Hoje eu completo dez anos de ordenação diaconal. Muitas pessoas
sempre me perguntam por que quis ser diácono, ou, porque ser diácono se você
pode fazer as mesmas coisas sendo leigo. Essas perguntas me perseguem desde
então.
Ao tentar responde-las, busco oração e estudo sobre a vocação
diaconal. O que espera Deus e a Igreja dos Diáconos? Somos necessários? O que
devemos fazer? Devemos ser vistos pelo que somos, ou pelo que fazemos?
As respostas vão aparecendo aos poucos. Às vezes, vou até as
raízes, a Sagrada Escritura. Em outros momentos, consulto os documentos da
Igreja. Tentando buscar uma resposta, uma resposta para os outros. E por que não
dizer, para mim também?
Em cada grau do Sacramento da Ordem há algo que o representa. No
caso dos diáconos é a entrega do Livro dos Evangelhos. Diz o rito que “os
ordenados, com a veste diaconal, aproximam-se do Bispo e ajoelham-se diante
dele; o Bispo lhes entrega o Livro dos Evangelhos. Os diáconos receberão o
Livro dos Evangelhos, ao qual deverá Conformar a sua vida, anunciando-o com
fidelidade e profunda autenticidade”.
Desta introdução, destaco a “veste diaconal”, o ajoelhar-se
diante do Bispo, o recebimento do “Livro dos Evangelhos”, o “Conformar” a vida
ao Evangelho, o anunciar com “fidelidade e profunda autenticidade”.
Ao receber o “Livro dos Evangelhos” revestido com a “veste
diaconal”, a Igreja mostra a toda comunidade que o Diácono é o Ministro da
Palavra. E mais ainda, que ele deverá “conformar” (fazer-se da mesma forma) sua
vida com o Evangelho. E assim, anunciar com “fidelidade e autenticidade”. Mas
uma autenticidade profunda. Na raiz da vida. Na essência.
Essas são as palavras do Bispo: “Recebe o Evangelho de Cristo, do qual foste constituído mensageiro;
transforma em fé viva o que leres, ensina aquilo que creres e procura realizar
o que ensinares”. Mais do que um Rito, receber o Livro dos Evangelhos faz
com que o Diácono se torne seu mensageiro. E aí, vamos aos livros das Sagradas
Escrituras para encontrarmos a fundamentação bíblica desse rito.
Inicialmente, lembro a passagem de Lucas 4,18-19: “O Espírito do
Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa
Notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos
cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos, e para proclamar um
ano de graça do Senhor”. Jesus diz qual a sua missão. Toda vez que o diácono se
aproxima da mesa da Palavra e proclama a Palavra de Salvação, essa passagem da
Escritura se cumpre.
Lembro ainda, Santo Estêvão, que “cheio do Espírito Santo”
profere o discurso que o levaria a morte. Uma pregação que anunciou a “boa nova”,
e por isso, foi condenado a morte. Em seguida, outro diácono, Felipe explica ao
eunuco a palavra de Deus (At. 8,26ss). Fora chamado de o Evangelista por Paulo
(Atos 21,8).
Os bispos da Igreja Católica, por inspiração do Espírito Santo,
sentiram a necessidade de restabelecer o Diaconato como grau Permanente do
Sacramento da Ordem. Tiraram a transitoriedade do Diaconato. Sentiram a
necessidade de ter a visibilidade de uma Igreja que fosse ministerial, e não
apenas sacerdotal.
A Constituição Dogmática Lumen
Gentiun, que fala sobre a Igreja, afirma no número 29 que “confortados pela
graça sacramental, servem o povo de Deus no serviço (diaconia) da liturgia, da
palavra e da caridade”. E acrescenta que “pertence ao diácono (...) administrar
o batismo solene, conservar e distribuir a eucaristia, assistir e abençoar em
nome da Igreja aos matrimônios, levar o viático aos moribundos, ler a Sagrada
Escritura aos fiéis, instruir e exortar o povo, presidir ao culto e à oração
dos fiéis, administrar os sacramentais, presidir os ritos funerais e da
sepultura”.
Nas “Normas Fundamentais para a Formação dos Diáconos
Permanentes”, lemos que “a espiritualidade do serviço é uma espiritualidade de
toda a Igreja (...) e para que toda a Igreja possa viver melhor esta
espiritualidade é que o Senhor lhe dá um sinal vivo e pessoal do seu próprio
ser de servo. Por isso, de modo específico, ela é a espiritualidade do diácono.
(...) Mediante a sagrada ordenação, é constituído na Igreja ícone vivo de
Cristo servo” (11).
O “Diretório do Ministério e da Vida dos Diáconos Permanentes”,
afirma que o “diácono (...) deve conhecer a cultura, as aspirações e os
problemas do seu tempo. (...) Ele é chamado neste contexto a ser sinal vivo de
Cristo Servo e ao mesmo tempo é chamado a assumir a missão da Igreja de ‘investigar
a todo o momento os sinais dos tempos, interpretá-los à luz do Evangelho, para
que assim possa responder, de modo adaptado em cada geração, às eternas
perguntas dos homens a cerca do sentido da vida presente e da futura e da
relação entre ambas’” (43).
O documento de Aparecida reforça e diz que os diáconos
permanentes são “fortalecidos, em sua maioria, pela dupla sacramentalidade do
Matrimônio e da Ordem”. E que devem estar a “serviço da Palavra, da caridade e
da liturgia”. E ainda, que se colocam à disposição para “acompanhar a formação
de novas comunidades eclesiais” (Doc.Ap. 205).
E a CNBB afirma que “na promoção social e na vivência das obras
de misericórdia, o diácono assume a opção preferencial pelos pobres,
marginalizados e excluídos. Ele é apóstolo da caridade com os pobres, envolvido
com a conquista de sua dignidade e de seus direitos econômicos, políticos e
sociais. Está próximo da dor do mundo. Deixa-se tocar e sensibilizar pela
miséria e pelas provações da vida. Reveste-se de especial compaixão pelos:
“migrantes, vítimas da violência, os deslocados e refugiados, as vítimas do
tráfico de pessoas e sequestros, os desaparecidos, os enfermos de HIV e de
enfermidades endêmicas, os tóxico-dependentes, idosos, meninos e meninas, que
são vítimas da prostituição, pornografia e violência ou do trabalho infantil,
mulheres maltratadas, vítimas de exclusão e do tráfico para a exploração
sexual, pessoas com capacidades diferentes, grandes grupos de desempregados/as,
os excluídos pelo analfabetismo tecnológico, as pessoas que vivem nas ruas das
grandes cidades, os indígenas e africanos, agricultores sem terras e
trabalhadores das minas” (DA, n.402, in Doc. 96 – CNBB – Diretrizes para o
Diaconado Permanente no Brasil - 58).
Então, se sua comunidade tem um diácono, reze por ele. Se sua
comunidade ainda não o tem, ore a Deus para suscite vocações ao diaconato
permanente.
Ore pelos diáconos. São importantes para a Igreja,
principalmente para a construção da “Civilização do Amor”.