segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Sobre o Diaconato Permanente - I

No dia 10 de agosto, a Igreja celebra a festa litúrgica de São Lourenço, padroeiro dos Diáconos Permanentes. De hoje, até o dia 10 vou publicar quatro artigos que tratam do diaconato dentro da Igreja.
Primeiramente, falarei sobre os aspectos históricos, destacando o Diaconato Permanente na Igreja primitiva, no Concílio Vaticano II, na América Latina e no Brasil. Seguirei a estrutura apresentada no documento 96 da CNBB que trata das Diretrizes para o “Diaconado Permanente da Igreja no Brasil”.
Em seguida, apresentarei os fundamentos teológicos do diaconato permanente. Logo depois, sobre as atividades pastorais as quais os diáconos são chamados a exercer. E por último, destacarei a vocação diaconal.
Espero contribuir para o processo de formação dos Diáconos Permanentes, bem como uma compreensão do povo de Deus sobre a necessidade dos diáconos na vida pastoral e ministerial da Igreja.
I. Aspectos históricos.
O Diaconato foi instituído pelos apóstolos. Em Atos dos Apóstolos, capítulo 6, versículos de 1 a 6, vemos como e porque se deu a criação dos Diáconos. Acrescentamos, ainda, as cartas de Paulo a Filemôn (1,1) e na Primeira Carta a Timóteo (3,8-13).
Inicialmente, eram para servir à mesa, pois as viúvas não judias reclamavam que elas não eram assistidas. A mesa da palavra e a mesa do pão. Surgiram para evitar um conflito dentro da comunidade. Agiam como conciliadores. Foram escolhidos dentro os discípulos. Sete homens de fé e de boa reputação.
A Igreja pós-apostólica sempre viu nos Diáconos uma graça de Deus no serviço ministerial. Sendo assim, a Didaqué afirmava que estes deveriam ser escolhidos dentre homens “dóceis, desprendidos, verazes e firmes”.
Inácio de Antioquia afirmava que “eles fazem parte da hierarquia e que devem ser honrados como Cristo”. Hermas o comparava a “pequenas pedras quadradas e brancas” na construção da Igreja. A Disdacalia Apostolorum aconselha que cada cidade deveria ter o número suficiente de diáconos; e afirma que eles sejam “os ouvidos e a alma dos bispos”. Clemente de Roma via “nos profetas do Antigo Testamento uma prefiguração da existência” dos diáconos.
Hipólito de Roma afirmava que o diáconos é ordenado pela imposição das mãos do bispo e não do presbitério, pois ele é ordenado “não para o sacerdócio, mas para o ministério do bispo”. O Testamento do Senhor dizia que o “o primeiro ofício do diácono é acolher as ordens do bispo e executá-las”. Os pontificais fazem referência às suas funções litúrgicas.
Tendo um desejo ao retorno das Igrejas primitivas, o “Concílio Vaticano II restaurou o diaconato como grau próprio e permanente (grifo meu) da hierarquia e estabeleceu condições teológico-pastorais favoráveis para que esse ministério pudesse desenvolver-se plenamente”.
O Papa Paulo VI deu a primeira regulamentação sobre a formação dos Diáconos Permanentes através da Carta Apostólica Sacrum Diaconatus Ordinem (10/06/1967), e Ad Pascedum (15/08/1972). Em 1998 a Congregação para a Educação Católica e a Congregação para o Clero divulgaram as “Normas Fundamentais para a Formação dos Diáconos Permanentes” e o “Diretório do Ministério eda Vida dos Diáconos Permanentes”.
Na América Latina, o fato marcante foi a ordenação dos primeiros Diáconos Permanentes feitas pelo Papa Paulo VI no encerramento do Congresso Eucarístico de Bogotá, na Colômbia, em 22/08/1968. Dentre os ordenados estavam quatro brasileiros.
Vários encontros regionais e continentais marcaram a restauração do Diaconato Permanente. Destaco o I Congresso Latino-americano e Caribenho de Diaconato Permanente, de 13 a 16 de agosto de 1998, em Lima, Peru, cujo lema foi: “Um novo rosto para a Igreja”.
Desde 1979, na Conferência Episcopal Latino American a Caribenha, a Igreja do continente vem destacando a importância e a necessidade do ministério diaconal. Em Medellín, expressou-se a “necessidade de formar diáconos que sejam capazes de criar novas comunidades cristãs e ativar as existentes”. Em Puebla, reconhece-se “que o carisma do diácono tem grande eficácia para a realização de uma Igreja servidora e pobre”. Na conferência de Santo Domingo, destaca-se a “importância para o serviço de comunhão na América Latina e o amplo serviço em nosso continente”. Em 2007, na Conferência de Aparecida, com a presença do atual Papa Francisco, como redator do relatório final, apresentou os “diáconos permanentes como discípulos missionários de Jesus Servidor, ordenados para o serviço da Palavra, da caridade e da liturgia” (205).
No Brasil, as primeiras manifestações se deram com resenhas de artigos publicados na Europa sobre o assunto. Foram “elencados os motivos favoráveis à restauração e enfatizando o auxílio aos presbíteros nas áreas rurais”. Destacou-se a necessidade de uma formação especial para os candidatos. “Foi proposto que não houvesse um único modelo de diaconal, mas uma diversidade, de acordo com o carisma de cada diácono e necessidades pastorais”. Como ainda estamos presos nos modelos paroquiais, não vislumbramos outros modelos de diaconias.
Foram realizados vários encontros que contribuíram para o amadurecimento da opção pelo diaconado no Brasil. O primeiro, em São Paulo, em fevereiro de 1965; o segundo, em Campinas, agosto de 1966, onde se reuniram bispos, presbíteros e religiosos. Foram tratados temas como: “formação e seleção de candidatos; atuação dos diáconos nas comunidades, não como meros suplentes dos presbíteros, nem como substitutos dos ministros leigos; relação do diácono com o bispo e com os presbíteros”.
Paralelamente, as conclusões do encontro de Campinas, algumas experiências de formação diaconal começam a existir no Brasil. Em 1966, em Salvador-BA, Dom Eugênio de Araújo Sales, administrador Apostólico daquela Arquidiocese, inicia o primeiro curso para os candidatos do Regional Nordeste 3 (março/1966). Em seguida, o Regional Centro-Oeste, e o Regional Sul 3. Juntou-se a eles as dioceses de Volta Redonda-RJ, João Pessoa e Campina Grande, na Paraíba, e Taubaté em São Paulo.
Em junho de 1970 foi realizado o Primeiro Encontro Nacional sobre o Diaconato. Em junho de 1981, no VI Encontro Interregional do Diaconado Permanente e II Encontro Nacional, em Campo Grande-MS, foi eleita a primeira Comissão Nacional de Diáconos do Brasil. Em 2003 foi criada a instituição da CND com seus estatutos canônico e civil, aprovados pela CNBB em 2004.

“Muitos encontros em âmbito regional e nacional foram realizados em todo os Brasil, consolidando o processo de implantação do diaconato permanente e abrindo novas perspectivas pastorais”.

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