Todos os anos, no Domingo de Ramos, ouvimos a proclamação do
Evangelho da Paixão de Jesus Cristo.
A cada ano, tiramos algum proveito dessa leitura para nossa
vida.
Esse ano, partilho com vocês as várias mãos pelas quais Jesus
passou antes de ir para o Pai. Antes de se entregar definitivamente nas mãos do
Pai.
As mãos de Judas; As mãos dos discípulos; em suas próprias mãos;
a ausência das mãos do Pai; nas mãos da multidão com paus e espadas; nas mãos
do Sumo Sacerdote e dos mestres da lei e dos anciãos; nas mãos de quem cuspiu
em seu rosto; nas mãos do governador Pilatos; nas mãos dos soldados romanos;
nas mãos de Simão de Cirene; Jesus entrega o espírito nas mãos do Pai.
O Evangelho inicia dizendo que “um dos doze discípulos, chamado
Judas Iscariotes” foi ao encontro dos sumos sacerdotes perguntando o que receberia
caso lhes entregasse Jesus.
É combinado trinta moedas de prata. Fruto de um ano de trabalho.
Perguntemos quanto pagamos por Jesus no nosso dia-a-dia? Quantas moedas entregamos
para condenar Jesus hoje? Quais são os pecados que cometemos e que simbolizam a
venda de Jesus? Quais obras de misericórdia que deixamos de fazer para que
Jesus continue sendo “vendido”?
Colocado nas mãos dos discípulos. Jesus diz como queria que
fosse preparada a páscoa. Informa o lugar. Os discípulos se põem a serviço. Vão
arrumar o lugar. Preparam a mesa. Colocam os alimentos. E nós, como estamos
arrumando nossa vida para que Jesus possa fazer a refeição conosco? Como
acolhemos Jesus? Estamos ouvindo de verdade sua palavra e seguindo suas
orientações para nos preparar para comer com ele a Páscoa? Os discípulos em
nenhum momento questionaram o como seria o lugar da páscoa. Simplesmente,
obedeceram.
Jesus pelas suas próprias mãos. Vemos Jesus sentado à mesa com
seus discípulos. Ele abençoa o pão e o vinho. E entrega a cada um, inclusive ao
delator, aquilo que passará a ser o seu corpo e o seu sangue. “O sangue da
aliança que será derramado em favor de muitos, para a remissão dos pecados”. Ao
nos aproximarmos da mesa da páscoa, da mesa da eucaristia, estamos indo com ele
para a cruz, ou estamos comendo as nossas traições do dia-a-dia? Estamos experimentando
o verdadeiro pão e bebendo do cálice que nos leva à cruz, à dor, ao sofrimento
para chegarmos ao Reino de Deus, ou estamos comendo e bebendo apenas pelo rito?
Após a refeição, Jesus se dirige para a oração junto ao Pai.
Percebe que haverá uma dor maior do que poderia suportar enquanto ser humano.
Uma dor que trás angústia. Diríamos “uma dor que dói”. Que arde. Que queima. Uma
dor que faz sentir a ausência. Uma dor que faz clamar: “se é possível, afasta
de mim esse cálice”. “Se é possível”! O que teria dito o Pai para ele? O que
lhe teria mostrado o Pai para que o próprio Jesus tivesse dito, “contudo, não
seja feito com eu quero, mas sim como tu queres”. Quantas vezes, em nossa vida
religiosa podemos dizer com Jesus: “seja feita a vossa vontade”. Cremos no que
pedimos? Aceitamos a vontade de Deus em nossas vidas? Ou queremos apenas que a
nossa vontade seja feita? Muitas vezes, o cálice é amargo, mas o depois é doce.
Jesus é colocado nas mãos da multidão que o vieram prender. Logo
ele que sempre esteve no meio da multidão. Que sempre pregou para a multidão.
Que curou no meio da multidão. Jesus nunca temeu a multidão, pois sabia que
existem multidões de sofredores, de perseguidos, de excluídos. Então, Jesus mostra
a contradição do poder constituído que sempre anda armado, “vós viestes com
espadas e paus para me prender, como se eu fosse um assaltante. Todos os dias,
no Templo, eu me sentava para ensinar, e vós não me prendestes”. Quantas vezes,
aprisionamos Jesus? Quantas vezes, na calada da noite de nossas vidas, vamos ao
encontra de Jesus com paus e espadas? Já não ouvimos mais sua palavra. Já vemos
mais seus milagres. Já não mais achamos que ele é o Filho do Deus vivo.
Tornou-se um ladrão, um bandido, uma pessoa perigosa.
Temos armas diferentes do que espadas e paus. Nossa arma é o
terço, é a meditação da palavra de Deus, é a Eucaristia, são os sacramentos,
são os sacramentais. A prática das obras de Misericórdia, Espirituais e
Corporais, são as obras de maior importância e que nos fazem viver a esperança
de entrada no Reino. E foi isso que Jesus viveu, a misericórdia do Pai. E a
viveu no meio da multidão.
Nas mãos do Sumo Sacerdote, dos Mestres da Lei e dos anciãos.
Nas mãos do poder constituído. Poder civil e religioso. Nas daqueles que se
sentiram ameaçados pela prática da palavra de Deus. Nas mãos daqueles que
temiam viver conforme a vontade do Pai. Não mãos daqueles que se afastavam de
Deus e faziam com que o povo também se afastasse.
Hoje vemos que muitos dos nossos Sumo Sacerdotes, Mestres da Lei
e Anciãos se afastam de Deus. Não se ligam ao evangelho de Jesus. Vivem de
forma dissoluta, criando lei e impedimentos para que o povo posso se aproximar
de Deus. Se aproximar do próximo. Criando impedimentos para que a Palavra de
Deus seja anunciada. Todos aqueles que ocupam cargos de liderança na comunidade
dever se lembrar de que estão para servirem, e não para serem servidos. Que
suas vidas é um ministério. Pais e mães também devem entender sua maternidade
como um serviço. Autoridades civis devem perceber que não podem maltratar o seu
povo. Devemos compreender que Jesus veio para que todos tenham vida, e vida em
abundância. A vida que brota do Pai é uma vida plena. Plena de direitos. Plena de
moradia. Plena de salário. Plena de Previdência. Plena de Vida.
Após ter sido acusado de blasfêmia, os Mestres da Lei, os
Anciãos e o Sumo Sacerdote cospem em Jesus. Já não mais é visto como uma pessoa
digna. Retiram dele a dignidade de ser humano. O enxergam como um blasfemo.
Alguém que não mais merece ser tido entre os humanos, pois se fez Filho de
Deus. Quantas vezes, humilhamos as pessoas que não são da Igreja? Quantas
vezes, discriminamos os que comungam de nossa fé? Quantas vezes, achamos que
pessoas ligadas ao demônio? Mas lembremos que o próprio Jesus havia dito que
ninguém pode fazer alguma coisa em seu nome para em seguida falar mal dele. E
ainda, que o Espírito sopra onde quer. E mais, já não será nesse monte, nem em
Jerusalém que estarão os verdadeiros adoradores de Deus, mas sim em Espírito e
Verdade. Podemos expulsar do “sinédrio” mas não do coração de Deus.
Pilatos. A autoridade do poder opressor, do Império Romano. Dos
que apenas toleravam os judeus. Que permitiam suas práticas religiosas para que
não houvesse rebeliões.
O governador tinha o poder de julgar aqueles que tivessem
cometidos crimes contra o Império Romano. E queria saber o que aquele homem
diante dele havia feito. Qual crime havia cometido. Barrabás era um homem
violento. Estava preso por ter matado romanos. Lutava contra o poder temporal.
Achava que se conseguisse expulsar os romanos de Jerusalém eles seriam livres
da opressão. Jesus acreditava que a verdadeira opressão estava no coração
humano. Que o homem era o “lobo do homem”. Que aquilo que é forjado dentro da
própria pessoa é o que a torna ré.
Mas Pilatos não vê crime algum em Jesus. E transfere o
julgamento para a multidão. Era preciso tomar uma decisão. Era preciso soltar
um dos dois, esse era o costume. Consulta as pessoas. Essas, tomada de medo dos
chefes do povo, tomada de medo dos homens de Barrabás, tomada de medo do
exército romano, gritam para que seja solto o verdadeiro “criminoso”. Porque
diante de tanta graça recebida de Deus, nós gritamos “Barrabás”?
Soldados são soldados. Cumprem ordens sem questionar. Muitas
vezes, agimos assim. Quantas vezes, nos pegamos falando, “o padre mandou”? Ou,
o “diácono disse”? Ou ainda, é “ordem do bispo”? Haveria algum algoz de Jesus
que tivesse pensado diferente? Será que alguém se recusou a flagela-lo? Mas,
nas mãos dos soldados, Jesus passa os piores momentos de sua encarnação.
Quantas pessoas hoje são flageladas pelo poder constituído. Quantas pessoas
sofrem violências porque lutam pela libertação integral do povo. Porque nos
calamos diante das injustiças que acontecem diante dos nossos olhos? Porque não
questionamos? Porque nos omitimos? Quando agimos assim, estamos fazendo do
mesmo jeito que os soldados.
Nas mãos de Simão Cirineu. A cruz é pesada. Não é fácil suportar
aquele peso durante uma caminhada. Existem muitas dores. Existem muitas
feridas. Há muito sangue perdido. É preciso ajuda. Sem essa ajuda, não se chega
ao fim da caminhada. Não se vai ao encontro do Pai. Quantas vezes nos
encontramos nessa situação? Quantas vezes precisamos de que alguém nos ajude a
carregar o peso das dores.
E lá estava aquele homem que voltava do trabalho. Se viu
envolvido com alguém que não conhecia. Diante de alguém que precisava de ajuda.
Foi forçado a fazer tal trabalho. Medroso, assumiu a cruz de Jesus. Mas ganhou
um prêmio maior do que muitos, teve seu nome gravado nos evangelhos e no
coração de Deus. Ajudou um desconhecido. Da intimação para carregasse aquela
cruz, foi conduzido a algo maior do que poderia imaginar.
E finalmente, Jesus se entrega não mãos do Pai. Deu um forte
grito. Libertou-se das amarras do pecado. Rompeu com o pecado. Libertou do
pecado todos os que esperavam por esse momento. Um grito de alegria. Tudo está
consumado. Em tuas mãos eu entrego o meu espírito.
Sim, Pai, foi para essa hora que eu vim. E agora volto a ti. Tu
me recobras as vida que os seres humanos rejeitaram. Tu me enviaste para que eu
chegasse a essa hora. E agora, tudo está consumado. Todos estão livres do
pecado. Todos são restituídos à vida. Túmulos são abertos. Os mortos voltam à
vida. Aqueles que esperaram a consumam dos tempos estão agora na glória de
Deus. Vão ao encontro de Jesus.
Ao gritarmos Hosana, estamos entrando na estrada na paixão para
que, junto com Jesus, cheguemos a ressurreição, passando pela cruz e pelo
flagelo.
Oremos: “Deus eterno e todo-poderoso, para dar aos homens um
exemplo de humildade, quisestes que o nosso salvador se fizesse homem e
morresse na cruz. Concedei-nos aprender o ensinamento da sua paixão e
ressuscitar com ele em sua glória. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
na unidade do Espírito Santo”.
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