segunda-feira, 26 de novembro de 2018

CANONIZAÇÃO DOS BEATOS: PAULO VI, OSCAR ROMERO

SANTA MISSA E CANONIZAÇÃO DOS BEATOS: PAULO VI, OSCAR ROMERO, FRANCISCO SPINELLI, VICENTE ROMANO, MARIA CATARINA KASPER, NAZÁRIA INÁCIA DE SANTA TERESA DE JESUS, NÚNCIO SULPRIZIO

HOMILIA DO PAPA FRANCISCO

Praça São Pedro
Domingo, 14 de outubro de 2018

A segunda Leitura disse-nos que «a palavra de Deus é viva, eficaz e cortante» (cf. Heb 4, 12). É mesmo assim: a Palavra de Deus não é apenas um conjunto de verdades ou uma história espiritual edificante. Não! É Palavra viva que toca a vida, que a transforma. Nela, Jesus pessoalmente – Ele que é a Palavra viva de Deus – fala aos nossos corações.

Particularmente o Evangelho convida-nos a ir ao encontro do Senhor, a exemplo daquele «alguém» que «correu para Ele» (cf. Mc 10, 17). Podemo-nos identificar com aquele homem, de quem o texto não diz o nome parecendo sugerir-nos que pode representar cada um de nós. Ele pergunta a Jesus como deve fazer para «ter em herança a vida eterna» (10, 17). Pede vida para sempre, vida em plenitude; e qual de nós não a quereria? Mas pede-a – notemos bem – como uma herança a possuir, como um bem a alcançar, a conquistar com as suas forças. De facto, para possuir este bem, observou os mandamentos desde a infância e, para alcançar tal objetivo, está disposto a observar ainda outros; por isso, pergunta: «Que devo fazer para ter…?»

A resposta de Jesus mexe com ele. O Senhor fixa nele o olhar e ama-o (cf. 10, 21). Jesus muda-lhe a perspetiva: passar dos preceitos observados para obter recompensas ao amor gratuito e total. Aquele homem falava em termos de procura e oferta; Jesus propõe-lhe uma história de amor. Pede-lhe para passar da observância das leis ao dom de si mesmo, do trabalhar para si ao estar com Ele. E faz-lhe uma proposta «cortante» de vida: «Vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres (…), vem e segue-Me» (10, 21). E Jesus diz também a ti: «Vem e segue-Me». Vem: não fiques parado, porque não basta não fazer nada de mal para ser de Jesus. Segue-Me: não vás atrás de Jesus só quando te apetece, mas procura-O todos os dias; não te contentes com observar preceitos, dar esmolas e recitar algumas orações: encontra n’Ele o Deus que sempre te ama, o sentido da tua vida, a força para te entregares.

E Jesus diz mais: «Vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres». O Senhor não faz teorias sobre pobreza e riqueza, mas vai direto à vida. Pede-te para deixar aquilo que torna pesado o coração, esvaziar-te de bens para dar lugar a Ele, único bem. Não se pode seguir verdadeiramente a Jesus, quando se está estivado de coisas. Pois, se o coração estiver repleto de bens, não haverá espaço para o Senhor, que Se tornará uma coisa mais entre as outras. Por isso, a riqueza é perigosa e – di-lo Jesus – torna difícil até mesmo salvar-se. Não, porque Deus seja severo; não! O problema está do nosso lado: o muito que temos e o muito que ambicionamos sufocam-nos; sufocam-nos o coração e tornam-nos incapazes de amar. Neste sentido, São Paulo recorda-nos que «a raiz de todos os males é a ganância do dinheiro» (1 Tim 6, 10). Quando se coloca no centro o dinheiro, vemos que não há lugar para Deus; e não há lugar sequer para o homem.

Jesus é radical. Dá tudo e pede tudo: dá um amor total e pede um coração indiviso. Também hoje Se nos dá como Pão vivo; poderemos nós, em troca, dar-Lhe as migalhas? A Ele, que Se fez nosso servo até ao ponto de Se deixar crucificar por nós, não Lhe podemos responder apenas com a observância de alguns preceitos. A Ele, que nos oferece a vida eterna, não podemos dar qualquer bocado de tempo. Jesus não Se contenta com uma «percentagem de amor»: não podemos amá-Lo a vinte, cinquenta ou sessenta por cento. Ou tudo ou nada.

Queridos irmãos e irmãs, o nosso coração é como um íman: deixa-se atrair pelo amor, mas só se pode apegar a um lado e tem de escolher: amar a Deus ou as riquezas do mundo (cf. Mt 6, 24); viver para amar ou viver para si mesmo (cf. Mc 8, 35). Perguntemo-nos de que lado estamos nós... Perguntemo-nos a que ponto nos encontramos na nossa história de amor com Deus... Contentamo-nos com alguns preceitos ou seguimos Jesus como enamorados, prontos verdadeiramente a deixar tudo por Ele? Jesus pergunta a cada um e a todos nós como Igreja em caminho: somos uma Igreja que se limita a pregar bons preceitos ou uma Igreja-esposa, que pelo seu Senhor se lança no amor? Seguimo-Lo verdadeiramente ou voltamos aos passos do mundo, como aquele homem? Em suma, basta-nos Jesus ou procuramos as seguranças do mundo? Peçamos a graça de saber deixar por amor do Senhor: deixar riquezas, deixar sonhos de funções e poderes, deixar estruturas já inadequadas para o anúncio do Evangelho, os pesos que travam a missão, os laços que nos ligam ao mundo. Sem um salto em frente no amor, a nossa vida e a nossa Igreja adoecem de «autocomplacência egocêntrica» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 95): procura-se a alegria em qualquer prazer passageiro, fechamo-nos numa tagarelice estéril, acomodamo-nos na monotonia duma vida cristã sem ardor, onde um pouco de narcisismo cobre a tristeza de permanecermos inacabados.

Aconteceu assim com aquele homem que – diz o Evangelho – «retirou-se pesaroso» (10, 22). Ancorara-se aos preceitos e aos seus muitos bens, não oferecera o coração. E, embora tivesse encontrado Jesus e recebido o seu olhar amoroso, foi-se embora triste. A tristeza é a prova do amor inacabado. É o sinal dum coração tíbio. Pelo contrário, um coração aliviado dos bens, que ama livremente o Senhor, espalha sempre a alegria, aquela alegria de que hoje temos tanta necessidade. O Santo Papa Paulo VI escreveu: «É no meio das suas desgraças que os nossos contemporâneos precisam de conhecer a alegria e de ouvir o seu canto» (Exort. ap. Gaudete in Domino, I). Hoje, Jesus convida-nos a voltar às fontes da alegria, que são o encontro com Ele, a opção corajosa de arriscar para O seguir, o gosto de deixar tudo para abraçar o seu caminho. Os Santos percorreram este caminho.

Fê-lo Paulo VI, seguindo o exemplo do Apóstolo cujo nome assumira. Como ele, consumiu a vida pelo Evangelho de Cristo, cruzando novas fronteiras e fazendo-se testemunha d’Ele no anúncio e no diálogo, profeta duma Igreja extroversa que olha para os distantes e cuida dos pobres. Mesmo nas fadigas e no meio das incompreensões, Paulo VI testemunhou de forma apaixonada a beleza e a alegria de seguir totalmente Jesus. Hoje continua a exortar-nos, juntamente com o Concílio de que foi sábio timoneiro, a que vivamos a nossa vocação comum: a vocação universal à santidade; não às meias medidas, mas à santidade. É significativo que, juntamente com ele e demais Santos e Santas hodiernos, tenhamos D. Óscar Romero, que deixou as seguranças do mundo, incluindo a própria incolumidade, para consumir a vida – como pede o Evangelho – junto dos pobres e do seu povo, com o coração fascinado por Jesus e pelos irmãos. E o mesmo podemos dizer de Francisco Spinelli, Vincente Romano, Maria Catarina Kasper, Nazária Inácia de Santa Teresa de Jesus e também do nosso jovem abruzo-napolitano, Núncio Sulprizio: o santo jovem, corajoso, humilde que soube encontrar Jesus no sofrimento, no silêncio e no dom de si mesmo. Todos estes Santos, em diferentes contextos, traduziram na vida a Palavra de hoje: sem tibieza, nem cálculos, com o ardor de arriscar e deixar tudo. Irmãos e irmãs, que o Senhor nos ajude a imitar os seus exemplos!

domingo, 25 de novembro de 2018

Venha o teu reino

Do Opúsculo sobre a Oração, de Orígenes, presbítero

(Cap. 25: PG 11,495-499)
(Séc. III)

Reino de Deus, conforme as palavras de nosso Senhor e Salvador, não vem visivelmente, nem se dirá: Ei-lo aqui ou ei-lo ali; mas o reino de Deus está dentro de nós (cf. Lc 17,21), pois a palavra está muito próxima de nossa boca e em nosso coração (cf. Rm 10,8). Donde se segue, sem dúvida nenhuma, que quem reza pedindo a vinda do reino de Deus pede – justamente por já ter em si um início deste reino – que ele desponte, dê frutos e chegue à perfeição. Pois Deus reina em todo o santo e quem é santo obedece às leis espirituais de Deus, que nele habita como em cidade bem administrada. Nele está presente o Pai e, junto com o Pai, reina Cristo na pessoa perfeita, segundo as palavras: Viremos a ele e nele faremos nossa morada (Jo 14,23). 

Então o reino de Deus, que já está em nós, chegará por nosso contínuo adiantamento à plenitude, quando se completar o que foi dito pelo Apóstolo: sujeitados todos os inimigos, Cristo entregará o reino a Deus e Pai, a fim de que Deus seja tudo em todos (cf. 1Cor 15,24.28). Por isto, rezemos sem cessar, com aquele amor que pelo Verbo se faz divino; e digamos a nosso Pai que está nos céus: Santificado seja teu nome, venha o teu reino (Mt 6,9-10). É de se notar também a respeito do reino de Deus: da mesma forma que não há participação da justiça com a iniqüidade nem sociedade da luz com as trevas nem pacto de Cristo com Belial (cf. 2Cor 6,14-15), assim o reino de Deus não pode subsistir junto com o reino do pecado. Por conseguinte, se queremos que Deus reine em nós, de modo algum reine o pecado em nosso corpo mortal (Rm 6,12), mas mortifiquemos nossos membros que estão na terra (cf. Cl 3,5) e produzamos fruto no Espírito. 

Passeie, então, Deus em nós como em paraíso espiritual, e reine só ele, junto com seu Cristo; e que em nós se assente à destra de sua virtude espiritual, objeto de nosso desejo. Assente-se até que seus inimigos todos que existem em nós sejam reduzidos a escabelo de seus pés (Sl 109,1), lançados fora todo principado, potestade e virtude. Tudo isto pode acontecer a cada um de nós e ser destruída a última inimiga, a morte(1Cor 15,26). E Cristo diga também dentro de nós: Onde está, ó morte, teu aguilhão? Onde está, inferno, tua vitória? (1Cor 15,55; cf. Os 13,14). Já agora, portanto, o corruptível em nós se revista de santidade e de incorruptibilidade, destruída a morte, vista a imortalidade paterna (cf. 1Cor 15,54), para que, reinando Deus, vivamos dos bens do novo nascimento e da ressurreição.

sábado, 24 de novembro de 2018

A participação dos mártires na vitória de Cristo Rei

Carta de Paulo Le Bao-Tinh aos alunos do Seminário de Ke-Vinh, de 1843

(Launay, A., Le clergé tonkiois et se prêtres martyrs, MEP, Paris, 1925, pp. 80-83)
(Séc. XIX)

Eu, Paulo, preso pelo nome de Cristo, quero levar ao vosso conhecimento as minhas tribulações cotidianas que me assaltam de todos os lados, para que, inflamados pelo amor de Deus, possais louvá-lo, porque a sua misericórdia é eterna (Sl 117,1). 
O meu cárcere é verdadeiramente uma imagem do fogo eterno. Aos cruéis suplícios de todo gênero, como grilhões, algemas e ferros, juntam-se ódio, vingança, calúnias, palavrões, acusações, maldades, falsos testemunhos, maldições e, finalmente, angústia e tristeza. Mas Deus, que outrora libertou os três jovens da fornalha acesa, sempre me assiste e libertou-me dessas tribulações, que se tornaram suaves, porque a sua misericórdia é eterna! 
Graças a Deus, no meio desses tormentos que continuam a apavorar os outros, sinto-me alegre e contente, pois não me julgo só, mas com Cristo. Nosso Mestre suporta todo o peso da cruz, deixando-me apenas uma pequena e ínfima parte: não é só testemunha do meu combate, mas combatente, vencedor e consumador de toda luta. Assim, sobre sua cabeça é que foi colocada a coroa da vitória, de cujo triunfo participam também os seus membros. 
Como, porém, Senhor, suportar tal espetáculo, ao ver diariamente os imperadores, os mandarins e seus soldados blasfemarem vosso santo nome, quando estais acima dos querubins e serafins? (cf. Sl 79,3). Eis que a vossa cruz é calcada pelos pagãos! Onde está a vossa glória? Ao ver tudo isso, me inflamo por vós, preferindo morrer com os membros amputados, em testemunho do vosso amor! 
Mostrai, Senhor, o vosso poder, salvando-me e protegendo-me. Que a força se manifeste na minha fraqueza e seja glorificada ante os gentios, pois, se eu vacilar no caminho, vossos inimigos, cheios de orgulho, poderão levantar as cabeças. 
Caríssimos irmãos, ao ouvirdes tudo isto, dai alegremente graças imortais a Deus, do qual procedem todos os bens. Bendizei comigo o Senhor, porque a sua misericórdia é eterna! Minha alma engrandeça o Senhor e meu espírito exulte de alegria em Deus, meu Salvador; porque olhou para a humildade de seu servo (cf. Lc 1,46-48), todas as gerações me proclamarão bendito, porque a sua misericórdia é eterna! 
Cantai louvores ao Senhor, todas as gentes, povos todos, festejai-o (Sl 116,1), porque Deus escolheu o que é fraco no mundo para confundir os fortes, e o que é vil e desprezível (1Cor 1,27-28), para confundir os nobres. Pelos meus lábios e inteligência, Deus confunde os filósofos, os discípulos dos sábios deste mundo, porque a sua misericórdia é eterna! 
Tudo isto vos escrevo, para unirdes à minha a vossa fé. No meio desta tempestade lanço a âncora, a viva esperança que trago no coração, até ao trono de Deus. 
Caríssimos irmãos, correi de tal modo que possais alcançar a coroa: revesti-vos com a couraça da fé (1Ts 5,8), tomai as armas de Cristo, à direita e à esquerda, segundo os ensinamentos de São Paulo, meu patrono. É melhor para vós entrar na posse da vida com um só olho ou privados de algum membro (cf. Mt 5,29), do que serdes lançados fora com todos eles. 
Vinde em meu auxílio com vossas preces, para que possa combater, segundo a lei, o bom combate, e combater até o fim, encerrando gloriosamente a minha carreira. Se já não nos podemos ver nesta vida, tal felicidade nos está reservada para o futuro, quando, junto ao trono do Cordeiro imaculado, exultantes com a alegria da vitória, cantaremos em uníssono eternamente os seus louvores. Assim seja. 

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Os dons de Deus são admiráveis

Da Carta aos coríntios, de São Clemente I, papa
(Cap. 35,1-5; 36,1-2; 37,1.4-5; 38,1-2.4: Funk 1,105-109)
(Séc. I)

Caríssimos, como são maravilhosos, como são preciosos os dons de Deus! Vida imortal, esplêndida justiça, verdade liberta, fé intrépida, temperança santa: tudo isto nossa inteligência concebe. O que será então que se prepara para aqueles que o aguardam? O santíssimo Artífice e Pai dos séculos é o único a conhecer a sua santidade e beleza. Portanto, a fim de participarmos dos dons prometidos, empreguemos todo empenho em ser contados no número dos que o esperam. 

E como se fará isto, diletos? Estabilizando o nosso pensamento em Deus pela fé; procurando com diligência tudo o que lhe é agradável e aceito; fazendo tudo o que se relaciona com a sua vontade irrepreensível; seguindo o caminho da verdade e rejeitando para longe de nós toda injustiça, iniqüidade, cobiça, contestações, maldades e fraudes. 

É este, queridos, o caminho onde encontramos a salvação: Jesus Cristo, o pontífice de nossas oblações, o defensor e o auxílio em nossa fraqueza. Por ele, vemos as profundezas dos céus; por ele contemplamos seu excelso rosto imaculado; por ele foram abertos os olhos do coração; por ele nossa mente, insensata e obscurecida, desabrocha na luz; por ele, o Senhor quis que provássemos da ciência imortal; por ele que é o esplendor da majestade de Deus, e está tão mais alto que os anjos, quanto o nome que recebeu é mais excelente (cf. Hb 1,3-4). 

Combatamos, portanto, irmãos, com todo o vigor, sob seus preceitos irrepreensíveis. Não podem manter-se os grandes sem os pequenos, nem os pequenos sem os grandes: estão misturados e daí sua vantagem. Sirva-nos de exemplo nosso corpo. A cabeça nada é sem os pés como também os pés sem a cabeça; os menores membros são necessários e úteis a nosso corpo todo; ou melhor, todos estão bem entrosados e se sujeitam unanimemente, para que todo o corpo se salve. 

Com efeito, nosso corpo todo se salvará em Cristo Jesus. Assim, cada qual se submeta a seu próximo em conformidade com o dom que por graça lhe foi concedido: o forte proteja o fraco, o fraco respeite o forte; o rico dê ao pobre, o pobre agradeça a Deus por ter-lhe concedido quem o ajude em sua indigência; o sábio, não por palavras, mas pelas boas obras, manifeste sua sabedoria; o humilde não se elogie a si mesmo, mas deixe que outros o façam. Recebamos, assim, todas as coisas de suas mãos. Por tudo devemos dar graças a ele, a quem a glória pelos séculos dos séculos. Amém. 

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

"Bem aventurados..." "Felizes..."

Faço menção a duas passagens bíblicas lidas em dois dias distintos. A primeira, no dia de Finados, 02/11/18. E a segunda, domingo, 04/11/2018.
No texto que lemos na missa em comemoração aos Fiéis Defuntos, que estava relacionado ao livro do Apocalipse de São João, esse apóstolo disse que teve uma visão, e nela viu "um novo céu, e uma nova terra". E ele afirma ter visto descer do céu, de "junto de Deus, a cidade Santa, pronta como a esposa que se enfeitou para seu marido".
Em uma homilia que ouvi, o pregador dizia que a cidade santa que está entre nós é a Igreja. E sendo assim, ela deve estar ornada em santidade para receber o noivo que chegará. Está no meio de nós o novo reino, o reino dos Céus. O Reino de Deus. Somos um povo santo. A nação escolhida para mudar o mundo e as relações sociais. Devemos ser diferentes no trato, no agir, no falar.
Então, como sermos diferentes? E a resposta nos veio na comemoração de Todos os Santos (no Brasil, celebra no domingo dia 04/11/2018), com as Bem Aventuranças.
Como devemos ser e existir? Qual deve ser nosso modo de agir? Como resistir às investidas do mal?
O Evangelho lido nesse domingo foi o das Bem-Aventuranças (ou como em outras traduções, "Felizes"). tirado do livro de Mateus, capítulo 5.
 1 Jesus viu as multidões, subiu à montanha e sentou-se. Os discípulos se aproximaram, 2 e Jesus começou a ensiná-los: 3 «Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu. 4 Felizes os aflitos, porque serão consolados. 5 Felizes os mansos, porque possuirão a terra. 6 Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. 7 Felizes os que são misericordiosos, porque encontrarão misericórdia. 8 Felizes os puros de coração, porque verão a Deus. 9 Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. 10 Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céu. 11 Felizes vocês, se forem insultados e perseguidos, e se disserem todo tipo de calúnia contra vocês, por causa de mim. 12 Fiquem alegres e contentes, porque será grande para vocês a recompensa no céu. Do mesmo modo perseguiram os profetas que vieram antes de vocês.»
Jesus nos ensina como agora diante das diversas situações que se apresentam a nós no mundo: aflições,pobreza, mansidão, os que tem fome e sede (de justiça), os que são misericordiosos, os puros de coração, os promotores da paz, os perseguidos por causa da justiça.
Todas as proposições partem de uma perspectiva positiva. É assim que devem agir os discípulos de Jesus. 
O Papa Francisco escreveu uma exortação apostólica chamada Gaudete Et Exsultate, sobre o chamado à santidade no mundo atual. 
No capítulo 3, ele faz uma reflexão sobre cada umas das Bem-Aventuranças.
O Papa afirma que, "estas palavras de Jesus (...) estão decididamente contracorrente ao que é habitual, àquilo que se faz na sociedade". E ainda que "as bem aventuranças não são um compromisso leve e superficial; pelo contrário, só as podemos viver se o Espírito Santo nos permear com toda a sua força e nos libertar da fraqueza, do egoísmo, da preguiça, do orgulho".
Além disso, o Papa nos convida a nos deixarmos fustigar pela palavras de Jesus, e que suas palavras "nos desafie, nos chame a uma mudança real de vida". E diz, que "caso contra´rio, a santidade não passará de palavras". E neste caso, as bem-aventuranças, são um caminho para se chegar à santidade. E fazermos partes da cidade santa que está no meio de nós.
Deus nos abençoe. Procuremos ser "santos como o vosso Pai é santo".

Caso queira ler a íntegra da exortação do Papa, acesse o link a seguir.
https://w2.vatican.va/content/francesco/pt/apost_exhortations/documents/papa-francesco_esortazione-ap_20180319_gaudete-et-exsultate.html