domingo, 9 de abril de 2017

De mãos em mãos

Todos os anos, no Domingo de Ramos, ouvimos a proclamação do Evangelho da Paixão de Jesus Cristo.
A cada ano, tiramos algum proveito dessa leitura para nossa vida.
Esse ano, partilho com vocês as várias mãos pelas quais Jesus passou antes de ir para o Pai. Antes de se entregar definitivamente nas mãos do Pai.
As mãos de Judas; As mãos dos discípulos; em suas próprias mãos; a ausência das mãos do Pai; nas mãos da multidão com paus e espadas; nas mãos do Sumo Sacerdote e dos mestres da lei e dos anciãos; nas mãos de quem cuspiu em seu rosto; nas mãos do governador Pilatos; nas mãos dos soldados romanos; nas mãos de Simão de Cirene; Jesus entrega o espírito nas mãos do Pai.
O Evangelho inicia dizendo que “um dos doze discípulos, chamado Judas Iscariotes” foi ao encontro dos sumos sacerdotes perguntando o que receberia caso lhes entregasse Jesus.
É combinado trinta moedas de prata. Fruto de um ano de trabalho. Perguntemos quanto pagamos por Jesus no nosso dia-a-dia? Quantas moedas entregamos para condenar Jesus hoje? Quais são os pecados que cometemos e que simbolizam a venda de Jesus? Quais obras de misericórdia que deixamos de fazer para que Jesus continue sendo “vendido”?
Colocado nas mãos dos discípulos. Jesus diz como queria que fosse preparada a páscoa. Informa o lugar. Os discípulos se põem a serviço. Vão arrumar o lugar. Preparam a mesa. Colocam os alimentos. E nós, como estamos arrumando nossa vida para que Jesus possa fazer a refeição conosco? Como acolhemos Jesus? Estamos ouvindo de verdade sua palavra e seguindo suas orientações para nos preparar para comer com ele a Páscoa? Os discípulos em nenhum momento questionaram o como seria o lugar da páscoa. Simplesmente, obedeceram.
Jesus pelas suas próprias mãos. Vemos Jesus sentado à mesa com seus discípulos. Ele abençoa o pão e o vinho. E entrega a cada um, inclusive ao delator, aquilo que passará a ser o seu corpo e o seu sangue. “O sangue da aliança que será derramado em favor de muitos, para a remissão dos pecados”. Ao nos aproximarmos da mesa da páscoa, da mesa da eucaristia, estamos indo com ele para a cruz, ou estamos comendo as nossas traições do dia-a-dia? Estamos experimentando o verdadeiro pão e bebendo do cálice que nos leva à cruz, à dor, ao sofrimento para chegarmos ao Reino de Deus, ou estamos comendo e bebendo apenas pelo rito?
Após a refeição, Jesus se dirige para a oração junto ao Pai. Percebe que haverá uma dor maior do que poderia suportar enquanto ser humano. Uma dor que trás angústia. Diríamos “uma dor que dói”. Que arde. Que queima. Uma dor que faz sentir a ausência. Uma dor que faz clamar: “se é possível, afasta de mim esse cálice”. “Se é possível”! O que teria dito o Pai para ele? O que lhe teria mostrado o Pai para que o próprio Jesus tivesse dito, “contudo, não seja feito com eu quero, mas sim como tu queres”. Quantas vezes, em nossa vida religiosa podemos dizer com Jesus: “seja feita a vossa vontade”. Cremos no que pedimos? Aceitamos a vontade de Deus em nossas vidas? Ou queremos apenas que a nossa vontade seja feita? Muitas vezes, o cálice é amargo, mas o depois é doce.
Jesus é colocado nas mãos da multidão que o vieram prender. Logo ele que sempre esteve no meio da multidão. Que sempre pregou para a multidão. Que curou no meio da multidão. Jesus nunca temeu a multidão, pois sabia que existem multidões de sofredores, de perseguidos, de excluídos. Então, Jesus mostra a contradição do poder constituído que sempre anda armado, “vós viestes com espadas e paus para me prender, como se eu fosse um assaltante. Todos os dias, no Templo, eu me sentava para ensinar, e vós não me prendestes”. Quantas vezes, aprisionamos Jesus? Quantas vezes, na calada da noite de nossas vidas, vamos ao encontra de Jesus com paus e espadas? Já não ouvimos mais sua palavra. Já vemos mais seus milagres. Já não mais achamos que ele é o Filho do Deus vivo. Tornou-se um ladrão, um bandido, uma pessoa perigosa.
Temos armas diferentes do que espadas e paus. Nossa arma é o terço, é a meditação da palavra de Deus, é a Eucaristia, são os sacramentos, são os sacramentais. A prática das obras de Misericórdia, Espirituais e Corporais, são as obras de maior importância e que nos fazem viver a esperança de entrada no Reino. E foi isso que Jesus viveu, a misericórdia do Pai. E a viveu no meio da multidão.
Nas mãos do Sumo Sacerdote, dos Mestres da Lei e dos anciãos. Nas mãos do poder constituído. Poder civil e religioso. Nas daqueles que se sentiram ameaçados pela prática da palavra de Deus. Nas mãos daqueles que temiam viver conforme a vontade do Pai. Não mãos daqueles que se afastavam de Deus e faziam com que o povo também se afastasse.
Hoje vemos que muitos dos nossos Sumo Sacerdotes, Mestres da Lei e Anciãos se afastam de Deus. Não se ligam ao evangelho de Jesus. Vivem de forma dissoluta, criando lei e impedimentos para que o povo posso se aproximar de Deus. Se aproximar do próximo. Criando impedimentos para que a Palavra de Deus seja anunciada. Todos aqueles que ocupam cargos de liderança na comunidade dever se lembrar de que estão para servirem, e não para serem servidos. Que suas vidas é um ministério. Pais e mães também devem entender sua maternidade como um serviço. Autoridades civis devem perceber que não podem maltratar o seu povo. Devemos compreender que Jesus veio para que todos tenham vida, e vida em abundância. A vida que brota do Pai é uma vida plena. Plena de direitos. Plena de moradia. Plena de salário. Plena de Previdência. Plena de Vida.
Após ter sido acusado de blasfêmia, os Mestres da Lei, os Anciãos e o Sumo Sacerdote cospem em Jesus. Já não mais é visto como uma pessoa digna. Retiram dele a dignidade de ser humano. O enxergam como um blasfemo. Alguém que não mais merece ser tido entre os humanos, pois se fez Filho de Deus. Quantas vezes, humilhamos as pessoas que não são da Igreja? Quantas vezes, discriminamos os que comungam de nossa fé? Quantas vezes, achamos que pessoas ligadas ao demônio? Mas lembremos que o próprio Jesus havia dito que ninguém pode fazer alguma coisa em seu nome para em seguida falar mal dele. E ainda, que o Espírito sopra onde quer. E mais, já não será nesse monte, nem em Jerusalém que estarão os verdadeiros adoradores de Deus, mas sim em Espírito e Verdade. Podemos expulsar do “sinédrio” mas não do coração de Deus.
Pilatos. A autoridade do poder opressor, do Império Romano. Dos que apenas toleravam os judeus. Que permitiam suas práticas religiosas para que não houvesse rebeliões.
O governador tinha o poder de julgar aqueles que tivessem cometidos crimes contra o Império Romano. E queria saber o que aquele homem diante dele havia feito. Qual crime havia cometido. Barrabás era um homem violento. Estava preso por ter matado romanos. Lutava contra o poder temporal. Achava que se conseguisse expulsar os romanos de Jerusalém eles seriam livres da opressão. Jesus acreditava que a verdadeira opressão estava no coração humano. Que o homem era o “lobo do homem”. Que aquilo que é forjado dentro da própria pessoa é o que a torna ré.
Mas Pilatos não vê crime algum em Jesus. E transfere o julgamento para a multidão. Era preciso tomar uma decisão. Era preciso soltar um dos dois, esse era o costume. Consulta as pessoas. Essas, tomada de medo dos chefes do povo, tomada de medo dos homens de Barrabás, tomada de medo do exército romano, gritam para que seja solto o verdadeiro “criminoso”. Porque diante de tanta graça recebida de Deus, nós gritamos “Barrabás”?
Soldados são soldados. Cumprem ordens sem questionar. Muitas vezes, agimos assim. Quantas vezes, nos pegamos falando, “o padre mandou”? Ou, o “diácono disse”? Ou ainda, é “ordem do bispo”? Haveria algum algoz de Jesus que tivesse pensado diferente? Será que alguém se recusou a flagela-lo? Mas, nas mãos dos soldados, Jesus passa os piores momentos de sua encarnação. Quantas pessoas hoje são flageladas pelo poder constituído. Quantas pessoas sofrem violências porque lutam pela libertação integral do povo. Porque nos calamos diante das injustiças que acontecem diante dos nossos olhos? Porque não questionamos? Porque nos omitimos? Quando agimos assim, estamos fazendo do mesmo jeito que os soldados.
Nas mãos de Simão Cirineu. A cruz é pesada. Não é fácil suportar aquele peso durante uma caminhada. Existem muitas dores. Existem muitas feridas. Há muito sangue perdido. É preciso ajuda. Sem essa ajuda, não se chega ao fim da caminhada. Não se vai ao encontro do Pai. Quantas vezes nos encontramos nessa situação? Quantas vezes precisamos de que alguém nos ajude a carregar o peso das dores.
E lá estava aquele homem que voltava do trabalho. Se viu envolvido com alguém que não conhecia. Diante de alguém que precisava de ajuda. Foi forçado a fazer tal trabalho. Medroso, assumiu a cruz de Jesus. Mas ganhou um prêmio maior do que muitos, teve seu nome gravado nos evangelhos e no coração de Deus. Ajudou um desconhecido. Da intimação para carregasse aquela cruz, foi conduzido a algo maior do que poderia imaginar.
E finalmente, Jesus se entrega não mãos do Pai. Deu um forte grito. Libertou-se das amarras do pecado. Rompeu com o pecado. Libertou do pecado todos os que esperavam por esse momento. Um grito de alegria. Tudo está consumado. Em tuas mãos eu entrego o meu espírito.
Sim, Pai, foi para essa hora que eu vim. E agora volto a ti. Tu me recobras as vida que os seres humanos rejeitaram. Tu me enviaste para que eu chegasse a essa hora. E agora, tudo está consumado. Todos estão livres do pecado. Todos são restituídos à vida. Túmulos são abertos. Os mortos voltam à vida. Aqueles que esperaram a consumam dos tempos estão agora na glória de Deus. Vão ao encontro de Jesus.
Ao gritarmos Hosana, estamos entrando na estrada na paixão para que, junto com Jesus, cheguemos a ressurreição, passando pela cruz e pelo flagelo.

Oremos: “Deus eterno e todo-poderoso, para dar aos homens um exemplo de humildade, quisestes que o nosso salvador se fizesse homem e morresse na cruz. Concedei-nos aprender o ensinamento da sua paixão e ressuscitar com ele em sua glória. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo”.

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