quinta-feira, 1 de novembro de 2012

"Falar em Línguas"



Prezadas amigas e amigos,
O tema desta postagem é polêmico. Sempre que posso, reflito sobre ele. Para ajudar na nossa comunhão com a Igreja, estou postando uma artigo do Padre José Raimundo Vidigal, reitor da comunidade de Santo Afonso, na Tijuca. Este artigo foi publicado no informativo paroquial, chamado O Redentor.

FALAR EM LÍNGUAS
Jesus prometeu aos Apóstolos que eles falariam novas línguas e isto aconteceu no Pentecostes, quando peregrinos de várias nações entenderam cada qual em sua língua a pregação dos Doze (At 2,11).
A humanidade reencontrava a sua unidade perdida em Babel (Gn 11,9).
No livro dos Atos dos Apóstolos, por duas vezes a vinda do Espírito Santo é associada ao dom das línguas, também chamado de "glossolalia" (10,46 e 19,6).
Mas as línguas se tornaram um problema sério para são Paulo na igreja de Corinto. Por que?
Corinto era uma cidade cosmopolita de 500 mil habitantes, com dois portos, por onde entravam e saiam pessoas de todo o mundo mediterrâneo. Dominada pelas religiões pagãs, nela se veneravam, sobretudo Afrodite (Vênus), e os deuses egípcios Ísis e Osiris. Muitos desses cultos incluíam falas misteriosaspronunciadas em estado extáticosons incompreensíveis, que podiam ser tanto do bem como do mal, A situação se agravou quando isto foi introduzido nas assembleias dos Cristãos.
Eis o que diz a Bíblia de Aparecida, na pag. 1885; "Paulo determina regras rigorosas este carisma, que ele coloca em último lugar em sua lista (1 Cor 12,28). E diz que prefere a palavra compreensível, capaz de instruir, ao entusiasmo incomunicável (1Cor 14,19)". Explicando esse texto, diz a mesma Bíblia: "Esse carisma não se destina às assembleias. Não deveria efetivar-se em público. Paulo considera opressão impor a glossolalia à comunidade", Pode ser que o dom ainda exista hoje, mas cresce entre nós uma onda que parece forçar a vivência dele, como se possuí-lo ou não possuí-lo determinasse quem é cristão perfeito e quem não é. Chega-se ao absurdo de querer ensinar os outros a falar em línguas!  Ora, um dom não se ensina: não se pode ensinar a ter visões, a fazer curas etc...
Mas os entendidos insistem:
“Comece dizendo laira, laira, laira, depois você chegará a dizer frases como: 
Kandala batiriushiba neganda karuncunda yuri balaia shuman necat bariu kundt: barichá you baturi chamini katori " .
Depois disso confessam candidamente que nem eles sabem o que acabam de dizer.. Tais pessoas além de abusar de nossa inteligência, mostram que ignoram o capítulo 14 da Primeira Carta de Paulo aos Coríntios. Pois lá está no verso 9: "Se pela língua não proferis uma palavra clara, como se pode entender o que estais dizendo? Estaríeis de fato falando ao vento". Ora, Deus não nos dá carismas inúteis, mas o verdadeiro carisma é para o bem da comunidade. Há quem defenda as línguas dizendo que é uma oração secreta que o demônio não entende ... Quem garante isso? Aliás, pouco importa se ele entende ou não o que rezamos.
Se é uma oração ao menos quem ora deveria entendê-Ia, para que não seja como a voz de um papagaio.
Outros dizem que é a língua dos anjos. Isto não existe. Os anjos não emitem sons, pois não têm cordas vocais, são puro espírito; nem precisam de nosso tipo de linguagem, eles se comunicam pelo pensamento.
Se você quer orar com palavras inspiradas pelo próprio Deus, abra a sua Bíblia e reze os Salmos.
Não existe palavra nenhuma superior à Bíblia, por isso podemos dizer com certeza que nenhuma oração em línguas será mais elevada do que a Palavra de Deus que está nas Escrituras.
Agora, se você quer orar em línguas, exatamente como  Jesus ensinou a orar, com os mesmos sons por ele pronunciados, reze o "Pai Nosso" em aramaico: 
Avunan d'bishmaya yeticadash sh 'mach, tite malcutach, yehie  sevionach heicama.d'bishma; af bar'a. Hab lan lachma d'sunchananyaomana, u 'ashvuk lan hoveinanheicama d'afenan shbaknan Iichayoveinan, ula t'ilan linissiuna elapatsian mim bishta.
Amiyn.
Você já reparou que não existe nenhum documento da Igreja, nem de papas nem de bispos, incentivando ou elogiando o "falar em línguas"?
Conforme os Evangelhos, o próprio Jesus nunca falou nem orou em línguas. Temos, sim, uma orientação dos nossos Bispos sobre o "orar e falar em línguas", mas é uma restrição.  É o Documento 53 da CNBB sobre a RCC, que diz no nº 63:
 "O apóstolo Paulo ensina: Numa assembleia prefiro dizer cinco palavras com a minha inteligência para instruir também aos outros, a dizer dez mil palavras em línguas (1 Cor 14,19). Como é difícil discernir, na prática, entre inspiração do Espírito Santo e os apelos do animador do grupo reunido, não se incentive a chamada oração em línguas e nunca se fale em línguas sem que haja intérprete." (1Cor 14,27-28).
Bastante claro, não é?  Mas onde está este intérprete que nunca aparece?
Pe. José Raimuildo Vidigal, C.Ss.R.
 Tradutor e organizador da Bíblia de Aparecida
Atual reitor da Comunidade de Santo Afonso na Tijuca/ RJ
Extraído do Jornal “O Redentor” Ano X Nº 199 – Setembro de 2012
Jornal da Paróquia Santo Afonso






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