segunda-feira, 25 de março de 2019

Da Mística a Ação

A leitura do livro de Êxodo no capítulo 3 narra a experiência de Moisés diante da sarça que pega fogo e não se consome. Da leitura do evangelho da anunciação de Jesus, temos a narrativa do anjo que vem ao encontro de nossa senhora. No livro dos Atos dos Apóstolos, lemos a conversão de Paulo.

Sempre que faço a contemplação dessas cenas, me lembro das experiências míticas dos santos. Na sua grande maioria, nossos santos passaram por uma experiência extraordinária de encontro com Deus.

Essas experiências são reveladoras para nós. Primeiro, porque nos fazem ver a nossa realidade pessoal. A nossa existência. Em seguida, o quanto Deus quer que sejamos seus colaboradores no programa de anuncio de sua palavra, de sua vontade.

A cada um de nós, Deus prepara uma experiência mística. Um espaço para um encontro privado, íntimo, pessoal. Onde Ele fala à nossa inteligência, aos nossos sentimentos, às nossas vontades. Deus não busca fazer o extraordinário pelo extraordinário. O extraordinário de Deus é uma experiência dentro de nossas limitações humanas. De nossas limitações sentimentais. De nossas limitações psíquicas. É na limitação humana que Deus se revela de forma mística.

A experiência mística de Moisés é uma experiência libertadora. Deus se revela para ele como aquele que ouve a aflição dos que sofrem, e que vem ao encontro. É um Deus do Encontro.  Um Deus que quer estar junto, próximo dos que sofrem, que são rejeitados, que estão jogados na sarjeta, esquecidos, excluídos, “sobrados”.

A experiência mística de Moisés desafia sua inteligência, sua formação intelectual egípcia. Como alguma coisa pode pegar fogo e não se consumir? Esse fenômeno aguça a inteligência dele. Tal como os astrônomos que seguiram a estrela que levou até Jesus. 

Da experiência mística do arbusto que queima, mas não se consome, Deus chama Moisés para libertar aqueles que sofrem. A experiência mística precisa ser concreta. Ela deve levar a uma missão. A mística não nos esconde. Envia-nos.

Maria tem uma experiência mística que fala ao coração humano. É uma experiência mística dos sentimentos. Ela fica surpresa com que está acontecendo. Maria não esperava que aquilo acontecesse. Mas ela deixa-se envolver pelas palavras do anjo. Ouve o que ele tem a lhe dizer. Interpela-o. Mesmo sendo alguém de tenra idade, Maria não é boba. Sabe como deve ser feito para se engravidar. Há um mistério. E esse precisa ser esclarecido, “eu não conheço homem algum”. 

A experiência mística de Maria leva a uma nova presença de Deus em sua vida. Um Deus que vem ao encontro da humanidade. Um Deus que se revela humano. Um Deus que se faz Deus Conosco, “Emanuel”. Se é para Deus ser Deus da humanidade, sentir as dores do mundo, “faça-se em mim segundo a tua vontade”.

E por último, Paulo. Perseguidor. Homem culto. Das letras. Compreendia, falava e escrevia hebraico, latim, grego. Conhecia o mundo. Tinha dupla cidadania. Era um homem profundamente religioso. Temente a Deus dentro de sua concepção religiosa. Era fariseu convicto. Mas também, cidadão romano. Um perseguidor dos cristãos.

Paulo tinha uma ânsia de Deus. Uma vontade de se entregar. De ser fiel. Encontra-se com o Senhor a caminho da perseguição. Paulo tinha suas convicções religiosas. Sua experiência mística o jogou no chão. Suas certezas foram transformadas em pó. Não se via mais nada. Cegou. Foi ao chão. Caiu por terra aquilo que antes era uma garantia espiritual, religiosa. A segurança da fé.

A experiência mística de Paulo o colocou em contato com quem ele perseguia. A partir desse momento, Paulo passa a ser perseguido. A experiência mística não nos livra dos sofrimentos. A experiência de Paulo nos mostra que o sofrimento faz parte do encontro com o Cristo, mas que “tudo posso naquele que me fortalece”. Esse apóstolo terá outras expressões que nos revelam sua experiência mística: “quando sou fraco é que sou forte”; “vou me gabar de minhas fraquezas”. E sim, muitas outras. A experiência mística não serve para nos exaltarmos, mas para saber que tudo está nas mãos de Deus.

De nossa experiência mística possamos ser guias para a libertação de outros (Moisés); para dizermos sim ao projeto de Deus em nossas vidas (Maria), e nos sentirmos fortalecidos em nossa fraqueza (Paulo).

Existem muitos outros exemplos. Quem sabe um dia refletiremos sobre eles. Por hora, fiquemos com esses três, e faço nossa experiência mística.

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