As leituras, nos levam a refletir sobre como a comunidade cristã começou a se organizar (1ª leitura). E como será nossa morada no Reino de Deus (evangelho).
A liturgia da Palavra se abre com a passagem do livro dos Atos dos Apóstolos, onde apresenta um conflito dentro da comunidade. Jerusalém era uma cidade grande. Um centro político, econômico e religioso do seu tempo. Por ali, passavam, e viviam, pessoas de várias nacionalidades (isso está descrito no início do livro dos Atos dos Apóstolos). Algumas dessas pessoas haviam se convertido ao judaísmo. Dentre elas, com certeza, houve quem tivesse conhecido Jesus. E ainda, os que ouviam as pregações dos apóstolos e se convertiam (isso descrito no início do livro dos Atos dos Apóstolos).
Essa comunidade começou a viver um dilema e uma crise. Os cristãos de origem grega começaram a perceber que suas viúvas, seus pobres, não eram servidos como deveriam. Então, não querendo se afastar da comunidade, foram aos dirigentes e lhes puseram essa questão. Essa querela precisava ser resolvida. Não poderia haver diferenças no tratamento. Na comunidade cristã não pode haver classes sociais, divisões, classe de fiéis.
Entretanto, os apóstolos tinham uma missão específica, pregar a Palavra e fazer as orações pela comunidade. O serviço das mesas era feito pela própria comunidade. Pelo que podemos entender, já deveria existir pessoas que eram responsáveis pela distribuição do pão. A comunidade começa a ter um ordenamento de funções. Não que uma fosse superior a outra. Mas uma forma de que todas e todos pudessem ser atendidos e atendidas em suas necessidades, tanto materiais quanto espirituais.
Os apóstolos, então, propõem à comunidade de origem grega, que escolham sete homens para que pudessem exercer essa tarefa de servi-los. Os gregos se reúnem e escolhem. Sete homens de oração, de discernimento, de fé. Todos eram de origem grega. Isso porque deveriam entender as necessidades deles. Foram apresentados aos apóstolos. Estes oraram e lhes impuseram as mãos. Ou seja, deram a eles a autorização para servir as mesas no nome dos apóstolos. Associamos esse texto à escolha dos diáconos, pois a palavra grega para designar “serviço” é diácono. (Futuramente, faremos um texto falando da missão dos diáconos nos tempos modernos, onde estão, quais são as novas mesas que precisam ser servidas).
O evangelho de hoje nos apresenta o texto onde Jesus diz que vai nos preparar um lugar para ficarmos juntos dele. E que quando estiver preparado esse lugar, virá e nos levará junto com ele. Existe uma canção que diz, “o meu lugar é o céu, é lá que eu quero morar”. A instauração do Reino de Deus é o lugar para o qual estamos destinados. Crentes e não crentes. Cristãos e não cristãos. Se agirmos com humanidade, solidariedade, preocupação com os pobres, com os que passam fome e sede, com os que estão nus, encarcerados ou doentes, e acolhermos os refugiados, com certeza estaremos no caminho para a casa do Pai, pois lá existem muitas moradas.
Jesus fez uma afirmação, “na casa de meu Pai há muitas moradas”. E acrescentou, dizendo que iria nos “preparar um lugar”, e que quando tivesse preparado esse lugar, voltaria e nos levaria, afim de que estivéssemos lado dele.
Já pensou nisso? Jesus nos trata com tanto carinho que se preocupa como vamos viver no Reino do Pai, na casa do Pai. Cada um de nós temos um lugar especial, preparado pelo próprio Cristo, a pedra angular de nossa fé (2ª leitura). Da mesma forma que preparamos um lugar em nossas casas para a nossa convivência, para recebermos uma visita, Jesus nos prepara um lugar para nossa morada definitiva. Nós nos entristecemos com a partida de nossos amigos/amigas, parentes. Mas, esquecemos que quando alguém parte é porque a morada eterna já está pronta, e o senhor vem nos buscar. Creiamos! Essa é a nossa fé.
Existe uma morada. E para se chegar é preciso conhecer o caminho. E Jesus afirma que nós já sabemos o caminho. Tomé, então, contesta dizendo que não sabem para onde Jesus vai e, portanto, não conhecem o caminho. Jesus replica dizendo, “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”.
Primeiramente, a expressão “Eu sou”. Era com essa expressão que Deus era chamado no meio judaico. “Aquele que é”. Foi esse nome que Deus disse a Moisés que deveria dizer quem ele era. Portanto, Jesus é Deus, é o rosto do Pai no meio de nós. Quem viu Jesus, viu o Pai. Jesus e o Pai formam uma unidade, como nós formamos uma unidade com Jesus. Quem vê os cristãos vê Jesus. Quem vê Jesus, vê o Pai, portanto, somos nós reflexos do Pai, em Jesus.
Jesus afirma ser o Caminho. Todo caminho leva a algum lugar. No nosso caso hoje, esse caminho nos leva a morada do Pai, onde há um lugar para nós. Mas, Jesus é o caminho que leva à solidariedade, ao amor fraterno, à mudança nas relações sociais. Jesus é o Caminho concreto que nos pede mudança de vida, de atitude. Jesus é o caminho que nos liberta de todo tipo de preconceito, de racismos, de misoginia. Jesus é o caminho que aponta para a preservação da “Casa Comum”, da natureza, do meio ambiente.
Jesus é a Verdade. Essa é uma questão polêmica. Pilatos perguntou a Jesus, “mas, o que é a Verdade”? Essa é uma questão filosófica. Devemos tomar cuidado com a verdade. Normalmente, ouvimos as pessoas dizerem que cada um tem a sua verdade. Mas, cuidado! Existe uma falsa verdade (travestida de verdade) que defende a morte, o extermínio, a aniquilação de pessoas e da natureza. Isso não é verdade. A Verdade tudo perdoa, tudo espera, tudo crê, tudo suporta. A verdade não faz nada de inconveniente. Alguns poderiam dizer, mas isso São Paulo disse que era o amor, a caridade. E o que é a Verdade senão o amor-caridade? A Verdade resgata! A Verdade vai ao encontro do que estava perdido. A Verdade cura em dia de Sábado. A Verdade não condena usando regras e doutrinas. A Verdade recoloca no caminho e aponta a morada do Pai.
E por último, Jesus diz ser a Vida. Por ele ser a Vida ele pode dar a sua vida por nós. “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus irmãos”. E se somos um com ele, nossa vida deve ser oferecida também em resgate daqueles que ainda se encontram fora do Caminho, por aqueles que ainda não entenderam a Verdade que Jesus trouxe. O oposto à Vida é a morte. Sejamos portadores de Palavras de Vida. Palavras que destroem a morte. Palavras que levam ao encontro dos excluídos, dos abandonados, dos doentes, dos encarcerados, dos famintos e sedentos. Jesus deu a vida por todas e por todos, independentemente da religião que professam, ou não professam. Jesus se apresentou como gerador de vida, e vida em abundância.
Hoje somos convocados a servir a mesa das irmãs e irmãos que sofrem discriminação de qualquer espécie, que sofrem preconceitos, que são excluídos da vida. Somos chamadas e chamados a nos prepararmos para seguir no Caminho da Verdade que gera Vida e nos leva à casa do Pai, onde há muitas moradas.
Deus vos abençoe. Boa semana.
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