Na festa de São Lourenço, diácono
e mártir, façamos uma pausa e reflitamos sobre o nosso testemunho nos dias de
hoje. Estamos dispostos a deixarmo-nos morrer por nossa fé, como o grão de
mostarda? Estamos dispostos a nos desapegarmos de nossa vida? De nossas
posições sociais? De nossos conceitos e “pré-conceitos”? Nos colocamos a
disposição de Jesus para estarmos onde ele está?
Para a santa Missa de hoje, é
proposto o prefácio dos mártires. O Prefácio precede a Oração Eucarística que
nos insere no mistério que estamos celebrando.
No Prefácio dos Mártires, ouvimos
que “é nosso dever e salvação”, e que “é justo e necessário” dar graças a Deus
“em todo tempo e lugar”. E que através do martírio, o santo “confessou” o nome
de Deus “e derramou seu sangue como Cristo”, para que o poder de Deus se
manifeste de forma admirável.
Continua o prefácio ressaltando a
misericórdia divina que “sustenta a fragilidade humana e nos dá coragem para
sermos as testemunhas de Jesus Cristo”, enquanto se espera a glória eterna.
O Papa Bento XVI afirmou que “o martírio é a morte
voluntariamente aceita por causa da fé cristã ou por causa do exercício de
outra virtude relacionada com a fé”.
No Catecismo da Igreja Católica (2473) encontramos: “O martírio
é o supremo testemunho prestado à verdade da fé; designa um testemunho que vai
até a morte”.
O Concilio do Vaticano II diz que: “Visto que Jesus, Filho de
Deus, manifestou Sua caridade entregando Sua vida por nós, ninguém possui maior
amor que aquele que entrega sua vida por Ele e seus irmãos (cf. 1Jo 3, 16; Jo
15, 13). Por isso, desde o início alguns cristãos foram chamados – e alguns
sempre serão chamados – para dar o supremo testemunho de seu amor diante de
todos os homens, mas de modo especial perante os perseguidores. O martírio, por conseguinte – pelo qual o
discípulo se assemelha ao Mestre, que aceita livremente a morte pela salvação
do mundo, e se conforma a Ele na efusão do sangue – é estimado pela Igreja com
exímio dom e suprema prova de caridade. Se a poucos é dado, todos, porém, devem
estar prontos a confessar Cristo perante os homens, segui-lo no caminho da cruz
entre perseguições, que nunca faltam à Igreja” (Lumen Gentium, nº 42).
A propósito, deve-se notar o seguinte: O martírio é uma graça
que tem sua iniciativa em Deus. Não compete ao cristão procurar o martírio
provocando os adversários da fé. A Igreja sempre condenou esse comportamento,
pois seria presunçoso (quem pode ter a certeza que irá suportar corajosamente
os tormentos do martírio?); além do quê, seria provocar o pecado do próximo ou
dos algozes.
Para que haja martírio propriamente dito, requer-se que o
cristão morra livremente, ou seja, aceite conscientemente o risco de morrer por
causa da sua fé. A aceitação da morte pode ser explícita, como no caso em que o
perseguidor deixa a escolha entre renegar a fé (ou uma virtude relacionada com
a fé) e a morte. A aceitação livre pode ser implícita quando a pessoa sabe que
o seu compromisso cristão pode levá-la até a morte e, não obstante, é fiel a
esse compromisso.
O martírio é algo tão antigo quanto a pregação da Palavra de
Deus. Já ocorreu na história dos Profetas do Antigo Testamento. No século II
a.C. os irmãos macabeus sofreram a morte cruenta por causa da sua fé (cf. 2 Mc
7, 1-42), assim como o escriba Eleazar (cf. 2MC 6, 18-31).
O martírio teve seu ponto alto em Jesus Cristo. Santo Estevão é
o primeiro mártir do Cristianismo após Jesus Cristo (cf. At 7, 55-60). No fim
do século I, o Apocalipse fala de “imensa multidão”, que ninguém pode numerar,
daqueles que lavaram e alvejaram suas túnicas no sangue do Cordeiro (cf. Ap 7,
9.14). Em síntese, São Paulo afirma que “todos aqueles que quiserem viver com
piedade em Cristo Jesus, serão perseguidos” (2Tm 3, 12)
Na conferência do CELAM, em Aparecida, lemos no número 275: “Nossas
comunidades levam o selo dos apóstolos e, além disso, reconhecem o testemunho
cristão de tantos homens e mulheres que espalharam em nossa geografia as
sementes do Evangelho, vivendo valentemente sua fé, inclusive derramando seu sangue como mártires (grifo
meu). Seu exemplo de vida e santidade constitui um presente precioso para o
caminho cristão dos latino-americanos e, simultaneamente, um estímulo para
imitar suas virtudes nas novas expressões culturais da história. Com a paixão
de seu amor a Jesus Cristo, foram membros ativos e missionários em sua
comunidade eclesial. Com valentia, perseveraram na promoção dos direitos das
pessoas, foram perspicazes no discernimento crítico da realidade à luz do
ensino social da Igreja e críveis pelo testemunho coerente de suas vidas. Nós, cristãos
de hoje, acolhemos sua herança e nos sentimos chamados a continuar com renovado
ardor apostólico e missionário o estilo evangélico de vida que nos transmitiram”.
E ainda, falando aos “discípulos missionários”, continuam os
bispos: “Comprometemo-nos a trabalhar para que a nossa Igreja Latino-americana
e Caribenha continue sendo, com maior afinco, companheira de caminho de nossos
irmãos mais pobres, inclusive até o
martírio (grifo meu). Hoje queremos ratificar e potencializar a opção
preferencial pelos pobres feita nas Conferências anteriores. Que seja
preferencial implica que deva atravessar todas as nossas estruturas e
prioridades pastorais. A Igreja latino-americana é chamada a ser sacramento de
amor, solidariedade e justiça entre nossos povos” (396).
Na Festa de São Lourenço, deixemo-nos morrer como o grão de
trigo, para que possamos dar frutos. Não nos apeguemos às mesquinhez da vida.
Estejamos onde Jesus está, nos famintos, nos sedentos, nos encarcerados, nos
doentes, nos desterrados.
Que São Lourenço nos abençoe neste dia.
(esse texto foi baseado na seguinte fonte: http://cleofas.com.br/serie-martires-do-seculo-xx-parte-1/.
Em muitos casos, fizemos cópia fiel das palavras lá contidas).
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