sábado, 9 de dezembro de 2017

Dez anos de serviço à Palavra, à Caridade e à Liturgia

Hoje eu completo dez anos de ordenação diaconal. Muitas pessoas sempre me perguntam por que quis ser diácono, ou, porque ser diácono se você pode fazer as mesmas coisas sendo leigo. Essas perguntas me perseguem desde então.
Ao tentar responde-las, busco oração e estudo sobre a vocação diaconal. O que espera Deus e a Igreja dos Diáconos? Somos necessários? O que devemos fazer? Devemos ser vistos pelo que somos, ou pelo que fazemos?
As respostas vão aparecendo aos poucos. Às vezes, vou até as raízes, a Sagrada Escritura. Em outros momentos, consulto os documentos da Igreja. Tentando buscar uma resposta, uma resposta para os outros. E por que não dizer, para mim também?
Em cada grau do Sacramento da Ordem há algo que o representa. No caso dos diáconos é a entrega do Livro dos Evangelhos. Diz o rito que “os ordenados, com a veste diaconal, aproximam-se do Bispo e ajoelham-se diante dele; o Bispo lhes entrega o Livro dos Evangelhos. Os diáconos receberão o Livro dos Evangelhos, ao qual deverá Conformar a sua vida, anunciando-o com fidelidade e profunda autenticidade”.
Desta introdução, destaco a “veste diaconal”, o ajoelhar-se diante do Bispo, o recebimento do “Livro dos Evangelhos”, o “Conformar” a vida ao Evangelho, o anunciar com “fidelidade e profunda autenticidade”.
Ao receber o “Livro dos Evangelhos” revestido com a “veste diaconal”, a Igreja mostra a toda comunidade que o Diácono é o Ministro da Palavra. E mais ainda, que ele deverá “conformar” (fazer-se da mesma forma) sua vida com o Evangelho. E assim, anunciar com “fidelidade e autenticidade”. Mas uma autenticidade profunda. Na raiz da vida. Na essência.
Essas são as palavras do Bispo: “Recebe o Evangelho de Cristo, do qual foste constituído mensageiro; transforma em fé viva o que leres, ensina aquilo que creres e procura realizar o que ensinares”. Mais do que um Rito, receber o Livro dos Evangelhos faz com que o Diácono se torne seu mensageiro. E aí, vamos aos livros das Sagradas Escrituras para encontrarmos a fundamentação bíblica desse rito.
Inicialmente, lembro a passagem de Lucas 4,18-19: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos, e para proclamar um ano de graça do Senhor”. Jesus diz qual a sua missão. Toda vez que o diácono se aproxima da mesa da Palavra e proclama a Palavra de Salvação, essa passagem da Escritura se cumpre.
Lembro ainda, Santo Estêvão, que “cheio do Espírito Santo” profere o discurso que o levaria a morte. Uma pregação que anunciou a “boa nova”, e por isso, foi condenado a morte. Em seguida, outro diácono, Felipe explica ao eunuco a palavra de Deus (At. 8,26ss). Fora chamado de o Evangelista por Paulo (Atos 21,8).
Os bispos da Igreja Católica, por inspiração do Espírito Santo, sentiram a necessidade de restabelecer o Diaconato como grau Permanente do Sacramento da Ordem. Tiraram a transitoriedade do Diaconato. Sentiram a necessidade de ter a visibilidade de uma Igreja que fosse ministerial, e não apenas sacerdotal.
A Constituição Dogmática Lumen Gentiun, que fala sobre a Igreja, afirma no número 29 que “confortados pela graça sacramental, servem o povo de Deus no serviço (diaconia) da liturgia, da palavra e da caridade”. E acrescenta que “pertence ao diácono (...) administrar o batismo solene, conservar e distribuir a eucaristia, assistir e abençoar em nome da Igreja aos matrimônios, levar o viático aos moribundos, ler a Sagrada Escritura aos fiéis, instruir e exortar o povo, presidir ao culto e à oração dos fiéis, administrar os sacramentais, presidir os ritos funerais e da sepultura”.
Nas “Normas Fundamentais para a Formação dos Diáconos Permanentes”, lemos que “a espiritualidade do serviço é uma espiritualidade de toda a Igreja (...) e para que toda a Igreja possa viver melhor esta espiritualidade é que o Senhor lhe dá um sinal vivo e pessoal do seu próprio ser de servo. Por isso, de modo específico, ela é a espiritualidade do diácono. (...) Mediante a sagrada ordenação, é constituído na Igreja ícone vivo de Cristo servo” (11).
O “Diretório do Ministério e da Vida dos Diáconos Permanentes”, afirma que o “diácono (...) deve conhecer a cultura, as aspirações e os problemas do seu tempo. (...) Ele é chamado neste contexto a ser sinal vivo de Cristo Servo e ao mesmo tempo é chamado a assumir a missão da Igreja de ‘investigar a todo o momento os sinais dos tempos, interpretá-los à luz do Evangelho, para que assim possa responder, de modo adaptado em cada geração, às eternas perguntas dos homens a cerca do sentido da vida presente e da futura e da relação entre ambas’” (43).
O documento de Aparecida reforça e diz que os diáconos permanentes são “fortalecidos, em sua maioria, pela dupla sacramentalidade do Matrimônio e da Ordem”. E que devem estar a “serviço da Palavra, da caridade e da liturgia”. E ainda, que se colocam à disposição para “acompanhar a formação de novas comunidades eclesiais” (Doc.Ap. 205).
E a CNBB afirma que “na promoção social e na vivência das obras de misericórdia, o diácono assume a opção preferencial pelos pobres, marginalizados e excluídos. Ele é apóstolo da caridade com os pobres, envolvido com a conquista de sua dignidade e de seus direitos econômicos, políticos e sociais. Está próximo da dor do mundo. Deixa-se tocar e sensibilizar pela miséria e pelas provações da vida. Reveste-se de especial compaixão pelos: “migrantes, vítimas da violência, os deslocados e refugiados, as vítimas do tráfico de pessoas e sequestros, os desaparecidos, os enfermos de HIV e de enfermidades endêmicas, os tóxico-dependentes, idosos, meninos e meninas, que são vítimas da prostituição, pornografia e violência ou do trabalho infantil, mulheres maltratadas, vítimas de exclusão e do tráfico para a exploração sexual, pessoas com capacidades diferentes, grandes grupos de desempregados/as, os excluídos pelo analfabetismo tecnológico, as pessoas que vivem nas ruas das grandes cidades, os indígenas e africanos, agricultores sem terras e trabalhadores das minas” (DA, n.402, in Doc. 96 – CNBB – Diretrizes para o Diaconado Permanente no Brasil - 58).
Então, se sua comunidade tem um diácono, reze por ele. Se sua comunidade ainda não o tem, ore a Deus para suscite vocações ao diaconato permanente.

Ore pelos diáconos. São importantes para a Igreja, principalmente para a construção da “Civilização do Amor”.

4 comentários:

  1. Parabéns amigo, lindo texto creio que eu escolheria o fim da fala do Bispo na entrega do evangelho "procura realizar o que ensinares" penso que isso seja fundamental no nosso ministério. Deus o abençoe.

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  2. Nossa, que texto esclarecedor. Gostei muito. Vou indicá- lo a outras pessoas.

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  3. Parabéns pelo texto esclarecedor e pela data tão especial. Desejo muita luz no seu caminho.

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