terça-feira, 18 de março de 2014

Buscando!!!!

Levaram, então, Jesus para os guardas. Esses o amarram e o açoitaram. Colocaram sobre sua cabeça uma coroa de espinhos e um pano vermelho sobre seus ombros. Devolveram-no a Pilatos, que o apresentou à multidão. E eles diziam, "Crucifica-o!!!".
Escorraçado. Maltratado. Flagelado. Assim foi Jesus jogado dentro do "camburão". Como um bandido. Um ladrão. Um qualquer. Como um bicho. Nenhum ser humano merece tal tratamento, mesmo o pior dos bandidos, por mais atrocidades que tenha cometido.
Ela era mulher. Negra. Morava na favela. Pobre. Tinha sete filhos. Não quero fazer juízo de valor. Mas ninguém tem o direito de dizer que qualquer coisa que esteja em minha mão é uma arma. Não se pode confundir um copo de café de arma. Lembra-se de que confundiram uma furadeira caseira com um fuzil. Qual a diferença.
Aonde estávamos nós que não fomos a esse sepultamento? Aonde estávamos nós que não demos, nem estamos dando, assistência espiritual a essa família? Aonde estamos?
A palavra de Deus é clara: "tudo que fizestes a um desses pequeninos, foi a mim que fizestes"! E ainda, fala: ""tive fome...; estava nu...; era cativo..." Olhamos para a palavra cativo e pensamos apenas naquele que está preso nas cadeias. É claro que Jesus fala deles. Mas há também aqueles que estão cativos na pobreza, na indigência, na dignidade de pessoa humana. Existem os cativos da fome; da injustiça; da perseguição. Existem os cativos do sistema capitalista que me empurra para a pobreza. Existem os cativos do sistema socialista que me empurram para o pensamento único. A "civilização do amor" (Papa Paulo VI), essa sim, deve ser a nossa meta.
"A Civilização do Amor" é tolerante. "A Civilização do Amor" tudo espera, tudo crê, tudo suporta, tudo perdoa. "A Civilização do Amor" não se alegra com a injustiça.
Esqueçamos nossas liturgias, nossas posições sociais ou eclesiais. Coloquemo-nos junto aos pobres. Do lado dos que nada podem nos dar em troca. Serão eles que estarão na porta do céu para nos colocar para dentro, ou nos mandar para o inferno.
Preocupamo-nos com tantas exterioridades, e deixamos de lado o essencial. O valor da vida humana. Jesus degradou-se ao máximo humilhado na cruz. Mas nos deu a certeza de que a ressurreição é o caminho para a vida. E que ele é a Vida. E que ele é o Caminho. E que ele é a Verdade.
Busquemos solidarizarmos com a família. Não me importa a sua denominação religiosa. É importante que aqueles que ficaram sejam amparados por nossas religiões, pois disse Jesus: "eu vim para que todos tenham vida.".
"Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem".

segunda-feira, 17 de março de 2014

Uma experiência mística de Jesus

Queridos amigos e amigas,
A liturgia deste domingo, dia 16/03, nos fez meditar sobre a passagem da Transfiguração de Jesus. É uma das experiências místicas narradas nos evangelhos, que envolve os apóstolos de Jesus. Ou melhor dizendo, três destes apóstolos: Pedro, Tiago e João.
O primeiro ponto a ser destacado é o local dessa experiência. Não esperem que eu fale da montanha. Isso já se tornou lugar comum. É importante que vejamos que Jesus os leva a "um lugar à parte". Jesus conduz esses apóstolos para um espaço aonde eles poderiam ficar a sós. Em silêncio. Em atitude contemplativa. Em oração.
A primeira experiência que os santos fizeram, e fazem de Jesus, é a experiência mística. Alguma revelação especial. Alguma ideia. Um sentimento diferente do comum. Percebem uma presença divina em suas vidas que vai além do comum das pessoas. E todos nós já passamos por isso em nossas vidas, algum dia. A diferença é que eles transformam isso em vida.
Todos nós temos nosso "lugar à parte". Descubra essa lugar, e faça essa experiência de Jesus.
Segundo, é Deus-Pai quem nos fala "Este é o meu filho amado, no qual eu pus todo o meu agrado. Escutai-o!"
Quem se predispõem a ir em algum lugar à parte com certeza vai escutar o que Deus tem a dizer. Com certeza, vai se colocar à disposição para ouvir Jesus. A experiência mística consiste em ouvir Jesus, pois é ele quem revela a vontade do Pai para cada um de nós. Escutar não é apenas colocar o ouvido atento às suas palavras. Escutar é fazer também a vontade. É colocar em prática aquilo que Deus nos pede. Escutar Jesus, eis a vontade do Pai. Eis a vontade daquele que enviou Jesus. Esta experiência do escutar é transferida depois aos apóstolos e à Igreja. Quem escuta a palavra da Igreja, escuta Jesus, e quem escuta Jesus, escuta o Pai. Escutar Jesus significa escutar a Igreja.
Por último, ao ouvirmos a palavra do Pai o medo toma conta de nós. Parece que sua vontade é grandiosa para nós. Temos a sensação de que não vamos dar conta de tamanha missão. Sentimo-nos pequenos, fracos. Mas, Jesus vem ao nosso encontro. Se aproxima. Toma a iniciativa. Nos toca.
Toca-nos para que nos despertemos. Toca-nos para levantemos. Toca-nos por que é preciso sair em missão. "Levantai-vos". "Não tenhais medo". Por que temer a missão que é dada? Porque temer aquilo que Deus nos pede por meio de Jesus? Por que temer a ação litúrgica da Igreja que renova a paixão, morte e ressurreição de Jesus?
Levanta. Toma coragem. Deixa o medo de lado. Vai pelo mundo anunciar o evangelho a toda criatura. Não temas. Não tenha medo da morte. Jesus ressuscitou.
Amadas e amados, confie no Senhor. Mesmo que possa parecer que ele esteja distante, ele estão no meio de vós.
Deus vos abençoe.

segunda-feira, 10 de março de 2014

O centro da vida

A liturgia do primeiro domingo da quaresma nos faz refletir aonde colocamos o centro de nossa vida.
Duas situações distintas. Duas atitudes diferentes. Na primeira leitura, após criar o paraíso, Deus coloca o homem e a mulher. Tinham tudo à sua disposição. As árvores com frutos tinham aspecto bonito, agradável aos olhos e ao paladar. Homem e mulher tinham tudo à sua disposição, inclusive a liberdade. Deus não quer seres humanos escravos, presos. Nos dá a liberdade para escolhermos entre a vida e a morte.
No centro do jardim está a árvore do conhecimento do bem e do mal. Veja a peculiaridade. Esta árvore está no centro do paraíso. Ela não está na periferia. Não está em lugar aonde não se vai. Ou se vai de vez em quando.
A árvore do conhecimento do bem e do mal, está no centro. Com certeza, Adão e Eva passavam por ela sempre. Era caminho corriqueiro.
A segunda cena, acontece no deserto. Jesus é levado para o deserto pelo Espírito Santo. O deserto é o lugar da desolação. Lugar aonde não se tem vida. Desprovido de tudo. É o inverso do Jardim do Éden, da primeira leitura. Para o serviço a Deus, Jesus é colocado à prova. Vive situações extrema de pobreza, de fama, de culto.
O centro da vida, o coração. Duas situações distintas. Dois centros. Os primeiros pais desfrutavam da companhia direta de Deus. Jesus, estava desprovido da presença do Pai. Adão e Eva tinham a chance de viver com a graça de Deus. Jesus despojou-se de sua divindade para se fazer homem. Deus colocou homem e mulher no Paraíso, no Jardim. Jesus, homem,  foi conduzido para o deserto.
Para que você possa refletir: Onde é centro de sua vida? Você coloca todo o seu ser à serviço de Deus, ou quer viver a sua liberdade pessoal, sem Deus? Aonde está o centro de sua vida?

domingo, 9 de março de 2014

O ser diácono

Todos os anos, os clérigos são obrigados, por força do direito, a fazer um retiro espiritual. Este é o momento em que entramos em contato mais intimamente, em silêncio, com Deus.
Este ano, nosso retiro, dos diáconos permanentes, versou sobre a identidade do ser diaconal. O ministério diaconal permanente é algo novo na Igreja Ocidental. Restaurado pelo Concílio Vaticano II, ainda está em fase de consolidação. A Igreja Ocidental precisa aprender a conviver com essa realidade ministerial, comum na Igreja do Oriente.
Segundo o documento 96 da CNBB, parágrafo 28, página 25, o "diácono define-se como sacramento de Cristo Servo e como expressão da Igreja servidora".
Assim, fomos convidados, num primeiro momento, a meditar sobre: 1. A natureza do diaconato; 2. A identidade do diácono; 3. A missão do diácono; 4. A sacramentalidade do diácono.
Num segundo momento, a tríplice missão do diácono: 1. A diaconia da caridade; 2. A diaconia da palavra; 3. A diaconia da liturgia.
Quanto a natureza do diaconato, "o processo de restauração do diaconato permanente tanto mais se solidificará e o próprio ministério diaconal encontrará sua razão de ser, quanto mais o ministério ordenado for capaz de assimilar e testemunhar a diaconia de Cristo". (Doc CNBB 96, página 26).
A identidade do diácono não deve ser definida "a partir das funções ou dos poderes que lhes confiados. Ele recebe, através da ordenação sacramental, uma marca indelével" (Doc CNBB 96, parágrafo 34, página 27). O documento da Conferência de Puebla afirmou que "o diácono, colaborador do bispo e do presbítero, recebe uma graça sacramental própria. O carisma do diácono, sinal sacramental de Cristo-Servo, tem grande eficácia para a realização de uma igreja servidora e pobre, que exerce sua função missionária com vistas à libertação integral do homem" (in Doc 96, CNBB, página 28).
Quanto à sua missão, assim definiram os bispos da CNBB: "Com a ordenação diaconal, a Igreja evidencia que o serviço da Palavra e da caridade, primeiras exigências da evangelização, requerem testemunhas em integral comunhão com a Igreja, para poderem anunciar com autoridade a Palavra infalível da salvação definitiva e irrevogável" (Doc 96, CNBB, parágrafo 39. página 28/29).
Continuam os bispos, ""A missão do diácono está ligada ao Cristo-Servo. (...). Ser ícone de Cristo-Servidor constitui a identidade profunda do diácono. Ao vê-lo deveríamos ser interpelados aos gestos concretos e à alegria do serviço" (Doc CNBB 96, página 29).
Disse o Beato João Paulo II aos diáconos dos Estados Unidos: "O serviço do diácono é o serviço da Igreja sacramentalizado. O vosso não é apenas um dos muitos ministérios, mas deve realmente ser, como definiu Paulo VI, uma força motriz para a diaconia da Igreja. Com a vossa ordenação estais configurados a Cristo na sua função de Servo. Vós deveis também ser sinais vivos da condição de servos da sua Igreja" (Doc 96, CNBB, parágrafo 4, página 30).
Quanto à sacramentalidade, os diáconos "contam com a graça sacramental, pela qual, junto com os bispos e presbíteros, são postos à parte para uma missão específica e irrevogável" (Doc 96, CNBB página 30).
O Papa emérito, Bento XVI, afirmou que os "diáconos sejam habilitados para servir o povo de Deus na diaconia da liturgia, da palavra e da caridade" (Doc. 96 da CNBB, página 31).
Falando da missão do diácono, observou-se que "segundo a tradição apostólica, o diácono participa da missão plena do bispo, realizando sua função não apenas em nome do bispo e com sua autoridade, mas em nome de Cristo e com sua autoridade, mediante a consagração do Espírito Santo" (Doc 96 - CNBB, parágrafo 53).
Em nossos dias,  "o ministério do diácono situa-se em três âmbitos bem definidos: o serviço da caridade; a evangelização; a ação litúrgica.
A diaconia da caridade. "O diácono (...) vai ao encontro das pessoas de qualquer religião ou raça, classe ou situação social, fazendo-se um servidor de todos como Jesus" (doc 96, página 34). Sendo assim, "em razão da graça sacramental recebida e da missão canônica, compete aos diáconos administrar os bens e as obras de caridade e promoção social da Igreja (Doc 96 - CNBB, parágrafo 58.).
A diaconia da Palavra está profundamente ligada a ação evangelizadora de Cristo que gerou a Igreja. "A evangelização é missão primordial da Igreja. Ela 'existe para evangelizar, ou seja, para pregar e ensinar, ser canal do dom da graça, reconciliar os pecadores com Deus e perpetuar o Sacrifício de Cristo na Santa Missa, que é memorial de sua morte e gloriosa ressurreição' (EN n. 14)" (doc 96 cnbb página 35/36).
"A missão evangelizadora do diácono não se restringe à homilia ou ao anúncio da Palavra no contexto litúrgico" (doc 96 n. 61). "Mas sobretudo quando administra os sacramentos", deve "evidenciar a unidade que formam Palavra e Sacramento no ministério da Igreja" (Doc 96. n. 62).
Quanto à diaconia da liturgia, o "diácono traz para o altar as oferendas dos fiéis e leva a eles o pão eucarístico. Leva aos doentes o Corpo do Senhor. Seu ministério demonstra que a liturgia e a vida social não são realidades justas postas" (Doc 96. n. 66).
Uma boa oportunidade de se meditar sobre nossa vocação diaconal. E confirmar o chamado que Deus fez a cada um de nós, em particular, para servir a sua igreja na dupla sacramentalidade do matrimônio-ordem.