sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Não praticar a vossa justiça diante dos homens (Mt 6,1)

Hoje iniciamos o período litúrgico da Quaresma. Quarenta dias de preparação para a Páscoa. É o momento de revisão de vida, de conversão, de retiro pessoal e comunitário. Oração, Jejum e Esmola são as palavras chave desse período. A cada uma delas, corresponde uma realidade espiritual. E essa realidade, por ser espiritual, é pessoal e tem uma implicação social.
No livro Retiro Quaresmal 2016 - Exercícios Espirituais na vida cotidiana, do Centro de Espiritualidade Inaciana dos Jesuítas (Edições Loyola), lemos que estes "gestos (oração, jejum e esmola) nos humanizam e tornam a vida mais leve e com sentido". Muitas pessoas buscam um sentido para a vida. Apresentam-se com doenças do isolamento social: síndrome do pânico, esquizofrenia, egoísmo, medos. E ainda mais, diz que "a vida é um abrir-se aos demais (esmola), um mergulhar no mistério de Deus (oração) e, ao mesmo tempo, ser capaz de ordenar e dirigir a própria existência (jejum)". E conclui afirmando que "isso implica deixar-se envolver pela graça e permitir que o amor circule em cada um e no mundo, gerando vida em abundância".
A oração torna o coração mais docil a vontade de Deus. "Coloca-nos em sintonia com Deus, para entendermos o que é melhor para nosso verdadeiro bem". É deixar que 'Deus revele sua paternidade e maternidade em cada um de nós.
"O jejum nos humaniza". "Nos torna mais sensíveis  sensíveis e solidários". Jejuar é sair do próprio amor, do próprio querer, do próprio interesse. É renunciar ao "EU" " em favor de de um mundo diferente.
"A esmola não se reduz a um gesto de ordem apenas material: ele  manifesta um ato que indica o fazer-se companheiro de viagem junto a quantos se encontram em dificuldades".
Viva a graça desse período quaresmal.

domingo, 7 de fevereiro de 2016

Sou o que sou, pela graça de Deus (1Cor. 15,10)

"Não tenhas medo!" Com essa expressão Jesus convoca Pedro a ser pescador de homens.
"Assim que isto tocou teus lábios, desapareceu tua culpa". Essa é a frase dita a Isaías pelo Serafim ao tocar seus lábios com a brasa tirada do altar.
"É pela graça de Deus que eu sou o que sou". Afirmou Paulo a comunidade de Coríntio.
Isaías teve uma visão do Senhor. Na tradição antiga da Sagrada Escritura, quem visse o Senhor morreria. Ao perceber a realidade que o cercava, o profeta reconhece a sua pequenez e a impureza que toma conta de seus lábios, o pecado. Ao se reconhecer pecador, um dos Serafins que serviam ao Senhor, voa até seu encontro e o purifica com uma brasa tirada do altar. Ao ser tocada, toda a culpa desapareceu. O Senhor precisava dele para anunciar a Palavra.
Pela graça de Deus, Isaías partiu em missão. E esta foi conferida, muito tempo depois, ao apóstolo Paulo. De perseguidor, a testemunha. O Senhor tocará Paulo também. A graça de Deus contagiou o apóstolo. De perseguidor passou a anunciador da Palavra de Deus. Colocou-se à serviço. Compreendeu o mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. Agora é testemunha como os primeiros Apóstolos e os mais de quinhentos para os quais Jesus apareceu.
As experiências da vida passam a ter sentido quando estamos com Jesus. quando obedecemos suas ordens. Quanto nos colocamos, na gratuidade, para fazer o que ele nos pede.
Pedro e seus companheiros haviam pescado a noite toda. Não conseguiram pegar um peixe se quer. Ao chegarem a praia, viram Jesus. Este alojou-se numa das barcas. Começou a pregar para a multidão. O que dizia ele? Não sabemos. Podemos supor muitas coisas. Falava sobre a confiança em Deus? Falava de sua missão? Falava de que Deus faz nascer onde supostamente não haveria condições para tal?
O que sabemos é que ao terminar sua fala, depois que os pescadores já haviam guardado as redes, Jesus disse, "avança para águas mais profundas", ou seja, volte ao trabalho. Vamos para alto mar. E mais do que isso, "lançai vossas redes para a pesca". Jesus convoca Simão a fazer a mesma coisa que havia feito a noite toda. Qual a grande diferença agora? Esse retorno ao mar se fará após a pregação de Jesus. Mesmo assim, Simão age com desconfiança, "trabalhamos a noite inteira e nada pescamos". Nosso trabalho foi em vão. Hoje "o mar não estava para peixe", como diz o ditador popular. Mas Simão age como todo aquele que crê. "Em atenção à tua palavra, vou lançar as redes". Em atenção a tudo o que acabamos de ouvir. Em atenção àquilo que Deus Pai pode operar em nossa vida, eu obedeço.
Então, dá-se o milagre. O extraordinário. E Pedro, e os seus companheiros, tomam consciência que estão diante do próprio Deus. Atiram-se aos pés de Jesus. Prostram-se. Reconhecem que são pecadores.
Queridas e queridos, hoje o Senhor nos chama a sermos anunciadores de sua Palavra nos ambientes me que vivemos. Alguns se sentem indignos dessa missão. Acham-se pecadores. Digo três coisas. Primeira, a graça de Deus agem em nós. Somos o que somos pela graça de Deus. Repitamos com Paulo, "É pela graça de Deus que sou o que sou". Segundo, a brasa que purificou a boca do profeta Isaías, vindo do altar, hoje nos purifica também. A hóstia que comungamos é essa brasa. Ela queima todos os nossos pecados. Purifica o nosso coração. Nos prepara para a missão. "Estou aqui! Envia-me!"
Portanto, "Não tenhas medo! De hoje em diante tu serás pescador de homens". De hoje em diante, tu usarás todo o teu conhecimento, toda a tua vontade, todo o teu entendimento, toda a tua a liberdade, tudo o que tens para seres "pescador" de homens. Anunciador da Palavra. Dispensador da graça de Deus.
A graça não pode ser estéril. Ela deve dar frutos.
Assim, oramos, "velai, ó Deus, sobre a vossa família, com incansável amor; e como só confiamos na vossa graça, guardai-nos sob a vossa proteção". Amém!