quarta-feira, 27 de março de 2019

Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus

Do Livro A Autólico, de São Teófilo de Antioquia, bispo
(Lib. 1,2.7:PG6,1026-1027.1035)
(Séc.II)

Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus

Se me disserem: “Mostra-me o teu Deus”, dir-te-ei: “Mostra-me o homem que és e eu te mostrarei o meu Deus”. Mostra, portanto, como vêem os olhos de tua mente e como ouvem os ouvidos de teu coração. Os que vêem com os olhos do corpo, percebem o que se passa nesta vida terrena, e observam as diferenças entre a luz e as trevas, o branco e o preto, o feio e o belo, o disforme e o formoso, o que tem proporções e o que é sem medida, o que tem partes a mais e o que é incompleto; o mesmo se pode dizer no que se refere ao sentido do ouvido: sons agudos, graves ou harmoniosos. Assim também acontece com os ouvidos do coração e com os olhos da alma, no que diz respeito à visão de Deus.
Na verdade, Deus é visível para aqueles que são capazes de vê-lo, porque mantêm abertos os olhos da alma. Todos têm olhos, mas alguns os têm obscurecidos e não vêem a luz do sol. E se os cegos não vêem, não é porque a luz do sol deixou de brilhar; a si mesmos e a seus olhos é que devem atribuir a falta de visão. É o que ocorre contigo: tens os olhos da alma velados pelos teus pecados e tuas más ações.
O homem deve ter a alma pura, qual um espelho reluzente. Quando o espelho está embaçado, o homem não pode ver nele o seu rosto; assim também, quando há pecado no homem, não lhe é possível ver a Deus. Mas, se quiseres, podes ficar curado. Confia-te ao médico e ele abrirá os olhos de tua alma e de teu coração. Quem é este médico? É Deus, que pelo seu Verbo e Sabedoria dá vida e saúde a todas as coisas. Foi por seu Verbo e Sabedoria que Deus criou o universo: A Palavra do Senhor criou os céus, e o sopro de seus lábios, as estrelas (Sl 32,6). Sua Sabedoria é infinita. Com a sua Sabedoria, Deus fundou a terra; com a sua inteligência consolidou os céus; com sua ciência foram cavados os abismos e as nuvens derramaram o orvalho.
Se compreenderes tudo isto, ó homem, se a tua vida for santa, pura e justa, poderás ver a Deus. Se deres preferência em teu coração à fé e ao temor de Deus, então compreenderás. Quando te libertares da condição mortal e te revestires da imortalidade, então serás digno de ver a Deus. Sim, Deus ressuscitará o teu corpo, tornando-o imortal como a tua alma; e então, feito imortal, tu verás o que é Imortal, se agora acreditares nele.

segunda-feira, 25 de março de 2019

Da Mística a Ação

A leitura do livro de Êxodo no capítulo 3 narra a experiência de Moisés diante da sarça que pega fogo e não se consome. Da leitura do evangelho da anunciação de Jesus, temos a narrativa do anjo que vem ao encontro de nossa senhora. No livro dos Atos dos Apóstolos, lemos a conversão de Paulo.

Sempre que faço a contemplação dessas cenas, me lembro das experiências míticas dos santos. Na sua grande maioria, nossos santos passaram por uma experiência extraordinária de encontro com Deus.

Essas experiências são reveladoras para nós. Primeiro, porque nos fazem ver a nossa realidade pessoal. A nossa existência. Em seguida, o quanto Deus quer que sejamos seus colaboradores no programa de anuncio de sua palavra, de sua vontade.

A cada um de nós, Deus prepara uma experiência mística. Um espaço para um encontro privado, íntimo, pessoal. Onde Ele fala à nossa inteligência, aos nossos sentimentos, às nossas vontades. Deus não busca fazer o extraordinário pelo extraordinário. O extraordinário de Deus é uma experiência dentro de nossas limitações humanas. De nossas limitações sentimentais. De nossas limitações psíquicas. É na limitação humana que Deus se revela de forma mística.

A experiência mística de Moisés é uma experiência libertadora. Deus se revela para ele como aquele que ouve a aflição dos que sofrem, e que vem ao encontro. É um Deus do Encontro.  Um Deus que quer estar junto, próximo dos que sofrem, que são rejeitados, que estão jogados na sarjeta, esquecidos, excluídos, “sobrados”.

A experiência mística de Moisés desafia sua inteligência, sua formação intelectual egípcia. Como alguma coisa pode pegar fogo e não se consumir? Esse fenômeno aguça a inteligência dele. Tal como os astrônomos que seguiram a estrela que levou até Jesus. 

Da experiência mística do arbusto que queima, mas não se consome, Deus chama Moisés para libertar aqueles que sofrem. A experiência mística precisa ser concreta. Ela deve levar a uma missão. A mística não nos esconde. Envia-nos.

Maria tem uma experiência mística que fala ao coração humano. É uma experiência mística dos sentimentos. Ela fica surpresa com que está acontecendo. Maria não esperava que aquilo acontecesse. Mas ela deixa-se envolver pelas palavras do anjo. Ouve o que ele tem a lhe dizer. Interpela-o. Mesmo sendo alguém de tenra idade, Maria não é boba. Sabe como deve ser feito para se engravidar. Há um mistério. E esse precisa ser esclarecido, “eu não conheço homem algum”. 

A experiência mística de Maria leva a uma nova presença de Deus em sua vida. Um Deus que vem ao encontro da humanidade. Um Deus que se revela humano. Um Deus que se faz Deus Conosco, “Emanuel”. Se é para Deus ser Deus da humanidade, sentir as dores do mundo, “faça-se em mim segundo a tua vontade”.

E por último, Paulo. Perseguidor. Homem culto. Das letras. Compreendia, falava e escrevia hebraico, latim, grego. Conhecia o mundo. Tinha dupla cidadania. Era um homem profundamente religioso. Temente a Deus dentro de sua concepção religiosa. Era fariseu convicto. Mas também, cidadão romano. Um perseguidor dos cristãos.

Paulo tinha uma ânsia de Deus. Uma vontade de se entregar. De ser fiel. Encontra-se com o Senhor a caminho da perseguição. Paulo tinha suas convicções religiosas. Sua experiência mística o jogou no chão. Suas certezas foram transformadas em pó. Não se via mais nada. Cegou. Foi ao chão. Caiu por terra aquilo que antes era uma garantia espiritual, religiosa. A segurança da fé.

A experiência mística de Paulo o colocou em contato com quem ele perseguia. A partir desse momento, Paulo passa a ser perseguido. A experiência mística não nos livra dos sofrimentos. A experiência de Paulo nos mostra que o sofrimento faz parte do encontro com o Cristo, mas que “tudo posso naquele que me fortalece”. Esse apóstolo terá outras expressões que nos revelam sua experiência mística: “quando sou fraco é que sou forte”; “vou me gabar de minhas fraquezas”. E sim, muitas outras. A experiência mística não serve para nos exaltarmos, mas para saber que tudo está nas mãos de Deus.

De nossa experiência mística possamos ser guias para a libertação de outros (Moisés); para dizermos sim ao projeto de Deus em nossas vidas (Maria), e nos sentirmos fortalecidos em nossa fraqueza (Paulo).

Existem muitos outros exemplos. Quem sabe um dia refletiremos sobre eles. Por hora, fiquemos com esses três, e faço nossa experiência mística.

domingo, 24 de março de 2019

"Venho procurando figos nesta figueira e nada encontro"

Lucas 13,1-9
1Naquele tempo, vieram algumas pessoas trazendo notícias a Jesus a respeito dos galileus que Pilatos tinha matado, misturando seu sangue com o dos sacrifícios que ofereciam.  2Jesus lhes respondeu:'Vós pensais que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus, por terem sofrido tal coisa? 3Eu vos digo que não. Mas se vós não vos converterdes, ireis morrer todos do mesmo modo. 4E aqueles dezoito que morreram, quando a torre de Siloé caiu sobre eles? Pensais que eram mais culpados do que todos os outros moradores de Jerusalém? 5Eu vos digo que não. Mas, se não vos converterdes, ireis morrer todos do mesmo modo.' 6E Jesus contou esta parábola: 'Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha. Foi até ela procurar figos e não encontrou. 7Então disse ao vinhateiro: 'Já faz três anos que venho procurando figos nesta figueira e nada encontro. Corta-a! Por que está ela inutilizando a terra?' 8Ele, porém, respondeu: 'Senhor, deixa a figueira ainda este ano. Vou cavar em volta dela e colocar adubo. 9Pode ser que venha a dar fruto. Se não der, então tu a cortarás.'

Temos três episódios na leitura desse evangelho.
Primeiro, galileus mortos por Pilatos. Segundo, a torre de Siloé. Terceiro, a figueira.
Na primeira parte, podemos olhar através de nossa realidade, poderíamos dizer, uma chacina, um desastre.
Quando acontecem esses eventos, logo perguntamos, "Onde estava Deus"? Além disso, parece aquelas pessoas que digam, "você viu o que aconteceu na Galileia"? Quantos foram mortos"? "Essa gente não prestava mesmo"!
Na segunda cena, a torre de Siloé. Uma tragédia, quanta tantas outras que acontecem em nossos dias. 
Esses dois fatos são comuns e corriqueiros em nossos dias. Não estão ligados a castigos divinos. Não. Diferentemente, da morte de Jesus.
A terceira cena, da figueira, mostra a misericórdia divina.
Durante três anos, o dono figueira tentava colher algum fruto daquela árvore. E não conseguia. Nada lhe dava aquela árvore. Só ocupava espaço. Sugava os nutrientes da terra. Consumia água. Não produzia nada.
O dono daquela figueira, então, decide cortá-la.
Entretanto, o vinhateiro, acreditando no potencial daquela planta, pede mais uma oportunidade ao seu senhor para fazer aquela planta frutificar. O dono da figueira acata o pedido.
Ficamos olhando a planta. Mas, quem é esse vinhateiro? Surpreendam-se, é o próprio Deus, que sempre acredita nas suas criaturas.
Deus nos trata com carinho. Nos consola. Nos dá a sua Palavra. Dá-nos a água viva.
Deus acredita em cada um de nós, apesar de nossos pecados. De nossas falhas. De nossos erros. Ele sempre espera de nós coisas boas. Somos feitos a sua imagem e semelhança, devemos resplandecer esse filiação divina.
Para que possamos dar bons frutos é preciso Oração, Jejum e Caridade. 
Reflita. Medite. Ore.
Quais frutos tenho dado?
Para nos ajudar, complete a leitura de hoje com Gálatas 5,22-23.
Deus lhe abençoe.

Oremos
Ó Deus, fonte de toda misericórdia e de toda bondade, vós nos indicastes o jejum, a esmola e a oração como remédio contra o pecado. Acolhei esta confissão da nossa fraqueza para que, humilhados pela consciência de nossas faltas, sejamos confortados pela vossa 
misericórdia. Por nosso Senhor Jesus Cristo,
vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

domingo, 17 de março de 2019

"Somos cidadãos do céu"!

São Paulo aos Filipenses 3,17 -4,1

17Sede meus imitadores, irmãos e observai os que vivem de acordo com o exemplo que nós damos.

18Já vos disse muitas vezes, e agora o repito, chorando: há muitos por aí que se comportam como inimigos da cruz de Cristo.

19O fim deles é a perdição, o deus deles é o estômago, a glória deles está no que é vergonhoso e só pensam nas coisas terrenas. 

20Nós, porém, somos cidadãos do céu. De lá aguardamos o nosso Salvador, o Senhor, Jesus Cristo.

21Ele transformará o nosso corpo humilhado e o tornará semelhante ao seu corpo glorioso, com o poder que tem de sujeitar a si todas as coisas.

4,1Assim, meus irmãos, a quem quero bem e dos quais sinto saudade, minha alegria, minha coroa, meus amigos, continuai firmes no Senhor.

sexta-feira, 8 de março de 2019

Sou mulher: forte, guerreira!

Hoje, dia internacional da mulher. Eu poderia escrever um texto sobre o tema. Poderia fazer um levantamento sobre as mulheres da Bíblia.
Entretanto, tendo um vasto material na internet, optei por partilhar alguns links.
Espero que você faça sobre proveito da vida dessas mulheres na Sagrada Escritura. 

https://www.bibliaon.com/grandes_mulheres_da_biblia/

https://formacao.cancaonova.com/afetividade-e-sexualidade/afetividade-feminina/caracteristicas-de-algumas-mulheres-virtuosas-da-biblia/

https://www.altoastral.com.br/licoes-mulheres-biblia-sagrada/

quinta-feira, 7 de março de 2019

"renovar-se a cada dia para evitarmos a ferrugem".

Dos Sermões de São Leão Magno, papa
(Sermo 6 de Quadragesima, 1-2: PL 54,285-287)(Séc. V)

A purificação espiritual por meio do jejum e da misericórdia

Em todo tempo, amados filhos, a terra está repleta da misericórdia do Senhor(Sl 32,5).

À própria natureza é para todo fiel uma lição que o ensina a louvar a Deus, pois o céu, a terra, o mar e tudo o que neles existe proclamam a bondade e a onipotência de seu Criador; e a admirável beleza dos elementos postos a nosso serviço requer da criatura racional uma justa ação de graças.

O retorno, porém, desses dias.que os mistérios da salvação humana marcaram de modo mais especial e que precedem imediatamente a festa da Páscoa, exige que nos preparemos com maior cuidado por meio de uma purificação espiritual.

Na verdade, é próprio da solenidade pascal que a Igreja inteira se alegre com o perdão dos pecados. Não é apenas nos que renascem pelo santo batismo que ele se realiza, mas também naqueles que desde há muito são contados entre os filhos adotivos.

É, sem dúvida, o banho da regeneração que nos torna criaturas novas; mas todos têm necessidade de se renovar a cada dia para evitarmos a ferrugem inerente à nossa condição mortal, e não há ninguém que não deva se esforçar para progredir no caminho da perfeição; por isso, todos sem exceção, devemos empenhar-nos para que, no dia da redenção, pessoa alguma seja ainda encontrada nos vícios do passado.

Por conseguinte, amados filhos, aquilo que cada cristão deve praticar em todo tempo, deve praticá-lo agora com maior zelo e piedade, para cumprir a prescrição, que remonta aos apóstolos, de jejuar quarenta dias, não somente reduzindo os alimentos, mas sobretudo abstendo-se do pecado.

A estes santos e razoáveis jejuns, nada virá juntar-se com maior proveito do que as esmolas. Sob o nome de obras de misericórdia, incluem-se muitas e louváveis ações de bondade; graças a elas, todos os fiéis podem manifestar igualmente os seus sentimentos, por mais diversos que sejam os recursos de cada um.

Se verdadeiramente amamos a Deus e ao próximo, nenhum obstáculo impedirá nossa boa vontade. Quando os anjos cantaram: Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade (Lc 2,14), proclamavam bem-aventurado, não só pela virtude da benevolência mas também pelo dom da paz, todo aquele que, por amor, se compadece do sofrimento alheio.

São inúmeras as obras de misericórdia, o que permite aos verdadeiros cristãos tomar parte na distribuição de esmolas, sejam eles ricos, possuidores de grandes bens, ou pobres, sem muitos recursos. Apesar de nem todos poderem ser iguais na possibilidade de dar, todos podem sê-lo na boa vontade que manifestam.