sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Serviu o sagrado Sangue de Cristo

Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo 

(Sermo 304,1-4: PL 38,1395-1397)
(Séc.V)

A Igreja Romana apresenta-nos hoje o dia glorioso de São Lourenço quando ele calcou o furor do mundo, desprezou sua sedução e num e noutro modo venceu o diabo perseguidor. Nesta mesma Igreja – ouvistes muitas vezes – Lourenço exercia o ministério de diácono. Aí servia o sagrado sangue de Cristo; aí, pelo nome de Cristo, derramou seu sangue. O santo apóstolo João expôs claramente o mistério da ceia ao dizer: Como Cristo entregou sua vida por nós, também nós devemos entregar as nossas pelos irmãos (1Jo 3,16). São Lourenço, irmãos, entendeu isto; entendeu e fez; e da mesmíssima forma como recebeu daquela mesa, assim a preparou. Amou a Cristo em sua vida, imitou-o em sua morte.

Também nós, irmãos, se de verdade amamos, imitemos. Não poderíamos produzir melhor fruto de amor do que o exemplo da imitação; Cristo sofreu por nós, deixando-nos o exemplo para seguirmos suas pegadas (1Pd 2,21). Nesta frase, parece que o apóstolo Pedro quer dizer que Cristo sofreu apenas por aqueles que seguem suas pegadas e que a morte de Cristo não aproveita senão àqueles que caminham em seu seguimento. Seguiram-no os santos mártires até à efusão do sangue, até à semelhança da paixão; seguiram-no os mártires, porém não só eles. Depois que estes passaram, a ponte não foi cortada; ou depois que beberam, a fonte não secou.

Tem, irmãos, tem o jardim do Senhor não apenas rosas dos mártires; tem também lírios das virgens, heras dos casados, violetas das viúvas. Absolutamente ninguém, irmãos, seja quem for, desespere de sua vocação; por todos morreu Cristo. Com toda a verdade, dele se escreveu: Que quer salvos todos os homens, e que cheguem ao conhecimento da verdade (1Tm 2,4).

Compreendamos, portanto, como pode o cristão seguir Cristo além do derramamento de sangue, além do perigo de morte. O Apóstolo diz, referindo-se ao Cristo Senhor: Tendo a condição divina, não julgou rapina ser igual a Deus. Que majestade! Mas aniquilou-se, tomando a condição de escravo, feito semelhante aos homens e reconhecido como homem (Fl 2,7-8). Que humildade!

Cristo humilhou-se: aí tens, cristão, a que te apegar. Cristo se humilhou: por que te enches de orgulho? Em seguida, terminada a carreira desta humilhação, lançada por terra a morte, Cristo subiu ao céu; sigamo-lo. Ouçamos o Apóstolo: Se ressuscitastes com Cristo, descobri o sabor das realidades do alto, onde Cristo está assentado à destra de Deus (Cl 3,1).

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Falava com Deus ou de Deus

De escritos diversos da História da Ordem dos Pregadores 

(Libelus de principis O.P.: Acta canonizationis sancti Dominici: Monumenta O. P. Mist. 16, Romae 1935, pp. 30s.,146-147) 
(Séc. XIII) 

Domingos possuía tão grande nobreza de comportamento, e o ímpeto do divino fervor tanto o arrebatava que, sem dificuldade, era reconhecido como vaso de honra e de graça. Possuía serenidade de espírito extremamente constante,a não ser que a compaixão e a misericórdia a turbassem; e visto que o coração jubiloso alegra o semblante, revelava exteriormente a placidez do homem interior pela benignidade visível e alegria do rosto.

Em toda parte, mostrava-se homem evangélico por palavras e atos. Durante o dia, com os irmãos e companheiros, ninguém mais simples, ninguém mais agradável. À noite, ninguém mais vigilante, nem mais insistente de todos os modos na oração. Falava raramente; vivia com Deus na oração, e sobre isto exortava seus irmãos.

Havia um pedido a Deus que lhe era freqüente e especial: que lhe concedesse a verdadeira caridade, eficaz em atender e em favorecer a salvação dos homens. Assim fazia porque julgava que só seria verdadeiramente um bom membro de Cristo, quando se entregasse totalmente à salvação dos homens, como o Salvador de todos, o Senhor Jesus, que se ofereceu todo para nossa salvação. Para este fim, após madura e demorada deliberação, fundou a Ordem dos Frades Pregadores.

Exortava constantemente por palavras e por escrito os irmãos desta Ordem a que sempre se aplicassem ao Novo e ao Antigo Testamento. Trazia sempre consigo o evangelho de Mateus e as epístolas de São Paulo; lia-os tanto, a ponto de sabê-los quase de cor.

Por duas ou três vezes, eleito bispo, recusou sempre, preferindo viver na pobreza com os irmãos a possuir um episcopado. Guardou ilibada até o fim a limpidez de sua virgindade. Desejava ser flagelado, ser cortado em pedaços e morrer pela fé cristã. Dele afirmou Gregório IX: “Conheci um homem, que seguiu em tudo o modo de vida dos apóstolos; não há dúvida de que esteja unido nos céus à glória dos mesmos apóstolos”.

terça-feira, 7 de agosto de 2018

Tríduo São Lourenço, Diácono e Mártir - Primeiro Dia


1. Hino
No mártir São Lourenço 
a fé, em luta armada, 
venceu feroz batalha, 
no sangue seu banhada.

Primeiro dos levitas 
que servem no altar, 
serviu em grau mais alto,
o mártir modelar. 

Lutando com coragem, 
não cinge a sua espada, 
mas cinge, pela fé, 
couraça mais sagrada. 

Louvamos teu martírio, 
Lourenço, santo irmão, 
pedindo que da Igreja 
escutes a oração. 

Eleito cidadão
do céu, país da luz, 
já cinges a coroa 
da glória, com Jesus. 

Louvor ao Pai e ao Filho, 
e ao seu eterno Amor. 
Dos Três, por tuas preces, 
vejamos o fulgor.

2. Saudação e invocação a Trindade
Dirig. Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.
T. Amém.

3. Dirig. Irmãos, e irmãs, hoje nos reunimos para preparar os nossos corações para a Festa de São Lourenço. Vamos conhecer quem é este santo que está incluído no martiriológio da Igreja Romana.

4. Breve histórico de São Lourenço
Leitor 1. O Diácono Lourenço, de origem espanhola, foi levado a Roma pelo bem-aventurado Sisto II.
Leitor 2. Em Roma, nosso Diácono foi incubido de administrar os bens da Igreja e socorrer os pobres que eram mantidos pela mesma.
Leitor 1. O cruel imperador Valeriano, determinou uma acirrada perseguição a Igreja, seus bispos, sacerdotes e diáconos, e uma das primeiras vítimas foi o Papa Sisto II, este sofreu o martírio em 258.
Leitor 2. Lourenço acompanhou-o até o lugar do suplício, e com os olhos marejados de lágrimas disse-lhe: “Meu pai, para onde vás sem vosso filho? Para onde o Santo Padre, sem o vosso diácono? Jamais oferecestes o sacrifício, sem que eu vos acolitasse? Em que vos desagradei? Encontrastes em mim alguma infidelidade?” O Papa, comovido com estas palavras de dedicação filial, respondeu:
Todos: “Não te abandono, meu filho! Deus reservou-te provação maior e vitória mais brilhante, pois és jovem e forte; velhice e fraqueza fazem com que tenham pena de mim; daqui a três dias me seguirás.”
Leitor 1. Tendo assim falado, deu ao jovem diácono instruções sobre os tesouros da Igreja, aconselhando que os repartisse entre os pobres.
Leitor 2. Lourenço atento à solicitação do Santo Padre, procurou todos os pobres, viúvas e órfãos da Igreja e entre eles repartiu o dinheiro que havia.
Leitor 1. Objetos de outro, prata, como pedras preciosas, vasos sagrados de grande valor, tudo foi vendido e com o dinheiro sustentou os milhares de pobres da Igreja.
Leitor 2. Quando o prefeito da cidade teve conhecimento dos grandes tesouros da Igreja e de que Lourenço era o administrador, mandou chamá-lo em sua presença e disse-lhe:
Todos: “Nada de ti exijo, que não seja possível realizar. Soube que vossos sacerdotes se servem em vasos de ouro e prata em vossas celebrações e que usais velas de cera, colocadas em castiçais de ouro. Soube, também, que vossa Igreja ordena dar a Cesar o que é de Cesar; trazei-me, pois, todos estes objetos, de que o imperador precisa.”
Leitor 1. “É verdade, - replicou Lourenço, - a Igreja é rica, mais rica que o Imperador. Concedei-me o prazo necessário, e tudo será arranjado em tempo.”
Leitor 2. O Prefeito supondo tratar-se de riquezas materiais deu-lhe de boa vontade o prazo de três dias.
Leitor 1. Lourenço correndo contra o tempo, foi ao encontro de todos os pobres, viúvas, órfãos, cegos, surdos, mudos, paralíticos, peregrinos e desamparados, para que no terceiro dia estivessem todos à porta da Igreja.
Leitor 2. No dia e hora marcados, todos em grande multidão, compareceram à porta da Igreja. Lourenço convidou o Prefeito para inspecionar os tesouros da Igreja e apontou para a multidão reunida:
Todos: “Eis os tesouros da Igreja : os míseros que levam com resignação a cruz de cada dia, carregam o ouro da virtude; são as almas prediletas do Senhor que valem muito mais que pedras preciosas.”
Leitor 1. O Prefeito vendo-se enganado e iludido, cheio de ódio falou:
Todos: “É assim que te atreves a ludibriar as Autoridades Reais Romanas? Miserável! Se o teu desejo é morrer, pois bem, hás de morrer, mas uma morte longa e cruel.” Deu a ordem para que Lourenço fosse cruelmente açoitado.
Leitor 2. Finalmente mandou que trouxessem uma grelha, que foi posta sobre brasas.
Leitor 1. O Santo foi despido e colocado sobre a grelha incandescente.
Leitor 2. Santo Ambrósio escreveu que seu rosto brilhava como um fogo divino, e de seu corpo exalava um suave perfume que inebriava a todos.
Leitor 1. Lourenço demostrava uma paz inigualável; seus lábios esboçavam um discreto sorriso; e com mansidão disse ao Juiz:
Todos: “Se desejares, podeis dar ordem para que me virem, pois já estou bastante assado deste lado!”
Leitor 2. O Santo mártir rezava pela conversão de Roma, cidade eterna regada com o sangue dos apóstolos Pedro e Paulo. Seus últimos momentos foram de louvor e adoração; era o dia 10 de agosto de 258.
Leitor 1. São Prudêncio era da opinião que a conversão de Roma, foi fruto do martírio de São Lourenço.
Leitor 2. São Leão assim expressou seu martírio: “As chamas não puderam vencer a caridade de Cristo; e o fogo que queimava por fora foi mais fraco do que aquele que lhe ardia por dentro”.
Todos: Que o exemplo de São Lourenço nos inspire sempre a pratica da caridade verdadeira e perfeita.(fonte: http://marcioreiser.blogspot.com.br/2009/08/sao-lourenco.html

5. Pregação.
O diácono, escolhido pela Comunidade – At. 6,1-7. “Escolhei sete homens dentre vós...”.

6. Oração de São Francisco
Senhor, fazei-me instrumento da vossa paz
Onde houver ódio, que eu leve o amor
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão
Onde houver discórdia, que eu leve a união
Onde houver dúvida, que eu leve a fé
Onde houver erro, que eu leve a verdade
Onde houver desespero, que eu leve a esperança
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó mestre, fazei que eu procure mais consolar do que ser consolado
Compreender do que ser compreendido
Amar que ser amado
Pois, é dando que se recebe
É perdoando que se é perdoado;
E morrendo que se vive
Para a vida eterna

7. Rezemos a oração que o Senhor nos ensinou
Pai nosso...

8. Oração Final
Dirig. O Senhor esteja convosco.
T: Ele está no meio de nós.
Dirig. Ó Deus, o vosso diácono Lourenço, inflamado de amor por vós, brilhou pela fidelidade no vosso serviço e pela glória do martírio; concedei-nos amar o que ele amou e praticar o que ensinou. Por nosso Senhor jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.
Dirig. Ide em paz, e o Senhor vos acompanhe.

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Sobre não ter fome, sobre não ter sede


35Jesus lhes disse: “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede” (Jo. 6.).
No evangelho da semana passada (Jo. 6,1-15), Jesus deu de comer a uma multidão de mais de 5 mil pessoas, tendo apenas cinco pães e dois peixes.  Realizou o milagre da multiplicação.
Hoje, Ele se identifica com o próprio pão. Com o próprio alimento que sacia a fome da alma.
É preciso avançar “para águas mais profundas”, ir além do alimento, meramente.
Jesus é a justiça de Deus. Ele veio a nós para que não mais estivéssemos condenados, mas para nos libertar das garras do mal, da injustiça, do maligno, do pecado. Ele se declarou sendo a verdade (o caminho, a vida). E o que é a verdade? Como nos libertamos das amarrar do pecado e da injustiça.
Primeiramente, entendendo que a palavra de Deus é um conjunto, e não partes. Jesus declarou que toda/todo que for até ele “não terá mais fome” e não terá sede. No sermão da Montanha, ele disse, “Felizes os que tem fome e sede de justiça, porque serão saciado” (Mt. 5,6). A fome e a sede que Jesus sacia é uma fome e sede de mudanças nas relações sociais. Uma fome/sede que está atenta ao sofrimento dos outros.
Ao nos alimentarmos do corpo do Senhor, e ao bebermos o seu sangue, estamos nos tornando um outro Cristo nos meio do mundo. Devemos trabalhar para mudar as relações sociais. Diz uma música “comungar é tornar-se um perigo, viemos para incomodar”, tal como fez Teresa de Calcutá. Ela incomodou a sociedade de castas indiana. E mexeu com o mundo com sua obra de caridade motivada pelo amor a Jesus. Trabalhava por Jesus, por aquilo que ele dizia nos evangelhos. Evangelizou com ações, mas do que com palavras. Palavras o vento leva. Ações marcam e ficam. Palavras tomam tempo. Ações demonstram o carinho que Deus tem por nós. Façamos de nossas vidas uma verdadeira liturgia diária. Que não haja mais fome, nem sede.