domingo, 27 de novembro de 2016

Pontes

“A força da alienação vem dessa fragilidade dos indivíduos que apenas conseguem identificar o que os separa e não o que os une” (Milton Santos).
Para enxergar o que nos une é necessário ouvir o outro, entender seu pensamento, valorizar sua opinião.
Entretanto, muitas vezes, quando não encontram palavras ou ideias para contra argumentar, buscam desqualificar o discurso ou a pessoa do interlocutor.
Cria-se rótulos. Desfaz-se do outro. Deixa-se de buscar soluções juntas para criar barreiras que impeçam a construção de conquistas sociais e para a unidade dos trabalhadores e trabalhadoras.
Diana Luz Pessoa de Barros, em “Procedimentos de Desqualificação de Discursos” (vide na internet), nos alerta para os dois tipos de desqualificação que normalmente fazemos, seja de forma consciente ou inconsciente. Ela alerta para a “Desqualificação do Sujeito” e a “Desqualificação do Discurso”.
A “desqualificação do sujeito” dá-se quando reduzimos o outro às categorias que consideramos negativas, sem fundamento, sem autoridade pessoal. Um exemplo, quando Jesus voltara a sua terra natal e estava discursando na sinagoga, os fariseus disseram, “de onde lhe vem essa sabedoria e esses milagres? Não é ele o filho do carpinteiro? (grifo meu)...” (Mt 13,54-55). Em outro momento, registra Mateus (12,24) que ao verem a ação de Jesus de expulsar demônios, disseram: “Ele expulsa os demônios pelo poder de Beelzebu, o príncipe dos demônios”. Claramente, os interlocutores de Jesus não tendo como contra argumentar diante dos fatos, querem se desfazer de seu discurso e prática.
Em outras circunstâncias, temos ações e palavras de desqualificação. Dizemos que as pessoas pertencem ao partido A, B ou C. Que são interlocutores dos gestores. Que representam interesses privados, próprios ou partidários. Diz-se que o outro pertence a oposição e que isso é ruim.
Diante de dois interlocutores devemos tomar o cuidado de ler suas palavras e ações com a razão, e não com a emoção. A emoção, fundamental para o equilíbrio humano, pode cegar a racionalidade e nos levar a cometer atos que depois nos arrependemos.
A tolerância é a melhor forma de se compreender o que o outro diz e faz. O autor de uma música escreveu, “e com os que erram feio o bastante, que você consiga ser tolerante” (Frejat). Tolerar é buscar entender. É construir pontes. É colocar-se na posição de quem vai ao encontro para compreender.
Não tolerar, causa desânimo. Desespero. Falta de perspectiva. E isso cansa. Mas, então, surge a esperança, o amor, combustível para o recomeço. Essa é uma das características do ser humano, ter a capacidade de RECOMEÇAR. E aí, o mesmo autor diz, “desejo que você tenha a quem amar, e quando estiver bem cansado, ainda exista amor para recomeçar”. Só se recomeça quando o amor é capaz de trazer de volta a esperança. Amar. Esse é o verbo. Essa é a ação. Essa é a esperança. Podemos amar alguém, uma causa, uma ideia.
E aí, podemos gritar juntos: “já não me preocupo se eu não sei por que, às vezes o que eu vejo quase ninguém vê. E eu sei que você sabe, quase sem querer, que eu vejo o mesmo que você” (Renato Russo). Pois “temos nosso próprio tempo”, mesmo sendo uma “gota d´água” ou um “grão de areia”. Porque “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã. Porque se você parar para pensar, na verdade não há”.

Caminhemos avante. Não desanimemos. A vida vale a pena. A unidade é uma construção possível. Não dos desfaçamos das pessoas. Construamos pontes com os escombros dos muros que derrubamos.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Tenho observado alguns abusos em relações a matrimônios em nossas Igrejas. Sendo assim, estou me colocando à disposição para ajudar noivas, cerimonialistas, bem como todas as pessoas que trabalham com matrimônios religiosos. 

domingo, 6 de novembro de 2016

Bem aventurados...

Celebramos a Solenidade de Todos os Santos e Santas de Deus. No Brasil, esta solenidade é transferida para o primeiro domingo após a festa litúrgica para que possamos aurir os frutos espirituais desta festa.
Os textos propostos são tirados do livro do Apocalipse e da Primeira Carta de São João. Claro que existem outros textos que nos falam da santidade dos filhos de Deus. No próprio livro de Mateus encontramos no mesmo capítulo cinco, um pouco mais adiante, no versículo 48, a seguinte fala de Jesus: "sede perfeitos como vosso Pai do céu é perfeito". Neste casa, perfeição e santidade são entendidas como sinônimas. Mateus coloca essa frase na boca de Jesus logo após falar do amor que devemos ter aos que não são perfeitos, que são pecadores, aqueles os quais tratamos como inimigos. Jesus conhecia a escritura, como bom judeu que era. Tinha em mente, quando fala da santidade e perfeição, o que está prescrito no livro do Levítico, capítulo 19 versículo 2: "sede santos, porque eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo". Ser santo deve ser uma atitude de todo aquele que crê, não só para o cristão, mas para todos os que creem. A santidade é inerente a todos.
São Pedro, na sua primeira, capítulo 1 versículos 14 a 16, lemos: "Como filhos obedientes, não vos deixeis modelar pelos desejos de antes, quando vivíeis na ignorância; pelo contrário, visto que é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em todo o vosso agir; pois assim está escrito: Sede santos, porque eu sou santo".
No texto do Apocalipse (Ap 7,2-4.9-14), a santidade está na marca que os filhos de Deus recebem, o sangue do cordeiro. Ser santo é viver a tribulação com fé. Com a esperança da ressurreição. João apresenta uma visão do juízo final. E como serão reconhecido os eleitos. Aqueles que passaram pela tribulação e foram resgatados pelo sangue do cordeiro porque viveram as tribulações na fé em Jesus Cristo.
Na Primeira Carta de São João, vemos como o carinho de Deus é profundo. João afirma que Deus nos deu um presente. E não é um presente qualquer; é um grande presente, é um presente de amor, "sermos chamados filhos de Deus". Não é uma "lembrancinha". É um Presente. Ser filho de Deus não é qualquer coisa. Exige uma mudança de vida. Exige ser tal como o Pai é. E o Pai é santo, e recebemos dele essa santidade como presente. E se é presente, devemos usa-la. Pois seria uma desfeita muito grande ganhar um presente de Deus e não tomar posse desse presente.
O evangelho, tirado de Mateus (5,1-12a), apresenta o caminho da santidade. O autor apresenta oito bem-aventuranças e mais uma. Dessas oito, duas falam a quem pertence o Reino de Deus. Primeiramente, para estar no Reino de Deus é preciso ser "pobre em espírito". E "ser pobre em espírito" é confiar inteiramente em Deus. É colocar nele toda a nossa esperança. Acessamos ao Reino de Deus não por nossos méritos e nossos bens, mas por graça de Deus. E somente os "pobres em espírito" enxergam isso. Além desses, outros que herdarão o Reino dos Céus, são aqueles "perseguidos por causa da justiça". A justiça em um tema muito caro a Deus. Ser justo é uma atitude divina. Ser justo é dar ao outro a chance de ter uma vida livre da escravidão.
Resta-nos seis bem aventuranças. As outras estão relacionadas com a vida pessoal para se chegar a ser santo e "possuir" o Reinos dos Céus. Jesus trabalha as necessidades espirituais (ou psíquicas) de nossa existência. "aflitos", "mansos", "fome e sede", "misericordiosos", "puros de coração", os que "promovem a paz".
Quantas aflições vivemos no nosso dia-a-dia. Doenças, guerras, violência, intolerâncias. Aflições diárias. Quem vive essas aflições com fé, colocando as dores nas mãos de Deus, será consolado. Terá a consolação no Reino dos Céus.
Mansidão. Não é ser bobo. Não é aceitar violências pessoais de forma gratuita. O manso vê as aflições com os olhos de Deus. O manso não reage com violência. O manso busca ver o que há de bom nas pessoas. Isso lhes garante a paz, e a posse definitiva da terra.
Fome e sede são duas necessidades humanas. Mas lembremos, "nem só de pão vive o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus". Entretanto, existe uma abstração para fome e sede. O desejo de justiça. Ser justo, ou esperar a justiça gera uma necessidade tal como a fome e a sede. Estes, no Reino serão saciados.
Misericordiosos. Ser misericordioso é agir com justiça. É ser manso. É ver, no outro, a presença de Deus. É agir como misericórdia. É dar o presente de amor de Deus. É enxergar no outro a filiação divina, e com isso, ele como um irmão. Todos os misericordiosos encontrarão misericórdia.
Ser puro de coração. É olhar o mundo como Deus. É buscar a presença de Deus em tudo. Ou mostrar que certas ações acontecem pela ausência de Deus. Somente os puros de coração tem a capacidade de ver a Deus.
Promotores da paz. Construtores de pontes. Tolerantes. Destruidores de muros. Deus é paz. Disse Jesus, "eu lhes dou a paz; eu vos dou a minha paz". A Paz é uma característica de Deus. E todos aquele que promovem a paz são chamados "Filhos de Deus".
E por último, os perseguidos pela justiça. Todo aquele que busca por justiça e prega a justiça é perseguido pelos promotores da exclusão. Os intolerantes não suportam os promotores da paz. Estes herdarão o Reino dos Céus.
Quando os santos forem injuriados e perseguidos, por causa da sua fé em Deus, não desanimem, mas alegrem-se, porque a recompensa será grande nos céus. Desse mesmo jeito trataram o Filho de Deus, e porque com conosco seria diferente?
Oremos a Deus, implorando que sua graça nos santifique na plenitude de seu amor, para que, desta mesa de peregrinos, passemos ao banquete do seu reino.

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

"é só isto que eu desejo: habitar no santuário do Senhor por toda a minha vida"

A palavra de Deus exorta, corrige, consola. Hoje, ao fazermos memória de nossos falecidos, lembramos que só a palavra de Deus pode nos consolar das perdas que vamos tendo ao longo de nossa vida.
Algumas perdas são para nós irreparáveis. Mas toda perda é consolável pela palavra de Deus.
A leitura do livro de Jó nos leva a ter a certeza de que a vida vai além das aparências. O autor lembra que a visão final de Deus se dará após ser destruída a pele e a carne, ou seja, a morte. Sem essa irmã, como diria São Francisco de Assis, não se é possível chegar até Deus. Mas passada a tormenta, os próprios olhos contemplarão o Senhor. Não mais se verá pelo ouvir dizer dos outros, mas se terá a visão do próprio Deus.
Essa certeza, nos dá o apóstolo Paulo ao afirmar que, em Jesus Cristo, recebemos a reconciliação. Ou seja, em Jesus acaba o desterro de Adão e Eva. Em Jesus, somos resgatados para o paraíso. A Cruz do Senhor é a porta de retorno ao Paraíso, ao Reino de Deus.
E assim se dará, pois o próprio Jesus disse que a vontade do Pai era que o Filho não perdesse um só daqueles que o Pai lhe confiou. E que cada um seja ressuscitado no fim dos tempos. E o fim dos tempos chega com a nossa morte. "Se morremos com Cristo, com ele ressuscitaremos". Essa é a certeza de nossa fé. Cremos em Cristo, morto e ressuscitado. Cremos que na casa do pai há muitas moradas. 
Crendo que a ressurreição é uma certeza que está confirmada, podemos repetir com o salmista: "Ao Senhor eu peço apenas uma coisa, e é só isto que eu desejo: habitar no santuário do Senhor por toda a minha vida".
Tendo a certeza de que todos os nossos irmãos fiéis defuntos estão na presença de Deus, habitando o "santuário do Senhor", rezemos juntos: "Ó Deus, escutai com bondade as nossas preces e aumentai a nossa fé no Cristo ressuscitado, para que seja mais viva a nossa esperança na ressurreição dos vossos filhos e filhas. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo".