quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

"Eis-me aqui, envia-me!"



Hoje iniciamos o período quaresmal. Quarenta dias em que somos chamados a refletirmos, mais intensamente, sobre nossa vida espiritual. Nossas práticas de oração e jejum, e a caridade através da esmola.
No Brasil, temos a Campanha da Fraternidade que tratará do tema da JUVENTUDE. Tendo como lema: “eis-me aqui, envia-me”, tirado do livro do profeta Isaias capítulo 6 versículo 8. Este tema foi escolhida por conta da Jornada Mundial da Juventude, que acontecerá no Rio de Janeiro em julho deste ano. Toda nossa oração, todo nosso jejum, toda nossa caridade deve se voltar para as ações que temos praticado para a evangelização dos jovens.
As leituras da liturgia de hoje nos mostram os caminhos para vivermos nossa fé, não apenas de aparências e ritos esvaziados. Esvaziados no sentido teológico, apenas como cumprimento de obrigações, ou por superstições. As leituras nos mostram o quanto Deus caminha ao nosso lado e nos faz mulheres e homens diferentes. Renovados. Restaurados. Reconciliados com o Deus que caminha ao nosso lado, mesmo que de maneira oculta. Como nos fala o profeta Isaias: “...Tu és um Deus escondido” (Is, 45,15).
Temos a primeira leitura tirada do livro do profeta Joel. Quem é este profeta? O livro deste profeta está relacionado com o culto. Não se tem uma data precisa de seu escrito. Entretanto, ele parte de uma situação concreta, da vida diária, para falar de como nós agimos diante de Deus. A cidade havia sito tomada por uma praga de gafanhotos (muito comum naquele tempo). Joel, ao contemplar esse fato, interpreta-o como um exército aguerrido e ordenado que assalta e conquista uma cidade.
Esta catástrofe requer uma “ação religiosa” de expiação. Uma jornada de jejum e penitência. Ao utilizar algumas expressões, tais como “(pois) agora” e    “quem sabe (talvez)” nos remete a uma temporalidade que nos coloca diante da vida concreta.
Ao dizer “Agora”, significa, ainda há tempo de se converter. Deus nos dá a chance de mudança de vida. Deus, como uma mãe (é assim que nos pede nossa cultura latina), espera que voltemos para casa, mudados.
Na expressão “quem sabe”, dando uma ideia de talvez, mostra-nos que nós não podemos dispor de Deus a nosso bel-prazer.
Joel apresenta os atributos de Deus para a nossa conversão: clemente, paciente, misericordioso, se arrepende das ameaças. Para aquele que se volta para Deus pode-se ter a certeza de que ele nos espera de braços abertos. E por isso diz o início da leitura: “...voltai para mim com todo o vosso coração...”. E ainda, “rasgai o coração, e não as vestes; voltai para o Senhor, vosso Deus”. Rasgar o coração significa mudança de atitudes. Mudança de vida. Largar hábitos que nos levem à morte. O rito pelo rito é letra morta. O rito com mudança de vida, com conversão, gera um novo homem, uma nova mulher, uma nova sociedade, uma nova humanidade.
Na segunda leitura, Paulo nos lembra que agora é o momento favorável de mudança. De conversão. Este é o “dia da salvação”. Jesus tornou-se pecado para que pudéssemos nos tornarmos santos. Ele lembra que a graça de Deus não deve ser recebida em vão. E quando voltamos as costas para o outro, estamos desperdiçando a graça de Deus. Lembremos, somos colaboradores de Cristo, e como tal, não vamos desperdiçar o momento favorável de mudança.
No evangelho, destacamos aquilo que se pede em todas as quaresmas: Esmola, Jejum e Oração.
A esmola era uma prática comum no primeiro testamento. E não é apenas doar dinheiro a quem necessita. A esmola é uma atitude espiritual muito maior.
Já no livro dos Provérbios encontramos: “Não negues um favor a quem necessita, se está em teu poder faze-lo” (Pr. 3,27). No Salmo 112(111), no versículo 5, diz: “Feliz o homem que se compadece e empresta...”. Isaias 58,10: “Se dás teu pão ao faminto e sacias o estômago do indigente, tua luz surgirá nas trevas, tua escuridão se tornará meio-dia”.
Assim, a esmola é muito mais do que dar dinheiro a quem pede. Subordinar a esmola, que é altruísmo, ao interesse pessoal, que é egoísta, é esvaziá-lo de sentido (pode-se pensar em patrocinadores públicos). A esmola também um ato de oração. Diz o livro dos Provérbios 19,17: “Quem se compadece do pobre, empresta ao Senhor”. No livro do Eclesiástico temos a instrução sobre o “mesquinho e o generoso”. Vale a pena ler, Eclesiástico 14,2-19.
Oração. Jesus nos fala de uma oração particular, não pública. Aquela feita no íntimo do coração. Este não se deve converter em espetáculo. Que contraditório louvar a Deus para a glória própria de quem ora. Deus está em toda parte, embora oculto. “É verdade, Tu és o Deus escondido” (Is. 45,15).
Jejum. Havia dois tipos de jejuns: públicos e privados. A primeira leitura deixa-nos o exemplo do jejum privado proclamado publicamente: “convertei-vos para mim de todo o coração, com jejum... rasgai os corações” (Jl 2,12 e 13). Hoje convocamos todo a nossa nação católica a praticar o jejum. Ainda no mesmo profeta Joel, encontramos no capítulo 1 versículo 14: “...proclamai um jejum... porque está próximo o Dia do Senhor”.
Quanto ao jejum privado, encontramos um exemplo típico no segundo livro de Samuel. Davi ora a Deus pela saúde de Salomão. “Davi pediu pela criança, prolongou o jejum e de noite deitava no chão”. O Jejum é um momento de nos aproximarmos de Deus. Ele está conectado diretamente com o Senhor Deus. Ele ordena a vida para Deus. Jejum sem oração é dieta. Jejum orante é retorno. É conversão.
Em Isaias 58,1-7 lembra para que serve o jejum: “... O jejum que eu quero é este: abrir as prisões injustas; soltar os ferrolhos dos cepos; partilhar teu pão com o faminto; hospedar os pobres sem teto; vestir aquele que vês nu e não te feches à tua própria carne”.
Assim, irmãs e irmãos, Tenhamos uma quaresma de oração, jejum e esmola. Pensemos naqueles que necessitam de nossa ajuda. Reflitamos sobre o que estamos fazendo pela e para a juventude de nossa paróquia e de nosso bairro. Seja uma família acolhedora. Abra sua casa para receber os peregrinos da Jornada Mundial da Juventude. E “cada um trate seu irmão com piedade e compaixão, que ninguém planeje maldade contra seu irmão” (Zc 7,9).

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