quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Oração da rainha Ester

Do Livro de Ester 4,17m-17kk

Naqueles dias: 17mAnte a morte iminente, todo o Israel gritava a Deus com todas as suas forças. 17nA rainha Ester, temendo o perigo de morte que se aproximava, buscou refúgio no Senhor. 17oAbandonou as vestes suntuosas e vestiu-se com roupas de aflição e luto. Em vez de perfumes refinados, cobriu a cabeça com cinza e humilhou o seu corpo com inúmeros jejuns. 17pProstrou-se por terra desde a manhã até ao anoitecer, juntamente com suas servas, e disse: 17q"Deus de Abraão, Deus de Isaac e Deus de Jacó, tu és bendito. Vem em meu socorro, pois estou só e não tenho outro defensor fora de ti, Senhor,17rpois eu mesma me expus ao perigo. 17sSenhor, eu ouvi, dos livros de meus antepassados, que salvaste Noé das águas do dilúvio. 17tSenhor, eu ouvi, dos livros de meus antepassados, que entregaste nove reis a Abraão com apenas trezentos e dezoito homens. 17uSenhor, eu ouvi, dos livros de meus antepassados, que libertaste Jonas do ventre da baleia.17vSenhor, eu ouvi, dos livros de meus antepassados, que livraste Ananias, Azarias e Misael da fornalha ardente.17xSenhor, eu ouvi, dos livros de meus antepassados, que arrebataste Daniel da cova dos leões. 17ySenhor, eu ouvi, dos livros de meus antepassados, que tiveste misericórdia de Ezequias, rei dos Judeus, quando, condenado a morrer, te implorou pela vida e lhe concedeste mais quinze anos de vida. 17zSenhor, eu ouvi, dos livros de meus antepassados, que concedeste um filho a Ana que o pedia com ardente desejo. 17aaSenhor, eu ouvi, dos livros de meus antepassados, que tu libertas, Senhor, até ao fim, todos os que te são caros.17bbAgora, pois, ajuda-me, a mim que estou sozinha e não tenho mais ninguém senão a ti, Senhor meu Deus. 17ccTu sabes que tua serva detestou o leito dos incircuncisos,17ddque não comi à mesa das abominações nem bebi o vinho de suas libações. 17eeTu sabes que, desde a minha deportação, não tive alegria, Senhor, a não ser em ti. 17ffTu sabes, ó Deus, por que trago esta vestimenta sobre a minha cabeça, e que a abomino como um trapo imundo e não a trago nos meus dias de tranquilidade. 17ggVem, pois, em auxílio de minha orfandade. Põe em meus lábios um discurso atraente, quando eu estiver diante do leão, e muda o seu coração para que odeie aquele que nos ataca, para que este pereça com todos os seus cúmplices. 17hhE livra-nos da mão de nossos inimigos. Transforma nosso luto em alegria e nossas dores em bem-estar. 17iiAos que querem apossar-se de tua herança, ó Deus, entrega-os à ruína. 17kkMostra-te, Senhor; ó Senhor, manifesta-te!

terça-feira, 23 de outubro de 2018

Do Tratado do Espelho dos Clérigos

Do Tratado do Espelho dos Clérigos, de São João de Capistrano, presbítero 

(Pars I, Venetiae 1580,2) 
(Séc. XV) 

A vida do clero bom ilumina e serena
Quem foi chamado à mesa do Senhor deve brilhar pelo exemplo de uma vida louvável e correta, longe de toda imundície dos vícios. Vivendo dignamente como sal da terra para si mesmos e para os outros; e como luz do mundo, brilhante de discernimento, iluminando a todos. Aprendam da excelsa doutrina de Cristo Jesus, que diz, não só aos apóstolos e discípulos, mas também a todos os seus sucessores, presbíteros e clérigos: Vós sois o sal da terra; se o sal perder o sabor, com que se salgará? Para nada mais presta, senão para ser lançado fora e pisado pelos homens (Mt 5,13). 
É verdadeiramente pisado pelos homens, qual lodo vil, o clero imundo e sórdido, atolado na sujeira dos vícios e preso nas cadeias das ações criminosas, tido como imprestável tanto para si quanto para os outros. Gregório diz: “Sua vida é desprezível, resta ser rejeitada sua pregação”. 
Os presbíteros que presidem bem serão considerados dignos de dupla honra, sobretudo os que trabalham pela palavra e pela doutrina (1Tm 5,17). De fato, os bons presbíteros exercem dupla dignidade, quer dizer, material e pessoal, ou temporal e espiritual, ou transitória junto com a eterna. Porque, embora por natureza habitem na terra sob o mesmo jugo das criaturas mortais, desejam ansiosamente conviver com os anjos nos céus, como aceitos pelo rei, servos inteligentes. Por esta razão, como o sol, que surge para o mundo nas alturas de Deus, assim brilhe a luz do clero diante dos homens para que, vendo suas boas obras, glorifiquem o Pai que está nos céus (cf. Mt 5,16). 
Vós sois a luz do mundo (Mt 5,14). A luz não se ilumina a si mesma, mas lança seus raios a tudo que a rodeia. Semelhante a ela, a vida luminosa dos bons e justos clérigos, com o fulgor da santidade, ilumina e serena os que a vêem. Por conseguinte, quem foi reservado para o cuidado dos outros, deve mostrar em si próprio de que modo devem eles viver na casa do Senhor. 

FÉ, VIDA E VOTO!

PADRE JÚLIO LANCELLOTTI: FÉ, VIDA E VOTO!
POR:Padre Gegê
Do ponto de vista científico, a neutralidade é um mito, isto é, uma ilusão que, na prática não existe. Desse modo, falar de neutralidade da Igreja (também no campo político) é, igualmente, uma farsa. Dizia Dom Hélder que, sendo impossível ser neutra,  cabia a Igreja decidir de que lado ficaria: do lado dos pobres ou dos ricos. Ao longo da história, reconhece Dom Hélder, a Igreja quase sempre se pôs ao dos poderosos e dominadores. No contexto das eleições 2018, qualquer um desavisado pode perceber posicionamentos divergentes  e diametralmeentre opostos entre bispos, padres, leigos e leigas, todos e todas membros de uma mesma Igreja. Padre Júlio Lanccellotte (como tantos outros bispos, padres e leigos) fez ao longo de sua vida a opção pelos pequenos e indefesos. Hoje, muitos membros da Igreja, para fugir das consequências do Evangelho, o chamam de "vermelho", "comunista", "lulista", "petista", etc. Mas, no fundo, isso é um sinistro  álibi que muitos usam, com verniz de "defensores da fé", para permanecerem do lado dos poderes da terra, salvaguardando, assim, a maciez e a intocabilidade de suas peles límpidas. Para nós, cristãos comprometidos com a Justiça, a Liberdade e a Vida, neste segundo turno das eleições, não está em jogo o PT ou Esquerda (por mais que sejamos acusados disso pelos nossos irmãos de fé), mas como disse Ester, "A vida do povo". Quem da Igreja se colocar desse lado sabe que tem muito a perder. Padre Júlio Lancellotti é um desses...
Do Bolsonaro, a sociedade brasileira e internacional não espera que saia grandes coisas, tendo em vista sua desqualificação quase que total no que se refere ao básico de um ser humano. Mas, da Igreja, essa Sim, apesar de todas as contradições e escândalos, a sociedade ainda espera Grandes atitudes, sobretudo em tempos de escolhas cruciais.
Essa sociedade lúcida hoje olha bem para Igreja e tem inequívoca certeza que acusar de "comunista" quem defende a Vida dos indefesos pondo em risco a própria pele, é, Sim, faltar com a verdade; é usar de um argumento falso e maquiavélico para justificar o medo de perder os cargos, as regalias e os privilégios deste mundo. Por que o Papa Francisco é tão atacado? Não paga o Papa um alto preço por se colocar ao lado dos pobres, conforme São Francisco de Assis? Por que muitos querem a sua cabeça?  A propósito, lembro da cabeça de São João posta na bandeja por conta da insensatez de Herodes enfeitiçado por uma dança. Quem hoje dança diante da Igreja pedindo "cabeças"? E quem são os que estão "dançando" no macabro amolar das facas?
Fundamentalmente, no segundo turno das eleições 2018 está em jogo milhares e milhares de "cabeças" - vidas vulnerabilizadas!
Ser neutro, como disse, é impossível! Seja franco, cristão: de que lado você está?
Todos sabemos que se Jesus ficasse do lado os poderosos, talvez morresse de gripe mas nunca de CRUZ.
Padre Júlio Lancellotti  está do lado dos pobres e fracos; está do lado de Jesus; e esse lugar concreto determina o seu VOTO! E isso não é "comunismo", nem "lulismo", nem "petismo".
ISSO É EVANGELHO‼!

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Não tenhais medo! Abri as portas a Cristo!

Da homilia do santo João Paulo II, papa, no início do seu pontificado

(22 de Outubro de 1978: A.A.S. 70 [1978], pp. 945-947)(Séc. XX)

Pedro veio para Roma! E o que foi que o guiou e o conduziu para esta Urbe, o coração do Império Romano, senão a obediência à inspiração recebida do Senhor? Talvez aquele pescador da Galileia nunca tivesse tido vontade de vir até aqui. Talvez tivesse preferido permanecer, lá onde estava, nas margens do lago da Galileia, com a sua barca e com as suas redes. Mas, guiado pelo Senhor e obediente à sua inspiração, chegou até aqui!
Segundo uma antiga tradição, durante a perseguição de Nero, Pedro teria tido vontade de deixar Roma. Mas o Senhor interveio: veio ao seu encontro. Pedro, dirigindo-se ao Senhor perguntou: "Quo vadis, Domine?” (Aonde vais, Senhor?). E o Senhor imediatamente lhe respondeu: "Vou para Roma, para ser crucificado pela segunda vez". Pedro voltou então para Roma e aí permaneceu até à sua crucifixão.
O nosso tempo convida-nos, impele-nos e obriga-nos a olhar para o Senhor e a imergir-nos numa humilde e devota meditação do mistério do supremo poder do mesmo Cristo.
Aquele que nasceu da Virgem Maria, o filho do carpinteiro – como se considerava –, o Filho de Deus vivo, como confessou Pedro, veio para fazer de todos nós “um reino de sacerdotes” .
O Concílio do Vaticano II recordou-nos o mistério deste poder e o fato de que a missão de Cristo – Sacerdote, Profeta, Mestre e Rei – continua na Igreja. Todos, todo o Povo de Deus participa desta tríplice missão. E talvez que no passado se pusesse sobre a cabeça do Papa o trirregno, aquela tríplice coroa, para exprimir, mediante tal símbolo,  que toda a ordem hierárquica da Igreja de Cristo, todo o seu "sagrado poder" que nela é exercido não é mais do que serviço; serviço que tem uma única finalidade: que todo o Povo de Deus participe desta tríplice missão de Cristo e que permaneça sempre sob a soberania do Senhor, a qual não tem as suas origens nos poderes deste mundo, mas sim no Pai celeste e no mistério da Cruz e da Ressurreição.
O poder absoluto e ao mesmo tempo doce e suave do Senhor corresponde a quanto é o mais profundo do homem, às suas mais elevadas aspirações da inteligência, da vontade e do coração. Esse poder não fala com a linguagem da força, mas exprime-se na caridade e na verdade.
O novo Sucessor de Pedro na Sé de Roma eleva, neste dia, uma prece ardente, humilde e confiante: “Ó Cristo! Fazei com que eu possa tornar-me e ser sempre servidor do teu único poder! Servidor do teu suave poder! Servidor do teu poder que não conhece ocaso! Fazei com que eu possa ser um servo! Mais ainda: servo de todos os teus servos.”
Irmãos e Irmãs! Não tenhais medo de acolher Cristo e de aceitar o Seu poder!
Ajudai o Papa e todos aqueles que querem servir Cristo e, com o poder de Cristo, servir o homem e a humanidade inteira!
Não tenhais medo! Abri antes, ou melhor, escancarai as portas a Cristo! Ao Seu poder salvador abri os confins dos Estados, os sistemas económicos assim como os políticos, os vastos campos de cultura, de civilização e de progresso! Não tenhais medo! Cristo sabe bem "o que está dentro do homem". Somente Ele o sabe!
Hoje em dia é frequente o homem não saber o que traz no interior de si mesmo, no mais íntimo da sua alma e do seu coração, Frequentemente não encontra o sentido da sua vida sobre a terra. Deixa-se invadir pela dúvida que se transforma em desespero. Permiti, pois – peço-vos e vo-lo imploro com humildade e com confiança – permiti a Cristo falar ao homem. Somente Ele tem palavras de vida; sim, de vida eterna.

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

"Felizes os que promovem a Paz, porque serão chamados Filhos de Deus"


Aproximam-se as eleições para presidente do Brasil de 2018. Dois candidatos disputam as eleições. O primeiro defende as liberdades democráticas. Está ao lado da vida. Preserva o direito das chamadas “minorias”: gays, negros, indígenas, mulheres em situação de risco. Além disso, prega a igualdade entre homens e mulheres. Entende de Ecologia, e prega a defesa da biodiversidade no Brasil. Respeita a liberdade religiosa de um país onde há várias representações religiosas, de vários matizes. Apresenta uma proposta clara de política econômica, tanto para os trabalhadores (aqueles que vendem sua força de trabalho), quanto para os chamados empresários (detentores dos meios de produção, ou capital especulativo).  É transparente em seus posicionamentos. Não oculta nada.
Entretanto, pertence a um partido (chamado dos Trabalhadores) que por razões humanas sucumbiu ao pecado da corrupção, da roubalheira. Alguns de seus integrantes se envolveram em vários escândalos. E é preciso fazer esse mea-culpa para seguir adiante. É como os cristãos católicos que buscam o sacramento da confissão diante das infidelidades que cometeram perante o Deus da vida, o Deus de amor. O Deus misericordioso. Reconhecem os erros, e perdem perdão. O Partido dos Trabalhadores deveriam fazer o mesmo. Agora é o momento histórico para isso. Esse se chama Fernando Haddad.
Do outro lado, temos um candidato que é reformado das forças armadas. Uma pessoa que pensa com a cabeça de militar. Que enxerga no outro um potencial inimigo, sempre. Não é capaz de dialogar com quem se coloca em sua oposição. Seu pensamento é do extermínio. Da aniquilação. Do confronto. Não entende as mulheres e seus anseios e desejo. Não é favorável a demarcação das terras indígenas. Acredita que negros são indolentes. Que as terras quilombolas devam ser “resgatadas” pela nação brasileira. Não aceita que os trabalhadores tenham férias remuneradas, 13º salário, e o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Quanto a licença maternidade, onde a mulher, mãe, recebe seu salário para cuidar da vida de uma criança, ele é contra. E ainda afirma que se a mulher engravida deve receber salário menor que o do homem. Como podermos cumprir o mandato de Deus que diz “crescei-vos e multiplicai-vos”?  Além disso, esse candidato discrimina denominações religiosas diferentes da sua. Esse se chama Bolsonaro.
Diante desse quadro, nós, brasileiros, teremos que decidir que posição tomar. Que tipo de país vamos querer nos próximos quatros anos, ou o país da barbárie (Bolsonaro), ou o país da liberdade, da pluralidade, da compreensão, do respeito as leis (mesmo que sejam injustas e não morais) Fernando Haddad.
Então, como religioso, cristão, não poderia me furtar em escrever essas palavras. Jesus Cristo foi condenado pelas forças religiosas, políticas e militares de seu tempo. Jesus foi encarcerado, torturado e morto. Mas, em nenhum momento fugiu a luta. Recentemente, o Papa Francisco proclamou santo da Igreja Católica Dom Oscar Romero, arcebispo de São Salvador. Romero era um bispo palaciano. Vivia nas rodas do poder durante o período da ditadura militar salvadorenha. Romero passou por um processo de conversão. Vários padres e agentes de pastoral da Igreja eram assassinados por denunciar a corrupção das forças militares diante do povo. Estes, violentavam e matavam mulheres. Metralhavam igrejas. Profanavam o sacrário, onde fica recolhido o corpo do senhor para os católicos.
Após o assassinato de seu amigo, Pe. Rutilio Grande, Dom Oscar Romero abre os olhos para o que estava acontecendo. Percebe que o poder constituído nos palácios e quarteis era contra o povo. Queriam ver o povo salvadorenho em situação de escravidão. Submissos.
São Oscar Romero utilizou sua autoridade enquanto arcebispo para fazer essa denúncia. Teve coragem. E aqui faço uma ressalva, ter coragem não significa não ter medo. Ter coragem significa fazer o que deve ser feito, renunciar ao que deve ser renunciado por fidelidade à palavra de Jesus Cristo. A coragem coloca o medo que se sente em segundo plano. Jesus teve medo, e disse “pai afasta de mim esse cálice”, demonstrou o medo; mas, em seguida, afirmou, “contudo seja feita a tua vontade”.
Enquanto religioso. Enquanto cristão católico apostólico romano. Não posso admitir que religiosos apoiem a barbárie. Que apoiem a discriminação. Sejamos coerente com a nossa fé. Defendamos o evangelho de Jesus Cristo. Rezemos mais. Façamos a lectio divina diariamente, ou seja, a leitura medita da palavra de Deus. Lembremos, disse Jesus, “Eu vim para que todos tenham vida”! E, “a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”.
Não sei deixe dominar pelo ódio e pela violência. Não se deixe dominar pela falta de misericórdia.
E encerro com as palavras do Cristo nas bem aventuranças, “Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus”.
#EleNão

sábado, 13 de outubro de 2018

A responsabilidade do nosso ministério

Das homilias sobre os Evangelhos, de São Gregório Magno, papa

(Hom. 17,3.14: PL 76,1139-1140.1146)

(Séc. VI)

Ouçamos o que diz o Senhor aos pregadores enviados: A messe é grande, mas poucos os operários. Rogai, portanto, ao Senhor da messe que envie operários a seu campo. São poucos os operários para a grande messe (Mt 9,37-38). Não podemos deixar de dizer isto com imensa tristeza, porque, embora haja quem escute as boas palavras, falta quem as diga. Eis que o mundo está cheio de sacerdotes. Todavia na messe de Deus é muito raro encontrar-se um operário. Recebemos, é certo, o ofício sacerdotal, mas não o pomos em prática.

Pensai, porém, irmãos caríssimos, pensai no que foi dito: Rogai ao Senhor da messe que envie operários a seu campo. Pedi vós por nós para que possamos agir de modo digno de vós. Que a língua não se entorpeça diante da exortação, para que, tendo recebido a condição de pregadores, nosso silêncio também não nos imobilize diante do justo juiz. Com frequência, por maldade sua, a língua dos pregadores se vê impedida. Por sua vez, por culpa dos súditos, muitas vezes acontece que seus chefes os privem da palavra da pregação.

Por maldade sua, com efeito, a língua dos pregadores se vê impedida, como diz o salmista: Deus disse ao pecador: Por que proclamas minhas justiças? (Sl 49,16). Por sua vez, por culpa dos súditos, cala-se a voz dos pregadores. É o que o Senhor diz por Ezequiel: Farei tua língua aderir a teu palato e ficarás mudo, como homem que não censura, porque é uma casa irritante (Ez 3,26). Como se dissesse claramente: A palavra da pregação te é recusada porque, por me exacerbar com suas ações, este povo não é digno de escutar a verdade que exorta. Não é fácil saber por culpa de quem a palavra se furta ao pregador. Porque se o silêncio do pastor às vezes o prejudica, sempre causa dano ao povo, isto é absolutamente certo.

Há ainda outra coisa, irmãos caríssimos, que muito me aflige na vida dos pastores, mas para não pensardes talvez que vos faz injúria aquilo que vou dizer, ponho-me também debaixo da mesma acusação, embora me encontre neste posto não por minha livre vontade, mas impelido por estes tempos calamitosos.

Vimos a nos envolver em negócios externos. Um cargo nos foi dado pela consagração e, na prática, damos prova de outro. Abandonamos o ministério da pregação e, reconheço-o para pesar nosso, chamam-nos de bispo a nós que temos a honra do nome, não o mérito. Aqueles que nos foram confiados abandonam a Deus e nos calamos. Jazem em suas más ações e não lhes estendemos a mão da advertência.

Quando, porém, conseguiremos corrigir a vida de outrem, se descuramos a nossa? Preocupados com questões terrenas, tornamo-nos tanto mais insensíveis interiormente quanto mais parecemos aplicados às coisas exteriores.

Por isso e com razão, a respeito de seus membros enfraquecidos, diz a santa Igreja: Puseram-me de guarda às vinhas; minha vinha não guardei (Ct 1,6). Postos como guardas às vinhas de modo algum guardamos a nossa porque, enquanto nos embaraçamos, com ações exteriores, não damos atenções ao ministério de nossa ação verdadeira.

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Aprendi!

Sou fruto de um preso político.
Sou fruto de um condenado pelos poderosos.
Sou fruto de um crucificado.
Mas, ao mesmo tempo, fui educado por Ele a viver o amor, o perdão, a misericórdia. Aprendi a valorizar o que é diferente de mim.
Aprendi que é dando que se recebe.
Aprendi que onde houver ódio que eu leve o amor.
Aprendi que onde houver ofensas, que eu leve o perdão.
Aprendi que onde houver discórdia, que eu leve a paz.
Aprendi que onde houver erro, que eu leve a verdade.
Aprendi que onde houver desespero, que eu leve a esperança.
Aprendi que houver trevas, eu leve a luz.
Aprendi que eu devo mais consolar, que ser consolado.
Aprendi que eu devo compreender mais, do que ser compreendido.
Aprendi que devo mais amar, do que ser amado.
Aprendi que é dando que se recebe.
Aprendi que é perdoando que se é perdoado.
Aprendi que é morrendo que se vive para a vida eterna.
Aprendi que devemos alimentar os famintos.
Aprendi que devemos dar de beber aos sedentos.
Aprendi que devemos vestir os nus.
Aprendi que devemos visitar os doente e os encarcerados.
Aprendi que devemos acolher os refugiados.
Aprendi que devemos ser instrumentos de paz.
Aprendi que......
..... Devo perdoar até 70 vezes 7.

Fé, Cores e Política


Todas as agremiações, sejam elas religiosas, esportivas, civis, militares, utilizam flâmulas, ou bandeiras, com cores previamente definidas pelas suas lideranças que representam os sentimentos do grupo.
A Igreja Católica não foge à regra. Vivemos um calendário litúrgico, isto é, ao longo do ano civil temos tempos celebrativos próprios que marcam a vida de Jesus.
Roxo, branco, verde e vermelho, são essas as nossas cores. Em poucas palavras, tentarei dizer o que cada uma dessas cores representa para nós.
O Roxo. Significa tempo de penitência ou espera. Momento para maior interiorização da fé. Diante da Palavra de Deus, que atitudes eu tomo. Significa também tempo de espera. Demonstra a expectativa da Igreja que aguarda um novo natal. É o Advento de Deus em nossas vidas.
O Branco. Simboliza a pureza de coração. Ele é utilizado nas comemorações de nossa Senhora, Maria Santíssima, nas celebrações dos santos e santas que não foram martirizados, mas que souberam expressar em suas vidas os ensinamentos de Jesus.
O Verde. Em muitas culturas, é símbolo da esperança. Neste momento, ou tempo litúrgico, aproveitamos para meditar sobre a vida pública de Jesus. Tempo em que ouvimos as palavras catequéticas de Jesus. Neste período, ouvimos leituras que falam do Reino de Deus, como devemos nos relacionar com os outros. Como devemos perdoar.
O Vermelho. Simboliza o sangue dos mártires derramados pela fé. O testemunho que muitos cristãos deram e dão para que se possa pregar o Evangelho. A perseguição não masoquismo, é o mote dessa dar-se. Mas, uma resposta ao apelo de Jesus, “bem-aventurados quando forem perseguidos por causa de mim”.
Na Igreja Católica o vermelho é usado em muitos momentos. Primeiro, nas celebrações da Semana Santa, principalmente na sexta-feira Santa, quando recordamos o martírio de Jesus, ao que damos o nome de Paixão de Cristo. Depois, na vida dos santos que derramaram seu sangue, ou porque simplesmente eram cristão, ou porque assumiram uma prática de acordo com as palavras do Evangelho e contrariaram os interesses dos poderosos desse mundo.
E por último, temos o Terço Missionário. Uma forma que a Igreja usa para rezar pelos cinco continentes. Cada um deles é associado a uma cor. O Branco, Europa; o Amarelo, Ásia; o Verde, África; o Azul, Oceania; e o Vermelho, as Américas.
Ao propor o terço missionário, com as queremos, recorda-se que devemos orar pelos cristãos e pelos povos daqueles continentes. Rezar por suas necessidades, sejam elas espirituais ou materiais.
As cores não nos fazem melhores ou piores do que os outros. A cores são meramente representativas. E marcam fatos de nossa vida social ou religiosa.
Não nos tornemos intolerantes por causa das cores. Há diversidade de cores, tal como uma diversidade de pessoas, de religiões, de ideias e de pessoas.
A diversidade de cores pertence aos filhos e filhas de Deus. Logo após o Dilúvio, Deus criou esse símbolo para lembrar de sua aliança.



sábado, 6 de outubro de 2018

Mãe

Estamos passando por um novo processo eleitoral no Brasil. Infelizmente, em nosso país esse processo é equivocado. Escolhemos, ao mesmo tempo, Presidente, Governador, Senador, Deputado Federal, Deputado Estadual. Isso é um atentado a Democracia, pois Presidente e Governador estão ligados diretamente a vida de um povo específico. São chamados de majoritários. O Presidente deverá governar para o país como um todo. O Governador, para um parcela. Para um estado chamado de confederado, pois somos uma federação de estados.

Já os que concorrem a Deputados ou a Senador, são os representantes parlamentares, isto é, são os representantes diretos de cada um de nós. Essa votação é chamada de proporcional.
Quando juntamos tudo no mesmo espaço, no mesmo momento, perdemos a visão de conjunto.
Então, eu digo, Mãe!
E que Mãe? Neste caso, vou clamar a Mãe do Céu. Maria, mãe de Jesus. Aquela que ensinou a Jesus o que era ser Filho de Deus. Que soube cantar a alegria de Deus ter voltado seu olhar para os pobres, os famintos. Que tomou a decisão de derrubar do trono os poderosos. E elevar os humildes.
Essa é a Mãe que vê a necessidade dos seus filhos prediletos, pois Jesus nos deu a ela como filhos.
A Mãe Maria apareceu para a humanidade de vários jeitos. De várias formas, sob vários títulos. Dentre eles, o de Conceição Aparecida. E é sobre ela que quero falar.
A pequena imagem retrata a estatura de muitas brasileira. Negra. Ao lado dos acorrentados do tempo de sua aparição.
A Nossa Senhora Aparecida surge num momento de aflição de seus filhos pobres e pescadores. Era preciso realizar o milagre da comida, para suprir a fome dos filhos e servir ao governador. Aqueles pescadores pobres estavam entrando no desespero, e ela veio em socorro.
Após surgir do fundo do rio, nas redes dos pescadores, ela pede ao Filho (Jesus) e ele então, providencia a pesca milagrosa, o que já havia feito no mar da Galileia.
Essa mãe, Negra, vem libertar o seu povo da escravidão. Essa mãe, Negra, vem dar a vista aos que estão nas trevas, menina cega. O cavalo que paralisa diante da porta da Igreja por conta da arrogância de seu cavaleiro.
Maria Aparecida, mulher, mãe, negra, preocupada com as necessidades de seu povo, de seus filhos/filhas. Vive nas periferias das cidades. Vive nas periferias existências, vive nas periferias das resistências dos pobres.
Ó mãe Aparecida, olhai para as dores das mulheres desse país. Olhai para as dores dos seus filhos/filhas. Olhai pelas dores daqueles que são discriminados por serem diferentes de mim. Olhai pelos que passam fome. Olhai pelos que se organizam para mudar a situação de vida. Amém.

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Onde houver ódio, que eu leve o amor!

Hoje celebramos a memória de São Francisco de Assis.
Muitas vezes, temos uma visão romântica do jovem de Assis. Simplesmente, falamos de seu amor a natureza e aos animais.
Francisco de Assis tem uma representação muito maior que isso.
Era jovem da classe alta. Seu pai, um grande comerciante na área da tecelagem e do tingimento dos tecidos. Francisco vivia uma vida devassa, como muitos jovens de hoje. Esbanjava. Não tinha limites nem medidas para nada. Vivia da vida fácil e fútil. Zombava das pessoas. Escarnecia dos pobres. Não queria nada com a vida. Como toda classe dominante do seu tempo, até frequentava a Igreja. Ia a Missa por obrigação, e não por devoção. 
Certo dia, o santo deparou-se com um dos empregados de seu pai. Resolveu ir até onde os tecidos eram tingidos. Teve que passar pelas áreas sombrias de Assis. Aquelas cenas o chocaram. Viu que, enquanto esbanjava a sua riqueza material, pessoas perdiam a vida para sustentar todo o seu luxo. Viu-se diante de um "trapo humano" que lhe pedia um pouco de comida.
Esse fato, começou a mudar a sua vida. Tentou pelas vias normais da conversa e da negociação com seu pai, mudar aquela situação. Sempre tendo negativas.
Um dia, durante uma das missas, vendo o lugar onde se ficavam os pobres dentro da Igreja (no fundo e sentados ao chão), decidiu juntar-se a eles. Com suas ricas roupas. 
Ao ver isso, seu pai disse que ali não era o lugar dele. E seu lhe disse que as ricas roupas lhe pertenciam, e que não poderia ficar no chão. Em discussão com pai, dentro da Igreja, Francisco se despiu das ricas vestes. Ficou completamente nu, escandalizando a todas e a todos. Alguém lhe cobriu o corpo. Dando lhe roupas simples e de farrapos. 
No dia que lhe fazemos memória, lembremos das pessoas que sofrem. Lembremos das pessoas que estão sem direitos trabalhistas. Lembremos das pessoas que são mal tratadas em hospitais públicos pela ganância da classe dominante que oprime. 
Francisco não é apenas exemplo de amor a natureza e aos animais. Francisco é exemplo de solidariedade com os pobres, com os esquecidos, ou, como diz o Papa Francisco, com aqueles e aquelas que são as "sobras" desse mundo capitalista.
Rezemos sua oração pensando nos pobres, nos que sofrem, nos que são desprezados, humilhados, inferiorizados. Lembremos que Jesus disse, tudo o que fizeres a um desses pequenos meus irmãos, foi a mim que o fizestes. 
São Francisco de Assis, intercedei por nós.

Devemos ser simples, humildes e puros.

Da Carta a todos os fiéis, de São Francisco de Assis

(Opuscula, edit. Quaracchi 1949,87-94)
(Séc. XIII)

O Pai Altíssimo anunciou a vinda do céu do tão digno, tão santo e glorioso Verbo do Pai, através de seu santo, Gabriel, à santa e gloriosa Virgem Maria, em cujo seio recebeu a verdadeira carne de nossa humanidade e fragilidade. Ele quis, no entanto, sendo incomparavelmente mais rico, escolher a pobreza junto com a sua santíssima mãe. Nas vésperas de sua paixão, celebrou a Páscoa com os discípulos. Depois, orou ao Pai dizendo: Pai, se for possível, afaste-se de mim este cálice (Mt 26,39).

Pôs, contudo, sua vontade na vontade do Pai. E a vontade do Pai era que seu Filho bendito e glorioso, dado a nós e nascido para nós, se oferecesse em sacrifício e vítima no altar da cruz, pelo seu próprio sangue. Sacrifício não para si, por quem tudo foi feito, mas por nossos pecados, deixando-nos o exemplo para lhe seguirmos as pegadas (cf. 1Pd 2,21). E quer que todos nos salvemos por ele e o acolhamos com coração puro e corpo casto.

Ó como são felizes e benditos aqueles que amam o Senhor e fazem o que o mesmo Senhor diz no evangelho: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e ao próximo como a ti mesmo!(Lc 10,27). Amemos, portanto, a Deus e adoremo-lo com coração puro e mente pura porque, acima de tudo, disto está ele à procura e diz: Os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade (Jo 4,23). É necessário que todos que o adoram, o adorem no espírito da verdade. E dia e noite elevemos para ele louvores e orações, dizendo: Pai nosso que estás nos céus (Mt 6,9); porque é preciso orar sempre e não desfalecer (cf. Lc 18,1).

Além disto, produzamos dignos frutos de penitência (cf. Mt 3,8). E amemos os próximos como a nós mesmos. Tenhamos caridade e humildade e façamos esmolas, já que estas lavam as almas das nódoas dos pecados. Os homens perdem tudo o que deixam neste mundo. Levam consigo somente a paga da caridade e as esmolas que fizeram: delas receberão do Senhor o prêmio e a justa recompensa.

Não nos convém sermos sábios e prudentes segundo a carne, mas temos antes de ser simples, humildes e puros. Jamais desejemos ficar acima dos outros, mas prefiramos ser servos e submissos a toda criatura humana, por causa de Deus. Sobre todos os que assim agirem e perseverarem até o fim repousará o Espírito do Senhor e fará neles sua casa e mansão. Serão filhos do Pai celeste, pois fazem suas obras, e são esposos, irmãos e mães de nosso Senhor Jesus Cristo.

terça-feira, 2 de outubro de 2018

Eles te guardem em todos os teus caminhos.

Dos Sermões de São Bernardo, abade

(Sermo 12 in psalmum Qui habitat, 3.6-8: Opera omnia,
Edit.Cisterc. 4[1966]458-462)
(Séc.XII)

A teu respeito ordenou a seus anjos que te guardem em todos os teus caminhos (Sl 90,11). Louvem o Senhor por sua misericórdia e suas maravilhas para com os filhos dos homens. Louvem e proclamem às nações que o Senhor agiu de modo magnífico a favor deles. Senhor, que é o homem para que assim o conheças? Ou por que inclinas para ele teu coração? Aproximas dele teu coração, enches-te de solicitude por sua causa, cuidas dele. Enfim, a ele envias o teu Unigênito, infundes o teu Espírito, prometes até a visão de tua face. E para que nas alturas nada falte no serviço a nosso favor, envias os teus santos espíritos a servir-nos, confias-lhes nossa guarda, ordenas que se tornem nossos pedagogos.

A teu respeito, ordenou a seus anjos que te guardem em todos os teus caminhos. Esta palavra quanta reverência deve despertar em ti, aumentar a gratidão, dar confiança. Reverência pela presença, gratidão pela benevolência, confiança pela proteção. Estão aqui, portanto, e estão junto de ti, não apenas contigo, mas em teu favor. Estão aqui para proteger, para te serem úteis. Na verdade, embora enviados por Deus, não nos é lícito ser ingratos para com eles, que com tanto amor lhe obedecem e em tamanhas necessidades nos auxiliam.

Sejamos-lhes fiéis, sejamos gratos a tão grandes protetores; paguemos-lhes com amor; honremo-los tanto quanto pudermos, quanto devemos. Prestemos, no entanto, todo o nosso amor e nossa honra àquele que é tudo para nós e para eles; de quem recebemos poder amar e honrar, de quem merecemos ser amados e honrados.

Assim, irmãos, nele amemos com ternura seus anjos como futuros co-herdeiros nossos, e enquanto esperamos nossos intendentes e tutores dados pelo Pai como nossos guias. Porque agora somos filhos de Deus, embora não se veja, pois ainda estamos sob tutela quais meninos que em nada diferem dos servos.

Aliás, mesmo assim tão pequeninos e restando-nos ainda uma tão longa, e não só tão longa, mas ainda tão perigosa caminhada, que temos a temer com tão poderosos protetores? Eles não podem ser vencidos, nem seduzidos, e ainda menos seduzir, aqueles que nos guardam em todos os nossos caminhos. São fiéis, são prudentes, são fortes; por que trememos de medo? Basta que os sigamos, unamo-nos a eles e habitaremos sob a proteção do Deus do céu.