Hoje celebramos o domingo da Misericórdia. A liturgia católica propôs a meditação do capítulo 15 do evangelho de Lucas. O evangelista apresenta as "parábolas da misericórdia". Trata-se da ovelha e a moeda perdida, e a do pai misericordioso, ou Filho Pródigo.
Três histórias que tocavam naquilo que era muito caro aos fariseus e os mestres da lei. O capítulo inicia-se com a disputa entre estes com Jesus. Questionavam-no sobre porque ele convivia com pecadores. Ao invés de dar uma resposta direta, Jesus prefere falar a linguagem deles. Nas três parábolas, destaca-se a questão financeira. Perder uma ovelha, era perder dinheiro; perder uma moeda de prata, era perder um dia de trabalho para o pobre; dar a parte da herança para um filho, significava deserdá-lo, ou seja, deixaria de ser filho. O pai não teria mais obrigações sobre aquele filho. Todas as três estavam dentro da lógica da lei judaica. Até aí, nada de mais.
O que torna essas histórias diferente na boca de Jesus? A diferença está na forma como o Pai, Deus, trata cada situação dentro da perspectiva divina, religiosa.
Se vocês sabem cuidar daquilo que lhes dá lucro, quanto mais Deus que lhes vê como filhos e filhas.
Uma ovelha custava muito caro. Perder um animal desses era perder dinheiro. Então Jesus afirma que se eles sabem recolher uma ovelha por dinheiro, mais ainda Deus que vê cada um dos seres humanos como filhos. E esses filhos se perdem (ou se perderam) por causa do pecado, inclusive seus interlocutores. Cada uma dessas pessoas resgatas, trazidas de volta para o Pai, convertida, causará alegria no céu.
Segundo, a moeda perdida. Uma moeda de prata significava um dia de trabalho. Era o necessário para um pobre sobreviver. Perder uma moeda de prata era não ter garantida a ração diária da sobrevivência. Portanto, perder essa moeda, era perder um dia de vida. Por isso, aquela mulher fez de tudo para encontrar essa moeda. Teve que fazer uma faxina na casa (muitas vezes precisamos fazer uma faxina na nossa vida) para encontrar a moeda. Quando encontra a moeda, a mulher é tomada por uma alegria tão grande, que precisa partilhar com as amigas e vizinhas. Então Jesus afirma, se isso é motivo de alegria, encontrar algo material, quanto mais ficarão alegres os anjos quando um pecador se converter.
E por último, a maior das história de conversão e misericórdia. A parábola chamada do Filho Pródigo, ou, modernamente, do Pai Misericordioso.
Uma família como outra qualquer. Um pai com posses, tendo ao lado seus filhos que trabalhavam juntos. Viviam bem. Tinham tudo ao seu dispor. Certo dia, um dos filhos, o mais moço, o mais inexperiente pede a parte da herança que lhe cabia. Neste momento, ele era deserdado, perdia os direitos de sucessão. Não poderia reivindicar mais nada para si quando o pai morresse. Além do dinheiro, assinaria um documento dizendo que já havia recebido sua herança.
Sem questionar, o pai dividiu os bens, e lhe deu o que lhe era devido. De posse da herança, o filho parte. Vai embora. Vai viver a vida. Se entrega a toda sorte que o mundo lhe oferecia. Tudo o que o dinheiro poderia pagar e comprar, o filho esbanja.
Ao acabar o dinheiro, começa uma vida de penúria. Passa por necessidades. Fome. Desprezo. Não consegue trabalho digno. Todos voltam as costas para ele. Somente alguém, muito cruel, lhe dar um emprego para trabalhar com os porcos (esse animal era considerado impuro pelos judeus). Estar próximo a porcos era a maior das humilhações que um judeu poderia experimentar. Os interlocutores de Jesus entenderam.
Não tendo o que o comer, o filho cai em si. Decide voltar para casa. Não mais como filho, pois havia perdido essa condição, era deserdado, fora emancipado ao pedir a herança antes do tempo. Mas lembra-se de que os empregados de seu pai são tratados com dignidade. Tem comida e lugar para repousar a cabeça. Tem roupa, água, banho. Então, começa o caminho de volta. Vinha pela estrada escolhendo as palavras. "Não sou mais seu filho, trata-me como um empregado".
Mas, ao chegar, ainda ao longe, o pai ao avistá-lo, parte em sua direção. Corre ao encontro. Abraça o filho. Beija-o. Acolhe-o. A tanto tempo esse pai esperava essa filho voltar. O filho então diz o que vinha pensando pelo caminho. Mas o pai não quer saber. Ele manda que os empregados o tratem com a dignidade de filho. Coloquem o anel no dedo, tragam uma sandália, busquem o novilho gordo, preparem a festa. É preciso festejar. "Porque este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi encontrado".
Aqui se concretiza a parábola do Pai Misericordioso. Recebe o filho que havia pecado, mas retorna à casa, com misericórdia e acolhimento. Aqui poder-se-ia acabar a parábola. Pronto. Aquele que havia partido coltou.
Entretanto, neste ponto, aparece o filho mais velho; o irmão do mais novo. A caracterização dos fariseus e mestres da lei. Os considerados puros diante de Deus e da lei. Este filho indaga ao pai sobre aquele festa para uma pessoa que não era mais filho, pois havia pedido a parte da herança que lhe cabia. Mas esse pai não pode deixar que isso aconteça. Sua misericórdia estende-se aos dois filhos. É preciso mostrar ao mais velho que o resgate do irmão é mais importante que qualquer lei. E diz, "este teu irmão estava morto e tonou a viver; estava perdido e foi encontrado".
O pai via que o filho-irmão estava perdido e morto e foi encontrado com vida. Regressou. Recebeu a graça da vida.
Assim, vemos que Jesus resgata todos aqueles que buscam com sinceridade a conversão. A mudança de vida. Que o reconhecem como a presença de Deus-Pai no meio de nós.
Aprendamos a viver a misericórdia. Não somos melhores que os outros. Que a lei mata e escraviza. Mas a caridade, o amor, a entrega, a misericórdia resgata e salva.
Assim, podemos repetir a oração: "Ó Deus, criador de todas as coisas, volvei para nós o vosso olhar e, para sentirmos em nós a ação do vosso amor, fazei que vos sirvamos de todo coração. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém"!
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