcada pela dor, pela cruz e pelos sinais de derrota. Para os
semeadores do bem, a vida é recompensa e fruto. E tem a última
palavra...
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