São três domingos aprendendo a ser “a imagem e semelhança” de
Deus, tal como fomos criados.
Aprendemos um novo estilo de vida, as bem-aventuranças.
Aprendemos que as bem aventuranças nos levam a iluminar e dar um
novo sabor a nossa vida e à humanidade (ser sal e luz).
E hoje, somos chamados a dar novo sentido às leis que Deus nos
dá. A reinterpretar nossas relações sociais e humanas. A não ficarmos presos
diante da letra morta da lei.
A justiça divina vai além do meramente que se vê, “se vossa
justiça não for maior que a justiça dos mestres da lei e dos fariseus”. A lei
não pode nos impedir de fazer o bem. E se interpretamos a lei de Deus somente
ao pé de letra, o que vemos é um fundamentalismo religioso perigoso.
Jesus destaca três breves leis, “não matar”, “não cometer
adultério”, “não jurar falso”. Três pecados muito comuns em nosso meio.
“Não matar”. Não basta não tirar a vida física de alguém. Jesus
vai além, aperfeiçoa, vem dar “pleno cumprimento”. Quem tem inveja, mata. Quem
se encoleriza contra o outro, mata. Quem age de forma discriminatória, mata.
Matar pela língua. São Tiago nos fala para aprendermos a controlar a língua,
pois ela pode abençoar ou amaldiçoar. E quando amaldiçoa, mata. E quem mata não
entrar no Reino dos Céus.
“Não cometerás adultério”. Podemos apenas imaginar o adultério
conjugal. Existem tantas outras formas de adultério. Podemos adulterar relações
sociais. Podemos adulterar a palavra de Deus. Não basta ser fiel sexualmente
falando. É preciso uma fidelidade de coração, de consciência, de pensamento. De
unidade. Jesus dá uma nova forma de interpretação. Como o mal nasce no coração
do homem, quando se olha para alguém e se deseja possuir aquela pessoa ou
aquele objeto, já se adultera no coração. E quando se adultera no coração,
arrumam-se jeitos e maneiras de conseguir o que se quer. Devemos preservar o
coração e os sentimentos puros. Quem não adultera percebe as injustiças sociais
de seu tempo. É capaz de dar de comer a quem tem fome, de beber a quem tem
sede, de vestir os nus, de visitar os enfermos e encarcerados, de acolher os
peregrinos. De olhar o menor dos irmãos como o próprio Deus, como outro Jesus.
“Não jurarás falso”. Não contar mentira. Ser honesto com sua fé.
Diz o ditado que “quem jura mente”. E muitas vezes parece verdade. As pessoas
dizem, “juro por Deus”. Jesus responde, “não jure pelo céu, onde está o trono
de Deus”. E alguns ainda falam, “juro por essa terra que me a de comer”. E a
resposta de Jesus, “não jures pela terra onde pisas, pois é o sustento de teus
pés”. E em seguida, afirma que seu sim seja sim. Que sua fé, sua pregação, seu
estilo de vida (bem-aventuranças), sua luz e seu sabor (sal), sejam
verdadeiros. Honestos.
Quem se propõe a seguir esse itinerário de vida não pode se
aproximar do altar com o coração dividido. É preciso reconciliar-se com o
próximo. Mais do que não matar, adulterar, ou levantar falso, é preciso
reconciliar-se com o próximo. Aí sim, terás um coração puro, à semelhança de
Deus, para apresentar tua oferta.
Olhos e mãos, direito e esquerdo. O que nos significa? Vejamos,
segundo Pe. Adroaldo Palaoro, sj, são duas expressões interessantes.
“O olho direito é o olho consciente, o olho masculino, que
domina, avalia e julga; que quer vencer, que quer matar; é o olhar do avarento
que deseja possuir tudo”. E continua, “a mão direita é a mão do realizador,
daquele que se julga capaz de conseguir tudo que deseja”. O lado direito é o
lado daquele/a que mata, que adultera, que levanta falso.
“O olho esquerdo é o olho do inconsciente, o olho feminino, que
aceita, admira, que observa e percebe”. Já, “a mão esquerda é a mão feminina,
que percebe, que é carinhosa, que toca e cura”. É mão de quem aceitou a viver o
estilo das bem-aventuranças. De quem é sal e luz no mundo.
Quem vive apenas com o olho direito se apodera de tudo, alimenta
a divisão interior, “cria seu inferno nas profundezas do seu ego”. Quem apenas
vive com a mão direita, “reprime muitos impulsos oblativos, e acaba se lançando
no fogo de suas regiões reprimidas”.
O evangelho de hoje nos chama a um equilíbrio espiritual que nos
faz assumir as bem-aventuranças dando mais claridade a nossa luz e mais sabor
ao nosso sal. Tornando-se “decisivo integrar e harmonizar os dinamismos
interiores para que o seguimento de Jesus não desemboque numa batalho interior
que desgasta e alimenta sentimentos de culpa”. E livres de toda culpa, possamos
dizer com o salmista que “Feliz o homem sem pecado em seu caminho, que na lei
do Senhor Deus vai progredindo”.
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