Celebramos a Solenidade de Todos os Santos e Santas de Deus. No Brasil, esta solenidade é transferida para o primeiro domingo após a festa litúrgica para que possamos aurir os frutos espirituais desta festa.
Os textos propostos são tirados do livro do Apocalipse e da Primeira Carta de São João. Claro que existem outros textos que nos falam da santidade dos filhos de Deus. No próprio livro de Mateus encontramos no mesmo capítulo cinco, um pouco mais adiante, no versículo 48, a seguinte fala de Jesus: "sede perfeitos como vosso Pai do céu é perfeito". Neste casa, perfeição e santidade são entendidas como sinônimas. Mateus coloca essa frase na boca de Jesus logo após falar do amor que devemos ter aos que não são perfeitos, que são pecadores, aqueles os quais tratamos como inimigos. Jesus conhecia a escritura, como bom judeu que era. Tinha em mente, quando fala da santidade e perfeição, o que está prescrito no livro do Levítico, capítulo 19 versículo 2: "sede santos, porque eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo". Ser santo deve ser uma atitude de todo aquele que crê, não só para o cristão, mas para todos os que creem. A santidade é inerente a todos.
São Pedro, na sua primeira, capítulo 1 versículos 14 a 16, lemos: "Como filhos obedientes, não vos deixeis modelar pelos desejos de antes, quando vivíeis na ignorância; pelo contrário, visto que é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em todo o vosso agir; pois assim está escrito: Sede santos, porque eu sou santo".
No texto do Apocalipse (Ap 7,2-4.9-14), a santidade está na marca que os filhos de Deus recebem, o sangue do cordeiro. Ser santo é viver a tribulação com fé. Com a esperança da ressurreição. João apresenta uma visão do juízo final. E como serão reconhecido os eleitos. Aqueles que passaram pela tribulação e foram resgatados pelo sangue do cordeiro porque viveram as tribulações na fé em Jesus Cristo.
Na Primeira Carta de São João, vemos como o carinho de Deus é profundo. João afirma que Deus nos deu um presente. E não é um presente qualquer; é um grande presente, é um presente de amor, "sermos chamados filhos de Deus". Não é uma "lembrancinha". É um Presente. Ser filho de Deus não é qualquer coisa. Exige uma mudança de vida. Exige ser tal como o Pai é. E o Pai é santo, e recebemos dele essa santidade como presente. E se é presente, devemos usa-la. Pois seria uma desfeita muito grande ganhar um presente de Deus e não tomar posse desse presente.
O evangelho, tirado de Mateus (5,1-12a), apresenta o caminho da santidade. O autor apresenta oito bem-aventuranças e mais uma. Dessas oito, duas falam a quem pertence o Reino de Deus. Primeiramente, para estar no Reino de Deus é preciso ser "pobre em espírito". E "ser pobre em espírito" é confiar inteiramente em Deus. É colocar nele toda a nossa esperança. Acessamos ao Reino de Deus não por nossos méritos e nossos bens, mas por graça de Deus. E somente os "pobres em espírito" enxergam isso. Além desses, outros que herdarão o Reino dos Céus, são aqueles "perseguidos por causa da justiça". A justiça em um tema muito caro a Deus. Ser justo é uma atitude divina. Ser justo é dar ao outro a chance de ter uma vida livre da escravidão.
Resta-nos seis bem aventuranças. As outras estão relacionadas com a vida pessoal para se chegar a ser santo e "possuir" o Reinos dos Céus. Jesus trabalha as necessidades espirituais (ou psíquicas) de nossa existência. "aflitos", "mansos", "fome e sede", "misericordiosos", "puros de coração", os que "promovem a paz".
Quantas aflições vivemos no nosso dia-a-dia. Doenças, guerras, violência, intolerâncias. Aflições diárias. Quem vive essas aflições com fé, colocando as dores nas mãos de Deus, será consolado. Terá a consolação no Reino dos Céus.
Mansidão. Não é ser bobo. Não é aceitar violências pessoais de forma gratuita. O manso vê as aflições com os olhos de Deus. O manso não reage com violência. O manso busca ver o que há de bom nas pessoas. Isso lhes garante a paz, e a posse definitiva da terra.
Fome e sede são duas necessidades humanas. Mas lembremos, "nem só de pão vive o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus". Entretanto, existe uma abstração para fome e sede. O desejo de justiça. Ser justo, ou esperar a justiça gera uma necessidade tal como a fome e a sede. Estes, no Reino serão saciados.
Misericordiosos. Ser misericordioso é agir com justiça. É ser manso. É ver, no outro, a presença de Deus. É agir como misericórdia. É dar o presente de amor de Deus. É enxergar no outro a filiação divina, e com isso, ele como um irmão. Todos os misericordiosos encontrarão misericórdia.
Ser puro de coração. É olhar o mundo como Deus. É buscar a presença de Deus em tudo. Ou mostrar que certas ações acontecem pela ausência de Deus. Somente os puros de coração tem a capacidade de ver a Deus.
Promotores da paz. Construtores de pontes. Tolerantes. Destruidores de muros. Deus é paz. Disse Jesus, "eu lhes dou a paz; eu vos dou a minha paz". A Paz é uma característica de Deus. E todos aquele que promovem a paz são chamados "Filhos de Deus".
E por último, os perseguidos pela justiça. Todo aquele que busca por justiça e prega a justiça é perseguido pelos promotores da exclusão. Os intolerantes não suportam os promotores da paz. Estes herdarão o Reino dos Céus.
Quando os santos forem injuriados e perseguidos, por causa da sua fé em Deus, não desanimem, mas alegrem-se, porque a recompensa será grande nos céus. Desse mesmo jeito trataram o Filho de Deus, e porque com conosco seria diferente?
Oremos a Deus, implorando que sua graça nos santifique na plenitude de seu amor, para que, desta mesa de peregrinos, passemos ao banquete do seu reino.
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