A humanidade sempre se pautou pelas experiências místicas. A relação com o que não se vê, mas se percebe, faz parte da essência humana.
Não importa como aconteça essa experiência de relacionamento. Ela é pessoal, intransferível, contagiante.
A nossa humanidade e presa aos acontecimentos de aqui e agora. São reais os fatos que vemos, ouvimos, tocamos. Acrescento que nossa
realidade é gustativa e olfativa. Trazemos em nós memórias. E essas passam pelos nossos sentidos. Um som traz lembranças boas (ou não); ver alguém, um objeto, uma cena nos remete a momentos bons (ou não); um jeito de abraçar, de acariciar, de acarinhar, pode nos recordar coisas boas (ou não); um "cheiro" pode lembrar um boa comida, um bom perfume, uma situação boa (ou não); um gosto, um sabor, quantas lembranças carregamos quando provamos uma boa "guloseima".
Assim, é a nossa liturgia de hoje. Ela está recheada de sensações humanas vividas pelos apóstolos, e transmitidas a nós.
Na primeira leitura (At 1,1-11), Lucas diz que já havia narrado as ações de Jesus em seu primeiro relato, o evangelho. E que agora, ele vai contar como foi a vida daqueles que foram as testemunhas oculares do ocorrido após a morte, ressurreição e ascensão do Senhor.
Logo em seguida, Lucas narra uma refeição. Local repleto de memórias. De cheiros, de gostos, de visões, de "barulhos" de conversas, de toques. Na refeição nos deixamos envolver pelas histórias do passado, olhando para o presente, nos preparando para lançarmos para o futuro. É na mesa que se dá a entrega. É na refeição que se faz libertação. É na mesa que fazemos memória celebrativa.
À mesa, podemos falar das coisas da vida. Do dia-a-dia. Daquilo que nos incomoda. Daquilo que queremos mudar. Das nossas expectativas, das nossas esperanças, das nossas frustrações, tristeza.
É numa mesa, numa refeição, que os apóstolos querem saber se Jesus vai restabelecer o reino de Israel. Percebam, eles querem se colocar no lugar de Deus. Querem determinar o tempo das coisas. Mas, Jesus é claro, não cabe saber o tempo dos acontecimentos divinos. A nós, nos cabe apenas sermos testemunhas dos acontecimentos. O tempo de Deus é de Deus. A nós, revestidos do Espírito Santo, nos é dado o "ânimo" do testemunho. Revestir-se do Espírito Santo é aceitar com alegria as dificuldades e dores, sabendo que o Pai está pronto a nos restaurar, a nos dar a vida em Cristo, a nos ressuscitar com Cristo.
A experiência humana da divindade nos leva a uma percepção maior daquilo que podemos ver com os olhos humanos. Ela nos impulsiona para uma certeza de que Deus se faz presente em nossas vidas através do espírito que abre a mente para o entendimento daquilo que estava oculto, ou que não se via com a racionalidade apenas.
Só pode subir quem desceu. Só volta, quem foi a algum lugar. Os apóstolos veem Jesus ir aos céus. Mas, só chega ao céu se se vive a humanidade dada por Deus. Jesus se tornou humano. E na sua humanidade, sofrida, ele se entregou para nos dar uma "divindade" perdida no não de Adão e de Eva.
Já é hora de partir. De anunciar. De sermos portadores de esperanças a todos e a todas que querem fazer a experiência mística do encontro com Deus. Do encontro com nossa humanidade. Do encontro com nós mesmos.
Aproveitemos a festa da Ascensão. Olhemos para dentro de nós mesmos. O que preciso fazer para ser um discípulo/discípula missionário/missionária?
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui seu comentário!