Sobre Ágatha (genocídio da população negra) e o estado do Estado
Por: padre Gegê
Domingo passado(22/09) tive no velório de Agatha (Inhaúma) e depois partir para o velório e sepultamento dos angolanos, Bilongo Lando Domingos e seu pequenino filho, Gabriel Kaleb Bilongo, vitimas do incendio no apartamento em Higienópolis. Tive, pois, contato na ordem ancesrral/espiritual com três corpos negros que, por razões distintas, baixaram sepultura. E todos e todas sempre morremos um pouco nas dores, nos "ais" e nos gritos de nossa gente. Como não se identificar? Desejo à família de Bilongo e Gabriel, que pude visitar dias antes do sepultamento, toda força ancestral. No mesmo espírito, abraço afetuosamente meus irmãos e irmãs de Angola. Quando em Inhaúma falei brevemente com a mãe de Agatha. E o que agora escrevo faço na memória do momento que contemplei a face imóvel da bela menina cujo nome quer dizer "boa, perfeita, virtuosa e respeitada". Desse modo, falar Ágatha é mais que pronunciar um nome; é dizer da identidade profunda, dos desejos e projetos de uma coletividade, historicamente massacrada e sistematicamente executada. Aos 23 de fevereiro do corrente ano defendi na Pontificia Universidade Católica de São Paulo, no âmbito da ciência da religião, a tese de doutorado sobre Abdias do Nascimento(1914-2011), um dos maiores lutadores do Brasil na defesa da população negra. Lamentavelmente, sua obra "O genocídio da polupação negra brasileira:processo de um racismo mascarado", reeditada em 2017, é atualíssima. Sou padre há 25 anos e há dezesseis exerço o ministério sacertodal em Higienópolis/Manguinhos. Sou formado em psicologia (PUC-RJ), com especialização em teoria junguiana(IBMR). Nesse contexto de barbárie declarada, não posso deixar de testemunhar, pelo que ouço, vejo e sinto, que o programa de (in)segurança pública do atual governador segue tipificado, acrítica e obstinadamente, pela psicologia do terror e pela política do abate. E tal política mata e adoece, quase sempre, tanto a população negra, favelada e de perifera quanto inúmeros políciais (em especial, os "despatenteados"), muitos dos quais, igualmente, negros e pobres.
Desse modo, a morte de Ágatha está inserida num contexto mais amplo e complexo de racismo mascarado e programa genocida. Diz soluçando o pai de Ágatha no programa de Fátima Bernardes: "GOVERNADOR, MUDE ESSA POLÍTICA DE ATIRAR!". Witzel, no entanto, indiferente à dor, diz que "o Estado não pode parar". Completo: parar de matar... Escreve o teólogo Leonardo Boff: "Temos como governador do Rio, Witzel, uma mente assassina que se diverte atirando de helicóptero sobre a população de favela em Angra". Clarice Lispector adverte numa entrevista falando sobre o conto "Mineirinho" (menino executado pela polícia com treze tiros) que a vontade de matar constituiu a razão das 13 balas. Nesse sentido, não basta falar do número dos executados(estatística) desconsiderando razões históricas e políticas (genocídio); mas também não podemos neglicenciar pulsões inconscientes (psique) que podem destruir - com gozo - coletividades. Adverte Martin Luther King Jr: "Nunca se esqueça que tudo que Hitler fez na Alemanha era legal".
Dessa feita, com base na alarmante fala do ilustre teolólogo Leonardo Boff e do conto de Clarice Lispector, pode-se, oportuna, justa e devidamente, perguntar: o Estado sente prazer com a dor preta e pobre?
É sádico o governador?
Psicologicamente, qual é o estado do Estado?
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