terça-feira, 22 de janeiro de 2019

 Vicente venceu naquele por quem o mundo foi vencido

Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo 

(Sermo 276,1-2: PL 38,1256)
(Séc. V)

 Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo 

(Sermo 276,1-2: PL 38,1256)
(Séc. V)


A vós foi dado por Cristo não apenas crerdes nele, mas também sofrerdes por causa dele (Fl 1,29), diz a Escritura.


O levita Vicente recebera e possuía um e outro dom. Se não tivesse recebido, como os haveria de possuir? Tinha confiança na palavra, tinha coragem no sofrimento. 

Ninguém, portanto, se envaideça de sua força interior, quando fala; ninguém confie nas próprias forças, quando é tentado; porque se falamos bem e com prudência, é de Deus que vem nossa sabedoria e, se suportamos os males com firmeza, é dele que vem a nossa força. 
Lembrai-vos de como, no Evangelho, Cristo Senhor adverte os que são seus; lembrai-vos do Rei dos mártires instruindo nas armas espirituais os seus exércitos, exortando-os para a guerra, dando-lhes ajuda e prometendo a recompensa. Ele, que disse aos discípulos: No mundo, tereis tribulações, logo acrescenta, a fim de consolar os medrosos: Mas tende coragem! Eu venci o mundo (Jo 16,33). 

Por que então nos admiramos, caríssimos, se Vicente venceu naquele por quem o mundo foi vencido? No mundo, tereis tribulações, diz o Senhor. O mundo persegue, mas não triunfa; ataca, mas não vence. O mundo conduz uma dupla batalha contra os soldados de Cristo: afaga-os para enganá-los, aterroriza-os para quebrá-los. Que o nosso bem-estar não nos preocupe, não nos assuste a maldade alheia, e o mundo está vencido. 
Cristo acorre a ambos os combates e o cristão não é vencido. Se neste martírio se considera a capacidade humana para suportá-lo, o fato torna-se incompreensível; mas se nele se reconhece o poder divino, nada há que admirar. 

Era tanta a crueldade que afligia o corpo do mártir, e tanta a serenidade que transparecia de sua voz; era tamanha a ferocidade dos suplícios que maltratavam os seus membros, e tamanha a firmeza que ressoava nas suas palavras que, de algum modo maravilhoso, enquanto Vicente suportava o martírio, julgávamos ser torturada outra pessoa diferente da que falava. 

E era realmente assim, irmãos, era assim mesmo: era outro que falava. No Evangelho, Cristo prometeu também isto a suas testemunhas, ao prepará-las para tais combates. Falou deste modo: Não fiqueis preocupados como falar ou o que dizer. Com efeito, não sereis vós que havereis de falar, mas sim o Espírito do vosso Pai é que falará através de vós. (Mt 10,19-20). 

Por conseguinte, a carne sofria e o Espírito falava; e enquanto o Espírito falava, não apenas era vencida a impiedade, mas também a fraqueza era confortada.

ão apenas crerdes nele, mas também sofrerdes por causa dele (Fl 1,29), diz a Escritura.


O levita Vicente recebera e possuía um e outro dom. Se não tivesse recebido, como os haveria de possuir? Tinha confiança na palavra, tinha coragem no sofrimento. 

Ninguém, portanto, se envaideça de sua força interior, quando fala; ninguém confie nas próprias forças, quando é tentado; porque se falamos bem e com prudência, é de Deus que vem nossa sabedoria e, se suportamos os males com firmeza, é dele que vem a nossa força. 
Lembrai-vos de como, no Evangelho, Cristo Senhor adverte os que são seus; lembrai-vos do Rei dos mártires instruindo nas armas espirituais os seus exércitos, exortando-os para a guerra, dando-lhes ajuda e prometendo a recompensa. Ele, que disse aos discípulos: No mundo, tereis tribulações, logo acrescenta, a fim de consolar os medrosos: Mas tende coragem! Eu venci o mundo (Jo 16,33). 

Por que então nos admiramos, caríssimos, se Vicente venceu naquele por quem o mundo foi vencido? No mundo, tereis tribulações, diz o Senhor. O mundo persegue, mas não triunfa; ataca, mas não vence. O mundo conduz uma dupla batalha contra os soldados de Cristo: afaga-os para enganá-los, aterroriza-os para quebrá-los. Que o nosso bem-estar não nos preocupe, não nos assuste a maldade alheia, e o mundo está vencido. 
Cristo acorre a ambos os combates e o cristão não é vencido. Se neste martírio se considera a capacidade humana para suportá-lo, o fato torna-se incompreensível; mas se nele se reconhece o poder divino, nada há que admirar. 

Era tanta a crueldade que afligia o corpo do mártir, e tanta a serenidade que transparecia de sua voz; era tamanha a ferocidade dos suplícios que maltratavam os seus membros, e tamanha a firmeza que ressoava nas suas palavras que, de algum modo maravilhoso, enquanto Vicente suportava o martírio, julgávamos ser torturada outra pessoa diferente da que falava. 

E era realmente assim, irmãos, era assim mesmo: era outro que falava. No Evangelho, Cristo prometeu também isto a suas testemunhas, ao prepará-las para tais combates. Falou deste modo: Não fiqueis preocupados como falar ou o que dizer. Com efeito, não sereis vós que havereis de falar, mas sim o Espírito do vosso Pai é que falará através de vós. (Mt 10,19-20). 

Por conseguinte, a carne sofria e o Espírito falava; e enquanto o Espírito falava, não apenas era vencida a impiedade, mas também a fraqueza era confortada.

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