domingo, 23 de abril de 2017

“Bem-aventurados os que creram sem terem visto”!

Estamos vivendo o período pascal. Para a liturgia da Igreja, esse período dura até a Solenidade de Pentecostes.
No evangelho de hoje (Jo. 20,19-31) vemos uma narrativa voltada para o testemunho e a experiência pessoal do ressuscitado.
Tomé, o incrédulo, nos abriu as portas para uma fé que se baseia no testemunho. Os irmãos (e amigos) de Tomé disseram que tinham visto o Senhor. Tomé não dá crédito. Não crê no testemunho. Desconfia. Pensa que estão brincando com ele. Hoje em dia, diríamos: “Fala sério”!
Tomé precisa de uma comprovação empírica para acreditar. Se não houver comprovação científica do fato, não crê.
Mas a incredulidade desse apóstolo abriu para nós uma possibilidade incrível dentro da história da salvação. Tornamo-nos “Bem aventurados”. Afirmou Jesus: “bem-aventurados os que creram sem terem visto”! Bem-aventurados os que creem pela pregação e pelo testemunho dos apóstolos. Bem-aventurados os “convertidos” que são “perseverantes no ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações” (primeira leitura At. 2,42-47). Bem-aventurados os que vivem unidos e colocam “tudo em comum”. Bem-aventurados os que partem o pão pelas casas e tomam a refeição com alegria e simplicidade de coração. Assim, passam a ser sinal do ressuscitado.
Padre Adroaldo Palaoro escreveu: “Viver como ressuscitados” implica esvaziar-nos do “ego”, para deixar transparecer o que há de mais divino em nosso interior. É preciso destravar portas e janelas de nossos estreitos lugares para que o novo Sopro do Ressuscitado areje nossa interioridade, ainda envolvida na sombra e no medo.
E acrescentou que, “Todos nós temos de passar e superar o mesmo processo vivido pelos discípulos e discípulas, se quisermos entrar na dinâmica da experiência Pascal. A fé no Ressuscitado não significa nada se nós mesmos continuamos vivendo uma vida atrofiada e sem horizontes”. Crer no ressuscitado é dar razões da nossa esperança (1 Pd. 3,15).
Os sinais da ressurreição são os sinais daquilo que gerou a morte. “A Ressurreição de Jesus nos convida e nos convoca a um sentido maior de nossa existência e uma maior qualidade de vida em nossas relações. Há “sinais” de Ressurreição perpassando todas as experiências humanas. Da mesma forma como há sinais de morte, também há inúmeros sinais de vida saltando por todos os lados. Cabe a nós, portanto, prestar atenção a esses “sinais” para deixar-nos impactar por eles”.
Da morte à vida. “Os sinais da Ressurreição não são diferentes daqueles da Paixão, mas os mesmos: os cravos e a lança. Não nos enganemos, trata-se do Crucificado; Ele é o Ressuscitado. Não há outro modo de encontrá-lo e verificá-lo a não ser tocando a marca dos cravos e o seu lado traspassado. Só que agora quem o vê e o toca, sente a força que o Crucificado/Ressuscitado tem para libertar e curar, para sanar e levantar, para dar vida e vencer a morte. Suas cicatrizes são curativas e sanam aqueles que O contemplam e O descobrem no cotidiano da história. “Tocar” no Ressuscitado é “tocar” a carne dos feridos e excluídos de nosso meio”. Fazer a experiência do toque, do estar junto aos que sofrem, colocar-se ao lado dos perseguidos por causa da justiça.
A experiência religiosa da paixão e ressurreição do Senhor, nos coloca junto dos sofrimentos da humanidade, e nos fazem mensageiros da esperança, da vida que ressurge da morte. “Jesus Ressuscitado continua carregando em suas mãos, pés e lado, a ferida da história; não só as chagas dos cravos e o corte da lança em seu próprio corpo, mas a chaga dos enfermos e expulsos, dos famintos e oprimidos... e de todos aqueles que continuam sofrendo ao nosso lado”.
“Experimentamos a Ressurreição quando somos capazes de acreditar que a boa semente precisa morrer para dar frutos, isto é, que a vida bem vivida é aquela que está a serviço e que deve ser bem cuidada”.
“A Ressurreição acontece quando alimentamos a pequena chama que ainda fumega nos corações desanimados, mas esperançosos; quando acreditamos no ser humano e em suas possibilidades de mudança; quando transformamos escuridão em luz, choro em dança, sofrimento em crescimento”.
“Vivemos a Ressurreição quando ajudamos os outros a encontrar razões para viver e alimentamos os sonhos por dias melhores, com pão na mesa de todos e com dignidade garantida”.
“A Ressurreição acontece nos pequenos e simples gestos de partilha, de perdão sincero e de confiança alegre. Ela está presente nos corações que mantêm viva a novidade da vida. E se revela na capacidade de ver o mundo e as pessoas com olhar de misericórdia, que reconstrói a existência fragmentada”.
A Ressurreição de Jesus toca nossa existência e nos possibilita experimentar o céu enquanto caminhamos pela terra, viver o divino misturado com o humano.
Assim, o bem, a bondade e a solidariedade nos colocam na perspectiva do paraíso.
A Ressurreição nos eleva e nos orienta para o Transcendente e para os valores mais altos, sem perder a simplicidade e complexidade de cada dia.
Ao entrarmos no mistério das coisas, pessoas e acontecimentos, somos banhados pela onda vital que emana de Deus. Dessa maneira, a vida nova resplandece e ilumina a escuridão da humanidade.

A perspectiva da Ressurreição nos permite, portanto, dar um salto em direção à vida plena, ainda que marcada pela dor, pela cruz e pelos sinais de derrota. Para os semeadores do bem, a vida é recompensa e fruto. E tem a última palavra...

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