quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Sobre São Lourenço: "Se o grão de trigo não morrer..."

Na festa de São Lourenço, diácono e mártir, façamos uma pausa e reflitamos sobre o nosso testemunho nos dias de hoje. Estamos dispostos a deixarmo-nos morrer por nossa fé, como o grão de mostarda? Estamos dispostos a nos desapegarmos de nossa vida? De nossas posições sociais? De nossos conceitos e “pré-conceitos”? Nos colocamos a disposição de Jesus para estarmos onde ele está?
Para a santa Missa de hoje, é proposto o prefácio dos mártires. O Prefácio precede a Oração Eucarística que nos insere no mistério que estamos celebrando.
No Prefácio dos Mártires, ouvimos que “é nosso dever e salvação”, e que “é justo e necessário” dar graças a Deus “em todo tempo e lugar”. E que através do martírio, o santo “confessou” o nome de Deus “e derramou seu sangue como Cristo”, para que o poder de Deus se manifeste de forma admirável.
Continua o prefácio ressaltando a misericórdia divina que “sustenta a fragilidade humana e nos dá coragem para sermos as testemunhas de Jesus Cristo”, enquanto se espera a glória eterna.
O Papa Bento XVI afirmou que “o martírio é a morte voluntariamente aceita por causa da fé cristã ou por causa do exercício de outra virtude relacionada com a fé”.
No Catecismo da Igreja Católica (2473) encontramos: “O martírio é o supremo testemunho prestado à verdade da fé; designa um testemunho que vai até a morte”.
O Concilio do Vaticano II diz que: “Visto que Jesus, Filho de Deus, manifestou Sua caridade entregando Sua vida por nós, ninguém possui maior amor que aquele que entrega sua vida por Ele e seus irmãos (cf. 1Jo 3, 16; Jo 15, 13). Por isso, desde o início alguns cristãos foram chamados – e alguns sempre serão chamados – para dar o supremo testemunho de seu amor diante de todos os homens, mas de modo especial perante os perseguidores. O martírio, por conseguinte – pelo qual o discípulo se assemelha ao Mestre, que aceita livremente a morte pela salvação do mundo, e se conforma a Ele na efusão do sangue – é estimado pela Igreja com exímio dom e suprema prova de caridade. Se a poucos é dado, todos, porém, devem estar prontos a confessar Cristo perante os homens, segui-lo no caminho da cruz entre perseguições, que nunca faltam à Igreja” (Lumen Gentium, nº 42).
A propósito, deve-se notar o seguinte: O martírio é uma graça que tem sua iniciativa em Deus. Não compete ao cristão procurar o martírio provocando os adversários da fé. A Igreja sempre condenou esse comportamento, pois seria presunçoso (quem pode ter a certeza que irá suportar corajosamente os tormentos do martírio?); além do quê, seria provocar o pecado do próximo ou dos algozes.
Para que haja martírio propriamente dito, requer-se que o cristão morra livremente, ou seja, aceite conscientemente o risco de morrer por causa da sua fé. A aceitação da morte pode ser explícita, como no caso em que o perseguidor deixa a escolha entre renegar a fé (ou uma virtude relacionada com a fé) e a morte. A aceitação livre pode ser implícita quando a pessoa sabe que o seu compromisso cristão pode levá-la até a morte e, não obstante, é fiel a esse compromisso.
O martírio é algo tão antigo quanto a pregação da Palavra de Deus. Já ocorreu na história dos Profetas do Antigo Testamento. No século II a.C. os irmãos macabeus sofreram a morte cruenta por causa da sua fé (cf. 2 Mc 7, 1-42), assim como o escriba Eleazar (cf. 2MC 6, 18-31).
O martírio teve seu ponto alto em Jesus Cristo. Santo Estevão é o primeiro mártir do Cristianismo após Jesus Cristo (cf. At 7, 55-60). No fim do século I, o Apocalipse fala de “imensa multidão”, que ninguém pode numerar, daqueles que lavaram e alvejaram suas túnicas no sangue do Cordeiro (cf. Ap 7, 9.14). Em síntese, São Paulo afirma que “todos aqueles que quiserem viver com piedade em Cristo Jesus, serão perseguidos” (2Tm 3, 12)
Na conferência do CELAM, em Aparecida, lemos no número 275: “Nossas comunidades levam o selo dos apóstolos e, além disso, reconhecem o testemunho cristão de tantos homens e mulheres que espalharam em nossa geografia as sementes do Evangelho, vivendo valentemente sua fé, inclusive derramando seu sangue como mártires (grifo meu). Seu exemplo de vida e santidade constitui um presente precioso para o caminho cristão dos latino-americanos e, simultaneamente, um estímulo para imitar suas virtudes nas novas expressões culturais da história. Com a paixão de seu amor a Jesus Cristo, foram membros ativos e missionários em sua comunidade eclesial. Com valentia, perseveraram na promoção dos direitos das pessoas, foram perspicazes no discernimento crítico da realidade à luz do ensino social da Igreja e críveis pelo testemunho coerente de suas vidas. Nós, cristãos de hoje, acolhemos sua herança e nos sentimos chamados a continuar com renovado ardor apostólico e missionário o estilo evangélico de vida que nos transmitiram”.
E ainda, falando aos “discípulos missionários”, continuam os bispos: “Comprometemo-nos a trabalhar para que a nossa Igreja Latino-americana e Caribenha continue sendo, com maior afinco, companheira de caminho de nossos irmãos mais pobres, inclusive até o martírio (grifo meu). Hoje queremos ratificar e potencializar a opção preferencial pelos pobres feita nas Conferências anteriores. Que seja preferencial implica que deva atravessar todas as nossas estruturas e prioridades pastorais. A Igreja latino-americana é chamada a ser sacramento de amor, solidariedade e justiça entre nossos povos” (396).
Na Festa de São Lourenço, deixemo-nos morrer como o grão de trigo, para que possamos dar frutos. Não nos apeguemos às mesquinhez da vida. Estejamos onde Jesus está, nos famintos, nos sedentos, nos encarcerados, nos doentes, nos desterrados.
Que São Lourenço nos abençoe neste dia.

(esse texto foi baseado na seguinte fonte: http://cleofas.com.br/serie-martires-do-seculo-xx-parte-1/. Em muitos casos, fizemos cópia fiel das palavras lá contidas).

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