Prezadas amigas e amigos,
O tema desta postagem é polêmico. Sempre que posso, reflito sobre ele. Para ajudar na nossa comunhão com a Igreja, estou postando uma artigo do Padre José Raimundo Vidigal, reitor da comunidade de Santo Afonso, na Tijuca. Este artigo foi publicado no informativo paroquial, chamado O Redentor.
FALAR EM LÍNGUAS
Jesus prometeu aos Apóstolos que eles falariam novas línguas e
isto aconteceu no Pentecostes, quando peregrinos de várias nações entenderam
cada qual em sua língua a pregação dos Doze (At 2,11).
A humanidade reencontrava a sua
unidade perdida em Babel (Gn 11,9).
No livro dos Atos dos Apóstolos, por
duas vezes a vinda do Espírito Santo é associada ao dom das línguas, também
chamado de "glossolalia" (10,46 e 19,6).
Mas as línguas se tornaram um
problema sério para são Paulo na igreja de Corinto. Por que?
Corinto era uma cidade cosmopolita de
500 mil habitantes, com dois portos, por onde entravam e saiam pessoas de todo
o mundo mediterrâneo. Dominada pelas religiões pagãs, nela se veneravam,
sobretudo Afrodite (Vênus), e os deuses egípcios Ísis e Osiris. Muitos
desses cultos incluíam falas misteriosas, pronunciadas em estado
extático, sons incompreensíveis, que podiam ser tanto do bem como
do mal, A situação se agravou quando isto foi introduzido nas assembleias
dos Cristãos.
Eis o que diz a Bíblia de Aparecida,
na pag. 1885; "Paulo determina regras rigorosas este carisma, que ele
coloca em último lugar em sua lista (1 Cor 12,28). E diz que prefere a palavra
compreensível, capaz de instruir, ao entusiasmo incomunicável (1Cor 14,19)".
Explicando esse texto, diz a mesma Bíblia: "Esse carisma não se destina às
assembleias. Não deveria efetivar-se em público. Paulo considera
opressão impor a glossolalia à comunidade", Pode ser que o dom ainda
exista hoje, mas cresce entre nós uma onda que parece forçar a vivência
dele, como se possuí-lo ou não possuí-lo determinasse quem é cristão perfeito e
quem não é. Chega-se ao absurdo de querer ensinar os outros a falar em
línguas! Ora, um dom não se ensina: não se pode ensinar a ter
visões, a fazer curas etc...
Mas os entendidos insistem:
“Comece dizendo laira, laira, laira,
depois você chegará a dizer frases como:
Kandala batiriushiba neganda
karuncunda yuri balaia shuman necat bariu kundt: barichá you baturi
chamini katori " .
Depois disso confessam candidamente
que nem eles sabem o que acabam de dizer.. Tais pessoas além de abusar de nossa
inteligência, mostram que ignoram o capítulo 14 da Primeira Carta de
Paulo aos Coríntios. Pois lá está no verso 9: "Se pela língua não proferis
uma palavra clara, como se pode entender o que estais dizendo? Estaríeis de
fato falando ao vento". Ora, Deus não nos dá carismas inúteis,
mas o verdadeiro carisma é para o bem da comunidade. Há quem defenda as línguas
dizendo que é uma oração secreta que o demônio não entende ... Quem garante
isso? Aliás, pouco importa se ele entende ou não o que rezamos.
Se é uma oração ao menos quem ora
deveria entendê-Ia, para que não seja como a voz de um papagaio.
Outros dizem que é a língua dos
anjos. Isto não existe. Os anjos não emitem sons, pois não têm cordas vocais,
são puro espírito; nem precisam de nosso tipo de linguagem, eles se comunicam
pelo pensamento.
Se você quer orar com palavras
inspiradas pelo próprio Deus, abra a sua Bíblia e reze os Salmos.
Não existe palavra nenhuma superior à
Bíblia, por isso podemos dizer com certeza que nenhuma oração em línguas será
mais elevada do que a Palavra de Deus que está nas Escrituras.
Agora, se você quer orar em línguas,
exatamente como Jesus ensinou a orar, com os mesmos sons por ele pronunciados,
reze o "Pai Nosso" em aramaico:
Avunan d'bishmaya yeticadash sh 'mach, tite malcutach, yehie
sevionach heicama.d'bishma; af bar'a. Hab lan lachma
d'sunchananyaomana, u 'ashvuk lan hoveinanheicama d'afenan shbaknan
Iichayoveinan, ula t'ilan linissiuna elapatsian mim bishta.
Amiyn.
Você já reparou que não existe nenhum documento da Igreja, nem
de papas nem de bispos, incentivando ou elogiando o "falar em
línguas"?
Conforme os Evangelhos, o próprio
Jesus nunca falou nem orou em línguas. Temos, sim, uma orientação dos
nossos Bispos sobre o "orar e falar em línguas", mas é uma restrição.
É o Documento 53 da CNBB sobre a RCC, que diz no nº 63:
"O apóstolo Paulo ensina:
Numa assembleia prefiro dizer cinco palavras com a minha inteligência para
instruir também aos outros, a dizer dez mil palavras em línguas (1 Cor 14,19).
Como é difícil discernir, na prática, entre inspiração do Espírito Santo e os
apelos do animador do grupo reunido, não se incentive a chamada oração em
línguas e nunca se fale em línguas sem que haja intérprete." (1Cor
14,27-28).
Bastante claro, não é? Mas onde
está este intérprete que nunca aparece?
Pe. José Raimuildo Vidigal, C.Ss.R.
Tradutor e organizador da Bíblia de Aparecida
Atual reitor da Comunidade de Santo Afonso na Tijuca/ RJ
Extraído do Jornal “O Redentor” Ano X Nº 199 – Setembro de
2012
Jornal da Paróquia Santo Afonso
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