“A força da alienação vem dessa fragilidade dos indivíduos que
apenas conseguem identificar o que os separa e não o que os une” (Milton Santos).
Para enxergar o que nos une é necessário ouvir o outro, entender
seu pensamento, valorizar sua opinião.
Entretanto, muitas vezes, quando não encontram palavras ou
ideias para contra argumentar, buscam desqualificar o discurso ou a pessoa do interlocutor.
Cria-se rótulos. Desfaz-se do outro. Deixa-se de buscar soluções
juntas para criar barreiras que impeçam a construção de conquistas sociais e
para a unidade dos trabalhadores e trabalhadoras.
Diana Luz Pessoa de Barros, em “Procedimentos de Desqualificação de Discursos” (vide na internet),
nos alerta para os dois tipos de desqualificação que normalmente fazemos, seja
de forma consciente ou inconsciente. Ela alerta para a “Desqualificação do Sujeito”
e a “Desqualificação do Discurso”.
A “desqualificação do sujeito” dá-se quando reduzimos o outro às
categorias que consideramos negativas, sem fundamento, sem autoridade pessoal.
Um exemplo, quando Jesus voltara a sua terra natal e estava discursando na
sinagoga, os fariseus disseram, “de onde lhe vem essa sabedoria e esses
milagres? Não é ele o filho do carpinteiro? (grifo meu)...” (Mt 13,54-55). Em outro
momento, registra Mateus (12,24) que ao verem a ação de Jesus de expulsar
demônios, disseram: “Ele expulsa os demônios pelo poder de Beelzebu, o príncipe
dos demônios”. Claramente, os interlocutores de Jesus não tendo como contra
argumentar diante dos fatos, querem se desfazer de seu discurso e prática.
Em outras circunstâncias, temos ações e palavras de
desqualificação. Dizemos que as pessoas pertencem ao partido A, B ou C. Que são
interlocutores dos gestores. Que representam interesses privados, próprios ou
partidários. Diz-se que o outro pertence a oposição e que isso é ruim.
Diante de dois interlocutores devemos tomar o cuidado de ler
suas palavras e ações com a razão, e não com a emoção. A emoção, fundamental
para o equilíbrio humano, pode cegar a racionalidade e nos levar a cometer atos
que depois nos arrependemos.
A tolerância é a melhor forma de se compreender o que o outro
diz e faz. O autor de uma música escreveu, “e com os que erram feio o bastante,
que você consiga ser tolerante” (Frejat). Tolerar é buscar entender. É construir
pontes. É colocar-se na posição de quem vai ao encontro para compreender.
Não tolerar, causa desânimo. Desespero. Falta de perspectiva. E
isso cansa. Mas, então, surge a esperança, o amor, combustível para o recomeço.
Essa é uma das características do ser humano, ter a capacidade de RECOMEÇAR. E
aí, o mesmo autor diz, “desejo que você tenha a quem amar, e quando estiver bem
cansado, ainda exista amor para recomeçar”. Só se recomeça quando o amor é
capaz de trazer de volta a esperança. Amar. Esse é o verbo. Essa é a ação. Essa
é a esperança. Podemos amar alguém, uma causa, uma ideia.
E aí, podemos gritar juntos: “já não me preocupo se eu não sei
por que, às vezes o que eu vejo quase ninguém vê. E eu sei que você sabe, quase
sem querer, que eu vejo o mesmo que você” (Renato Russo). Pois “temos nosso
próprio tempo”, mesmo sendo uma “gota d´água” ou um “grão de areia”. Porque “é
preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã. Porque se você parar para
pensar, na verdade não há”.
Caminhemos avante. Não desanimemos. A vida vale a pena. A
unidade é uma construção possível. Não dos desfaçamos das pessoas. Construamos
pontes com os escombros dos muros que derrubamos.
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