sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

"Alegra-te, cheia de graça"!

Dia oito de dezembro celebramos a Solenidade da Imaculada Conceição de Nossa Senhora. 
Mais do que falar sobre a concepção sem pecado de Maria. Mais do que falar sobre o dogma em si. Quero refletir com você sobre a profundidade das leituras bíblicas, principalmente a leitura do Gênesis e do Evangelho. Duas atitudes diferentes de um chamado de Deus.
No Gênesis vemos Deus em constante diálogo com os seres humanos, aqui representados por Adão e Eva. Um diálogo intrigante se olharmos mais de perto. Deus havia dado aos seres humanos de ter uma vida confortável. Uma vida envolta na graça divina diariamente. Sem maiores intercorrências. 
Mas a escritura lembra que Deus procurou Adão logo após ele ter comido do fruto da árvore que lhe havia sido pedido que não tocasse. É interessante neste ponto pois no lembra Jesus nos convidando a estarmos sempre vigilantes. Ele diz que o espírito é forte, mas a carne é fraca. Além disso, acrescentou que o dia do juízo virá em dia que menos se espera, portanto, devemos estar vigilantes sempre, em oração. E na oração do Pai Nosso rezamos, "e não nos deixeis cair em tentação...". 
Neste dia, é logo a primeira leitura que nos faz pensar sobre a nossa vida espiritual. Como estamos com a vida de Oração. Como vivemos nossa prática caritativa.
Em seguida, rola todo o discurso que já sabemos de cor. Mas uma coisa sempre me marcou nesse texto. Adão culpa a quem por ter comido o fruto? Claro que todos responde, "Eva". Mas se nos detivermos mais atentamente ao texto, veremos que não é correta essa reposta. Diz Adão: "A mulher que tu me destes por companheira..." (Gn. 1,12). Vejam, Adão diz a Deus que a mulher que Ele havia dado por companheira. Sempre temos a tendência em colocar a culpa em alguém. Adão diz que a "culpa" é de Deus, pois foi ele que havia dado aquela companheira. Aquela "mulher". Mas recordemos que Adão não vira em nenhum dos seres criados aquele que lhe era semelhante. Então, Deus formou de sua costela, de seu DNA, de sua célula tronco, um ser semelhante a ele. E Adão se agradou desse ser feminino.
Sempre procuramos culpados para os nossos fracassos fora de nós mesmos.
O evangelho (Lc. 1,26-38) nos brinda com uma das mais belas passagens da escritura, Deus em diálogo com o ser humano, com uma mulher. Dizemos, se por uma mulher entrou o pecado no mundo, por outra mulher nos veio a salvação (estou tomando emprestada a frase de Paulo: "se por um homem entrou o pecado no mundo, por outro homem, Jesus Cristo, veio a salvação).
Deus sempre se preocupou com a humanidade. Logo após a queda Deus preparou um plano de retorno ao paraíso, ao Reino de Deus.
Existem várias cenas dentro de uma mesma cena. Estas podem ser enxergadas a partir de vários ângulos. Existe uma região, Galileia; existe uma cidade, Nazaré; existe um ser humano, Maria; existe o divino, anjo Gabriel.
Partamos de Maria. Ela está situada no tempo e no espaço. Isso garante a Jesus uma descendência humana, uma linhagem. Uma ligação com a humanidade. Lembremos que no fim da primeira leitura, Adão nomeia a mulher de "Eva", pois é a mãe de todos os viventes. Maria passa a ser a mãe de todos os novos viventes. Viventes no espírito.
Haveria uma tristeza em Maria? Porque o anjo diz "alegra-te cheia de graça"? Percebamos, se estamos em graça, na graça de Deus, não podemos estar tristes. A tristeza não vem de Deus. Todos os que estão na graça de Deus estão alegres. A saudação causou estranheza a Maria. A alegria poderia transformar-se em temor, por isso o anjo avisa, "não tenhas medo, encontrastes graça diante de Deus". É assim que devemos encarar as surpresas de Deus em nossa vida, como "graça".
Em seguida, ele diz o que ocorrerá. Maria não é boba. Sabe como se dá a concepção. Por isso, é preciso a explicação do anjo. Guarda em pureza e castidade, ela reúne as condições necessárias para ser a mãe de Deus. A serpente quis que a humanidade se afastasse de Deus. Mas Deus nos quer sempre ao seu lado. Vejam, Deus colocou inimizade entre os seres humanos e o mal. Não é possível a convivência, pois "Deus é amor", e sendo amor, se somos feitos a sua imagem e semelhança, somos também amor. Maria é o símbolo máximo do amor humano a Deus. Quando amamos, buscamos fazer a vontade do outro, "faça-se em mim segundo a tua palavra".
Queridas e queridos, hoje celebramos a grande festa de fecundidade espiritual em nós. Ouçamos a voz do anjo. Deixemos Deus agir em nossa vida. Alegremo-nos, exultemos. Não tenhamos medo Deus está conosco, pois "encontrastes graça diante de Deus". Nosso pecado não pode ser maior que a nossa graça. A graça de Deus nos liberta, nos salva, nos conduz ao Reino de Deus.
Aprendamos a dizer "Faça-se". Agremo-nos. Vivamos confiantes em Deus, e não em nós mesmos como Adão e Eva fizeram.

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